Diário De Uma Adolescente Tímida escrita por Bi Hyuuga


Capítulo 16
A festa das empresas


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Como vocês estão?

Bem, como avisado no capítulo anterior, esse capítulo demoraria a ser postado diante do trabalho que ele ia dar. Dito e feito. Cá estou eu, quase dois meses depois. Okay, eu to sem computador faz cinco semanas e eu dei meus pulos pra conseguir escrever esse capítulo, mas detalhes!

Quero dizer que esse capítulo está BEM longo (quase 11,5K), mas eu gostei do resultado final e espero que vocês se divirtam.

Uma informação muito importante: A cena do banheiro teve uma ajudinha. NakayamaKaori (https://fanfiction.com.br/u/247996/) foi minha co-autora e continuará sendo para a relação desses dois ai (vocês vão entender na cena, sem spoilers u.u). Espero que se divirtam tanto quanto eu, porque ela é maravilhosa e escreve bem demais! (vide minha recomendação no meu perfil)

Enfim, sem mais delongas: boa leitura e não esqueçam de olhar as notas finais!



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Há momentos na vida que geram grande expectativa para suas chegadas: o dia da formatura, o de casamento, a primeira palavra, os primeiros passos, o aniversário de maioridade, a vitória em um jogo decisivo, o primeiro beijo. A ansiedade que circunda cada uma dessas etapas não pode ser descrita em palavras. Cada pessoa as sente de uma maneira diferente, vibra de uma forma única e se expressa de acordo com suas características individuais.

Em Konoha, o dia tão especial que marcaria uma ponto importante da história era hoje. Empreendedores, analistas, repórteres, jornais, comerciantes e compradores estão na expectativa daquela noite. Duas das maiores empresas do país estariam firmando oficialmente seus novos laços diante de todo os concorrentes e público-alvo.

Para aqueles que eram de fora, nunca era possível prever a dificuldade e nem o trabalho que o planejamento desse dia levou. Por mais que houvessem apostas e chutes, nada seria o suficiente para abranger todo o estresse, o esforço, as noites sem sono, o cansaço, as inúmeras ligações, a burocracia e, principalmente, a dificuldade de fazer tudo se encaixar perfeitamente, sem deixar brechas mal resolvidas.

Hiashi sabia.

Hiashi sabia melhor do que ninguém. Melhor que os Uchiha, melhor do que seu irmão, melhor do que seu sócio, melhor do que seu sobrinho, melhor do que suas filhas e melhor do que todas equipes contratadas para esse dia. Só ele sabia o peso que carregou nas costas durante esses meses para fazer isso dar certo.

Seria impossível fazer o cálculo de quantas horas o Hyuuga passou planejando todos os detalhes do evento. Mesmo que os integrantes da empresa Haruno tenham tido um papel importante e se esforçado muito, era senso comum a todos que Hiashi foi o maior responsável para fazer aquele noite acontecer. Os obstáculos que surgiram, ele lidou. As reuniões sobre o dia, ele que ministrou. As ligações e conexões, ele que fez. Até o lugar de realização da festa ele cedeu – a própria residência.

Tudo estava ajeitado. Tudo estava no lugar. Não havia nada que poderia dar errado graças a ele. Porém, mesmo assim, Hiashi está uma pilha de nervos.

— Irmão, você vestiu errado a sua gravata. – o aviso de Hizashi o fez sair de seus próprios devaneios e se olhar no espelho. – De que adianta encomendar um terno sob medida se você não sabe vesti-lo?

Os irmãos Hyuuga estavam no quarto de Hizashi, se preparando formalmente para seus discursos, além de se arrumarem com os trajes encomendados especialmente para aquela ocasião. O pai de Neji estava a dois metros de distância do outro, aguardando que ele terminasse de se ajeitar.

Hiashi suspira e passa a mão no cabelo. A atitude lembrou muito de seu sobrinho, ele notou.

— Tem razão – ele desata a gravata para recomeçar – Eu só fico imaginando o que poderia acontecer se -...

— Tudo o que precisava ser resolvido, já foi resolvido – Hizashi o corta – Não haverá contratempos. E, se houver, você não pode prevê-los. – uma pausa – O que precisar ser solucionado, iremos solucionar na hora. Nossas equipes são muito boas. Você deve confiar mais neles e relaxar até o início. Não pode gastar todas as suas energias antes. Estamos contanto com você lá.

Apesar do discurso parecer bruto, Hizashi sabia que seu irmão precisava de alguém para colocá-lo no chão naquela situação. Há uns anos, a responsável por essa função seria Hiromi. Contudo, dos últimos tempos para cá, Hizashi pegara essa responsabilidade para si.

O silêncio reinou no quarto enquanto Hiashi terminava de refazer o nó em sua gravata, encarando seu reflexo no espelho. Ele ajeitou a gola da camisa social branca e respirou fundo.

— Tem razão. – disse, por fim. – Eu só posso me arrumar e descansar até lá.

O irmão do Hyuuga confirmou com a cabeça, esboçando um sorriso discreto.

Hiashi sentiu uma mão sobre seu ombro esquerdo. O reflexo à sua frente indicava dois gêmeos idênticos, se não fosse pela cor do terno. Enquanto Hizashi vestia um terno vinho completo – com uma camiseta social preta por baixo –, Hiashi estava com um terno preto, ainda sem o paletó.

Eles encararam seus reflexos por um instante

— Vamos. Shizune deve estar para chegar e nos ajudar com o toque final em nossas aparências. - Hizashi quebra o silêncio e se afasta, caminhando em direção à porta, tomando cuidado para não esbarrar na desorganização daquele lado da casa.

Hiashi responde ao irmão pegando seu paletó de cima da cama e seguindo na mesma direção.

~

— Hina-nee-san, me ajuda a fechar aqui. Onegai.

Hanabi estava com dificuldades de puxar o zíper das costas do vestido até o final. Hinata se aproxima e ajuda a caçula, no final ajeitando o tecido na gola e nas mangas, para que não ficasse dobrado.

— Prontinho – a mais velha sorri.

As três meninas estavam se arrumando e a mais adiantada delas era a pequena Hyuuga. Tanto Sakura quanto Hinata ainda estão ajeitando suas maquiagens antes de colocarem seus vestidos, já que isso lhes permitia maior movimento e não corria o risco de sujarem a tonalidade de suas peças com rímel, bases, iluminador ou qualquer outro cosmético.

Enquanto a Haruno estava em sua penteadeira passando o contorno, Hinata usava o espelho do banheiro da suíte – com a porta aberta para que pudessem conversar. A Hyuuga está finalizando a maquiagem dos olhos.

— Nee-san, posso usar seu celular?

A mais velha confirma com a cabeça, sem tirar os olhos de seu reflexo. Não demorou muito para que uma musiquinha de fundo surgisse do quarto.

Hanabi não tinha celular, então usava o da irmã para se divertir com os jogos baixados. Hinata não se importava, já que ela mesma não jogava nada ali e tinha espaço na memória pra sua irmã usar de vez em quando.

— Será que o Itachi é tão insuportável quanto o irmão? – a rosada solta a frase aleatoriamente.

No dia anterior, Sakura comentou que seu pai pedira para que se aproximasse de Itachi, o primogênito Uchiha, a fim de que todos se conhecessem e tivessem relações boas fora da empresa. O argumento foi convincente, ao mesmo tempo que estranho. Hinata se perguntava se isso tinha alguma coisa a ver com seu pai e Fugaku serem mais próximos do que o próprio Kizashi e os Uchiha.

Apesar de nunca ter sido dito, era fácil de reparar. Seu pai, além de ter planejado a maior parte da festa, fez os contatos e quis entender melhor como Fugaku gostaria do evento. Além disso, não poderíamos descartar o fato de que as duas famílias, a dela e a de Sasuke, já haviam jantado juntas e sem compromissos empresariais. Era como se as relações estivessem se aproximando fora do trabalho, o que era um ponto positivo. Talvez Hiashi tenha comentado sobre com o pai de Sakura, instigando-o a ter uma relação mais próxima com os investidores.

— Ele parece ser uma pessoa tranquila – Hinata responde, guardando o rímel – Os pais dele falaram bastante do Itachi quando jantamos juntos. Parece que ele é um prodígio.

— Se não for um prodígiozinho metido a besta igual o Sasuke, então tudo bem – Sakura começa a soltar o cabelo, que estava preso para não atrapalhar a maquiagem.

Hanabi não está prestando atenção na conversa.

Hinata se vira na direção do quarto para olhar sua amiga.

— Saky-chan! – dificilmente ela usava esse apelido, mas normalmente isso era feito em momentos de repreensão como esse.

As duas dão risada e Sakura dá de ombros.

— O Sasuke não é tão mal assim. – a Hyuuga continua, agora voltada para o espelho mais uma vez – Temos conversado mais desde que meu pai está arrumando as coisas pra festa. Ele é legal, apesar de ser um pouco...

— Mal-humorado? Carrancudo? Um pé no saco?

— Eu ia dizer impaciente.

— Ah é, isso também. – Sakura dá um estralo com a língua, como se tivesse esquecido desse detalhe tão importante.

As duas voltam a dar risada. Hinata sabia que os amigos não se davam tão bem assim, mas como Naruto era melhor amigo dos dois e eles viviam em trio, não tinha muito o que fazer.

A Hyuuga se absteve de comentar que a convivência dos dois aumentaria com a parceria das empresas e que as chances de Sasuke implicar ainda mais com a Sakura agora eram de 200%.

Isso não vai dar certo, pensou Hinata, com certo pesar.

[...]

Hinata e Sakura agora eram as únicas no quarto. Hanabi já tinha terminado de se arrumar e esperava ansiosamente no andar debaixo.

— Sakura-chan, você está linda!

A rosada usava um vestido vermelho tubinho de gola alta e com detalhes floridos na cor branca. Além disso, ela calçava uma sandália preta de salto alto e seus acessórios se resumiam a um bracelete no punho direito e um diadema, ambos dourados. Como seu cabelo ficaria solto, a garota providenciou um creme pós lavagem a fim de fazer um penteado simples. Logo, os fios soltos na altura dos ombros caíam formato de cachos frouxos, porém bem definidos. Tanto as unhas dos pés quanto as da mão estão pintadas de nude.

A Haruno sorri para o espelho, com satisfação pelo resultado de seu próprio trabalho. Ela se vira em direção à morena.

— Eu que deveria dizer isso de você. – ela dá uma piscadela divertida – Vai arrasar muitos corações assim.

Hinata cora, tímida, e coloca o cabelo para trás da orelha.

A Hyuuga já está vestida com o que o pai lhe dera de presente. Seus cabelos estão soltos e bem lisos, devido à escova que fizera logo após o banho. Entretanto, não há nenhum enfeite nos fios – o vestido era suficiente por si só. Seu sapato preto também tem salto, porém não é tão alto quanto o de Sakura. Além disso, o calçado é aberto na parte da frente, exibindo três dedos da morena e as unhas pintadas em tonalidade neutra – diferentemente das unhas da mão, que estão na cor roxo escuro. Seus acessórios incluíam uma tornozeleira, uma pulseira e brincos de pedrinha, todos prateados.

Como Hanabi já havia descido até o térreo, as duas amigas pegaram seus casacos e suas bolsas – de tamanho pequeno, carregando apenas o essencial – e seguiram até a entrada da casa, onde os carros estacionariam para buscar a todos.

Para evitar aglomeração em um único veículo, Kizashi e sua esposa, Mebuki, iriam com o motorista particular dos Haruno enquanto Sakura, Hinata e Hanabi estariam no carro de Mitsuo.

Assim que desceram as escadas, Hinata não pode deixar de notar como o casal Haruno estava formidável. Enquanto o pai de Sakura vestia um terno azul marinho, Mebuki usava um vestido tomara-que-caia longo, royal e brilhante. A combinação do visual fez as duas meninas sorrirem ao os avistarem.

— Todas prontas? – perguntou Kizashi, olhando para a filha, sua amiga e Hanabi, que acabara de abraçar a irmã.

As três concordaram com o sorriso ainda estampado em seus rostos.

— Então, hora de irmos.

[...]

Os carros andavam à 20 km/h, enfileirados e guiados até a entrada. Quando os convidados estavam a 100 metros do portão da residência Hyuuga, a visão das janelas laterais era obstruída. O motivo é simples: além dos vários veículos de reportagem, há também uma grande quantidade de pessoas da imprensa fazendo a cobertura do evento. Dessa forma, a fileira de veículos – andando à 20km/h – só poderia seguir em linha reta até o final do primeiro percurso.

Mitsuo levou por volta de dez minutos para conduzir o carro da chegada à residência até a entrada. Ele estacionou com o pisca alerta ligado e permitiu que as garotas saíssem.

Sakura saiu primeiro – ela estava no banco do passageiro –, seguida de Hinata e Hanabi.

Quando as Hyuugas colocaram os pés na calçada, prenderam o ar imediatamente.

Essa reação foi causada por uma série de fatores decorrendo ao mesmo tempo.

O primeiro deles é que havia um longo tapete vinho que se estendia de seus pés até a porta de entrada da casa, sendo que suas laterais eram delimitadas por separadores de fila pretos. Se assemelhava muito ao tapete vermelho de uma première, o qual os convidados desciam e andavam até a entrada do local de premiação, parando vez ou outra para tirar uma foto ou responder algumas entrevistas.

O segundo fator foram os flashs, luzes e câmeras apontados para seus rostos, além da falação dos repórteres.

O terceiro e último motivo responsável pela surpresa das meninas foi não reconhecer a própria moradia.

Como, desde o dia anterior, as garotas Hyuuga estavam fora, elas não puderam acompanhar o processo de organização e decoração do ambiente da festa. Ou seja, tudo o que elas viam é completamente novo.

Seguindo mais adiante do tapete e passando pelo portão – que estava com as duas portas abertas –, é possível dividir o terreno em duas partes.

No lado direito, foram colocadas mesas circulares com seis lugares, sendo que a distância entre uma cadeira de uma mesa até a cadeira da mesa ao lado era por volta de um metro, deixando passagem livre para os garçons. Havia também um amplo suporte, todo decorado com flores, agindo como um telhado a cada conjunto de três mesas. Ao todo, Hinata conseguiu contar 160 lugares, fora a mesa principal – que é retangular, longa e ofereceria os assentos de Fugaku e Mikoto, Kizashi e Mebuki, Hiashi e Hizashi. Basicamente, os anfitriões da festa. Por fim, um grande telão fora colocado em uma parte da parede externa, exibindo alguns comunicados ilegíveis para o local onde elas se encontravam.

Já o lado esquerdo apresentava um palco de um metro de altura. Em cima dele, havia uma banda preparando seus instrumentos e o som. Eles seriam responsáveis pela harmonização musical daquela noite. Além disso, também era possível notar um pequeno posto médico com três enfermeiros – para quaisquer ocasionalidades no evento –, um quiosque de bebidas – com dois barmen uniformizados –, e uma espécie de pista de dança em frente ao “palco”.

As garotas se colocaram a andar, após os segundos de hesitação para que suas visões compreendessem todos os componentes que as atingiram.

Sakura, diferente das Hyuuga, parecia mais acostumada com a atenção dos fotógrafos e jornalistas, pois manteve o sorriso no rosto e dispensava entrevistas educadamente com um “tenham uma boa noite”.

Hinata se questionou se isso era devido ao pai da amiga ser o presidente e portador do nome da empresa. Ela e a irmã nunca foram muito o centro das atenções e, quando era necessário, quem costumava assumir esse posto de atenção ao lado de Hiashi era sua mãe, Hiromi.

Enquanto as três caminhavam juntas, Hinata sentia-se um tanto desconfortável. Ela buscou manter a expressão alta e neutra, apesar da timidez e incômodo com os holofotes. Quantas emissoras estariam ali? Muitas, provavelmente.

A maioria da atenção está voltada para o casal logo à frente das garotas – os pais de Sakura, que chegaram e desceram antes –, mas isso não tirava a pressão de receber atenção demais para si.

Ao final do caminho – que parecia ter levado uma eternidade do ponto de vista da mais velha –, foi possível reparar melhor na decoração das paredes externas da residência: flores e luzes neon compunham o logo da empresa Haruno logo acima da porta de entrada. Além disso, as equipes de decoração também haviam providenciado enfeites geométricos iluminados para compor o espaço restante.

— Tudo ficou simplesmente lindo – Hinata murmura.

Apenas Hanabi a escuta, soltando uma risadinha – a caçula não se abalara pela quantidade de atenção, ela apenas ignorou todas as pessoas enquanto caminhava.

As três entraram na casa, deixando para trás toda a atenção exacerbada e experimentando um ambiente calmo e bem diferente.

O interior estava repleto de contraste entre as cores branco, preto e vermelho. Logo à esquerda da porta, havia um sofá branco sobre um tapete vermelho e dois vasos de plantas de cada lado. Era possível identificar dois membros da equipe de fotografia: o primeiro era o próprio fotógrafo e o segundo era um visagista, Hinata supunha.

Nesse momento, seu pai, tio e os pais de Sakura estão lado a lado tirando as fotos oficiais do evento.

Enquanto as jovens aguardavam, a Hyuuga mais velha aproveitou para analisar o resto do recinto.

Posicionado do lado oposto à porta, ao lado da escada que dava acesso ao segundo andar, fora colocado uma outra plataforma, sendo que essa era menor e possuía apenas alguns centímetros de altura (no máximo, uns 50cm). Há um microfone posicionado ali em cima, com câmeras ao redor e algumas fileiras de assentos logo em frente, de costas para a porta.

Dadas as circunstâncias e conhecimentos da Hyuuga, ela supôs que ali seria o lugar reservado para os pronunciamentos iniciais do evento, os quais permitiriam a entrada de alguns membros da imprensa para uma entrevista coletiva e cobertura, em primeira mão, de emissoras pré-selecionadas.

Os últimos componentes eram à direita da porta, onde foram posicionados sofás e poltronas. Hinata sabia que seu pai colocara aquele lugar por dois motivos: um espaço de descanso e um ambiente mais fácil para conversar, longe do barulho excessivo.

— Minhas filhas! – Hiashi disse em tom de orgulho, chamando a atenção da mais velha, que ainda analisava o local.

Ela não tinha percebido, até então, a ausência de Sakura ao lado delas.

— Tou-san! – Hanabi transmitia alegria, quase pulando nos braços do pai.

— Hana, você está magnífica – o pai envolve a menina num abraço rápido, porém caloroso.

Assim que eles se soltam, a mais velha de aproxima com um sorriso tímido.

— Hina, nunca te vi tão deslumbrante.

— Arigatou – e, então, recebe o mesmo abraço que Hanabi.

— Venham – Hiashi diz, ao se afastar – Vamos tirar algumas fotos.

~

Naruto não podia estar mais entediado num sábado à noite. Não bastava Sasuke estar num compromisso, seus outros amigos não davam as caras em lugar nenhum. O único – por incrível que pareça – que respondera o loiro até então foi Shikamaru, no qual negou o convite para jogar dizendo que estava com preguiça e que iria dormir.

— Fala sério, esse cara só dorme! – reclamou alto, assim que viu a reposta na tela do celular.

Agora ele se encontrava em uma partida online de fps, irritado com o próprio time por fazer tudo errado – vale mencionar que o único que estava afundando a equipe era ele mesmo, mas o Uzumaki não tinha tanta autoconsciência assim.

Não demorou muito até que ele morresse e a partida acabasse, deixando-o emburrado e de braços cruzados.

— EI, NARUTO – ele ouve um grito do andar debaixo. Era sua irmã.

— O QUE FOI?

— DESCE AQUI.

Em dias normais, a resposta que Menma lhe dera não seria nem minimamente o suficiente para que ele tirasse a bunda da cadeira e fosse ver o que estava acontecendo.

Mas esse não era um dia normal.

O garoto se pôs de pé, largando o controle sobre sua cama bagunçada e descendo as escadas até a sala de estar, onde se encontrava o resto dos membros da casa.

— O que foi? - ele questiona, se aproximando do sofá.

Menma estranha o fato de que o garoto não a chamar por nenhuma apelido idiota logo de cara, pois ele sempre fazia isso quando estava de bom humor.

— Credo, que cara é essa de quem comeu limão azedo? – ela não resistiu e provocou.

— É a cara de quem vai-...

— Não é aquela garota que você trouxe em casa? – Kushina intervém, impedindo a troca de elogios entre os irmãos antes mesmo dela começar.

A ruiva – que antes estava deitada no colo do marido no sofá – levanta abruptamente e aponta na direção da tela da televisão.

— O que? Não, eu não tava dormindo. Quem tava dormindo era você – o Namikaze acorda de seu cochilo com o sobressalto da esposa.

O olhar de Naruto acompanha a direção que sua mãe aponta e pousa sobre a imagem na tela da televisão, que exibia a festa na mansão Hyuuga ao vivo.

No tapete vermelho – ou seria vinho? – que os convidados caminhavam, estava a doce e bela Hinata. A princípio, o garoto não a reconheceu. Ela estava vestida de uma forma muito incomum a seus olhos e sua expressão beirava a seriedade. Não parecia a mesma garota sorridente, de bochechas coradas e rosto à mostra que ele encontrara no dia anterior.

Ele é desperto de seus devaneios quando sente a mão de Menma em seu queixo, forçando-o levemente para cima.

— Só não baba – ela segurava a risada.

— Não enche – Naruto afasta a mão da irmã e senta ao lado dela no sofá, contra a vontade da mesma.

— Ei, cuidado com o meu pé.

...Falamos diretamente da mansão Hyuuga. O presidente Kizashi acaba de chegar com sua esposa e segue em direção ao centro do evento. Mais tarde, faremos uma entrevista exclusiva com os principais membros dessa nova parceria...

Naruto parou de ouvir. Seu foco total agora é direcionado às três garotas que apareciam em um dos cantos da tela. Não demorou muito para que o cameraman retornasse a mostrar suas feições.

— Ela é bem mais bonita pessoalmente – Kushina fala em tom de reclamação e com os braços cruzados – Não estão valorizando direito o perfil do rosto dela e-...

— Mãe, é ao vivo, você esperava o quê? – Menma se pronuncia.

Era muito comum a família interromper constantemente a fala um dos outros.

— Ela tem razão, querida. Não tem como ser perfeito porque é ao vivo. Lembra quando a gente deu uma entrevista que ia ao ar na semana seguinte e você pediu para consertarem as caretas que você fez?

— Ah não, a história do vestido de novo não – a garota joga as mãos para o ar, em sinal de rendição e num pedido nada silencioso de “não repitam isso, todo mundo já sabe”.

Enquanto sua família tagarelava, Naruto tinha um olhar alternado entre Hinata e Sakura. Esse fator intrigava o loiro. Ele fitava Sakura todas as vezes, mas quando se dava conta, seus olhos já tinham sido direcionados para a Hyuuga novamente. Era como se ele estivesse se forçando a olhar a rosada enquanto o que mais lhe chamava atenção estivesse bem ao lado dela.

A situação deixou de ser curiosa e receber atenção do Uzumaki quando ele ouviu sua irmã dizendo:

— ...mas mãe, ela é linda demais pra ser a namorada dele.

— Namorada de quem? – ele estava confuso.

A síndrome Narutoide ataca novamente.

— Mas você é um tapado mesmo. – a garota mexe a cabeça em negação, como se não acreditasse que seu irmão poderia ser tão burro – Hinata. Você. Namorados.

Menma explica com a maior naturalidade do mundo. Ela sabia que o irmão se dizia apaixonado por Sakura, mas ninguém mais acreditava nisso. Provavelmente nem ele. Mas, como ele era teimoso como uma mula, Naruto tinha esse pensamento insistente na cabeça.

 Assim que o processador interno do cérebro do loiro termina seu trabalho e faz a ficha cair – permitindo-o compreender a situação –, o Uzumaki começa a desfrutar de um sentimento jamais antes conhecido por ele – afinal, ele não tinha escrúpulos.

Aos poucos, um calor começa a subir de seu pescoço até o topo de sua cabeça, e ele sente toda a extensão do seu rosto queimar, como se estivesse com febre.

— Ela não é minha namorada! – diz ele, ruborizado como um tomate perfeitamente maduro.

Seu tom de voz beirava o desespero e a incredulidade, ao mesmo tempo que indicava que tal suposição de um relacionamento amoroso entre ele e Hinata, de fato, o afetava. E mais: o afetava em um nível suficientemente alto para deixá-lo completamente constrangido, pela primeira vez na vida.

Menma não pode deixar de achar a situação curiosa e cômica. Ela cai na gargalhada.

— Mas filho, ela é tão linda! Ela foi tão meiga e fofa quando veio aqui...

— Eu sei... – ele solta, impulsivo, se arrependendo no instante que ouve sua irmã engasgar com a própria risada.

Naruto dá uma almofadada nela.

— ...Ela não é minha, namorada, é minha amiga! E está me ajudando a estudar para eu não ser expulso do time pelo meu próprio pai – ele aponta na direção de Minato.

— Epa, epa. Por que eu, de repente, fui colocado no meio da linha de fogo? – o Namikaze ainda estava sonolento.

— Por que seu filho não quer aceitar que-... – Menma é interrompida por mais uma almofadada na cara.

E assim se iniciou uma guerra de travesseiros – ou melhor, almofadas – e o assunto anterior sobre Hinata foi abafado e momentaneamente esquecido pela família.

A TV já mostrava outras coisas da festa e as garotas, anteriormente vistas na tela, já haviam adentrado a casa, saindo da visão e amplitude das câmeras – por hora.

~

Passaram-se trinta minutos desde a chegada das meninas. Nesse meio tempo, enquanto aguardavam a chegada de todos, Hinata e Sakura haviam cumprimentado todos os convidados e agora estavam reunidas junto com Neji e Sasuke, nos sofás do lado de dentro da casa. Hanabi, por sua vez, acabou sendo chamada por algumas outras crianças, filhas de funcionários das empresas, e se perdeu por entre as mesas do lado de fora da casa.

Itachi, o primogênito Uchiha, foi um dos últimos a entrar no local. Ele vestia um terno preto e possuía um lenço decorativo vermelho no bolso do paletó. Seus cabelos estão amarrados num rabo de cavalo frouxo. Sem dúvidas, ele era um dos homens mais bonitos da festa.

Neji o acompanhou com o olhar enquanto o moreno cumprimentava a todos – os pais, Hiashi, Hizashi, Kizashi –, se lembrando do que Hanabi dissera uns dias antes:

Eu vi o tou-san conversando com o Itachi quando o Sasuke tava indo embora do aniversário. Ele parecia preocupado com alguma coisa atrapalhar a festa.

— E o que seria? – Neji perguntara, franzindo o cenho.

— Não sei. Ele só disse que eles precisavam descobrir os “novos planos”.

Itachi parte na direção do sofá, primeiramente para encontrar o irmão mais novo.

O Hyuuga sabia que muita coisa estava acontecendo por baixo dos planos, encobertos para que somente os envolvidos ficassem sabendo.

Ele se lembra bem das palavras do pai e do tio, no dia anterior. Ele precisava conseguir falar o quanto antes com Hinata, mas um lugar cheio de gente, câmeras e atenção não passa nem perto de ser o momento ideal para mencionar o assunto com a prima.

— Muito prazer, Neji – o Uchiha está logo à sua frente.

Neji estende a mão e responde ao cumprimento, adicionando um gesto com a cabeça como quem diz “o prazer é meu”.

O grupo – agora com cinco jovens – ficou conversando baixinho durante uns minutos enquanto aguardavam a entrada das equipes de imprensa selecionadas para as entrevistas e cobertura exclusivas. Havia três pessoas, contratadas por Hiashi, conduzindo os integrantes e os acomodando devidamente nas cadeiras em frente ao palanque.

O jovem Hyuuga intercalava sua atenção entre essa arrumação e seus amigos, considerando que Sakura “parecia interessada” em saber mais sobre Itachi (o que Neji suspeitava não ser completa atuação da garota). Ela fazia algumas perguntas e o Uchiha respondia sucintamente, mas cortês. Sasuke revirava os olhos mais do que o costume. Neji até teve a impressão de ouvir a rosada murmurar para a sua prima “nossa, mas ele é muito educado, não tem nada a ver com o Sasuke”.

Depois de estarem acomodados, a porta da residência é fechada e Shizune liga algum aparelho. O moreno suspeitava ser do telão ao lado de fora da casa, que dava a visão das câmeras para os convidados que não foram convocados para estarem presentes no discurso de abertura. Isso decorria do fato de a imprensa permitida ser restrita e ocupar boa parte do salão naquele instante.

Hiashi sobe no palanque primeiro. Ele toca duas vezes no microfone, para certificar-se de que está funcionando.

— Boa noite a todos – ele inicia a fala com um sorriso sutil no rosto. – É com muito prazer que nós, as empresas Haruno e Uchiha, recebemos os senhores e senhoras aqui presentes hoje. Esta é uma celebração que marcará a nova parceria entre duas grandes potências comerciais importantes no nosso país.

“Como vocês bem sabem, há quase 15 anos, os Hyuuga e os Haruno firmaram uma sociedade que permanece concreta e firme até hoje. Entretanto, eu, Hizashi e nosso presidente Kizashi decidimos que era hora de expandir. Nunca fomos adeptos à “área de conforto” dentro dessa empresa, pois isso nos limita, nos faz ficar estagnados no mesmo nível enquanto todo os nossos arredores crescem. Nós almejamos o topo, nós buscamos voar cada vez mais alto.”

“Essas razões foram o gatilho para que fôssemos buscar mais: um colaborador e investidor que segue o mesmo pensamento e o mesmo desejo que as empresas Haruno dentro do mercado. Alguém que não se contentasse com a média. E todo esse caminho de análise de repertório, chegamos até a empresa de tecnologia Uchiha.”

“Nós os contatamos e buscamos conferências e reuniões com o senhor Fugaku para expor o nossos projeto e anseios por crescimento e apoio em uma parceria com os Uchiha. No início, era uma troca de ideias sem compromisso. Entretanto, o plano foi ganhando formas e nomes que nunca poderíamos ter imaginado sozinhos. O trabalho em equipe foi tão vantajoso para ambos os lados que começamos a gastar mais e mais do nosso tempo em planejamentos e novas ideias. E isso nos trouxe aqui hoje.”

Neji poderia supor o quanto Hiashi planejou aquele discurso e o estudou, já que ele fala diretamente com aqueles sentados às cadeiras em sua frente e não possui nenhum papel em suas mãos.

— Por essa razão – Hiashi continuou – Eu gostaria de chamar Fugaku Uchiha para podermos agradecer formalmente por ter aceitado se unir a nós nessa longa jornada pela frente.

O dono da empresa Uchiha sobe no palanque pelos dois degraus em sua lateral e cumprimenta Hiashi em frente às câmeras. Assim que eles tiram uma foto, Hizashi entra em cena com uma caixa cúbica em suas mãos – aproximadamente 9x9 cm – e a estende, fazendo uma breve reverência. Antes de pegá-la em mãos, Fugaku também faz sua reverência.

Os instantes seguintes são silenciosos e cheios de expectativa para descobrir o que há dentro da caixa.

O Uchiha retira uma pequena estátua de vidro com uma pequena miniatura da central de sua empresa. Há murmurinhos pelo salão, que cessam logo quando Fugaku toma o microfone em sua mão e começa a falar.

— Primeiramente, eu gostaria de agradecer pela presença de todos nesse evento. É indescritível a felicidade e satisfação que sentimos por tamanho reconhecimento. Em especial, gostaria de agradecer aos meus novos parceiros por se dedicarem tanto à realização do dia de hoje, especialmente depois de meses de preparação.

“Eu e minha família não poderíamos estar mais honrados. Além da incrível recepção da parceria com os Haruno, nós ainda fomos presenteados com tamanha comemoração para celebrar esse novo laço empresarial. Qualquer dúvida ou receio que poderíamos ter foram completamente deletados devido ao esforço e comprometimento vindos dessa empresa. Esse trio de sócios – Kizashi, Hiashi e Hizashi – fizeram o que nenhuma outra instituição comercial fez por nós. Eu não poderia estar mais lisonjeado por tornarmos nossos planos realidade e não poderia estar mais ansioso para colocar os próprios em ação. Tirar um planejamento do papel é o que nos faz crescer e sonhar grande. E esse é o lema principal dessa parceria: tirar o projeto do papel.”

Uma pausa. Todos os jornalistas fazem suas anotações, especialmente para as entrevistas particulares seguintes à coletiva.

— Agradeço pelo espaço de fala e desejo a todos uma ótima noite.

Fugaku encerra seu discurso e desce do palanque enquanto um novo membro toma seu lugar: Kizashi Haruno.

Assim como Hiashi, o presidente dá duas leves batidinhas no microfone. Entretanto, este não começa seu discurso logo em sequência, o que dá tempo da imprensa terminar de fazer suas anotações.

— Gostaria de agradecer as tão gentis e estimulantes palavras de Fugaku. Ele, mais do que ninguém, sabe o quão é motivador para uma empresa receber tamanho elogio sobre toda a sua equipe. Não é simples juntar membros que acrescentem tanto ao nosso trabalho como os que temos nas empresa Haruno e nas Uchiha. A honra é toda nossa por termos vocês como parceiros oficiais.

Kizashi respira fundo, como se formulasse uma sequência mental de todas as coisas que gostaria de dizer.

— Assim como Hiashi mencionou anteriormente, nossa sociedade com os Hyuuga foi firmada há muitos anos. Nossa relação, que começou exclusivamente como algo empresarial, hoje em dia também é pessoal. Nos tornamos amigos e, por mais que não tenhamos laços cossanguíneos, nossa empresa é como uma grande família.

“É com um enorme prazer que recebemos agora, novos integrantes. Esperamos que os Uchiha sintam-se à vontade conosco dentro e fora do ambiente de trabalho. Prezamos a boa relação entre todos os membros dessa grande família e, ao contrário do que muitas empresas fazem, nós corrigimos as relações quando elas param de funcionar em conjunto. Não as descartamos. Sempre há formas de consertar aquilo que se desvencilhou um pouco da rota. Todos os laços estão interligados e não é do nosso feitio deixar que qualquer um se solte. Juntos, somos mais fortes. Juntos, fazemos a diferença. É isso o que nos torna diferente.”

Mais murmurinhos e barulho de canetas anotando sobre o papel.

Neji tinha que admitir: eles formavam uma equipe boa em atuar e discursar. Apesar de saber que grande parte dos discursos eram baseado em fatos reais, havia uma grande distorção por todo esse manto exposto para a mídia. Mas era o normal nesse meio.

 - O dia de hoje foi planejado a fim de oficializar essa nova união entre nossas empresas e, acima de tudo, dar as boas-vindas aos Uchiha. Em ocasiões independentes, tamanha celebração seria dispensável. Contudo, assim como dito pelo meu sócio, não há nada que nos deixe mais felizes do que essa nova parceria. Então, um evento nessas proporções era o mínimo que poderíamos fazer para agradecer.

“Por fim, quero chamar meus sócios e Fugaku para se juntarem a mim. Vamos tirar uma foto que será colocada logo na entrada das empresa Haruno, simbolizando esse momento.”

E assim foi feito.

Enquanto eles se arrumavam para a foto, a equipe de organização indicava a saída para os convidados, demonstrando que a abertura do evento fora feita e que agora era o momento das entrevistas particulares com os membros do alto escalão da empresa.

Com a deixa, o grupo dos jovens segue em direção à porta e, posteriormente, até uma mesa reservada para eles ao lado da principal, já que todos ali eram filhos dos promotores dessa parceria.

Dos seis lugares, um ficaria vago por enquanto, já que Hanabi estava se divertindo com outras crianças.

Eles se acomodaram na seguinte ordem: Sasuke, Itachi, Sakura, Hinata e Neji, sendo que o assento vago ficou entre Neji e Sasuke. Alguns garçons se aproximaram para servir petiscos: uma pequena tigela com um ensopado de legumes em uma bandeja e sashimi de salmão e de atum na outra.

— O que vocês acharam dos discursos? – a Haruno é a primeira a quebrar o silêncio na mesa. Ela está pegando uma das tigelas da bandeja.

— Eles foram bem profissionais – Neji responde de maneira neutra.

Uma opinião além disso seria muito bem estabelecida e parcial, ainda mais considerando o que estava por trás dos panos.

— Acho que todos gostaram – Hinata se mostra tímida.

— Eles alcançaram os objetivos – é a vez de Itachi falar – Tanto em questões de agradecimento quanto para pressionar as outras empresas. É uma parceria muito grande de investimento, o que já é, por si só, uma concorrência alta.

O Hyuuga não pode deixar de notar o quanto o primogênito Uchiha é polido não apenas em atitudes, mas em palavras também. Era difícil não se comparar com ele, principalmente na questão de não demonstrar opiniões imersas em sentimentos.

— Isso é tão cansativo – reclama Sakura.

— Nem me fale – Sasuke revira os olhos discretamente.

Neji suspeitava que ele não se referia apenas à festa.

~

[...]

Depois das entrevistas individuais com os membros, as equipes midiáticas foram conduzidas para fora do evento e todos os membros da empresa foram até seus lugares e se acomodaram. Durante a primeira hora do evento a partir daí, houve muita conversa entre os convidados, muitas pessoas se aproximando da mesa principal para parabenizar o grupo e vários aperitivos de entrada – com legumes, verduras, peixes e algas.

Hanabi passou na mesa com o grupo de jovens por volta de seis ou sete vezes apenas, comendo os petiscos separados por Hinata quando os garçons passavam servindo. A mais velha sabia que, se ela não deixasse um ou outro reservado no prato de Hanabi, a garota não se alimentaria direito por estar extremamente interessada nas brincadeiras com seus novos amigos – que, até então, Hinata não sabe os nomes.

No momento atual, a mesa estava apenas com Sakura, Hinata e Neji, já que os Uchihas foram chamados em uma conversa junto com Fugaku, devido a algum assunto empresarial.

A Haruno se distraía com o celular, deslizando a tela para cima e vendo as novas publicações do feed. Esse era o momento tedioso padrão, no qual todos esperam que a festa ganhe algum novo atrativo – no caso da garota, ela ansiava pela pista de dança.

Em meio a sua distração, um garçom se aproxima e oferece novos petiscos na mesa. A rosada hesita, mas nega. Ela decidiu parar de comer os petiscos e esperar pelo prato principal. Caso contrário, ficaria satisfeita antes da hora.

Hiashi se aproxima de onde os jovens estão, com um olhar ansioso, e a única coisa que a garota pensa é em fugir dali, ainda mais considerando que ela era a única não-Hyuuga e que parecia ser um assunto pessoal entre eles.

— Eu já volto – ela se levanta, com a bolsa na mão, e deixa a família em seu momento a sós.

Seu caminho é percorrido até o banheiro, onde ela abre a porta com pressa e a encosta, sem trancar. Se aproxima da pia e do espelho, a qual apoia sua bolsinha e tira o batom e o lápis, para retocar a maquiagem.

Ela costuma gostar de festas, mas essa noite está sendo um caso à parte. Tantos adultos e tanta formalidade podem ser mais cansativos do que aparentam.

Ela estava prestes a passar o lápis no olho quando a porta se abre e ela toma um susto, olhando para o espelho no ângulo da porta. Sakura, sem saber o que fazer ou o que dizer, apenas ficou ali, parada e de boca aberta, até o moreno trancar a porta.

— Mas o que caralhos você está fazendo aqui, Sasuke? – pergunta ela, incrédula com a invasão de Sasuke ao seu espaço. Se do lado de fora não tocasse o som instrumental da banda, com certeza teriam a escutado desde a esquina. – Espere a sua vez!

— Deixa de ser histérica.  – ele suspira e revira os olhos, repousando as mãos no bolsos da calça como se o que ele estivesse fazendo fosse a coisa mais normal do mundo. – Não vim usar o banheiro. Só... Vim te propor uma coisa.

Sasuke pigarreia, e se Sakura estivesse calma, poderia perceber sua leve postura desconfortável. Ela pisca duas vezes e faz uma expressão de interrogação, sem entender literalmente nada. É como se seu cérebro tivesse travado e dado tela azul.

— Propor? – pergunta ela, cruzando seus braços em frente ao peito. Sakura está mais do que confusa com essa situação, e a última coisa que ela quer é conversar com o Uchiha plantado à sua frente. Ela aponta o lápis de olho na direção de seu querido oponente – Eu proponho que você saia daqui. – ela dá ênfase na palavra – Pelo amor de Deus, Sasuke. Você não pode simplesmente invadir o banheiro quando alguém está usando e dizer que quer fazer uma proposta. Você não sabe conviver em sociedade?

— É rápido, eu prometo. – ele levanta as mãos em rendição, como se ser atingido por aquele lápis realmente fosse doer. Sakura suspira e conta até vinte, antes de querer explodir e enfiar aquela ferramenta todinha dentro do nariz lindo de Sasuke Uchiha.

Silêncio.

A rosada tomou seu tempo para analisar a sua volta: trancados no banheiro, um Uchiha entre ela e a saída, uma toalha para obstruir a visão do adversário e a arma em sua mão. Apesar disso, o garoto a sua frente parecia até paciente, rendido e com as mãos aonde ela podia ver, o que era motivo o suficiente para desconfiança.

Ou ela estava delirando. Era uma possibilidade também. Sakura tinha bebido?

— Que tipo de Sasuke é você? – Sakura murmura baixinho, ao pensar sobre a calmaria do moreno, como se estivesse falando sozinha. Ainda muito desconfiada, ela relaxa e retorna à sua posição normal de “não quero matar ninguém”.

Ele a encara com uma sobrancelha erguida, como quem diz: “eu estou aqui e ainda consigo te ouvir”. Sasuke faz uma cara irritante de tédio.

— Vai, desembucha logo – ela se rende e cruza os braços novamente, insatisfeita. – Tenho mais o que fazer.

— Nós não nos damos bem. – Sauke começa, evidenciando o óbvio.

— E a chuva é molhada. – Sakura responde, irônica – Novidade, Sasuke.

— E não somos muito amigos. Estamos mais pra colegas.

— Na mosca.

— E eu tenho motivos particulares para não querer perder tempo com coisas superficiais.

— Ok, o que eu tenho a ver com isso? – a rosada estava se perguntado, mentalmente, quando em sua vida ela já viu Sasuke tendo alguma relação que não fosse superficial. Quis rir de sua frase, mas decidiu se conter.

— Dá pra deixar eu terminar de falar? – o moreno estava tentando, com todas as forças, não perder a paciência. Afinal, era algo de seu pleno interesse.

Ele respira fundo e põe a mão no rosto, o que seria suficiente para qualquer um perceber que o garoto estava se segurando muito para não perder a linha.

Um pequeno calor surge no peito da Haruno, como a sensação de “trabalho cumprido”. Um pequeno sorriso até cresce em seu rosto, mas ela disfarça. Infelizmente, essa satisfação não durou mais do que dois segundos.

— Eu quero propor uma amizade colorida – uma pausa. Ele a encara. Nem ele mesmo acreditava que estava dando o braço a torcer e sugerindo isso – Só que sem a amizade. Seria mais uma... Inimizade colorida.

A Haruno definitivamente está delirando. Não havia outra explicação plausível para uma situação como aquela além de um delírio individual acompanhada de uma alucinação. Ela poderia até rir, se aquilo não fosse tão absurdo quanto soava.

— Você está tirando uma com a minha cara? – pergunta ela, levantando uma sobrancelha - Porque não teve graça.

— O que te faz pensar que eu estou? – pergunta ele, retoricamente.

Sakura faz uma falsa cara pensativa.

— Hm, quem sabe... Tudo? – ela ergue o dedo indicador da mão esquerda e o gira no ar uma vez, em formato circular – Olha essa situação!

— Acredite, você é a última pessoa que eu gostaria de pedir algo assim.

Se estava incrédula antes, agora Sakura estava enfurecida.

— Então por que está me pedindo? – pergunta ela, descruzando os braços e quase furando o Uchiha com os olhos - Seus outros contatinhos não podem muito bem fazer isso? Tenho certeza que elas iriam adorar, e fique sabendo que eu também sou a última que gostaria de escutar um pedido desses vindo de você!

— Sakura, o fato de você ser a última pessoa que eu teria alguma coisa te torna a escolha ideal. Entendeu?

Sasuke já demonstrava irritação em sua voz. Ele não estava ali para explicar seus motivos, e sim para fazer a garota concordar com o plano. Ele só queria que ela aceitasse e pronto, sem questionar. Era pedir demais?

Já fazia umas semanas que ele cogitava o assunto. Tudo começou devido à sobrecarga de atividades na escola. Ele queria se dedicar mais aos estudos, além de ter planos para se mostrar digno a seu pai – tanto como um sucessor na empresa quanto como um aluno exemplar, assim como seu irmão mais velho sempre foi. Itachi levava a maior parte de todos os créditos, fosse no âmbito profissional ou fosse em títulos comparativos com o caçula.

Sasuke estava cansado. Com o terceiro ano se aproximando, ele não poderia se distrair do seu objetivo. Ele quer e vai ser o melhor. Mas, para isso, ele precisaria abdicar de algumas coisas. Entre elas: garotas, no plural.

Toda a escola já está careca de saber que ele é uma espécie de cafajeste juvenil. Entretanto, não é esse o problema. Manter contato com cada uma das meninas, conversar e arrumar lugares para se encontrar era muito cansativo e tomava muito tempo. Um tempo que ele iria abdicar.

Aí que entra Sakura.

Caso ela aceitasse, ele não só ia conseguir se livrar de mais da metade do tempo gasto inutilmente, como também ia ganhar outros dois bônus: ele não precisaria parar de beijar – até porque ele gostava, não era à toa sua fama – e não ia ter que lidar com mais uma garota apaixonada por ele, o que poderia vir a se tornar mais uma dor de cabeça.

Sakura não se apaixonaria por ele – logo, ele não teria que encontrar outra amizade colorida e, portanto, mais tempo de bônus por não ter que procurar outra pessoa para assumir o posto. Sua ideia matava vários coelhos com uma cajadada só.

— Não, eu não entendi – a rosada franze o cenho, dizendo o óbvio. É claro que ela não havia entendido nada daquela conversa maluca.

— E eu não vou explicar o que já deixei claro. Você vai topar ou não?

A rosada passa a língua nos lábios e suspira, arrumando o próprio cabelo atrás da orelha.

— Eu fico impressionada com a sua arrogância, Sasuke. Primeiro, aprenda a pedir as coisas. Uma dica: você começa com “por favor”.

A Haruno dá as costas para o garoto e começa a guardar as coisas de volta na bolsa, quase quebrando o zíper ao fechar.

Todos achavam que ela, Sasuke e Naruto eram um trio de melhores amigos inseparáveis. Entretanto, a única coisa que realmente mantinha todos eles unidos era o loiro. Apesar de ser grossa com ele, a rosada admirava muito o Uzumaki e, por conta disso, ela e Sasuke haviam chegado num consenso de conviver pacificamente.

Não que isso acontecesse de fato, já que a troca de farpas e provocações não deixou de ocorrer. Mas era melhor do que nada. Naruto era o melhor amigo dos dois, e valia a pena o esforço.

Assim que termina, ela segue em direção a porta, empurrando o ombro de Sasuke para o lado e levando à mão até a chave da porta.

— Ridículo. – murmura ela, irada.

Repentinamente, um calafrio sobe em sua espinha, e ela percebe as mãos do moreno dos dois lados dos seus ombros, pressionando a porta e impedindo-a de puxar para trás e abri-la.

Irritada e prestes a chutá-lo no saco, Sakura se vira para encarar o moreno, mas se arrepende na mesma hora: ele está muito próximo.

— Você vai me ignorar? – a voz do Uchiha é baixa e seu olhar, penetrante nos seus.

A rosada não se rende e aperta os dentes.

— Vou. – responde ela, dando um sorriso desafiador – Eu costumo ignorar babacas.

Sasuke segura sua própria respiração, tentando não sentir o perfume de seu cabelo naquele cubículo de banheiro. 

— Você poderia, pelo menos, pensar sobre isso? – pergunta ele, soltando seu ar.

— Isso é o que você não entendeu, Uchiha. Não tem o que pensar, porque eu e você nunca...

A fala morre em suas cordas vocais, assim que Sasuke aproxima os lábios de seu ouvido, pegando-a de surpresa. Ela sente o toque macio em sua orelha, a respiração quente.

— Sakura – ele faz questão de esperar alguns segundos antes de dar continuidade, acariciando cada letra de seu nome com a língua – Você sabe que isso é benéfico para nós dois, não sabe? Sem romance, sem expectativas. Apenas um bom negócio.

A Haruno recobra a consciência e empurra o peito do moreno, que não oferece resistência. Ao ser afastado, ele esboça um leve sorriso satisfeito em seus lábios, e adora mais uma vez sua postura com as mãos repousando nos bolsos.

Sakura nunca esteve tão brava. Um bom negócio? É óbvio que ele é gato e que ficar com ele não seria ruim – na verdade, ela sabia que seria algo dolorosamente bom. Entretanto, o que fazia ele pensar que ela aceitaria? Como ele tinha coragem de propor algo como aquilo? Em que momento isso seria um acordo benéfico para os dois, e não apenas para amaciar seu ego de macho alfa de autoestima alta?

— Você vem até mim, entra no banheiro que eu estou usando, força sua “proposta” e ainda tem a audácia de chamar isso tudo de “bom negócio”? Sinceramente Sasuke, vai tomar no olho do seu...

A Haruno é interrompida por uma música diferente, que entra pelas frestas do banheiro. Ao fundo, os dois puderam notar uma voz extremamente calma e angelical cantando.

E familiar. Uma voz muito familiar.

Ambos abrem a porta às pressas e caminham em direção ao quintal, de onde vem o som.

Sakura respira fundo e tenta esconder sua expressão ruborizada devido à raiva e vergonha.

~

Hinata sabia que seu primo queria conversar em particular, mas não só seria incômodo pedir espaço para Sakura como também não seria uma atitude polida sair e deixá-la sozinha. Ambos os Hyuuga se conheciam a tempo o suficiente para saber que ali não era nem o lugar e nem o momento adequado para isso.

Enquanto Sakura se retira, seguindo em direção à casa, Hiashi se aproxima e se abaixa ao lado da filha e do sobrinho. Sua expressão indicava felicidade e satisfação.

— Estão ótimos. Só ouvi elogio a vocês até agora. – o patriarca diz isso como se fosse algum sinônimo de orgulho.

Ele se senta com os jovens e conversa um pouco com eles, para saber como estão se sentindo, o que acharam da comida e se estavam se divertindo. Uma conversa bem banal, até que o pai de Hinata revela o real motivo por ter ido até ali:

— Filha, a programação diz que você vai cantar daqui a pouco. Quer que eu te acompanhe até lá?

A morena sente um arrepio e um frio no estômago. Antes da festa começar, ela fora informada da sequência de acontecimentos daquela noite, porém isso não a deixava menos nervosa.

Ela respira fundo, soltando o ar pela boca e olhando de relance para seu primo. Ele, por sua vez, lhe oferece um sorriso encorajador.

— Quero – Hinata responde, voltando a olhar para seu pai.

Ambos os Hyuuga saem da mesa, seguindo em direção ao palanque onde os músicos tocavam. Neji, por sua vez, se levanta e vai atrás de Hanabi, tendo certeza que ela gostaria de ver a irmã cantando de perto – e, como consequência, se tornaria um ponto de foco conhecido para Hinata fixar o olhar.

Enquanto Hiashi anda ao lado de sua filha, ele afaga suas costas.

O pai da garota conversa com os musicistas ali presentes, explicando com breves detalhes o que era necessário. Um dos músicos entrega um microfone sem fio para a garota e ela assente em agradecimento.

Ela escolhera uma das músicas que Hiromi costumava cantar para ela quando era criança. Além do ritmo suave, a letra também era acolhedora. Hinata acreditava que essa familiaridade a deixaria mais à vontade e menos nervosa no palco.

Conforme os minutos passavam, mais pessoas se reuniam em frente ao palco, conduzidos pela equipe de organização. De onde eles estavam, não era possível enxergar a Hyuuga diretamente ainda. Contudo, ela conseguia visualizar bem sua plateia.

— Está na hora. – Hiashi ressurge em sua frente.

Ela concorda com a cabeça várias vezes e sente seu rosto queimar. É necessária muita concentração para não fazê-la desistir e sair correndo de lá.

Com cuidado para não tropeçar na pequena escada, Hinata sobe os degraus e caminha lentamente até o centro do pequeno palco, na maior parte do tempo olhando para o chão, insegura devido ao salto e à timidez. Assim que ergue os olhos, ela perde o fôlego por uns segundos. Ela poderia jurar que esqueceria o que ia falar a qualquer instante.

— Boa noite a todos – ela cumprimenta.

O microfone reverbera o som pelo local e a faz perceber que sua voz está baixa e incerta.

— Hoje é um dia muito especial – ela tenta soar mais firme, pensando que estava em mais uma apresentação de seminário na escola – Em homenagem a esse dia, eu gostaria de... cantar uma música que eu ouvia quando criança – uma pausa – Minha mãe foi muito importante para a formação da empresa como temos hoje, então...

Hinata não conclui o pensamento. Seu rosto está ruborizado e ela tem certeza de que todos os presentes sabem que ela está nervosa, então não prolongar a breve introdução pareceu a decisão mais inteligente.

Não demorou até que os músicos entendessem a deixa e começassem a tocar o instrumental.

Durante alguns segundos – que mais pareceram longos minutos –, a garota respira fundo e, instintivamente, fecha os olhos. Recordações do rosto e da voz da sua mãe começam a jorrar em sua cabeça.

Ela abre a boca. Dessa vez, sua voz suave sai entra em conjunto com o ritmo imposto pelo teclado, belo baixo e pelo violino. Cada palavra e cada estrofe da música parece em harmonia com o ambiente e fazem Hinata esquecer de onde ela está.

Agora, ela está no tapete de casa, brincando com bonecas enquanto sua mãe canta para a bebê Hanabi em seu colo.

Ela também está no quintal, olhando as nuvens e ouvindo Hiromi cantar enquanto faz cafuné no topo de sua cabeça.

Ou ainda antes de dormir, quando Hinata estava doente ou quando ela e a irmã decidiam dormir juntas. Sua mãe costumava a adormecer as meninas com um breve trecho da canção.

O tempo passa rápido e, quando se dá conta da realidade novamente, a Hyuuga já abriu os olhos e encara os aplausos de todos os que estão à sua frente. Sua visão encontra Neji e Hizashi logo à frente, o que a faz sorrir. Eles retribuem e ela pode notar um “foi lindo” ser dito silenciosamente por seu primo.

Ela agradece o público timidamente e entrega o microfone para o primeiro músico que vê na frente, se apressando para descer as escadinhas.

— Foi perfeito – Hiashi elogia e abraça sua filha, que retribui prontamente.

O coração de Hinata está na garganta. Ela sente a adrenalina por todo seu corpo e tenta amenizar respirando com mais calma.

Assim que solta ao abraço, sua irmã pula em seus braços, quase desequilibrando e levando as duas para o chão. A mais velha solta uma breve risada.

—Hina-nee-san, foi lindo! Você estava brilhando e nem parecia lembrar que tinha muita gente assistindo e nossa! – Hanabi exclama, eufórica.

Os três Hyuuga ouvem o som ser retomado e, agora um dos músicos se tornara o vocalista. Era uma música lenta, tipicamente utilizada para casais.

— Vem, vamos voltar. – Hiashi chama as filhas.

~

No momento em que Sakura pôs os pés para fora da casa, deu de cara com Hinata sobre o palco, cantando.

— Não pode ser - pensa alto, descendo o caminho até encontrar espaço pela multidão.

Sua amiga está bem ali, brilhando como uma estrela e cantando magnificamente como um anjo. A rosada até chegou a se emocionar com o tom de voz de Hinata durante a canção, deixando seus próprios olhos levemente marejados.

E, então, surge-lhe uma ideia. Não que Sakura fosse a melhor pessoa do mundo e todos os seus impulsos fossem certos. Contudo, ela não se impediu de pegar o celular e gravar um vídeo de um pequeno pedaço da apresentação, tampouco se impediu de apertar “enviar” ao encaminhar a gravação para um certo alguém de olhos azuis e cabelos loiros.

Sakura sorri, satisfeita com sua atitude, e logo volta a apreciar a apresentação até o final, tentando não pensar no acontecimento do banheiro e ignorando a presença do moreno Uchiha parado ao seu lado.

~

Não demorou muito para o Uzumaki perceber a notificação em seu celular. A essa altura, ele já voltara para o quarto e jogava videogame de novo. Dessa vez, com Menma.

— Naruto, você é muito ruim.

— Ei, isso não é legal de se dizer.

— Quando o Sasuke falava, eu costumava achar que ele estava implicando. Agora eu entendo ele.

A partida acaba e os dois irmãos pegam seus respectivos celulares na mão. O loiro abre a conversa com Sakura e dá play no vídeo. Ele leva exatos 37 segundos (o tempo total) para perceber que sua irmã havia assistido com ele.

— Uou, ela tem uma voz linda. – ela comenta.

Naruto dá um sobressalto e vira a tela do celular enquanto empurra a cara da irmã com a mão livre.

— Enxerida.

— Tá no volume máximo, não é como se eu não fosse ouvir. Agora, vem cá, ela não tem defeitos não? – Menma está tentando arrancar o celular da mão dele.

— Não... é da sua conta. – ele quase respondeu somente “não”.

Naruto a empurra mais forte agora, fazendo Menma tombar para trás e sentar-se no chão de novo, involuntariamente.

— Hum, certo então. – ela se levanta abruptamente e segue em direção à porta – Vou pegar o refri. Não comece antes de eu voltar.

— Traz um pra mim – o loiro pede.

Sem mais nem menos, ela sai e bate a porta do quarto.

Naruto xinga baixinho, mas logo desbloqueia a tela novamente e coloca o vídeo para rodar outra vez – com o som mais baixo, é claro.

“Hipnotizado” era pouco para definir seu estado. Nunca que ele imaginaria que Hinata cantasse tão bem e muito menos que ele ouviria isso um dia.

Ele continuava a ser constantemente surpreendido.

Um súbito desejo de presenciar isso – ao vivo e a cores – o assolou de forma assustadora, fazendo com que ele fosse até o banheiro do próprio quarto para lavar o rosto com água fria. Aqueles pensamentos esquisitos sobre Hinata voltaram a aparecer, e não era o momento para que ele ficasse recordando seus momentos sozinho com a garota.

~

A essa altura da festa, muitos casais já estão dançando. As músicas lentas atraíram o público e pelo menos metade deles estão dançando em frente – ou próximo – ao palco onde a banda está tocando.

Dentre os pares de dança formados, estão: Itachi e Sakura, Hinata e Sasuke. O primeiro é culpa da insistência de Kizashi, o qual queria muito que sua filha dançasse com o primogênito Uchiha. Da visão de Hinata, sua amiga estava conversando casualmente com Itachi e não transparecia seu sentimento – se está ou não gostando.

O segundo par, ela e Sasuke, foram uma sugestão de Hiashi. O patriarca não gostaria de ver Hanabi dançando com alguém não confiável, mas sabia que a filha reclamaria de ficar de fora da dança. Dessa forma, Hizashi pediu a Neji que dançasse com a prima. Tirando a situação como proveito, Hiashi resolveu empurrar a filha mais velha para dançar com o caçula Uchiha.

Eles têm a mesma idade e já mostraram se dar bem em outras situações: o aniversário de seu sobrinho, o jantar em família ou até mesmo na própria festa em questão. Hiashi não só acreditava que ambos ficam bem juntos como também estava crente de que Hinata e Sasuke estavam começando a se gostar.

Ele não sabe, mas não poderia estar tão terrivelmente enganado.

— Não sabia que eles estavam se dando bem – comenta Fugaku, se aproximando de Hiashi. Ele segurava uma taça de martíni.

— Pois é – responde o Hyuuga, que está encostado em uma parede próxima à entrada da casa – Eu percebi isso recentemente.

— Hinata é uma ótima pretendente – o patriarca Uchiha encara a pista de dança – Belos traços, excelente educação e boas notas, pelo que disse no restaurante. Essa relação evoluir pode ser muito conveniente.

Há muitas informações implícitas naquela pequena frase e Hiashi está consciente de todas elas. Fugaku não é um homem que fala algo pelo bel prazer de elogiar: existe sempre algum interesse pessoal por trás de suas ações, e o Hyuuga já convivera tempo o suficiente com o Uchiha nos últimos meses para saber reconhecer esse traço de personalidade.

E foi com essa indireta em mente que Hiashi já começou a traçar mais planos.

~

E a festa chegou ao fim. Depois de muita dança, conversas e música, os convidados começaram a se retirar aos poucos e retornarem para suas casas. Os que restaram na mansão Hyuuga foram os principais membros e responsáveis: a família Uchiha e a família Haruno, além das equipes de organização – as quais adiantavam a arrumação retirando mesas e cadeiras e deixando-a separadas em um canto nos fundos.

Hiashi está junto de Fugaku, Kizashi e sua esposa. Os quatro estão conversando cordialmente, contentes com a repercussão e discutindo brevemente sobre o encerramento da festa. Já Mikoto e seus filhos estão perto do portão e próximos de Mebuki e Sakura. Hinata não pôde deixar de reparar que sua amiga parecia estressada e que a expressão de Sasuke não é uma das melhores. Ela ficou se questionando se os amigos haviam brigado de novo.

Já ela, Hanabi e Neji estão caminhando juntos até o interior da casa. As garotas estão indo buscar mais uma muda de roupas – afinal, teriam que passar mais um dia na casa da rosada –, e o primo está as acompanhando.

— Hana-chan, vai pegar suas coisas – a mais velha encara a irmã, buscando a brecha necessária para conversar com Neji. – Eu deixei as minhas separadas na primeira gaveta do guarda-roupas. Pode pegar pra mim?

Hanabi concorda com a cabea. Ela está cansada e com sono, então quase se arrasta até o andar de cima.

Isso dá privacidade aos primos ela primeira vez no dia. Hinata percebe a tensão nos ombros de Neji e fica preocupada. Ele disfarçou bem a noite toda, mas agora tudo ficava mais nítido.

— Eu ouvi nossos pais conversando ontem – ele anuncia baixo e sem rodeios, com medo de que alguém pudesse os interromper.

A menina engole seco e sente um calafrio lhe subir pelas costas.

— Hiashi disse que em uma das reuniões com Fugaku e Kizashi, o pai do Sasuke se mostrou interessando em você e na Sakura.

— O-o que? – Hinata gela, sem entender exatamente o porquê aquela sensação era tão ruim.

Neji suspira, cansado.

— Kizashi queria que todos os filhos dos membros principais se aproximassem, para uma maior união. Aquela história que você já ouviu e que foi dita nos discursos de hoje. – uma pausa – Porém, nessa reunião, Fugaku disse que tudo o que dizem sobre você o fazem acreditar que é uma garota exemplar. Muitos talentos, boa em quase tudo o que faz. Depois dessa reunião, seu pai conversou com Kizashi e os dois combinaram que era uma boa ideia usar... – a voz do Hyuuga morre e ele massageia suas têmporas.

Neji sentia desgosto, desaprovação e enjoo só por ter que pronunciar aquelas palavras desprezíveis.

— Neji-san, não estou entendendo, eu-...

O garoto segura os dois ombros da prima e olha bem em seus olhos, mantendo seu tom de voz baixo, mesmo que estivessem sozinhos na sala.

— Quando Hiashi disse que queria trazer a atenção dos Uchiha para você – o moreno recomeça – Ele queria mostrar a educação que nós recebemos, e nada melhor do que a primogênita da família principal para isso. – outra pausa – Porém, os planos foram estendidos. Na conversa com o pai da Sakura, eles decidiram continuar usando você e a Sakura para impressionar Fugaku. Seu pai mentiu quando disse que você cantaria em homenagem à tia Hiromi hoje. Ele só queria mostrar sua voz angelical e tirou proveito disso usando sua mãe de desculpa. O mesmo vale para Sakura. Kizashi conversou com ela para que ela tentasse se aproximar de Itachi, pois quer transformar a filha em uma pretendente futura para ele.

Hinata está em choque.

— Além disso – ele acrescenta – Lembra do que Hanabi nos disse? Que Hiashi estava conversando com Itachi sobre “novos planos” de alguém? – a morena assente e ele continua, baixinho – Então, provavelmente o irmão do Sasuke também está envolvido nesse combinado. Não só isso, como também deve saber de muitas coisas que estão nos escondendo.

Ela queria fazer tantas perguntas. Ela leva diversos segundos para processar a informação, o suficiente para que todo o tempo restante de possível conversa fosse desperdiçado, pois sua irmã já está descendo as escadas novamente, carregando uma muda de roupa em seus braços.

A conversa está encerrada.

Neji é o primeiro a disfarçar, tirando o foco de Hanabi na Hinata estática e colocando a atenção sobre si mesmo.

— A casa fica vazia sem você – ele se abaixa e abraça a caçula, sem deixar nenhuma das roupas que ela segura caírem.

Em seguida, o garoto se põe fica de pé e dá uns passos em direção à Hinata novamente. Ele a abraça e ela retribui, prestando atenção nas palavras que ele sussurra em seu ouvido.

— Amanhã conversamos melhor. – “Eu preciso que tome cuidado, Hina” quis adicionar, mas não o fez.

Ambos se afastam e as garotas escutam Sakura as chamar. Era hora de ir embora.

~

Mamãe,

Gostaria de poder falar que estou feliz, mas estaria mentindo. Sei que, independentemente de onde esteja, nos acompanhou durante toda a celebração. Sei que viu como nossa casa ficou bem arrumada, como a organização foi esplêndida e como tudo saiu conforme o esperado. Sei também que me ouviu cantar nossa música, aquela que me ensinou desde criança e que também ensinou a Hana. Eu verdadeiramente sei disso tudo, mas não consigo dormir.

São quase duas horas da manhã e eu estou aqui, trancada no banheiro do quarto da Sakura-chan te escrevendo, pois não consigo parar de pensar no que o Neji-san me disse.

O papai tem mentido para nós há quanto tempo? Por que ele não sente remorso me usar a própria filha como se fosse um troféu que traz benefícios para a empresa? Por que ele tentou me convencer usando você? Por que o tio Hizashi não fala nada contra e como Kizashi-san pode tão descaradamente querer empurrar a filha menor de idade para Itachi?

Itachi parecia alguém do bem, mesmo que mais reservado e muito polido. Ele está realmente envolvido nisso? E se está, por quê?

Por que todos estão tratando as vidas pessoais como parte do negócio também?

Estou muito chateada.

E não sei o que fazer.

Conversar com o papai pode ser péssimo, pois vou acabar dedurando como fiquei sabendo disso. Não quero acabar envolvendo o Neji-san nesse problema, mesmo que ele já esteja indiretamente. Sei que foi ele quem descobriu o que nossos pais estão fazendo e sei que ele se preocupa muito comigo, mas não quero vê-lo sofrer as consequências de algo que ele não tem culpa

Também fico preocupada com o que pode acontecer se o papai decidir colocar a Hana-chan nesse meio.

Até agora, sou eu e a Saky-chan e, pelo que ela me disse, ela sabe que o Kisashi-san quer que ela se aproxime do Itachi. Então... ela realmente concordou? Será que ela sabe mais coisas? Como o pai dela a convenceu?

Vou conversar com ela pela manhã, quando Hanabi ainda estiver dormindo. Precisamos pensar em uma solução. Isso tudo é muito confuso.

Desde quando o papai se tornou esse homem ganancioso? Com você aqui, ele sempre nos priorizou. Depois que você se foi, as coisas começaram a ir de mal a pior. Essas duas últimas semanas até me fizeram pensar que ele só estava sobrecarregado com as coisas da empresa, mas e se eu estive errada esse tempo todo e todas as nossas atividades em família foram uma tentativa de mascarar seus verdadeiros planos?

Será que o encontro com os Uchiha no restaurante foi proposital?

O que mais ele planejou sem nosso consentimento?

Ele esquecer que passamos no cemitério todo ano para te visitar tem a ver com ele ter se tornado tão... frio?

Minha cabeça dói só de pensar.

Eu preciso dormir, mas você era a única com quem eu podia desabafar a essa hora. Espero poder conversar mais com o Neji amanhã também, para esclarecer um pouco mais as coisas.

Eu vou conseguir dar um jeito em tudo isso. Tenho certeza que o Neji-san e a Sakura-chan irão me ajudar. Não se preocupe.

Eu te amo, mamãe.

 

PS: Desculpe as lágrimas nessa página. Elas borraram um pouco a escrita, mas ainda está tudo legível.

 

Beijos com muito amor e carinho,

Hinata Hyuuga.”


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Notas finais do capítulo

E aí?

Cara, vocês não imaginam o TRABALHO que deu pra produzir esse capítulo, sério. Esse e o último foram os capítulos mais importantes para que eu enfiasse todas as brechas de enredo que eu preciso (por enquanto). Vocês tem teorias sobre o desenvolvimento das relações e das tramas? Contem-me tudo hihihihi ♥

Eu queria avisar que o primeiro ciclo da história foi fechado e o próximo capítulo já é o início do segundo ciclo desse rolo todo! Estou bem feliz com o resultado até aqui e espero que vocês estejam animados!

O que vocês sentiram ao ler o que a Hina escreveu no diário? O que vocês acham que vai rolar nessa segunda etapa da história? Contem-me nos reviews!

Por enquanto, é isso. Como estou sem meu notebook e com um pouco de dificuldade pra produzir os capítulos, é provável que eu demore nos próximos também, mesmo que a quantidade de palavras seja menor e tals.

Ah, mais uma coisa! O que vocês acharam da cena SasuSaku? Eu posso dizer que foi uma das minhas preferidas, se não a melhor! A Nakayama manda bem demais e deixo todo o humor da cena nos créditos dela, sério! Ela é sensacional. Digam-me suas opiniões também u.u

Enfim, é isso! Bebam água, usem máscara e passem álcool gel nas mãos!

Beijokas e até o próximo capítulo (ou até os reviews)! ♥



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