Apesar de Draco ter sido o último a entrar no quarto, de alguma maneira ele conseguiu ser um dos primeiros a entrar no banheiro, ocupando um dos 3 chuveiros masculinos disponíveis, já com vestes limpas a mão (que, por algum motivo, estavam a sua espera em cima de sua cama). Alvo e Scorpious ocuparam os outros chuveiros, deixando o restante dos meninos suados para esperar, sentados no chão do centro do quarto circular (após Hermione fazer um pequeno sermão para Harry quando este tentou deitar em sua cama antes de tomar o banho).

Lily Luna, Rose e Alicia ocuparam os chuveiros do banheiro feminino, e o restante das meninas se sentaram junto aos garotos no chão, a maioria igualmente suada e ofegantes, o coração ainda palpitando mais rápido do que deveria.

—Por que todos os nossos chuveiros foram tomados por sonserino? — perguntou Rony, deitando no chão gelado — A que ponto chegamos?

Sirius grunhiu.

—Você nunca morou com sonserinos, eles sempre acabam com a água quente e comem a sobremesa, e depois falam para sua mãe que foi você que comeu o maldito bolo de aniversário da sua prima e fazem o seu elfo doméstico apoiar a mentira.

James deu risada.

—Alguém aqui tem muito ressentimento armazenado.

Sirius deu a língua para ele enquanto o restante ria.

—A pior parte é que é verdade. Bom, tirando a parte do bolo. — disse Lilian Luna — Eu tive que aprender operações de guerra para sobreviver durante as férias.

Após algumas risadas o grupo se dissolveu em pequenos núcleos de conversa. Diferentemente de antes, os grupos não eram divididos pela época de cada pessoa, mas sim por um interesse casual em algum assunto em especial. Não eram grupos cem por cento misturados, com membros da todas as três gerações em cada um, mas era definitivamente menos segregado que antes.

James parou de escutar o que James Sirius falava, perdido demais em seus próprios pensamentos. Com o olhar, ele vasculhou por seus amigos, perguntando, sem falar nada, por permissão para alguma coisa, e todos assentiram com a cabeça, sabendo o que o garoto estava pensando.

—Harry… — disse James lentamente, se aproximando do garoto (que conversava com Hermione e Remus) — nós temos algo para dizer para você.

O sorriso no rosto do garoto sumiu assim que ele viu o rosto sério de todos os marotos e seus amigos. Sirius raramente não estava sorrido, mesmo a versão adulta dele, que havia ficado preso 12 anos em Askaban, o seu rosto sério (somado com o de todos os demais) apitou um alarme no cérebro do garoto.

—Harry… — murmurou Neville perto dele — o que está acontecendo?

Foi Alice que respondeu, sorrindo melancolicamente para o filho.

—Nós… Nós notamos algumas coisas.

Neville olhava para a mãe com a boca um pouco aberta, mesmo quando James começou a falar. Embora o restante do grupo estivesse olhando para James, este falava olhando diretamente para Harry.

—Nós sabemos que nós não sobrevivemos. — murmurou James, a voz falhando não saiu mais alto que um sussurro.

Harry abriu a boca, mas nenhum som saiu dela. Se o restante do grupo tinha algo a dizer, estavam com a mesma dificuldade que o garoto.

—Nós sabemos que nem James e eu, nem Alice e Frank vão viver para ver você e Neville crescerem. —murmurou Lilian

—E sabemos que Sirius vai, por algum motivo, para Askaban. — completou Remus, a voz no mesmo volume quase inteligível.

Harry demorou alguns segundos para poder entender o que eles haviam dito e alguns segundos para assimilar tudo e mais alguns segundos para conseguir formular uma resposta que não consistisse de palavras soltas e uma expressão de surpresa.

—Quem contou isso para vocês?

Frank tirou seu olhar de Neville por alguns segundos para olhar de relance para Harry antes de responder.

—Na maioria, nós deduzimos. Vocês evitaram algumas perguntas, e a expressão de vocês nos diziam mais do que vocês queriam. O nome dos filhos de vocês foi uma outra pista boa, quero dizer, vocês basicamente fizeram homenagem a todos nós.

James tossiu.

—Além do mais, ontem à noite os filhos de vocês se reuniram para tentar entender o que eles podiam ou não falar.

—E vocês sabem disso porque…? — perguntou James Sirius, uma sobrancelha levantada.

—Nós estávamos lá, sob a capa da invisibilidade — disse Lilian olhando para o neto, encolhendo os ombros como se pedisse desculpa.

—Oh — soltou Hugo — nós devíamos prestar mais atenção.

Harry e o restante de seus amigos não estavam mais escutando, mas sim encarando o grupo do passado com um olhar de terrível melancolia e pena.

—Vocês não deveriam saber disso — murmurou Hermione — vocês podem mudar todo o futuro. E vocês sabem que isso acarretaria, provavelmente, no colapso dessa linha do tempo.

Remus encolheu os ombros.

—Nós já sabemos mais do que devíamos de qualquer maneira.

—Além do mais — complementou Sirius — sem a parte do colapso da linha do tempo e da morte de tudo que nós conhecemos, existe a chance de nós não destruímos tudo, não? Não seria bom se pudéssemos mudar tudo? Sem mortes, sem prisões…

Hermione negou com a cabeça.

—Vocês não podem mudar a nossa linha do tempo sem destruir as coisas. Não mudanças drásticas, de qualquer maneira.

—Algumas pessoas vão viver, não pode fazer tanta diferença! — exclamou Lilian quase em um choro.

—Faria toda a diferença nem se não fosse vocês — murmurou Harry, a voz rouca — sendo vocês… sendo eu e Neville os afetados… a diferença seria assustadora.

Neville olhou para ele confuso. Como ele faria tanta diferença? Mas sua pergunta nunca deixou de sair de sua boca, por que Rony atropelou qualquer chance do menino de falar, apoiando uma mão no ombro de Harry.

—Harry… você acha uma boa ideia contar toda a história?

Harry encolheu os ombros, os olhos nebulosos.

—Eles já sabem mais do que deviam de qualquer maneira, não faz tanta diferença.

Hermione olhou para Neville e Gina pelos cantos dos olhos.

—Não que eu não confie neles, mas não acha que…

—Hermione — interrompeu Harry suavemente — viagem no tempo nunca estava nos planos, acho que isso muda a situação. Além do mais, só Neville e Gina de nosso tempo estão aqui.

Ela olhou nervosamente para a porta do banheiro masculino, como se esperasse Draco Malfoy sair de lá, mas o barulho de água corrente não pareceu diminuir e ela apenas encolheu os ombros.

—Vocês podem apagar nossa memória — sugeriu Alice delicadamente — se vocês acharem que foi informação de mais. Antes de voltarmos, eu quero dizer.

—Alice! — exclamou Lilian indignando-se com a ideia.

—O que? — respondeu a menina, virando a cabeça para encarar a menina, os cabelos pretos se mexendo sobre o ombro — Você prefere não saber agora?

Lilian abriu a boca várias vezes antes de fecha-la definitivamente e cruzar os braços, se afundando em si mesma como derrota. Todos os membros agora olhavam para Harry, mesmo aqueles que já conheciam a história que Harry iria contar melhor que o próprio rapaz.

—Eu quero que vocês entendam que todos nessa sala, pelo menos os que já nasceram, é claro, tem um papel importante na resistência contra Voldemort. Na verdade, junto com várias outras pessoas, vocês formaram a ordem da Fênix original, a mais importante organização de resistência na guerra. Nós — ele disse apontando para os amigos deles — nossas famílias e os sobreviventes da ordem da fênix original formamos novamente essa organização. Em algum momento entre a época de vocês e a nossa, Voldemort vai cair e ressurgir, dividindo essa guerra em duas etapas. Algumas coisas sobre o próprio Voldemort são de sigilo extremo. Algumas dessas eu estou prestes a contar para vocês. Acho que, principalmente Neville, tem direito de saber.

O grupo, se queria comentar alguma coisa, manteve as falas para si mesmo, e nem mesmo Sirius Black ousou abrir a boca, como se qualquer exclamação pudesse fazer Harry mudar de ideia e parar de falar.

—Acho melhor começar com a noite em que Voldemort morreu.