Eram exatamente uma e vinte e três da manhã quando Rose Wealey entrou no quarto silenciosamente. Ela se aproximou da cama de Alvo Severo, lançando um feitiço silenciador em volta da cama dele, tentando acorda-lo de alguma maneira, mesmo que soubesse que seria inútil. O castelo poderia desabar sobre sua cama, que ele continuaria dormindo tranquilamente.

Abrindo um sorriso dissimulado, ela abaixou na altura da cama, puxando a varinha e apontando para Alvo diretamente, e murmurando “aquamenti” enquanto sacudia a varinha levemente. O berro que ele deu enquanto acordava fez Rose abençoar o feitiço silêncio, enquanto ela ria quase tão alto quanto o primo berrava.

—Rose! —ele exclamou

Ela tentou engolir a risada tempo o suficiente para responder.

—Eu quero chamar o pessoal… o pessoal do nosso tempo, e discutir o que nós podemos ou não falar. Merlin sabe que muita coisa aconteceu desde 1996.

Alvo sentou na cama, o cabelo e as vestes pingando no edredom já encharcado.

—E você teve que me molhar por que…?

Ela deu de ombros.

—Por que você não levantava. Olha, acorde seus irmãos, que eu pretendo buscar Scorpius e Teddy no andar de cima, e nós nos encontramos no salão comunal lá em baixo. Alicia e Franek já estão ali.

Alvo abriu um sorriso malicioso.

—Ah… Scorpius? Não vá se distrair no caminho!

Rose levantou do chão, ignorando o primo, e indo em direção a saída.

—Acorde os dois, sim? — ela disse, se virando para ele, sorrindo antes de fechar a porta atrás dela.

Ele se jogou de volta no travesseiro – encharcado – e ficou alguns segundos deitado antes de pular para fora da cama e pegar a varinha no mesmo movimento. Sem esquecer de antes lançar um silencio sobre os primos, ele atirou o mesmo feitiço que a prima havia jogado nele para acordar os irmãos.

Se ele não tivesse rindo tanto, os berros seriam capazes de deixa-lo com dor de cabeça. Os dois saltaram da cama irritados, pingando da cabeça aos pés, molhando o carpete do chão.

—Alvo Severo Potter! — exclamou Lilian Luna, e Alvo certamente teria medo dela se ela não estivesse nessa situação.

—Eu espero que você tenha um ótimo motivo para nos acordar assim, Alvo — disse James Sirius irritado, passando a mão no cabelo preto, agora grudado em seu rosto, na frente dos olhos.

Alvo engoliu o que restava da risada e, ainda respirando pesadamente, tentou responder.

—Rose me acordou, ela quer conversar com o pessoal… O pessoal do nosso tempo, eu quero dizer.

Lilian Luna, puxando seu cabelo para só um lado e torcendo a água para fora dele com as mãos, olhou o irmão boquiaberta.

—E você decidiu acordar nós dois jogando água?

Ele deu de ombros, segurando outra crise de risada.

—Foi assim que ela me acordou.

James Sirius trocou um olhar atravessado para a irmã, que sorriu endiabradamente, pegando a varinha na cabeceira e girando-a entre os dedos. Ele copiou o movimento, e ambos olharam para o irmão do meio com o mesmo olhar vingativo no rosto.

Quando Rose, Scorpius, Hugo e Teddy desceram para o salão comunal, Alicia e Franek riam num sofá e os irmãos Potter estavam sentados em poltronas separadas, e uma poça de água se formava em baixo de cada um deles, molhando os sofás e os tapetes. Alvo Severo, além de encharcado, tinha seu cabelo preso em pequenos tufos espalhados pela cabeça, e a pele inteira coberta em escritos que brilhavam e reluziam no seu corpo. Scorpius deu risada ao ler “Alvinho chora durante o beijo” e “Grifinória S2” estampados em cada um dos braços do amigo.

Teddy abriu a boca várias vezes, olhando para os irmãos, como se pensando no que perguntar, mas ele decidiu apenas sacudir os ombros e sentar numa cadeira oposta. Rose e Hugo não se deram ao trabalho de estranhar, apenas passando e dando um “high-five” na Lilian Luna no James sirius antes da ruiva se sentar num sofá e Hugo se apoiar no braço da poltrona de Lilian. Scorpius olhou para o melhor amigo sentado, com um rosto entediado como se ele não tivesse sido atacado pelos irmãos, e fez um gesto com as mãos, trazendo o punho fechado para a mão esticada, gesticulando “se ferrou” com os lábios.

—Cala a boca — disse Alvo para o amigo.

Scorpius riu audivelmente, sentando do lado da namorada no sofá.

—Eu não disse nada “alvinho” — ele respondeu ainda rindo.

Alvo murmurou alguma coisa e olhou irritado para o loiro. Teddy sorriu levemente e puxou a varinha do bolso, secando os Potter com um aceno rápido.

—Vocês estão encharcando o salão que não é nem de vocês — ele explicou — Alguém tem que ser o adulto chato que vai impedir vocês de destruírem o estofado.

James Sirius franziu as sobrancelhas.

—Achei que o adulto chato aqui fosse a Rose — ele disse, parecendo realmente confuso, antes de dar de ombros.

A ruiva deu a língua para ele.

—Disse o monitor chefe — ela retrucou James Sirius

—Ele só é monitor chefe por que ele ficou amigo do David — Apontou Hugo — ele foi uma… como a vó Molly falou? Ah, sim, “uma boa influência no jamezinho”

O grupo inteiro riu, e James Sirius deu a língua para o primo e corou um pouco, embora estivesse sorrindo.

—Ela só disse isso por que David é muito bom para ser pego — ele contestou — Ele é um Corvinal, faz parte do trabalho dele ser esperto.

Alvo deu de ombros, tentando - e falhando – tirar um dos elásticos do seu cabelo. A sua irmã definitivamente sabia feitiços fixadores.

—Seja lá qual foi o motivo, suas detenções diminuíram muito. O que foi bem sem graça, por que acabou com nossa competição toda; do que adianta eu ter batido seu recorde se você não está nem tentando mante-lo.

—Você ainda pode bater o do seu pai — apontou Scorpius — Ou o do seu avô.

Alvo sorriu.

—Estou a 11 detenções de bater o recorde do pai, meu plano é consegui-las antes do final do ano.

Eles deram risada, mas Rose tentou parar a dispersão rapidamente.

—Gente, eu chamei vocês aqui por outro motivo. O que a gente não pode contar, o que nós podemos, e o que nós vamos alterar levemente?

Teddy pigarreou, chamando a atenção.

—Podemos ter um problema.

Lilian Luna revirou os olhos.

—Nós estamos presos no passado com versões adolescentes do nossos pais e avós, muito dos quais estão mortos. Ah, eu mencionei que por acaso também estamos no meio de uma das maiores guerras bruxas da história? Aonde, devo lembrar, o alvo principal era meu pai, também conhecido como tio ou padrinho de vocês.

Um silêncio caiu como uma pedra na sala.

—Bom… Esses problemas também — disse Teddy, seu cabelo escurecendo alguns tons — mas eu quis dizer que… Eu acho que meu pai sabe que ele está morto… ou pelo menos que os amigos dele estão.

O restante olhou para ele surpreso.

—Como? — disse Alvo confuso.

Teddy encolheu os ombros.

—Ele… E sirius, para falar a verdade…Bom, eles começaram a me perguntar algumas perguntas estranhas, e eu tentei evitar elas, mas eu acho que eles acabaram percebendo.

—Todo o dia o mundo bruxo deveria agradecer por você não querer ser um auror — disse Alvo — você, querido Teddy, é um péssimo mentiroso.

Teddy deu a língua para o garoto, mas ele não podia discordar: ele definitivamente não sabia mentir. Esse era um dos motivos que ele decidira fazer um curso de transformação avançada (ao invés de se tornar auror) e – quem sabe – trabalhar em alguma área do ministério.

—Como foi? — perguntou Rose cautelosamente, olhando para o garoto de cabelo azul — Ver seu pai pela primeira vez? Especialmente depois de… Bom a parte dele ter um namorado e tudo mais.

Teddy sentiu seu rosto inteiro esquentar.

—Foi estranho… Tipo, eu construí essa imagem dele sabe? — ele encolheu os ombros e seu cabelo foi mudando lentamente para o mesmo tom de vermelho das suas bochechas — E a imagem que eu tenho não é a da versão de 16 anos dele. Um adolescente se metendo em problemas com os amigos… apaixonado… Eu queria que alguém tivesse me dito, sabe? Sobre ele e o Sirius… Não que eu me importe, mas é que é algo que eu saberia se eu tivesse conhecido ele, pelo menos que eu gostaria de saber.

Um silêncio pairou pela sala por algum tempo.

—Pelo menos agora você pode conhecer ele — disse Lilian inocentemente.

Teddy encolheu os ombros, seu cabelo lentamente voltava para o tom natural de azul.

—É. Pelo menos isso.

Ninguém falou mais nada por alguns segundos, o silêncio incomodo pairando novamente entre o grupo, antes que Lilian quebrasse-o, pigarreando alto.

—James, Alvo, vocês notaram algo no nosso quarto? — perguntou a ruiva.

Eles negaram, e ela passou a mão no cabelo

—A vó Lilian e o vô James não estavam lá. Eles não deveriam ficar juntos até o 7ºano deles.

Rose fechou os olhos preocupada e respirou fundo.

—Vamos nos focar aqui. Nós já temos evidências o suficiente para saber que as coisas estão mudando. Nossos pais já sabem que Voldemort perdeu a guerra, e que eles viveram tempo o suficiente para ter filhos. Se eles perguntarem… Quando eles perguntarem, nós evitamos qualquer resposta que indique o que aconteceu, e principalmente quem morreu. Se eles perguntarem algo sobre, por exemplo, o irmão do tio Jorge, Fred, nós vamos falar que ele está bem, solteiro, e trabalhando na gemialidades Weasley. Se eles perguntarem do pai do Teddy, sejam o mais vagos possível, falem que ele está bem, no máximo.

—Se recusem a responder qualquer pergunta muito específica, — sugeriu James Sirius — mesmo que ela seja sobre alguém que está vivo. Se nós vamos ser vagos sobre as partes ruins, temos que ser vagos sobre as boas, caso contrário eles vão desconfiar.

Todos assentiram com a cabeça, murmurando em concordância.

—Vocês acham que tem alguma chance de… nosso futuro não existir mais? — perguntou Scorpius — Quero dizer, até onde nós sabemos, isso nunca aconteceu.

—Meus pais só deveriam começar a namorar no final da guerra — disse Rose — e se isso empurrasse eles a saírem agora? Quero dizer, você não pode fugir depois de receber uma notícia como essa. O fato que os avós de Alvo saíram juntos são a prova.

Hugo deu de ombros.

—E se nossos pais namorassem agora? Não deve afetar muito o nosso futuro, deve?

Lilian negou com a cabeça, discordando do namorado.

—Pense em tudo que aconteceu depois do sexto ano deles? Papai contou essa história umas quarenta vezes: Rony deixou eles durante um ponto, descobriu várias coisas importantes sobre a guerra. Ele também descobriu a casa do tio Gui, que foi o esconderijo deles por um tempo. E se, namorando a tia Hermione, ele nunca abandonasse eles?

—E daí — disse Alvo — nós podemos contar todas essas coisas para eles.

Scorpius negou com a cabeça.

—Nós nunca poderíamos saber o que aconteceria se eles já tivessem as informações. E se eles nunca fossem capturados para a mansão Malfoy?

Alicia franziu as sobrancelhas.

—Isso seria bom? — ela perguntou

O irmão dela negou com a cabeça.

—Foi quando Harry pegou a varinha do pai do Scorpius, fazendo ele ser o dono da varinha das varinhas.

Alice assentiu com a cabeça, lembrando dessa parte da história.

—Além do mais — disse Scorpius, passando a mão no pescoço nervosamente — foi quando meu pai mudou decididamente de lado na guerra. Ele mentiu para Bellatrix e os demais comensais, e chamou Dobby para tirar eles do porão.

Rose assentiu com a cabeça, apertando a mão do namorado.

—Não podemos arriscar. Se nosso futuro já mudou, temos que manter as mudanças no mínimo. Mas existe a chance de nada aqui estar alterando nosso futuro.

—Como é possível? — disse Franek — mesmo que nós não falemos nada de impacto, Harry já conheceu seus pais e meu pai conheceu os meus avós. Isso não deveria acontecer.

Rose suspirou.

—Existem vários de tipos de teorias de viagem no tempo, ok? Dependendo de qual nós fizemos e de como o nosso universo funciona. Eu estou apostando na mais simples: tudo que está acontecendo já aconteceu no nosso tempo.

O rosto confuso de todos na sala fez ela massagear as têmporas.

—Ok, sabe a história que a mamãe contou sobre o vira tempo que ela teve por alguns meses? — explicou a ruiva — Quando ela foi salvar Sirius e o bicuço, ela não alterou a linha do tempo dela, por que a linha do tempo dela já incluía ela salvando os dois. Bicuço nunca morreu, e o Sirius nunca recebeu o beijo do dementador. O passado, presente e futuro dela já incluíam a intervenção da viagem no tempo que ela faria.

Hugo franziu as sobrancelhas.

—Como você sabe que ela não mudou a linha do tempo dela?

Rose bufou novamente, e olhou para o irmão, gesticulando com as mãos.

—A prova é que tio Harry viu ele mesmo lançando o patrono naquele lago. Ou seja, o passado deles já incluía as modificações que o eu-futuro deles faria. Nesse caso, não tem como gerar um paradoxo, ou alterar sua linha do tempo. Usando essa técnica, você não pode ferrar com seu futuro. O problema é que se você, indo para o passado, fizesse algo como se encontrar, e você não tivesse memória te der se encontrado, você saiu desse modelo de viagem no tempo. Você fez algo que não tinha acontecido no seu futuro, e você pode destruir sua própria linha do tempo. Especialmente se você gerar um paradoxo.

Lilian, que tentava como todos os outros entender a lógica da viagem no tempo, encarou a prima confusa.

—Então o que você está dizendo que nossa vinda ao passado aconteceu para nossos pais no nosso presente, e que nós não temos como destruir o futuro como nós conhecemos?

Rose sorriu.

—Sim! — ela parou por um tempo, e o sorriso caiu do seu rosto — Bom, em parte. Eu nem sei se essa é a técnica dessa viagem no tempo! Por isso que viagem no tempo é complicada, dependendo de como, quando e o que nós fizermos, nós podemos sair de uma viagem descomplicada como a da mamãe e o tio Harry ou entrar num looping eterno ou apagar nossa existência. Nenhum de vocês viu “De volta para o futuro”?

Ninguém levantou a mão, e ela bufou.

—Vocês claramente precisam aprimorar seus conhecimentos da cultura trouxa.

Alvo bufou.

—Você já me obrigou a assistir todos os 9 filmes do Star Wars.

Scorpius apontou para o amigo.

—Em defesa dela, você adorou os filmes.

Alvo sorriu culpadamente, levantando os braços como se rendendo.

—A conversa acabou? — perguntou Alice com um bocejo — por que eu realmente preciso de uma noite de sono. Ou quarenta.

O grupo deu uma risada cansada.

—Acho que todos precisamos — murmurou Rose — boa noite.

Um por um, todos foram, subindo, deixando Rose e Scorpius sozinhos no salão comunal. Lilian e Hugo se despediram com um selinho na frente da porta dos Potter antes do garoto subir o próximo lance de escadas.

Scorpius encostou a cabeça no ombro da namorada, suspirando e fechando os olhos. De repente, ele notou o quão cansado ele realmente estava. Ela deitou a cabeça na dele, fechando os olhos também.

—Eu sempre soube que ele era um idiota na minha idade — murmurou Scorpius — Meu pai. É muito estranho ver ele assim de qualquer maneira.

Ela entrelaçou a mão dele na dela.

—Eu sei. Se é estranho ver os meus pais eu imagino o seu. Aposto que no fundo ele é legal.

Ele bufou sem acreditar.

—Ele está criando uma maneira para ajudar comensais da morte invadirem a escola, que vai resultar na morte de Alvo Dumbledore e no seu tio Gui ganhando uma cicatriz de um lobisomem.

—Não fale como se ele quisesse fazer isso — ela murmurou, beijando a cabeça dele levemente — amanhã vocês vão conversar, e tudo vai ficar melhor. Ele tem a sua idade, aposto que vocês são mais parecidos do que parece.

Ele bufou.

—Eu sou claramente mais bonito.

Ela riu, levantando do sofá e trazendo-o junto.

—Seu ego também é maior.

Ele sorriu antes de puxar ela para um beijo.

—Meu ego é menor que o seu.

Ela deu a língua para ele, e beijou ele mais uma vez.

—Mas é por que eu sou mais bonita e mais inteligente. Vamos subir, eu realmente preciso dormir.

Ele concordou, e deu um último beijo de boa noite nela na porta do quarto dos Weasley antes de subir para o próprio dormitório.