Argh, aquilo doía muito. Até demais. Eu queria morrer. Morrer doeria menos, seria simples, fácil. Morrer seria como me deitar em uma cama de plumas, ou flutuar em uma piscina. Por que eu não conseguia simplesmente morrer? A dor era insuportável, me angustiava a cada segundo que passava. Eu não ia aguentar aquilo mais nem um milésimo. Eu precisava arrancar meu coração, que queimava, e sair correndo dali. Eu precisava...Morrer. Ou ao menos, fazer aquela dor parar. Eu me ouvia gritando, eu gritava para que me matassem, o que não seria muito difícil para eles. Mas eu sabia que não o fariam. Aro me queria. Aro queria meu poder a serviço dos Volturi. Droga de poder, nem podia acreditar que eu havia ficado tão animada. Que merda, por que eu não podia morrer?

   Depois de muito tempo (eu não sabia quanto, exatamente) a dor foi cedendo. Então eu pude ouvir as pessoas presentes na sala. Aro, Caius e Marcus me visitaram apenas uma vez, para ver como eu estava. Jane e Alec quase não saíam de perto de mim. Apenas para caçar ou fazer algum serviço. Felix, Demetri, Heidi e Chelsea passavam um bom tempo me visitando, mas nunca muito. James não me deixou um segundo sequer. Fiquei feliz em saber que eu ficaria com meu irmão, para sempre. Will, seu amigo, o acompanhava em sua jornada de ficar me “vigiando” mas às vezes Will ficava entediado e saía para fazer outras coisas. Natural. Eu também ficaria entediada.

   Quando a dor cedeu por inteira, eu abri os olhos. E eu vi tudo. TUDO, mesmo. Eu via cada molécula, cada cor, aliás, tinham muitas cores novas, as quais eu não sabia os nomes. Também tinha muitos cheiros, muitos sons, tudo novo para mim. Então,eu olhei ao redor.James veio me dar um abraço, eu ainda meio perturbada com minha nova vida, apenas enlacei meus braços envolta dele.

   - Bem vinda a sua nova vida, maninha! – Falou ele, sorrindo.

   - Bella! Você acordou, finalmente! – Jane correu, me abraçou forte, e completou: - Bem vinda aos Volturi. Bella...Volturi. – Terminou ela, sorrindo.

   - Obrigada Jane. – Consegui sorrir. Jane me parecia tão mais bonita agora com a nova visão!

   Depois foi a vez de Alec, Heidi, Felix, Chelsea, Demetri, Will. Quando eu achava que eu já tinha abraçado todos os Volturi, Jane pegou na minha mão e me puxou:

   - Ei, calma. – Eu falei.

   - Calma, nada. Você agora é uma vampira, corre tanto quanto eu. Vamos ,os mestres querem te ver. – Disse ela, animada.

   - Ah, ok. – Concordei, vencida por ela.

   Corremos rapidamente entre os tuneis que davam para o salão principal. Eu não acreditava, como algum dia eu já havia achado que aqueles tuneis eram escuros? Ah. Lembrei. Minha visão estava milhões de vezes melhor agora. Foi quando chegamos ao salão principal, e Jane, sem hesitar, abriu os portões.

   - Bella, você está divina! – Elogiou Aro, ao me ver.

   - Obrigada. – Respondi, sem muita emoção.

   - Bem querida, acho que você já sabe a sua lista de atividades, não é? Lembre que só estamos fazendo isso para treiná-la. – Ele destacou, fazendo um tipo “o pai cuidadoso”.

   - Sim, Aro. Ainda possuo a lista. E, er, obrigada por me treinarem. – Agradeci.

   - Não precisa agradecer, é um imenso prazer treinar uma vampira tão poderosa quanto você! – Pude sentir a obsessão de Aro naquelas palavras. – Ah, querida ,você deve estar com sede. Hã, seu irmão poderá levá-la para caçar, se ainda quiser ser “vegetariana”, claro. Caso queira se portar como a natureza a fez, Jane já se ofereceu para levá-la a caça. – ARGH, por que o sangue humano tinha que cheirar tão bem? Eu conseguia sentir o cheiro da recepcionista aqui do salão, e eu... Eu queria o seu sangue. Eu queria sangue... Humano. Mas consegui me conter, e respondi:

   - Não, obrigada. James, vamos lá? – Sorri, mesmo que ainda tensa, para o meu irmão.

   Caçar foi fácil. Apenas segui meus instintos.

------------------------------------------ NO PASSAR DOS DIAS ----------------------------------------------

   Toda manhã, Jane e Alec treinavam comigo os meus poderes. Descobri e me acostumei lentamente com eles. Putz, eu realmente era poderosa. Aro as vezes ia me assistir, ficava fascinado com qualquer demonstração dos meus poderes e me animava para que eu continuasse treinando. Agora eu era uma das relíquias dos Volturi. Eu sabia que Alec (que havia se tornado meu melhor amigo) e Jane (não preciso  nem falar que ela havia virado minha melhor amiga) também eram relíquias. Mas nunca dei muito valor a isso.

   Agora éramos um trio. Éramos inseparáveis. Eu os amava, eles me amavam, éramos como irmãos. Em alguns momentos, até percebi que meu irmão de verdade,  James, ficava com ciúmes dos meus bruxinhos (que era como eu os chamava), então eu o abraçava e ficava tudo bem. E o melhor amigo de James, Will, virou uma figura indispensável para mim. Will era engraçado e divertido. Me ajudava em tudo com boa vontade. Viramos grande amigos e posso até dizer, quase irmãos.

   Demetri e Félix treinavam minha parte física para lutas. Não que eu fosse precisar (eu tinha meus poderes, dã), mas era bom ter um plano “b”. Meus poderes se resumiam a escudo mental, telepatia (Eu podia enviar pensamentos, ler pensamentos, e “bagunçar” a mente das pessoas, exemplo: Eu podia fazer qualquer um acreditar que já voou, mesmo sem ter voado). Enfim, eu podia colocar coisas na mente das pessoas, ou simplesmente, confundi-las. Se meu poder já era letal por esse lado, imagine, eu ainda podia levitar qualquer objeto com minha mente. Inclusive, a mim mesma. O que muitos podem chamar de “voar”. Mas eu chamo de levitar. Não era tão natural, como James fazia. Eu me esforçava, eu ME levitava. E cara, eu tinha que me concentrar muito. Mas com o tempo, foi ficando mais fácil. Santo Deus, obrigado por dispor professores tão bons quanto Alec e Jane! Eu agradecia diariamente.

   Também fiquei boa em lutas sem utilizar digamos, hã, meu bônus. Felix e Demetri também eram professores ótimos, então, aprendi rápido. Eu passava quase todas as madrugadas conversando com Heidi e Chelsea. Menos as que elas tinham que caçar, ou as que Jane me puxava para conversa com ela. Eu amava ela, mas putz, era ela chiclete!

   Eu me sentia preparada há muito tempo, mas só foram depois de três meses treinando que Aro me falou:

   - Querida Bella, estou aqui para dizer, que se você aceitar, queremos ter a honra de levá-la a seu primeiro serviço oficial, como uma Volturi. – A emoção me invadiu.

   - Fico muito feliz, Aro. Aceito sim. – Ele abriu os braços, me chamando para dar-lhe um abraço. Então fui lá e o abracei.

   Bom, nem tudo eram flores. Então meu irmão, James, quando eu já estava em meu quarto, veio conversar comigo:

   - Bells, eu te peço, não vá. Eu já fui, sei como é. Não é algo que vai valer a pena você ver.

   - Ah, James. Para com esse papo, não sou mais uma criancinha. Também não sou indefesa, você sabe disso. Eu vou e ponto. Não me impeça. Olha, eu não quero brigar com você, você é meu irmão, minha única família e eu te amo mais que tudo. Mas eu preciso tentar voar sozinha agora. – Expliquei.

   - Eu também te amo mais que tudo e você sabe disso. – Ele me abraçou, e eu retribui, depois, ele voltou a falar. – Mas... É realmente muito... Chocante. Não queria que você fosse... – Quando eu ia tentar interrompê-lo, ele me parou a tempo – Calma, eu não vou te impedir. Apenas te alertei. Mas, Bells, também preciso te contar outra coisa. Eu vou me mudar, o meu tempo aqui com os Volturi acabou. – Eu fiquei pasma, e quase não conseguia falar. O quê? Como? Meu irmão ia embora? Ia me deixar? Eu ia ter que ir com ele? Mas eu amava esse lugar, os Volturi, tudo... O que eu iria fazer!?

   - Pa-para onde você vai? – Perguntei e, como uma idiota, acabei gaguejando.

   - Calma, Bella. Não vou te perder. Nunca. Você é minha irmã. Bom, vou para Forks. Lá chove todo santo dia, poderei sair pelo dia. Vai ser...Confortável. Se você quiser, pode vir, obviamente. – Ele ofereceu. E apelou. – Eu iria ficar imensamente feliz.

   - Eu não sei, Jam (apelido de James, quando era criança)... Eu, eu não quero me separar de você. Mas... Eu amo esse lugar. Amo as pessoas daqui. Amo tudo. Mas também amo muito você.

   - Bem, não vou obrigá-la, pense com carinho, maninha. As portas sempre estarão abertas para você. Eu te amo. Agora, eu vou indo. Vou deixar você se preparar para o seu grande serviço oficial. Sabe, apesar de não ter gostado – Ele fez uma cara de nojo – Lembro de como foi bom ficar animado para o dia seguinte. Bem, boa sorte. E... Bom serviço amanhã.

   Após nos despedirmos, ele disparou para fora do meu quarto. E eu fiquei lá, refletindo... Ficar com quem, os Volturi, que me receberam tão bem, e que me tratam com tanto carinho, ou com meu irmão, minha família desde sempre?

   Eu queria poder dormir. Para que essas coisas saíssem da minha mente, e eu relaxasse. Inutilmente, eu tentei. Cheguei a fechar os olhos. Não adiantava. Eu NUNCA mais iria dormir.

   Por incrível que pareça, "acordei" no outro dia animada, alegre, excitada. Seria meu primeiro serviço oficial como Volturi, puniríamos alguém que não houvesse cumprido as leis dos vampiros. Não que eu gostasse de machucar alguém. Eu me sentia como uma advogada, entrando dentro de um tribunal para acusar alguém, em seu primeiro caso. YES, esse era o MEU dia.

   Corri o mais rápido que pude até chegar ao salão principal, de onde sairíamos para julgar quem quer que fosse, ou, simplesmente esperaríamos a Felix ou Demetri trazerem o acusado para se explicar.

   Ao entrar no salão, sorrindo, percebi que ninguém me olhava. Todos olhavam para um vampiro, o qual, nunca vi na vida. Ele era lindo, obviamente. E muito, MUITO sexy. Fiquei com vergonha do desejo que brotava em meu corpo, mesmo sem eu saber quem era tal criatura. Curiosa como eu estava, me aproximei de Jane e perguntei:

   - Jane, quem é ele? – Perguntei o mais baixo possível para não chamar atenção.

   Droga, pensei. O vampiro novato virou a cabeça procurando algo. Ou alguém. Ele ME procurava. Então encontrou meus olhos, e eu percebi o desejo. Não o meu, que deve ter ficado muito evidente. O dele. Ele também me desejava. Decidi vasculhar sua mente e eu estava certa. Apesar de seus pensamentos estarem incoerentes, eu sabia. Cara, ele ME queria. Jane percebeu minha tensão e perguntou:

   - Hey, Bells, você está bem? Olha,ele tá olhando para você! Ah não, oh my gosh! Ele está vindo falar com você. Bem, vou deixá-los a “sós” – Ela sabia muito bem que NUNCA teria como ficar sozinha com um bando de vampiros numa mesma sala.

   O tal estranho se aproximou de mim, e delicadamente puxou minha mão, e depois, a beijou, à moda antiga. Fiquei paralisada. Eu queria que ele me beijasse, eu queria que ele me agarrasse, me tirasse dali e... Hã?! O que eu estava pensando? Estou ficando louca? Nem conheço esse cara, que merda. Olhei para Jane, a fuzilando. Por que ela me deixou ali sozinha? Ah, claro. Foi babar pelo Demetri. Jane amava Demetri e ele amava Jane. Droga, por que eles não ficavam juntos de uma vez? O estranho me tirou de meu devaneio quando falou:

   - Olá. Sou Jack Simply, decidi me aliar aos Volturi. Você deve ser a adorável e terrivelmente poderosa Bella. Sabe, você faz jus ao seu nome. Você é a vampira mais linda que já vi. – Tremi de prazer, eu gostava que ele me elogiasse. Então, ele sussurrou em meu ouvido – Você será minha. Isabella. – Ele falou meu nome de um jeito tão sexy que me fez tremer novamente.

  Ótimo. Agora eu sabia seu nome e que ele era louco. Jack Simply.