Lilian estava surpresa com o quanto ela estava se divertindo. Ela e James estavam sentados numa das enormes mesas da cozinha, alguns elfos domésticos ainda estavam trabalhando, e estavam mais do que contentes em servir os dois grifinórios. Lilian tinha nas mãos um enorme pote de sorvete, e eles dois pegavam colheradas da sobremesa diretamente do pote.

Naquele momento, a ruiva estava rindo tanto que nem conseguia comer sem se lambuzar, não que James estivesse numa situação melhor, tossindo, tentando se desengasgar enquanto sua gargalhava ecoava pela sala.

—Eu não posso acreditar que você fez isso com sua irmã, Lily — ele conseguiu dizer depois de um tempo.

Ela pegou outra colherada do sorvete e sorriu marotamente para ele.

—Em minha defesa, ela que veio xeretar na minha mala. Não é minha culpa.

Ele levantou as sobrancelhas descrente, seu sorriso escondido pela colher em sua boca.

—É sua culpa que sua mala tenha um feitiço que faz a pessoa só poder falar cantando pelo resto da semana.

Lilian deu outra risada.

—Ela tinha um encontro naquela semana. Você deveria ter visto a cara do cuidado, ele estava tão confuso.

James quase abriu a boca para perguntar se esse namorado era o tal de Valter que seria Tio de Harry, mas conseguiu se segurar a tempo. Ele prometera um encontro sem conversar sobre seus possíveis futuros filhos, e nem em um milhão de anos ele iria estragar seu primeiro encontro com ela.

É claro que, com a sorte que James tinha, alguém fez isso por ele.

—Harry Potter? — Perguntou uma voz aguda e esganiçada atrás dele.

Ele se virou, procurando o dono da voz, e se surpreendeu ao ver o que ele tinha certeza ser o elfo domestico mais colorido que jamais existiu. Ele usava pelo menos 4 meias diferentes em cada pé e nenhuma combinava; James podia jurar que uma delas tinha várias caras do filho dele estampadas, mas ele não gastou muito tempo analisando. O elfo também usava 2 suéteres, um amarelo e um verde, e tantos gorros de lã que não era possível contar.

Ao ver a face de James, o elfo parou no lugar confuso, antes de fazer uma pequena reverencia que derrubou alguns gorros no chão.

—Perdão, senhor — ele disse formalmente, na sua voz aguda — Mas o senhor parece muito com o amigo de Dobby, Harry Potter.

James deu risada e Lilian sorriu, comendo outra colherada de sorvete.

—Já me disseram isso. Harry é seu amigo?

O elfo doméstico assentiu veementemente com a cabeça.

—Mestre Harry é amigo de Dobby, e amigos de Harry Potter são amigos de Dobby. Os senhores são amigos de Mestre Harry?

Lilian disse que sim, olhando carinhosamente para a figura a sua frente.

—Os senhores podem dizer a Mestre Harry Potter que Dobby tem notícias muito importantes?

A garota sorriu gentilmente, pegando um dos gorros que havia caído e entregando-o para o elfo.

—Claro, Dobby. — ela disse docemente

O elfo abriu um enorme sorriso.

—Amigos de Harry Potter são sempre amigos de Dobby! Com licença senhor e Senhorita, mas Dobby tem que terminar algumas de suas tarefas.

E com isso, ele desapareceu com um estalo. James e Lilian se entreolharam antes de rirem levemente.

—Harry é amigo de um elfo doméstico livre. — disse James balançando a cabeça — existe alguém que não é amigo dele?

Lilian riu.

—Aparentemente, você-sabe-quem. E o filho do Malfoy.

James acompanhou a risada.

—Então ele mantém uma distância de psicopatas. Eu não sei você, mas eu considero uma qualidade.

Lilian jogou o cabelo para trás.

—São os bons genes maternos.

James olhou para ela ultrajado, mas não conseguiu conter a risada ao ver o sorriso dela, então se limitou a mostrar a língua para ela. Ela riu mais um pouco, mas o sorriso de James de repente caiu. Ela olhou para ele confusa.

—Qual o problema?

Ele encolheu os ombros.

—Eu te prometi um encontro sem confusões de viagem no tempo.

Ela sorriu docemente.

—James, nós estamos tomando sorvete na cozinha na madrugada de 20 anos no futuro. Não dá pra ignorar.

Apesar da frustação, ele não conseguiu ignorar que ela havia o chamado de James.

—Mas esse era o objetivo, ignorar.

Era para aumentar as incertezas, era para ser só eles, sem a bagunça em volta, ela completou em sua cabeça, sabendo o que ele estava pensando.

—E nós conseguimos isso por… — ela olhou no relógio — uma hora. Melhor que nada, não acha?

Ele sorriu levemente, e ela comeu mais uma colher de sorvete antes de devolver o pote quase terminado na mesa.

—Eu voto para nós voltarmos para os dormitórios. Eu estou quase caindo de sono dentro do pote de sorvete. E eu provavelmente não ia nem me importar, eu só ia dormir com a cabeça enfiada no pote.

Ele deu risada com a imagem, e ela acompanhou, corando levemente.

—Fala sério — ela continuou — quem fala isso num primeiro encontro?

Ele abriu um sorriso com a fala dela.

—Gente que tem o primeiro encontro na cozinha numa madrugada 20 anos no futuro.

Lilian deu risada, levemente embriagada pelo sono.

—Eu estou, oficialmente, com muito sono, e eu quero que você saiba, James, que eu nunca falaria isso se eu estivesse em um estado são…. Mas, nada mal para um primeiro encontro.

—Nós tomamos sorvete por uma hora na cozinha — ele contestou

Ela deu de ombros e levantou, apertando a capa sobre os ombros.

—Mas eu me diverti.

Ele concordou com ela, levantando também e cobrindo os dois com a capa da invisibilidade. Ele, porém, franziu as sobrancelhas ao abrir o mapa dos marotos.

—O que foi? — ela perguntou olhando por cima do ombro dele.

—Os garotos do futuro… Quero dizer, do futuro-futuro, os filhos do Harry e tudo mais. Todos eles estão no salão comunal.

Ele virou o mapa para ela olhar, e ela franziu as sobrancelhas também.

—Você não acha que eles têm alguma coisa a ver com isso, acha?

Ele encolheu os ombros.

—Não sei. Eu espero que não, mas eles poderiam.

Ela puxou o mapa para as próprias mãos.

—O que você vai fazer? — ele perguntou confuso.

Ela sorriu diabolicamente.

—Tem uma maneira fácil de saber. Nós vamos lá escutar.

Ele tentou contestar, mas ela puxou ele pelo braço, arrastando-os pelos corredores vazios, fazendo algumas curvas desnecessárias para evitar alguns professores em suas rondas.

Eles chegaram a tempo para ouvir Teddy Lupin contando sobre as perguntas que seu pai havia feito para ele. Lilian teve que lançar um feitiço silenciador em torno dos dois, cobertos pela capa num canto afastado da sala, para impedir eles de escutarem o “não” que James berrou quando Teddy disse que seu pai havia morrido.

—Ele era para ter sobrevivido Lilian. Era para Aluado ter sobrevido. — disse James tentando sem sucesso segurar as lágrimas — nós tínhamos morrido, mas ele não.

Lilian colocou a mão em seu ombro.

—Nós não sabemos se estamos mortos — ela murmurou, mesmo sem acreditar.

Ele negou com a cabeça, e continuou a ouvir a conversa, sem se importar de limpar as poucas lágrimas que conseguiram escapar. Quando o casal Rose e Scorpius finalmente subiram, James e Lilian saíram de debaixo da capa em silêncio. Nenhum do dois disse nada por um longo tempo, até que Lilian quebrou o silêncio.

—Remus… Remus morreu antes de Teddy conhecer ele. — ela murmurou, tentando ser analítica e manter a voz equilibrada — Sirius se envolveu em problemas com dementadores, mas Harry e Hermione voltaram no tempo e salvaram ele e um tal de Bicuço e…

—E nós provavelmente morremos — completou James seco — Ou seja lá o que, mas nem Frank e Alice nem nós conhecemos os nossos devidos filhos.

Ela assentiu, tentando não colapsar no chão e chorar.

—Pelo menos foi isso que eu entendi. — ela concordou — Não se esqueça que nosso filho e seus amigos foram aparentemente muito ativos na guerra.

Eles ficaram em silêncio por mais alguns segundos.

—Podemos nos focar no fato que Sirius teve problemas com dementadores? — disse James tentando quebrar o clima mórbido — por que, sinceramente, se era para um de nós ir para a cadeia, seria Sirius.

Lilian deu uma risada leve.

—Nós não deveríamos ter ouvido isso. Foi minha culpa.

James negou com a cabeça.

—Eu queria escutar. E por enquanto eu só vou pensar que Sirius é sempre um idiota, e que nós sabemos que aqueles garotos estão estão perdidos em por que estamos aqui quanto nós.

Ela concordou e sorriu levemente, indo em direção as escadas. Ele seguiu ela, e ambos entraram silenciosamente no quarto e só foram falar de novo quando estavam ambos deitados, cada um em um lado da pequena cama.

—Obrigada — ela murmurou sonolenta.

Ele se virou para olhar ela, a confusão clara em seu rosto.

—Pelo encontro fracassado?

Ela riu pelas narinas.

—Pela parte que funcionou. Eu precisava me distrair.

—A seu dispor… Hey lírio, você sabe que a gente vai mudar isso, não é? Eu não vou deixar aquele ser o futuro.

Ela fechou os olhos.

—Se nós pudermos mudar tudo sem gerar a exterminação do nosso universo… E James, você ainda não pode me chamar de lírio.

Ele deu risada, e murmurou boa noite antes de perceber que a ruiva já tinha dormido. Ele sorriu melancolicamente, e fechou os olhos também, seguindo a ruiva.