Olho para o céu mal acreditando no que estava vendo. Ouço os barulhos vindo da rua, vejo as pessoas indo e vindo. Eu estava num beco pequeno, e antes que pensasse em dar um passo, Um buraco se abriu na minha frente e dele saíram Julieta, Ithuriel, Pedro, papai e Luz. Eles me viram e vieram pra cima de mim me engolindo em um abraço gigante e enchendo meus ouvidos com sermões e xingamentos.

–Calma calma. Estou bem.

Nem isso os fez parar de falar. Me soltei deles e dei um berro.

–Pessoal! Estou bem ok? Olhem para mim.-Fiz um sinal exagerado em direção ao meu corpo.-Estou aqui, bem aqui. Por favor. Eu sei que foi errado sair sem falar nada mas pelo visto nada aconteceu. Controlem-se, parece até que alguém vai me atacar.

E nesse momento vovó surgiu tirando seu casaco verde e sacudindo a cabeça.

–E você está certa minha filha.

–O que?-Processei as palavras e reformulei a pergunta.-Quem vai me atacar?

–Aqui e agora não são momentos para esse tipo de conversa. Os pássaros e as paredes são ótimos ouvintes. Sigam-me.

Em silêncio acompanhamos a vovó. Saímos do beco, andamos dois quarteirões e entramos numa cafeteria. Pegamos uma mesa para oito pessoas e vovó jogou o casaco e a bolsa em cima da oitava cadeira. Vovó e eu pedimos café e o resto pediu capuccino. Enquanto esperávamos nossos pedidos, lancei um olhar para vovó que o entendeu e iniciou a conversa.

–Bem, vocês já sabem o que eu vou falar agora, menos Alice e Ithuriel.-Ithuriel arregalou os olhos e eu olhei para minha avó com mais atenção.- Eu sei quem você é garoto. Melhor arrumar outro nome e mudar a cor do cabelo. Enfim, Alice, infelizmente o que para você foi um passo bem grande em direção aos poderes que você tem, para o Inferno e principalmente para o Céu, foi um passo rumo à morte.

Um silêncio mortal se instalou sobre a mesa.

–Por que?

–As pessoas morrem, e devem permanecer mortas. O que você fez causou um impacto. Os mortos querem voltar, os demônios querem seus amigos de volta, e Céu inteiro quer te matar. E eles vão querer guerrear para ter você e fazer o que bem entenderem.

–Ou seja, você tá muito ferrada.-Julieta disse.

–Não tem nada que eu possa fazer?

Eu estava perplexa, com medo até o último fio de cabelo. Olhei para os meus dedos e controlei minhas lágrimas.

–Tem, mas acho que você sabe o que é.

Eu sabia, era por isso que eu queria chorar. Respirei fundo.

–Eu teria de morrer ou... matar Ithuriel. Mas sabemos que nada disso vai acontecer. Temos de bolar um plano ou...

–Não.-Ithuriel falou.-Não entende? Não tem como bolar um plano ou...eu não sei.

Pedro foi o primeiro a concordar e logo todos estavam concordando junto. Olhei para cada rosto em silêncio e vi que Ithuriel nada significava para eles. O que importava ali era somente eu. Levantei da cadeira com os olhos colados em Ithuriel.

–Vocês acham que vou desistir assim tão fácil? Que vou sacrificar a vida de alguém que significa muito para mim? Pois bem, não irei. Eu vou dar um jeito nisso com ou sem vocês. Ithuriel não vai morrer. Eu não vou deixar. Não o salvei para poder matá-lo depois. Vocês estão comigo ou contra mim?

O silêncio foi mortal outra vez. Eles desviaram o olhar e eu senti minha confiança murchar. Até mesmo Ithuriel não olhava para mim. Ah, então é essa a resposta de vocês? Ótimo.

–Perfeito.

Sai de perto deles e praticamente corri para a rua. Meu coração afundou em lágrimas, porém elas não chegaram aos meus olhos. Me senti desolada, abandonada e decepcionada. Caminhei até o beco e verifiquei cinco vezes se alguém estava olhando. Então abri minhas asas e subi em direção ao céu.