Em um dos livros que li, achei informações úteis. Como anjos da história disfarçados de estrelas. Acho que se chamavam As Três Marias. Mapas de lugares onde eu podia entrar e outros onde poderia também abrir portais para o céu ou para o inferno. Tudo o que seria útil para mim, separei para levar. Li também que nephilins poderiam sobreviver de água, ou então de nada. A maioria dura cerca de anos sem comer ou beber e sobrevivem. Outros, a base de água somente, duram séculos e mais séculos. Pensei nos três. Papai, Pedro e Julieta. Pelo o que conheço deles, devem estar a todo lugar me procurando. Ou talvez não. Não importa.
Minha primeira viajem seria no subterrâneo. Precisava de algumas coisas. Parei onde estava. Uma pequena lembrança passou pelos meus olhos como se a tivesse vivendo de novo. Eu tinha o que precisava! Procurei pela minha bolsa e achei o papel. Como essa coisa funciona? Toquei no papel. Ele transformou-se em um dado. Toquei no dado. De repente as laterais do dado se abaixaram e tudo o que estava ali simplesmente saiu. Pus o dado no chão e observei tudo saindo. Lembrando do que Julieta fizera, peguei o necessário e o resto guardei dentro do dado. Demorei uma hora para me aprontar. Lembrei do iPhone. Será que eu estava sendo rastreada? Bom se tivesse já teriam me encontrado. Lembrei que ele tem GPS. Poderia utilizá-lo à meu favor. Depois de tudo pronto, resolvi partir. Eu iria visitar uma pessoa. Metade das minhas perguntas ela teria respostas, se ela for realmente quem eu esperava que fosse. Corri até lá fora. Cadê a Harley Davidson? Os demônios devem ter pegado ela. Duvidei. Aquela coisa tinha vida própria. Tentei assoviar. Meus olhos se arregalaram quando avistei a moto vindo da rua de trás, parando na minha frente e meio que me esperando. Eu fiquei sem reação e cheguei a gritar quando ela buzinou sozinha. Para mim! Montei nela e disse o endereço da vovó. Em poucos minutos chegamos lá. Falei para ela se esconder. A moto buzinou e saiu. Eu ainda não estava acreditando naquilo. De longe pude sentir o familiar cheirinho do bolo dela. Hum, acho que era bolo de cenoura. A casa dela parecia de boneca, tanto por dentro enquanto por fora. Eu nuquinha na minha vida vi a casa dela suja. Melhor eu me acostumar sabe...minha família não normal mesmo. Passei pelo jardim e quando pensei em bater na porta, a mesma se abriu. Avistei o corredor à minha frente e cantoria da minha vó encheu meus ouvidos. Entrei e fui para a cozinha. Ela estava sentada numa cadeira próxima à janela. Sorriu ao me ver. Levantou-se e limpou suas mãos no avental cor de rosa.
–Olá querida.
–Oi vovó.
Abracei-a. Ela me apertou. Pegou minha mão e me conduziu até a sala.
–Temos muito o que conversar.
–Sim nós temos.
Nos sentíamos no sofá. Ela fez um movimento com as mãos e lá da cozinha dois copos, uma jarra, dois pratos e garfos em cima de uma bandeja vieram levitando até nós. Olhei para ela, é a mesma me retribuiu o olhar com uma piscadinha.
–Não olhe para mim assim, você viu coisa pior.
–Vovó...está tudo tão confuso.-Falei pegando o copo e o prato que ela me ofereceu.
–Sim, prepare seu coração porque mais coisas virão. Coisas piores. Você terá de ser forte.
–Coisas piores vovó?
–Sim. Querida eu vou lhe contar o que me é permitido. Sobre mim, sobre sua irmã, sobre o seu namorado. Mas sobre você, sobre seu e sua mãe você terá que descobrir sozinha.
–Tudo bem vovó.-Falei me preparando.-O que você é?
–Nada mais, nada menos que um anjo caído.-Ela sorriu quando eu quase engasguei com o suco.-Calma. Lá no céu éramos eu e mais dois anjos. Nós cuidavámos do futuro das pessoas importantes na Terra, e levávamos suas histórias para As Três Marias.-Olhei para ela, concordando.-Eu cai porque mudei sozinha o futuro de uma garota, a sua irmã. Ela nunca seria e nem chegaria perto do que é hoje. Troquei sua alma de lugar com outra. Os arcanjos descobriram e me expulsaram do céu. Eles iriam arrancar minhas asas, mas Deus não permitiu."Expusá-la é suficiente", ele disse. Durante tantos anos aqui na Terra, eu conversava com Deus. Ele dizia que meu destino era cair, meu propósito real era aqui. Ele me contou que eu descobriria o que devia fazer, quando e onde. Então vi o Castiel cair. Eu que fiz toda sua história, mas acontece que ele mesmo mudou seu destino. Eu fiquei contente. Anjos vingadores são bons protetores. Ele escolheu proteger você.
–Vovó, porque ele e a minha irmã se odeiam tanto?-Perguntei sem pensar.
–Castiel e a Julieta se odeiam por natureza. Ela é uma nephilin, ele é um anjo. Agem por instinto. Tiveram que conviver juntos por anos até você nascer. Mostrei a eles que deveriam se aguentar por você. E fazem isso até hoje.
–Entendo. Vovó, você sabe o que vai acontecer comigo?
–Querida, escute. Eu não posso dizer-lhe o que vai acontecer.
–Por que?
–Porque só você pode fazer o seu destino. Eu não posso deduzir uma coisa que pode mudar. Você querida, vai escrever seu próprio destino, sua própria história. Mas para isso você precisa saber mais sobre você mesma.
–Conte-me então vovó.
–Eu não sei muito sobre seu passado. Mas conheço alguém que sabe.-Ela sorriu.
–Quem vovó?
–Cadê aquele mapa que você achou?
–Está aqui comigo.
–Me empresta.
Tirei o mapa da minha bolsa e o entreguei a ela. Cojetei a perguntar como ela sabia do mapa, mas então lembrei do que ela era. Ela olhou o mapa e apontou para um desenho. Três pontilhados prateados dentro de uma leve camada de azul. Ela apontou.
–O que são?
–As Três Marias. Você deve ir até elas e com elas perguntar sobre você. Elas sabem toda a sua história até agora. As dos seus pais, do seu namorado e da sua irmã.
Olhei para o mapa e depois para ela.
–Tá mas como eu chego lá?
–Essa moto aí deve servir para alguma coisa né?
Sorri. Eu iria visitar os anjos da história. Eu iria visitar a minha história. Vovó colocou a mão no meu ombro.
–Boa sorte querida.