Príncipe Dragão

Lenda

Aiko

– Vovô! Vovô! – vozes animadas chamam, capturando minha atenção.

Desvio meu olhar do belo pôr-do-sol e sorrio para os pequenos que correm em minha direção. Os passos de meus netos ecoam através das paredes do castelo e me fazem lembrar o quanto esse lugar se tornou vazio durante as últimas décadas. Um dia, muito tempo atrás, esse salão abrigou o mais belo dos bailes, que serviu de palco para grandes e profundas revelações. E uma batalha que mudou esse mundo de um modo que não pode ser desfeito.

– Mina. Leon. – cumprimento meus netos – Qual o motivo de tamanho desespero?

– É verdade? – Leon questiona, os brilhantes olhos dourados sendo destacados pela pele morena.

– O que é verdade? – pergunto arqueando uma sobrancelha e olhando de um para outro.

– Que você conheceu o Príncipe Dragão. – Mina responde com grande curiosidade na voz e no negro olhar.

Rio baixinho, confundindo meus netos, meu olhar caindo mais uma vez sobre o horizonte. O Príncipe Dragão. Eu me lembro dele. E em cada final de dia, como esse, eu não consigo evitar que meus olhos o procurem em meio às árvores e montanhas. Sei que ele ainda está nesse mundo, escondido entre os seus, governando ao lado de sua bela princesa. Recordo-me de ambos. Da coragem dele. E da sabedoria dela.

– Quem contou a vocês sobre isso? – questiono retornando minha atenção a meus netos.

– Vovó! – eles respondem em uníssono e eu sorrio. Mirena deveria saber melhor do que encher a mente de nossas crianças com antigas histórias.

– É verdade? – Leon volta a perguntar, mais curioso e ansioso.

– Sim, é verdade. – eu digo caminhando até o trono colocado no centro do salão.

– Conte-nos! – eles pedem me seguindo com rapidez.

Suspiro, me sentando e observando as faces curiosas de meus jovens netos. Leon tem quatorze anos e falta apenas um ano para que se junte a Academia e comece a treinar para se tornar um Soldado. Mina tem doze anos e já mostra uma leve tendência para o caminho dos Draconians. Tudo que eles podem se tornar é o que ele é. Um Soldado. Um sacerdote. Um homem com o coração de um dragão.

– Pergunto-me se devo. – digo para provocá-los.

– Vovô! – Mina protesta de modo impaciente.

– Por que vocês querem tanto saber?

– Porque o Príncipe Dragão foi quem terminou a guerra e unificou essas terras. – meu neto responde – Sob o comando dele, os Soldados lutaram e colocaram um fim na ambição de Itsei.

– Sob o comando dele? – repito baixando meu olhar.

– Sim. – minha neta confirma – Ele deu as ordens, os Soldados obedeceram e triunfaram.

Uma baixa risada escapa por entre meus lábios. Mina e Leon não possuem a menor noção do que realmente aconteceu. O Príncipe deu as ordens? Como, se ele não possuía voz? Ele não falava, mas o silêncio dizia muito. Desde o início, foi a falta de som do Príncipe que intrigou a todos. Mas também foi o que garantiu a ele a confiança de todos.

– Venham. – digo ficando de pé.

– Para onde? – Leon pergunta – Você não vai nos contar?

– Eu vou. – respondo sorrindo – Mas não aqui.

Não no trono que deveria ser dele. Coloco minhas mãos sobre os ombros de meus netos e os guio através dos corredores até a ponte que liga o Castelo de Balaur a Montanha dos Céus. Paramos no ponto central, os últimos raios do sol tocando e aquecendo nossa pele, preparando nossos corpos para o abraço frio da noite.

– Ele nasceu nesse castelo. – digo sentando sobre as pedras e esperando que meus netos me imitem – O Príncipe Dragão. Ele era o único filho de um casal de Draconians e, como os pais, falava a língua dos dragões.

– E como você o conheceu? – Leon questiona com um sorriso nos lábios.

– Meu pai era instrutor na Academia. – respondo sentindo meu peito inundar com nostalgia – E, como um recém-formado Soldado, eu trabalhava como assistente dele, auxiliando no treinamento dos novos alunos. E foi na chegada de uma nova turma que vi o Príncipe Dragão pela primeira vez. – sorrio com a lembrança – Mas devo admitir que, naquele momento, eu não podia imaginar em quem aquele rapaz iria se transformar.