31 de dezembro

Os últimos sete dias foram os mais torturantes para o Uchiha. Aquele encontro na noite de Natal mexeu  até demais com os pensamentos dele.

Depois daquele dia, cada minuto arrastava-se de  tal maneira, que Sasuke chegou a pensar que estivesse preso à um genjutsu.

Precisava dela mais do que nunca e, dessa vez, não a abandonaria... Ficaria com ela pelo resto de seus dias... pelo menos, esse era o plano.

~*~

O bilhete dele estava sobre o criado mudo. Todos os dias ao acordar, ela o lia como um ritual, afinal aquele papel era uma prova que ele não tinha esquecido dela e, talvez, um dia voltasse.

O gosto de menta dele ainda podia ser sentido na boca da rosada.  

" Ele precisa voltar..."

Ela queria muito mais que apenas as lembranças da noite de Natal. Sakura queria Sasuke ao seu lado... Mas onde encontrá-lo? Ele não tinha falado por onde esteve. Ela não tinha sequer uma pista de seu paradeiro e muito menos, se o veria novamente.

“Não posso me iludir...”

Por algum motivo, estava mais animada nessa véspera de Ano Novo. Arrumou-se e preparou um jantar simples... Talvez ele aparecesse... Talvez não.

~*~

A noite já tinha caído em Konoha. Bastava seguir até a casa dela e falar-lhe tudo o que queria. Simples?!

Nem tanto...

Não seria como na noite de Natal. Ele teria muito mais coisas para falar com ela...  Coisas que ele não tinha certeza se saberia dizer...  Coisas que há tempos estava aprisionado em seu coração.

Sasuke deu um longo suspiro, mirou o céu e verificou se tinha tudo o que precisava.

" Está na hora..."

Pulou entre o galho das árvores com uma velocidade inacreditável. Quanto mais cedo fizesse, mais cedo acabaria... E mais cedo saberia a resposta dela.

Por um momento pensou em desistir de toda aquela loucura.

“Não! Um Uchiha nunca desiste dos seus objetivos!”

Voltou a pular por entre as árvores, mas novamente parou. Não pelo sentimento de desistência, mas sim, pelo da amizade.

Avistou Naruto sentado no banco próximo a saída da vila da Folha. O mesmo lugar onde ele abandonou sua flor de cerejeira. Deveria falar com ele? Não sabia ao certo... mas não teria nada a perder!

- Dobe!

O moreno viu o amigo levantar-se num pulo e olhar exatamente para onde estava.

- Teme! – exclamou animado. – O que faz aqui?! Não vai me dizer que... – Naruto arregalou os olhos. – vai voltar?

- Depende...

Naruto arqueou uma sobrancelha.

- Depende?! Depende do que Teme?!

- De muitas coisas...

- Que tipo de coisas?

Naruto não tinha mudado. Tinha crescido, mas continuava com o jeito infantil... sempre curioso!

- Tsc... – limitou-se a responder. – Não seja tão curioso...

Os dois sorriram um para o outro. Os laços de amizade entre ele nunca foram rompidos.

- Boa sorte com a Sakura-chan! – exclamou alegre.

“Como ele sabe?”

- Preciso ir! – exclamou o Uchiha. – Até logo, Dobe...

Antes que pudesse seguir seu caminho, ouviu novamente o chamado do loiro. Virou-se e encarou mais uma vez o amigo. 

- Siga seu coração, Teme! Vocês dois merecem...

O moreno sorriu de canto. Quando Naruto tinha se tornado tão maduro?! Pela primeira vez, escutou palavras “sábias” vindas por parte do amigo...

- Valeu, Naruto! Farei isso!

~*~

Estava inquieta, mas não sabia o motivo... Talvez estivesse se iludindo em achar que Sasuke voltaria algum dia. Ele não tinha prometido nada a ela, mas algo estava diferente...

Sakura parou no parapeito da janela e observou o céu de Konoha.

  Sentiu a brisa fresca da noite de Ano Novo e fechou os olhos por um minuto.

~*~

Ele seguiu seu caminho até casa de Sakura. Novamente parou num dos galhos ao vê-la. Ao estreitar  os olhos pôde ver sua flor de cerejeira. Estava bem vestida, como se esperasse por ele.

Os cabelos dela se esvoaçavam conforme o vento seguia seu caminho. Aproximou-se da janela como na noite de Natal e pôde sentir o cheiro de cereja dela.

~*~

Permitiu-se ficar de olhos fechados por alguns segundos até que sentiu um vento mais forte... Mais frio. Sentiu-se arrepiada e fitou o céu. 

“Parece que o tempo vai mudar...”

Fechou a janela da sala e ao virar-se encontrou dois olhos ônix encarando-a.

Seu corpo já não respondia aos seus comandos. Não conseguia se mover e sentiu seus joelhos falsearem.

~*~

Entrar na casa dela foi mais fácil do que ele pensou. Seus  olhos não conseguiam desgrudar-se de Sakura. A imagem da rosada a sua frente mantinha o Uchiha hipnotizado.

Sasuke reparou que ele não era o único surpreso naquele lugar. Com uma velocidade incrível, conseguiu tapar a boca dela, antes que gritasse e os vizinhos viessem ver o que tinha acontecido. Não queria que ninguém os atrapalhasse.

- Sou eu, Sakura! – murmurou próximo a ela.  – Calma...

~*~

Pouco a pouco, voltou a si. Sentiu seu corpo relaxar  e tirou a mão dele de sua boca.

- Você veio... – murmurou sorrindo. – Pensei que você nunca mais fosse aparecer, afinal não disse se voltaria.

- Mas também não disse que não voltaria... – sorriu de canto. 

- E-eu sei, mas você não prometeu nada. – balbuciou. – Nem mesmo se despediu.

Ela abaixou os olhos envergonhada. Sentia-se tola perto dele e planejava cada movimento que fazia.

~*~

Observava cada movimento do corpo dela e viu abaixar a cabeça. Só agora notou que uma de suas mãos estava sendo segurada por Sakura e, definitivamente, não quebraria aquele contato.

Com a outra mão livre, levantou o queixo dela, obrigando a encará-lo.

- Não acha que sou uma ilusão, não é? – perguntou olhando-a no fundo dos olhos.

Viu quando o rosto de Sakura enrubreceu e ela sorriu.

- Não... não mais!

~*~

Felizmente, agora sabia que ele não era um sonho. Ela envolveu seus braços em volta dele e recostou a cabeça em seu peito. Aquele ato pegou Sasuke de surpresa, mas logo a demonstração de carinho dela foi retribuído.

O cheiro de cereja misturou-se com o de menta, fazendo o ambiente ficar ainda mais agradável.

~*~

Era bom senti-la tão perto de si.

Ficaram assim por longos minutos, até que Sasuke escutou soluços vindos por parte dela. Odiava vê-la chorar, ainda mais sabendo que o causador dessas lágrimas era ele próprio.

- Não chore, Sakura! – ordenou. – Não tem porque chorar...

Ela afastou-se um pouco dele e com o dorso das mãos limpou as lágrimas. Novamente o encarou e sorriu.

- Dessa vez não estou chorando de tristeza, Sasuke-kun. Estou feliz que você tenha vindo!

~*~

A culpa em seu peito aliviou-se ao ouvir aquelas palavras. Pela primeira vez, ela estava chorando de felicidade.

 “Linda...” pensou. Realmente ela estava muito bem arrumada. Ela era linda de qualquer jeito, mas sua vestimenta naquela noite apenas valorizava o corpo perfeito que a ninja possuía. 

- Você estava me esperando? – perguntou-a

- Creio que sim! – ela respondeu.

Sakura o viu sorrir abertamente. Ficava ainda mais lindo quando seu sorriso era tão sincero como naquele momento. Ela sentia-se bem em saber que podia ver o Uchiha sorrir daquela forma... poucas pessoas tinham esse privilégio.

- Como sabia que eu viria?

- Não sei... Acho que senti!

Ela sentiu ser puxada pela cintura, fazendo o rosto de ambos ficarem próximos. As respirações se misturaram e finalmente ela selou os lábios de sua eterna flor de cerejeira.

~*~

Ficaram trocando beijos e carícias por um longo tempo. Ambos estavam felizes, mas Sakura ainda estava receosa. 

“ Será que ele vai embora?”

Sasuke percebeu a rosada calada demais. Tinha o olhar perdido num ponto qualquer da sala.

- Aconteceu alguma coisa? – Não obteve resposta. – Sakura?

- Hum?! Disse alguma coisa, Sasuke-kun?

- O que houve? Você ficou calada de uma hora para outra...

- N-não é nada... – Sakura praguejou mentalmente por ter gaguejado. – Acabei me distraindo...

- Tsc! Definitivamente você não sabe mentir! – exclamou em tom divertido. -  Diga o que você tem?

- Bom, eu estou com medo... – respondeu fitando as próprias mãos.  – Eu tenho medo que você vá embora de novo...

O moreno ficou calado e não respondeu.

- Você vai embora? – perguntou encarando-o. – Quer dizer... Você não tem nada que te impeça de partir... Assim como da última vez!

- Sempre tive algo que pudesse me impedir, mas ignorei! –rebateu o Uchiha. -  E para dizer a verdade, sempre me arrependi...

- Então, você vai ficar? ­– perguntou-lhe com os olhos brilhando.

Sasuke ajeitou-se no sofá. Chegara a hora de cumprir seu “objetivo”.

- Antes quero que me responda duas perguntas...  – ele a viu olhá-lo confusa. – A primeira é... quem te deu aquela caixa de chocolates?

- Caixa de chocolates? Ah, sim... – sorriu. – foi o Naruto!

Ele cerrou os punhos e indagou: 

- Naruto?!

- Sim! Ele me deu de presente de natal... Apenas para me alegrar! Disse que sabia que não era exatamente o presente que eu queria, mas esperava que eu gostasse. – sorriu. – Você o conhece... sabe como ele gosta de agradar as pessoas!

- Hum... – grunhiu um pouco mais calmo. – Agora a segunda pergunta!

- Tudo bem... faça!

Sakura viu ele mexer nos bolsos, procurando alguma coisa. Parecia um tanto quanto nervoso.

- Algum problema, Sasuke-kun?!

- Droga! – praguejou.­ – Não! Não tenho nenhum problema! – respondeu friamente.

- Tem cer...

– Achei! -  exclamou, interrompendo-a.

Sasuke retirou do bolso uma pequena caixinha aveludada. Ao ver aquilo, Sakura arregalou os olhos. 

“Não pode ser...”

- Essa é a segunda pergunta... – murmurou estendendo a caixinha. – Você aceita casar comigo?

Os orbes verdes fitaram a caixinha sendo aberta e revelando um anel dourado com o símbolo do clã Uchiha no centro. Novamente, ela o encarou e pôde ver a verdade nos olhos ônix.

- Sa-Sasuke-kun... e-eu...

-  Posso não ser o mais romântico e  sei que estou sendo rápido... – ele fitou-a e pôde perceber a surpresa em seus olhos. – Talvez rápido até demais,  mas quero recomeçar a nossa história! – murmurou sorrindo. – Quero começar do jeito certo... Do jeito que deve ser!

O barulho do relógio de Sakura ecoou por toda a sala, avisando que mais um ano se iniciaria. Tanto ela quanto ele, fitaram o relógio e depois  voltaram a se encarar.

- Preciso de você, Sakura-chan...  – murmurou enquanto acariciava o rosto dela. – E então... você aceita?

- Sim! Eu quero, Sasuke-kun... – balbuciou. – Isso é tudo o que eu sempre quis.

Com cuidado, o Uchiha retirou o anel da caixa aveludada e o colocou no dedo da sua flor de cerejeira, para em seguida beijar-lhe.

– Acho que nem pode ser chamado de presente, mas  não sei se você gostou do presente de Natal atrasado... – comentou. 

- Às vezes vale a pena esperar, Sasuke-kun.

Sakura mal percebeu ser erguida do sofá. Só se deu conta do que aconteceu quando viu que estava nos braços do moreno.

- Ainda quer jantar? – perguntou ele.

- Não! Teremos muitos e muitos anos para comemorar o Ano Novo juntos!

Muitas vezes, o dia 1º de janeiro não significa somente um novo ano. Para alguns, significa uma nova vida... Um recomeço!