Acordei de manhã disposta. Tomei café e comecei a preparar tudo. Optei por ligar o rádio para acalmar os nervos e o que toca é justamente uma música que manda fazer o contrário. Desligo o rádio. Penso em Pedro e pego o telefone. Assim que disco o número, apago e o jogo no sofá.

–Droga, o que estou fazendo?

Preparei tudo na sala e comecei a invocar meu pai. Passou-se uns segundos de silêncio até que uma forma materializou-se na minha frente. Esperançosa sorri. Mas logo me desesperei quando a forma que apareceu na minha frente era a de Pedro e não a de meu pai. Recuei assustada e curiosa. Como? Ele sorriu com a minha confusão e começou a se aproximar de mim.

–Minha nossa eu nunca teria pensado nisso. Bem que Julieta falou.

–O que você está fazendo aqui Pedro?-Consegui perguntar.

–Eu esperava que você fosse procurar por seu pai pessoalmente, mas pelo visto você andou lendo.

–Isso não responde minha pergunta.

–Eu não sei Boneca. Simplesmente apareci.

–Mentira!

Ele se aproximou e eu recuei. Tentou de novo e eu recuei novamente.

–Eu acho que foi você que me puxou pra cá.

–Como?

–Você não sabia?-Quando neguei ele continuou.-Você deve estar totalmente concentrada em quem quer que apareça. Você quis invocar seu pai, mas estava pensando em mim. Isto responde sua pergunta?

–Eu acho que sim.

–Bom.

Respiro fundo e vou para a cozinha. Ele me segue é claro. Sento-me à mesa e o sinto relaxar ao meu lado. Olho para ele.

–Você está bem?-Me pergunta.

–Estou. E você?

–Bem...Julieta é um saco na maioria das vezes. Deve estar dando um ataque agorinha mesmo.

–Não diga a ela que eu estou aqui.

–Por que não?

Respiro fundo novamente e olho para baixo.

–Eu sinto que minha mãe está viva, e que meu pai é o único que pode me ajudar. Além do mais não quero envolve-la nisso.

–Mas por que?

–Ela já fez muito por mim. Agora é a minha vez de fazer isso por ela.

Dito isso, Pedro pousou sua mão na minha e eu deixei. Ficamos assim por uns minutos até que eu falei.

–Me abraça Pedro?

Ele se levantou e me puxou para seus braços. Me aconcheguei em seus braços e inspirei seu perfume.

–Como eu senti falta disso.- Suspirei.

–Eu também Boneca, eu também.

E ficamos assim, até que eu me afastei.

–Você precisa ir.

–Eu não posso Boneca.

–Não importa, você vai agora embora.

–Não. Eu não irei deixar você invocar demônios sozinha.

–Sim você vai agora...

Fui interrompida pelos seus lábios suplicantes e selvagens. Por um momento parei. No outro correspondia com a mesma voracidade seus beijos. Pedro agarrou meus quadris e me puxou para ele como se quisesse fundir nossos corpos num só. Deus, como eu senti falta disso. Recuei em busca de ar, mas ainda em seus braços.

–Tudo bem, pode ficar. Mas me prometa que não haverá contato algum entre você e Julieta.

–Eu prometo meu anjo.

Sorri por um breve momento até que ouvi um barulho. Pedro me olhou por uns segundos e fomos juntos até a fonte do barulho. Agachado sobre o lugar que eu tentei invoca-lo, estava meu pai.

–Papai?