Pokémon Nuzlocke: Heaven & Hell escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 6
Capítulo 5 - Hunted


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo o/ Desculpem pela demora a postar, tentaremos trabalhar mais rápido nos capítulos. Enfim, esperamos que gostem o/ Nesse capítulo há um pouco mais de ação e emoção, e finalmente poderão ter uma visão de como os pokémons foram afetados psicologicamente pela guerra. Deixem seus comentários e reviews, eles são muito apreciados :3



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–Pronta? -o loiro perguntou, posicionando-se na extremidade do campo oposta àquela onde estava a garota, após estabelecer as regras simples de uma batalha amistosa; apenas um pokémon poderia ser utilizado por cada treinador, sendo vitorioso aquele que se mostrasse mais disposto a continuar.

–Sim. -Alyss respondeu, mas a incerteza em sua voz era perceptível. Não precisou nem ao menos pedir para que a Oshawott entrasse em campo; ela já o havia feito - estava extremamente ansiosa por sua primeira batalha semi-oficial. Até o momento, havia apenas travado lutas por território ou comida, ou simplesmente por uma simples disputa de força com pokémons que conhecia.

Exceto pela época em que o incidente ocorrera.

Maiko balançou sua cabeça rapidamente, tentando livrar-se das memórias ruins antes mesmo que elas voltassem a lhe atormentar. Precisava estar concentrada.

–Tudo bem. -respondeu Draven, sua expressão ainda confusa. Não parecia compreender por que a amiga, que finalmente reencontrara após quase um ano, estava tão disposta a desafiá-lo daquela maneira. Ele, pessoalmente, imaginava esse reencontro de outra maneira. Além disso, sua vitória era quase certa, e tinha certeza de que a garota sabia disso. Afinal, havia saído em jornada e começado a treinar muito antes dela; era apenas natural que possuísse mais conhecimento e experiência. Porque, então, Alyss queria batalhar contra ele? Tentou deixar aquela grande dúvida de lado para dar continuidade à batalha. -Miyoko, é com você.

A serpente azul hesitou, um pouco surpresa. Geralmente, apenas o auxiliava durante suas batalhas, intruindo-o sobre o que deveria fazer e ajudando-o a manter sua calma, já que podia ser impulsivo ás vezes. Porém, não questionou-o; confiava em seu treinador e sabia que ele deveria ter uma estratégia - ou, ao menos, assim esperava. Ouviu as pessoas ao redor do campo vibrarem enquanto desenrolava-se do pescoço do menino e locomovia-se calmamente, posicionando-se à alguns metros deste.

–O que? -a menina de incomuns cabelos azuis arregalou os olhos, assim como sua pokémon. -Você não ia escolher a Alexa? -ela franziu ao ver o meio sorriso que se formava no rosto do amigo. Ele claramente já havia planejado aquilo desde o momento em que fora desafiado.

–Como eu disse, sou mais experiente que você. -ele afirmou, uma vez mais, o que parecia deixar a amiga ainda mais irritada. -Portanto, sei que sua Oshawott teria vantagem sobre minha Charmeleon.

Na verdade, Draven não se importava muito com isso; possuía estratégias bem elaboradas e sabia que a desvantagem não seria um problema. Porém, Alexa era uma de suas pokémons mais bem treinadas até então, já que fora junto a ela que enfrentou seus primeiros oponentes, o que tornaria o combate ainda mais injusto para Alyss, que acabara de iniciar sua jornada. Mas sabia que, caso tentasse lhe explicar isso, ela jamais aceitaria. Era teimosa demais, e isso acabaria levando-a a uma derrota terrível.

–Então, com a Miyoko em campo, será uma luta justa; sem vantagens ou desvantagens. -sua afirmação era válida, embora não fosse isso que realmente pensasse.

–Permita-me dizer que as chances ainda estão a nosso favor. -a Dratini afirmou, como se pudesse comprovar o que dissera com estatísticas e, talvez, até pudesse. Ajeitou seus óculos e afastou uma mecha de cabelo de seu rosto com a ponta de sua longa cauda.

A garota bufou, aborrecida. Teria de planejar novamente o que faria para permanecer na batalha durante mais do que alguns segundos - já que não acreditava que iria vencer, embora sua Oshawott discordasse. Na verdade, ainda não entendia muito bem por que desafiara o garoto, já que não provaria ser mais forte do que ele perdendo. Maiko xingou a Charmeleon baixo, pois queria mostrar sua habilidade e força à lagartixa, mas ainda assim achava-se forte o suficiente para derrotar qualquer outro oponente. Sua confiança sempre fora sua maior virtude, embora pudesse também ser, ás vezes, um grande defeito.

–Bem, se está tão chateada com isso, então pode começar. -o loiro deu de ombros, mas o sorriso brincalhão não deixava seu rosto. Parecia que, quanto mais conseguisse irritar Alyss, mais ele se divertiria.

–O que? Eu não... -antes mesmo de dizer todos os palavrões que estavam em sua mente, ela apenas comandou, soltando um grunhido irritado: -Maiko, comece com o Air Slash! -ela sabia que o ponto forte de sua Oshawott eram os ataques diretos, principalmente manuseando sua concha; então, aquela seria sua maior chance de causar danos.

Sem hesitar, a Oshawott sacou sua concha, que começava a adquirir uma coloração azulada enquanto ela seguia agilmente em direção à oponente. Apesar de sua velocidade, porém, a Dratini não apresentou muitas dificuldades em esquivar-se do ataque, deslizando para o lado e assistindo Maiko atingir o chão. Com certa raiva, esta virou-se para Miyoko, preparando-se para atacá-la novamente.

A cada movimento falho da Oshawott do qual a serpente desviava, a plateia gritava e torcia, aumentando a tensão de Alyss. Ela sabia que a batalha seria difícil mas, francamente, esperava, ao menos, conseguir atingir a oponente. Se não conseguisse pensar em algo logo, sua derrota estaria garantida.

–Miyoko... -o treinador chamou a atenção da serpente que ainda desviava dos golpes repetidos de Maiko, piscando para esta, que assentiu. E, no mesmo instante, fora atingida pela lâmina azul da Oshawott, que tinha um sorriso triunfante em seu rosto. A lontrinha nem ao menos percebera o quão peculiar era o fato de que a Dratini, antes incrivelmente ágil, nem ao menos fizera menção de desviar do golpe.

–Isso, Maiko! -a jovem de cabelos azuis animou-se mas, logo que pensou por um segundo, seu sorriso se desmanchou. Devido ao cansaço da lontrinha após perseguir a oponente sem sucesso durante tanto tempo, seus movimentos já tornavam-se mais lentos; então, as chances da Dratini ser atingida eram quase nulas.

A menos que se deixasse ser atingida.

–Ei! -reclamou, a expressão aborrecida voltando a seu rosto. -Nós não queremos que pegue leve. Era para ser uma batalha justa, não? -cruzou os braços. Entendia aquilo como uma certa ofensa, como se o garoto a achasse fraca demais para ter qualquer chance de derrotá-lo. Naquele instante lembrou-se de porque desafiara o amigo; queria provar que não seria vencida tão facilmente.

–Tudo bem, então. -o loiro deu de ombros, ainda rindo. -Aqua Jet.

A serpente azul assentiu, sendo rapidamente envolta por uma camada de água, que tornava-se mais poderosa a medida que avançava em direção à Oshawott. Esta fez menção de pegar sua concha para posicioná-la a sua frente e utilizá-la como uma espécie de escudo, porém, a Dratini fora mais rápida. E mais forte.

Mais uma vez, as pessoas que se organizavam em volta do campo vibraram ao ver a lontrinha ser arremessada metros para trás pelo míssil de água da pokémon dragão. Esta possuia a mesma expressão de antes da batalha; séria, porém, convencida de que ganharia.

Caroline e Amy, que também assistiam a luta, possuiam expressões preocupadas. Pareciam perceber que a amiga não estava em uma situação muito boa e, claramente, teria de pensar em alguma estratégia para superar a habilidade e força superiores do menino. Kairi, de braços cruzados, murmurava algo ironizando o que a irmã dissera mais cedo sobre ser "extremamente forte", enquanto Damen apenas sentava-se quieto, sem expressão. Leroy e Firestarter comentavam a batalha.

–Se eu estivesse em campo, essa luta já teria acabado. -gabava-se em um ar superior, embora soubesse que sua afirmação era falsa.

–Sem dúvidas. -concordou o Ponyta. -Aquela Dratini com certeza já teria te derrotado. -brincou, ignorando a língua que lhe fora lançada pelo Buizel.

Alyss estava tensa e apreensiva. Os movimentos diretos, grande ponto forte de Maiko, não conseguiam atingir Miyoko e, aparentemente, qualquer golpe desta era muito mais poderoso e certeiro. Até que uma estratégia, não de ataque, mas sim de defesa, surgiu em sua mente, e ela imaginou o jogo virando a seu favor. Isso é, caso funcionasse.

–Maiko, use Water Gun! -o comando da menina causou certa confusão, tanto para a plateia, que parou de fazer barulho, quanto para o garoto e, principalmente, para a Oshawott. Esta, porém, decidiu confiar na escolha da treinadora, executando o golpe.

Estufando seu peito, a lontrinha azulada concentrou a maior quantidade de água que conseguia, abrindo sua boca e disparando um jato de água em direção à serpente azul.

–Desvie e use ExtremeSpeed! -ordenou o jovem, ainda sem entender o comando peculiar de Alysse. Se nem ao menos os rápidos ataques diretos da Oshawott conseguiam atingir Miyoko, como ela esperava que um golpe à distância tão fraco como o jato d'água pudesse lhe causar danos?

Sem hesitar, a pokémon dragão saltou para o lado, com ajuda do impulso de sua cauda, esquivando-se rapidamente do golpe movimento aquático executado pela lontrinha. Em seguida, seguiu em sua direção como um raio, de tão rápida e ágil. Teria sido atingida em cheio, não fosse pela voz da treinadora.

–Agora direcione o Water Gun para o chão! -e, naquele momento, todos começaram a entender o que ela queria fazer.

Maiko abriu um sorriso torto para a Dratini antes de lançar a cabeça para baixo e assim ser impulsionada para cima pelo forte jato de água por ela desferido. Miyoko, em alta velocidade, atravessou a corrente de água, mas não conseguiu atingir a oponente. Quando olhou para cima, procurando-a, percebeu que esta caía em sua direção, com sua concha brilhando em um tom vermelho. Surpreendida, acabou por não conseguir desviar e caiu no chão, com um gemido de dor ao sentir a lâmina cortar sua pele.

Gritos emocionados e surpresos das pessoas que assistiam a luta foram ouvidos, assim como assovios e palmas. Parecia que a estratégia da menina havia, de fato, funcionado, o que causou enorme alegria à todos na plateia, que agora ansiavam por descobrir quem sairia vitorioso; não conseguiam conter a agitação para ver quais os próximos movimentos seriam.

Alysse também compartilhava daquela emoção, a adrenalina pulsando em seu sangue enquanto um sorriso triunfante se formava em seu rosto. Não parecia mais tão fraca e inexperiente agora que conseguira finalmente atingir a pokémon tão bem treinada de Draven, que julgava ser habilidoso demais para ser vencido por ela, rápido de mais para ser atingido, esperto demais para cair em qualquer armadilha.

–Inteligente, mas não suficiente. -exclamou a serpente, erguendo-se majestosamente uma vez mais e encarando a oponente.

–Miyoko está certa. -confirmou o loiro, passando os dedos por entre seus fios de cabelo dourados. -Você conseguiu nos atingir, mas não significa que irá vencer. Pode até ter suas estratégias, mas nós também temos as nossas. -continuou, destruindo a felicidade momentânea da menina. -Miyoko, impeça-a de fazer isso de novo!

O mundo começava a girar mais rápido novamente, agora que a alegria e agitação da garota de cabelos azuis eram drenadas de seu corpo. Ela estava de volta à batalha, e ainda teria que se esforçar para continuar nela. Não sabia o que deveria fazer, uma vez que desconhecia a estratégia que Draven usaria. Porém, ao ver o corpo da serpente ser envolto por faíscas, temeu o que aconteceria.

Uma onda de eletricidade criada pela Dratini percorreu o campo e, sem que a Oshawott tivesse qualquer chance de desviar, fora atingida por esta. Maiko, porém, não se sentia, de qualquer maneira, danificada, o que era extremamente peculiar; reconhecia suas fraquezas e sabia que um golpe elétrico lhe causaria extremo prejuízo, mas aquilo não ocorrera. Olhou para sua treinadora, em busca de respostas, mas percebeu que esta parecia tão confusa quanto ela.

–Esse foi Thunder Wave, um movimento capaz de paralisar o oponente. -explicou o garoto, com um sorriso brilhante em seu rosto, ao perceber a confusão da amiga. -Vamos ver se vocês conseguem usar aquele golpe de novo. Miyoko, Dragon Rage!

–Desvie! -a menina gritou, ao ser dominada pelo nervosismo novamente.

Os olhos da serpente começaram a brilhar intensamente enquanto seu corpo era envolto por uma aura azul. Logo em seguida ela estufou seu peito, criando uma esfera de energia a sua frente que logo assumiu a forma de uma espécie de ciclone, seguindo em direção à Oshawott. Esta, por sua vez, tentou desviar, porém, sem sucesso. Observou seu corpo ser rodeado por faíscas enquanto tentava, inutilmente, vencer a paralisia.

Alysse arregalou os olhos, apreensiva. Todo o medo e desespero que Maiko sentia pareciam tê-la invadido também, enquanto ela assistia o poderoso golpe da Dratini atingir em cheio sua pokémon e arremessá-la com tremenda força para trás, sem que esta pudesse se defender de qualquer maneira, arrancando-lhe um murmúrio de dor.

–Maiko! -a garota gritou ao ver sua pokémon caída, correndo em sua direção. Sentiu seu sangue tornar-se frio e seu coração bater mais rápido, temendo que a lontrinha estivesse ferida demais. Felizmente, esta mostrou ainda estar bem ao levantar-se com um sorriso.

–Nós...ganhamos? -indagou a Oshawott, cambaleando, com certa dificuldade para manter-se de pé devido à tontura. Parecia que o mundo estava girando e o chão com certeza não estava onde deveria estar.

–Quase. -Alysse riu, pegando a pequena no colo e levando-a para fora do campo, onde poderia cuidar de seus ferimentos.

Enquanto se afastava do campo de batalha, indo em direção ao local onde as outras duas amigas e seus pokémons estavam, pôde ver dois estranhos já se preparando para uma nova batalha, animados pela torcida da platéia.

–Foi uma boa batalha. -exclamou Caroline, aproximando-se da menina de cabelos azuis, enquanto essa borrifava um pouco da poção que comprara minutos atrás sobre os leves machucados da Oshawott. Felizmente, ela não havia ficado muito ferida, e se curaria rápido.

–Sem dúvida. -concordou Amy, esboçando um sorriso e tentando convencer a outra de que, embora houvesse perdido, havia lutado muito bem.

–Obrigada. -respondeu a garota, sem acreditar muito. Sabia que Maiko havia feito seu melhor e estava muito orgulhosa, mas fora extremamente fútil pensar que poderia vencer Draven.

Estendeu a mão para seu Espurr, para que este pudesse voltar a se acomodar em seu ombro. Olhava ao redor à procura do amigo e sua Dratini; embora houvesse perdido, sua felicidade por reencontrá-lo não se tornara menor. Fazia um bom tempo desde que o vira pela última vez, no dia que o julgou como louco por querer sair em uma jornada pokémon. E, agora, ela estava seguindo os mesmos passos.

–Ei. -a voz quente do loiro soou por trás de seu ouvido, fazendo a menina virar-se para se deparar com ele. -Vocês lutaram bem. -afirmou, sorrindo.

–Você acha? -a menina de cabelos azuis abriu um pequeno sorriso para o amigo.

–Sim. -ele assentiu, antes de seu tom tornar-se mais brincalhão. -Já vi gente perdendo muito mais miseravel.... -não teve tempo de terminar a frase; fora atingido por um forte tapa da garota, mas não conseguiu controlar o riso ao ver sua expressão irritada. E levou mais um tapa.

O processo se repetiu continuamente até Draven começar a desviar da mão da menina, o que apenas a deixou ainda mais irritada. Caroline e Amy se entreolhavam, sem saber o que fazer diante da situação, claramente pensando em se afastar um pouco até que os dois se entendessem, mas felizmente não demorou muito para que isso ocorresse; Alyss finalmente desistira, depois de algumas tentativas frustradas, de esbofetar o garoto, cruzando os braços.

–Onde você está hospedada? -perguntou o loiro após um longo silêncio.

–No único hotel da cidade, talvez? -ironizou, revirando os olhos, mas um sorriso novamente começava a se abrir em seu rosto. -Mas iremos para Striaton pela manhã.

–Hm. -ele ficou pensativo por um momento, revirando seu bolso e puxando de lá um celular, rapidamente entregando-o para a amiga, que arqueou uma das sobrancelhas, claramente confusa. -Coloque seu número aí. Assim podemos manter contato. -explicou.

A menina então apanhou o aparelho, criando seu contato ali sem muitas dificuldades. Em seguida, pegou seu próprio celular dentro de sua bolsa e entregou-o a Draven, pedindo-lhe para fazer o mesmo. Os dois trocaram mais algumas palavras, deixando as outras duas garotas conversando entre si e com seus pokémons, até que Alyss sentiu o sono começando a atingí-la. Inicialmente, planejara ficar no máximo uma hora no mercado, apenas para comprar o que fosse necessário e até mesmo treinar um pouco, mas certamente já passava de três da manhã. Lembrou-se de que teria pouco tempo de sono, caso quisesse seguir viagem às nove.

–Acho melhor irmos embora. -ela se virou para as outras duas amigas, que rapidamente concordaram. -Nos vemos em Striaton então. -estendeu a mão para o loiro com um sorriso, despedindo-se.

–Até lá. -o outro fez um aceno com a mão, piscando, gesto que fez Alyss corar. Felizmente, o garoto já havia se virado e não poderia ver seu rosto rosado.

Alyss se virou para as outras duas, que possuiam expressões engraçadas, como se segurassem o riso. Confusa, arqueou uma das sobrancelhas.

–O que foi? -indagou, cruzando os braços.

–...Você está vermelha. -respondeu Amy por fim, não mais conseguindo segurar o riso e explodindo em uma estranha gargalhada, que foi acompanhada por Caroline.

–Só... Vamos embora logo. -a menina de cabelos azuis desviou o olhar.

As três jovens então, quase em conjunto, aproximaram-se de seus pokémons. Teriam de retorná-los para voltar ao hotel com segurança, mas prometiam liberá-los novamente assim que chegassem. A hora de voltar para a pokébola era, certamente, a de que menos gostavam; embora o interior do dispositivo fosse aconchegante, podia ser também solitário, e certamente incomparável ao mundo exterior. Leroy e Maiko, ainda não muito acostumados a ficar dentro das esferas, eram os que mais se incomodavam mas, relutantemente, retornavam.

Juntas, passaram pela porta que levava à escadaria, subindo cautelosamente por seus degraus. O interior da construção abandonada ainda parecia vazio, porém, sempre tinham de ser cuidadosas; caso fossem vistas por alguém, podiam comprometer não somente suas vidas e as de seus pokémons, mas também as de todos os outros treinadores que visitavam o mercado.

Felizmente, as ruas estavam tão vazias quanto no caminho de ida. Novamente, preferiam camuflar-se às sombras, ficando longe das áreas iluminadas pelos postes da cidade. Andavam calmamente, embora sempre atentas à tudo ao seu redor, cuidando para que ninguém as estivesse seguindo ou observando.

Caroline olhou para o céu, permitindo que uma certa felicidade a invadisse. Desde que saíra em viagem, tantas coisas boas já haviam ocorrido; até mesmo tivera sua primeira batalha e capturara um novo pokémon, o que não imaginava que fosse acontecer. Naquele momento, parecia que todas as suas preocupações se esvaiam, o cenário sangrento da tarde anterior completamente apagado de sua mente. Observou a lua e as estrelas, lembrando-se das noites que passara na fazenda junto à sua mãe e Firestarter, sentindo saudades de casa, mas certamente não queria voltar agora. Não justo quando sua felicidade atingia seu auge.

A volta ao hotel fora rápida e tranquila. Cerca de meia hora após terem deixado o mercado já passavam pela porta dos fundos do estabelecimento, parando antes de começar a subir as escadas que levariam a seus respectivos quartos para que pudessem planejar o que fariam no dia seguinte.

–Podemos nos encontrar na recepção às nove para seguir viagem. -a menina de cabelos negros sussurrava, esperando que nenhum funcionário do hotel resolvesse passar por lá e desconfiar do que estariam fazendo nos corredores ás quatro da manhã. -Não teremos muito tempo para dormir, mas podemos fazer isso ao chegar em Striaton.

As outras duas assentiram e, murmurando um "boa noite", subiram as escadas, desaparecendo no breu que eram os corredores de madrugada e entrando em seus quartos. Ao chegar ao seu destino, Caroline atirou-se à cama, trancando a porta e libertando seu Ponyta e Buizel antes de adormecer. Fora um dia agitado e cansativo, porém, muito prazeroso.

A manhã chegara mais rápido do que Caroline desejara. Seu alarme tocara ás oito e meia, obrigando a garota a abrir os olhos cansados e levantar-se da cama. Olhou ao redor, percebendo que Leroy ainda dormia, enrolado em torno de seu corpo como um bebê, e Firestarter descansava sobre o tapete. Ao primeiro movimento da menina, fora acordado; nunca tivera sono pesado, diferenciando-se de Leroy, que parecia não acordar por nada.

–Bom dia. -ele murmurou, lutando para manter os olhos abertos. Parecia quase tão exausto quanto a treinadora.

–Bom dia. -a jovem respondeu com um sorriso, mexendo em sua bolsa e de lá retirando uma tigela com pokéblocos, uma ração especial para pokémons, que comprara no dia anterior, entregando-a ao Ponyta, que agradeceu.

Em seguida, foi até o banheiro, onde tomou um banho rápido e colocou uma nova muda de roupas; calças jeans escuras e uma blusa de botões branca de manga curta, não se esquecendo de sua gravata vinho. Penteou os cabelos lisos, desembaraçando-os, e escovou os dentes antes de retirar-se.

Notou que a lontrinha laranja já acordara e roubava um pouco da comida do companheiro. Soltando uma leve risada, a jovem apanhou uma segunda tigela e serviu a comida ao Buizel, desejando-lhe um "bom dia". Enquanto seus pokémons terminavam sua refeição, a menina de cabelos negros aproveitou para arrumar suas coisas; não que estas estivessem espalhadas, uma vez que era muito organizada, mas apenas para checar se havia esquecido alguma coisa.

Quando os três estavam prontos, Caroline retornou seus dois pokémons, Leroy novamente mostrando-se relutante enquanto Firestarter pouco parecia se importar. Em seguida, apertou o botão central para reduzir seu tamanho e guardou-as em sua mochila de costas, pegando a chave do quarto e saindo de lá.

No andar de baixo, onde fez Check-out na recepção, encontrou-se com as outras duas garotas. Estas pareciam também muito cansadas, mas não deixaram de cumprimentar Caroline com um sorriso. Ao terminar o que estava fazendo, despediu-se da recepcionista e caminhou até o lado de fora junto às amigas.

–Parece que, para chegar à Striaton, precisamos pegar a Rota 2. -afirmou a garota de cabelos negros, puxando o mapa que lhe fora dado por Juniper de sua mochila.

–Sim. Não parece que demorará muito para chegarmos também, então devemos estar lá em, no máximo, duas horas. -observou Alyss, que checara o comprimento da Rota em seu celular na noite passada.

–Ótimo. Melhor irmos andando, então. -sugeriu a jovem de cabelos castanhos ondulados, colocando a mão a frente da boca ao bocejar. -A recepcionista disse que não precisaríamos andar muito para chegar à Rota, só precisamos seguir uma quadra naquela direção. -ela apontou para o lado esquerdo da calçada, que parecia terminar onde tinha início um caminho de pedra que adentrava uma espécie de bosque.

As outras duas concordaram, seguindo na direção citada. De fato, em apenas alguns minutos já encontravam-se na entrada do bosque, rodeadas por árvores de pequeno porte e flores coloridas. Aquela rota era, certamente, menor e menos densa do que a Rota 1. Não deveriam apresentar problemas para chegar ao seu destino enquanto continuassem a seguir a trilha de pedras.

Ainda cansadas e dominadas pelo sono, nenhuma das garotas parecia apresentar energia o suficiente para começar uma longa conversa. Trocavam palavras de vez em quando, mas nada que passasse de uma pergunta e uma resposta. Haviam passado grande parte do tempo juntas desde que saíram de Nuvema, então não possuíam grandes novidades sobre as quais as outras não soubessem.

Caroline observava que começavam a entrar em uma parte do bosque mais densa e afastada da cidade onde estavam. Olhando para os lados, viu uma grande quantidade de árvores, percebendo que a Rota agora tratava-se mais de uma floresta. Arriscaria até mesmo dizer que seria seguro libertar seus pokémons por um tempo, mas preferiu não fazê-lo, pois estava cansada e gostaria de chegar o mais rápido possível a Striaton. Lá sim iria dispor de tempo o suficiente para ficar junto à eles, já que poderia finalmente enfrentar seu primeiro ginásio e precisaria treinar para isso.

Nada fora do comum havia ocorrido até então, e não parecia haver qualquer sinal de uma alma viva atravessando a Rota. O que era compreensível já que, com a guerra, as pessoas não mais saiam em viagem e, caso quisessem ir de uma cidade a outra, normalmente o fariam de carro.

Já havia caminhado junto às outras por cerca de meia hora, e arriscaria dizer que aquela fora a travessia mais monótona que fizera desde que decidira sair em jornada. Não havia assunto, embora a garota de cabelos negras não se incomodasse em permanecer calada, mas gostaria de ao menos ter a companhia de Firestarter. Àquele ponto, já tinha certeza de que não seria perigoso libertá-lo ali, já que estavam longe da civilização e não havia ninguém, nem ao menos pokémons, na rota. Porém, seria desnecessário fazê-lo. Podia conversar com ele e Leroy novamente ao chegar à seu destino, o que esperava ocorrer em breve.

Em certo momento, porém, a monotonia fora quebrada, sendo substituida por uma certa tensão, que fez as três meninas hesitaram. Diferentemente dos outros longos e entediantes minutos de caminhada, algo parecia errado; era como se todas houvessem tido um pressentimento ruim. Ouviram um barulho estranho, similar a um rosnado. Se entreolharam, assustadas, e um segundo som pôde ser ouvido; dessa vez, um pio. Seguido por passos pesados. E uma voz.

A voz de um pokémon.

Olharam para a frente com expressões horrorizadas, deparando-se com o que parecia ser um grupo de pokémons enfurecidos. Dentre eles, Caroline pôde identificar o que seriam alguns voadores, como Pidoves e Starlys, bem como outros que rastejavam ou andavam sobre duas e quatros patas. Talvez um Ekans e alguns Poochyenas, mas não conseguia recordar-se perfeitamente de seus nomes, e outros ali eram completamente desconhecidos pela menina. Havia pokémons insetos, algumas lagartinhas de cores diferentes, bem como borboletas exuberantes. Teria se maravilhado com a surpreendente quantidade de pokémons - cerca de uma dúzia -, todos de tipos diferentes, de formas e cores que nunca havia visto. Mas não no caso, em que ela era seu alvo.

–Ataquem! -rugiu o que parecia ser o líder, semelhante a um leãozinho negro, a raiva evidente em seus olhos vermelhos.

Caroline não sabia o que pensar exatamente. No momento, sua mente estava em braco, exceto pela presença de algumas perguntas. Por que pokémons estariam tentando atacá-las, sem o menor motivo aparente? E, então, lembrou-se de que a causa de toda a sua raiva era, provavelmente, a terrível guerra, que tanto distruíra anos atrás, e continuava a destruír ainda hoje. Atualmente, a maioria das criaturinhas admitia que qualquer humano seria seu inimigo e, mesmo que não possuíssem más inteções, o que era extremamente raro, havia sido aquela espécie egoísta que quase os levara a extinção.

Mas não dispunham de muito tempo para pensar. Ao ver o grupo enfurecido disparando em sua direção, as três tiveram a mesma reação; fugir. Saltaram para dentro da mata, avançando cada vez mais para o centro da floresta, sendo seguidas pelos pokémons, sedentos por vinçança.

Árvores no caminho. Pedras. Era difícil desviar de tudo aquilo quando se estava sendo perseguido. Arfando, Caroline percebeu que havia se distanciado das outras duas amigas em meio à correria e, ao olhar para trás e perceber que alguns pokémons ainda corriam em sua direção, arrependeu-se de não ter prestado mais atenção e continuado junto à Amy e Alyss. Gostava de ficar sozinha, mas não em situações como aquela.

Mas não estava sozinha.

Por um momento, sua mente pareceu se iluminar. Ainda tinha seus pokémons consigo. Virou-se para trás novamente e analisou seus perseguidores; eram três. Um deles assemelhava-se a um pássaro, de corpo marjoritariamente preto, exceto por uma mancha branca em seu rosto e peito. O outro lembrava muito uma espécie de centopéia, possuindo um corpo vinho com alguns anéis negros pintados em suas laterais. O último, este conhecido por Caroline, era um ratinho roxo; um Rattata.

A jovem freou abruptamente, causando um certo espanto ao trio que a perseguia. Mexeu em sua bolsa desesperadamente, ofegando por medo e cansaço, e finalmente encontrou os dois dispositivos esféricos em tamanho reduzido. Apertou seus botões centrais ao mesmo tempo, fazendo com que as esferas se ajustassem ao tamanho de suas mãos.

–Leroy, Fire, preciso de vocês! -ela gritou ao observar uma luz branca emanada das pokébolas revelar seus companheiros.

Os dois pareciam um pouco confusos. Olhavam ao redor, provavelmente tentando entender onde estavam e o que estava ocorrendo. Porém, não demoraram muito para compreender a situação, ao deparar-se com os três pokémons furiosos. Estes, após notarem que a menina possuia aqueles de sua mesma espécie, reduziram a velocidade, com expressões confusas em seus rostos.

–Ela tem pokémons? -indagou o ratinho, em um tom de surpresa e espanto.

–Deve tê-los escravizado! -gritou o pássaro, comandando em uma voz firme, como se fosse o líder do grupo: -Ataquem!

Um pouco hesitantes, os outros dois se entreolharam e avançaram em direção à garota. Instintivamente, o Ponyta colocou-se à frente da treinadora, bufando ao encarar os inimigos. Sua postura era firme, como se estivesse disposto a levar o dano dos ataques por Caroline.

–Fire... -ela suspirou, sem tirar os olhos dos pokémons que avançavam em sua direção. Não deveria machucá-los, a razão primordial para ter aceitado a proposta de Juniper era ajudar essas criaturas, não atacá-las. Porém, caso não o fizesse, seria seu Ponyta que sairia ferido. E ela não permitiria aquilo. -Use Ember no chão!

O cavalo então assentiu, entendendo o que a treinadora queria. Estufou o peito e começou a disparar chamas azuis contra o chão, próximo ao ratinho e à centopeia, criando pequenos chamuscados no local que atingiam e levantando poeira, com a função de parar os perseguidores sem ferí-los. Embora o pokémon inseto houvesse, de fato, parado, o Rattata ainda prosseguia, com suas enormes presas brilhando. E, agora, estava perto demais para que Firestarter pudesse fazer qualquer coisa.

E quando o pokémon fechou os olhos, esperando pela mordida, percebeu que esta não veio. Apenas ouviu um grito de Leroy.

Abrindo os olhos, o Ponyta Shiny deparou-se com o Buizel atingindo o ratinho heroicamente com um de seus golpes aquáticos, acertando seu corpo poucos centímetros antes que esse pudesse ferir Firestarter. O cavalo sorriu, sendo invadido por um sentimento novo. Geralmente, ele tinha a função de proteger Caroline, mas o novo companheiro arriscara-se para salvá-lo das presas do inimigo. Sentia que, finalmente, fazia parte de um time de verdade, no qual cada membro colaborava para a segurança do outro, independente das consequências.

–Se quiser chegar até eles, vai ter que passar por mim! -a lontra laranja gritou, com sua cauda ainda envolta por alguns anéis de água. Havia atingido o oponente em cheio com um Aqua Tail e arremessado-o metros para trás.

Caroline sorriu com o gesto de proteção do Buizel. Fazia pouco tempo desde que o conhecera e não muito sabia sobre ele mas, mesmo assim, o pokémon parecia disposto a ferir-se por ela. Até então, Fire era o único que a protegia frequentemente, o que não era estranho, já que convivera com ele por anos; os dois compartilharam memórias, viveram momentos bons e ruins, mantendo-se sempre um ao lado do outro, criaram um laço com o tempo. Mas Leroy havia aparecido e insistido em se juntar ao time havia apenas alguns dias, e não muito puderam conversar desde então. Aquele simples ato do pokémon signifcava muito para ela, pois provava que, de fato, não estava mais sozinha com seu Ponyta; agora, poderia também contar com o Buizel. Quando este virou-se para a menina, sorrindo, acabou por não perceber a centopéia, que agora rolava em sua direção, enrolada em seu próprio corpo.

–Fire, Double Kick! -gritou impulsivamente a menina de cabelos negros ao ver a outra oponente aproximar-se de Leroy com grande velocidade.

Sem hesitar, o Ponyta correu o mais rápido que conseguia, parando pouco à frente do Buizel e posicionando suas patas dianteiras firmemente contra o chão, ficando de costas para a Venipede. No momento certo, levantou as patas traseiras, desferindo um forte coice que lançou esta com força para trás.

E, quando parecia que tudo estava para acabar, o líder pássaro enfurecido surgiu novamente, voando em alta velocidade em direção à menina. Agora, os outros dois pokémons de seu grupo já se levantavam, tornando a seguir o líder.

–Droga. -Caroline franziu a testa, nervosa e tensa. Achou que poderia espantar o trio, mas aquilo não ocorrera, e uma batalha séria poderia causar terríveis danos a seus pokémons. Ela teria de pensar em algo rápido, zelando por sua própria segurança e, principalmente, a de Leroy e Firestarter, que aguardavam por um comando em posição de ataque. Precisava de uma estratégia de fuga, mas nenhum de seus pokémons conhecia golpes como Mist ou Smokescreen, que cobririam a área por fumaça.

Fumaça.

–Leroy, use Water Sport! -gritou, aflita, percebendo que o que tinha em mente seria sua última chance de salvar a si e a seus pokémons.

O Buizel estranhou o comando, sabendo que aquele movimento serviria apenas para reduzir o poder de golpes de fogo daqueles que estivessem por perto. Isso não prejudicaria Firestarter? Porém, confiando na menina, executou-o. Em poucos segundos, disparou um jato de água para cima enquanto rodopiava, fazendo com que esta caísse e se espalhasse pelo campo.

–Fire, agora use Ember! -comandou, assentindo para seu Ponyta.

Agora, a estratégia da menina parecia clara para ambos. Sem hesitar, o cavalo disparou diversas brasas azuladas que, ao colidirem com as patículas de água que caíam, faziam-nas evaporar. Assim, logo uma espécie de nevoeiro fora formado, dificultando a visão dos oponentes, que tiveram de parar.

E a garota correu.

Tentando melhorar sua visibilidade, o Starly bateu suas pequeninas asas com força, conseguindo livrar-se de boa parte da névoa em pouco tempo. Mas quando iria preparar-se para atacar novamente, percebeu que seu alvo não mais estava por perto.

–Fugiram. -falou entre dentes, evidentemente irritado, antes de dar às costas e retirar-se do local, acompanhado de seus dois outros seguidores.

Naquele momento, Caroline já estava longe, sentada apoiando as costas em uma árvore em uma clareira, junto a seus pokémons. Os três arfavam e pareciam extremamente cansados, embora, felizmente, Leroy e Firestarter não possuissem ferimentos.

Tiveram sorte. Mas o que aconteceria se aquilo não ocorresse? Seus pokémons poderiam ter se machucado muito, e ela também. Sua jornada estava ficando perigosa; não mais corria perigo apenas nas cidades, onde podia ser abordada por alguém do governo, mas também nas poucas florestas e rotas que haviam sobrado, onde pokémon dominados por seu ódio por humanos eram uma ameaça em potencial. Será que deveria desistir, pegar suas coisas e retornar à sua fazenda em Rainbow Valley?

–Care? -a jovem ouviu a voz suave de seu Ponyta, obrigando-a a deixar seus devaneios. Ao conseguir a atenção da garota, o cavalo continuou: -O que faremos agora? -indagou.

Então a garota lembrou-se de que estava perdida. Não mais sabia o caminho para Striaton, uma vez que havia se distanciado demais da trilha que a levaria até lá. Nem sequer sabia como voltar para lá, mas teria de tentar. Primeiro, porém, tinha de fazer algo mais importante.

–Achar as outras. -afirmou, levantando-se.

****

A menina de cabelos castanhos arfava. Estava correndo havia um bom tempo. Por seus perseguidores serem todos do tipo voador, pareciam não se cansar. Ao menos, eles finalmente não haviam conseguido chegar até ela ainda. Mas logo conseguiriam.

Devido ao cansaço, acabou por tropeçar em uma raíz de uma árvore qualquer e caiu, o que tirou sua vantajosa e curta distância que mantinha dos quatro Pidgeys que a perseguiam e, em um movimento de medo e desespero, Amy sacou a pokébola de Kairi, apertando seu botão central e liberando a Riolu.

–Amy? O que faz no chão? -indagou a lobinha azul, arqueando uma de suas sobrancelhas.

A garota apontou para a frente a tempo da Riolu se virar e deparar-se com os quatro pássaros seguindo em sua direção. Arregalou os olhos, primeiramente surpresa, mas logo sua expressão se fechou, franzindo o cenho. Sem hesitar, correu agilmente, acertando os oponentes com um golpe de corpo que os levou para trás. Mas aquilo não seria suficiente para pará-los; logo já levantavam vôo novamente.

–Amy, o que está acontecendo?! -Kairi virou-se com uma expressão irritada para a treinadora, que agora já estava de pé.

–Sem tempo para explicar. -a outra respondeu. -Use o Feint! -ela apontou para um dos Pidgeys que tornava a tentar atacar a Riolu.

E, assim, o punho da pokémon adquiriu um brilho branco e esta atingiu com facilidade o pássaro, que caiu no chão. Porém, enquanto estava distraída com ele, não percebeu o Pidgey que se aproximava por trás, sendo atingida por um Air Cutter que a levou ao chão. Gemeu com a dor proporcionada pelo golpe, tentando colocar-se de pé, mas fora novamente atingida por outro dos quatro pokémons; dessa vez, um Air Slash, que lhe causou ainda mais dano.

–Kairi, se levante! Continue com o Feint! -a menina gritava os comandos, o que era em vão, visto que a situação era crítica. Somente naquele momento lembrou-se de que sua Riolu, de tipo lutador, era fraca contra movimentos do tipo voador, e repreendeu-se por tê-la arriscado de tal forma.

Não importava o quanto a loba tentasse atingir os Pidgeys, sempre que atingia um surgiam outros três, que lhe desferiam mais golpes com suas asas. Cortes começaram a se abrir no corpo da Riolu, causando-lhe extrema dor. Ela tentava segurar seus gemidos atordoados para não deixar Amy preocupada, embora não obtivesse tanto sucesso com isso.

A Riolu sentiu suas forças se esvaindo. Estava trêmula, sua respiração ofegante. Perguntava-se quanto tempo mais seria capaz de sentir a dor, a única que ainda lhe assegurava de que estava viva. Parecia que, a qualquer momento, sentiria o ar parar de invadir seus pulmões, seu coração parar de bater. Mas não abandonaria Amy. Faria o que fosse preciso por sua segurança pois, embora mantivesse uma postura fria grande parte do tempo, a amava como a mais ninguém.

Finalmente, percebeu que não mais dispunha de forças para tentar manter-se de pé, entregando-se aos inimigos e caindo ao chão. Sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto quando um último pensamento invadiu sua mente.

Ela iria morrer.

Amy não conseguia mais assistir a cena, embora estivesse paralisada de medo e não fosse capaz pensar em qualquer outra coisa que pudesse salvar ambas. Mas, certamente, teria de fazer algo para proteger Kairi. Ela não deixaria que tudo acabasse ali. Não permitiria que, por seu desejo idiota de salvar o mundo, a vida de sua pokémon fosse tirada. Como poderia ser uma heroína se nem ao menos era capaz de proteger aqueles que amava?

–Kairi! -exclamou mais uma vez, ao ver sua Riolu extremamente ferida, sem conseguir sequer se proteger dos golpes furiosos dos Pidgeys. E, por impulso, Amy jogou-se sobre a pokémon, tentando defendê-la e recebendo algumas bicadas.

–Co...corra... -sussurrou Kairi baixo, fraca e ofegante, mas a garota não parecia ouví-la. -Assim... n...nós duas...vamos...mo...

–Não diga isso! -a menina a repreendeu, mas continuava abraçando-a. Algumas feridas pequenas começavam a se abrir em seus braços e pernas devido ao ataque contínuo dos pássaros, seu sangue começando a misturar-se com o de sua Riolu derramado no chão. Ela sentia a dor invadí-la, o sangue escorrer por seu corpo, o cansaço dominando-a. Parecia que aquele seria o trágico fim de sua jornada, que mal havia começado.

Então, de repente, parecia não mais sentir dor. Era como se os pássaros houvessem apenas desistido e ido embora.

Ao abrir seus olhos lentamente para olhar a sua volta, deparou-se com as aves caídas no chão, tendo seus corpos percorridos por faíscas ocasionalmente. Arfando, procurou por seu salvador, mas nada encontrou. Até que, de trás de uma das árvores, saltou um lagarto amarelado, de longas orelhas pretas. A ponta de sua cauda e patas apresentavam-se na mesma cor. Seu corpo fino era coberto por cicatrizes de diferentes tamanhos. Ele era tão pequeno que Amy duvidou que possuíra tanto poder para derrubar os quatro Pidgeys em um só ataque, mas não parecia haver qualquer outra forma de vida por perto.

O lagarto havia surgido logo ao início da batalha e, ao perceber que tratava-se de uma humana, encondera-se para poder observá-la. Com o decorrer dos fatos, e ao ver a menina arriscando sua vida pela pokémon que a acompanhava, sentiu que deveria intervir.

–V...Você nos salvou? -ela indagou, incrédula, recebendo um aceno de cabeça do pokémon, que sorria. Em seguida, tornou sua atenção para a Riolu ferida em seu colo. -Kairi! -chamou, em desespero, logo retirando uma das poções que comprara no mercado negro e aplicando-a sobre os diversos ferimentos da pokémon. Esta, estranhamente, não havia desmaiado, mas havia levado um dano considerável. Respirava com dificuldade, seus olhos semi-abertos e seu coração ainda agitado, como se ainda estivesse em combate. O recém-chegado aproximou-se, como se estivesse disposto a ajudá-la.

****

–Maiko, Damen -Alyss chamou sua atenção, antes de comandar-lhes novos golpes. -Confusion e Air Slash!

Os olhos do Espurr adquiriram um brilho púrpura, antes de auras de mesma cor envolverem os corpos de ambos os oponentes. Utilizando apenas seu poder psíquico, lançou-s contra o chão, dando à Oshawott a chance perfeita para atingí-los com lâminas de ar azuladas que desferira com um movimento de sua concha. Um pouco tontos e certamente enfraquecidos, os inimigos fugiram, cambaleando.

–Muito bem, pessoal! -a jovem de cabelos azuis sorria para sua Oshawott e seu Espurr. Enquanto Maiko arfava, deixando transparecer seu cansaço, Damen apenas mantinha a mesma expressão vazia de sempre. Provavelmente, a luta o prejudicara, mas era impossível ter certeza, já que não demonstrava.

–Eles irão aprender a não mexer comigo! -gritou, enfurecida, a lontrinha azul, encarando os dois pokémon que corriam para longe, muito feridos, e guardando sua concha. Damen, ao seu lado, nada disse.

Alyss percebera, após alguns minutos correndo, que havia se distanciado das outras em meio a correria e, ao virar-se para trás para observar seus perseguidores por um momento, concluiu que poderia vencê-los. Por sorte, havia sido enfrentada por apenas dois pokémons, sobre os quais tinha vantagem; um pequeno Litleo, que não fora problema para a Oshawott tipo água, e um Pancham, que sofrera com os golpes psíquicos de Damen. Podia não ser muito experiente em batalhas, mas a batalha que tivera contra Draven no dia anterior certamente a ajudara. Já tinha alguma ideia dos pontos fortes de seus pokémons, optando por comandar Maiko a utilizar golpes diretos, enquanto o Espurr executava movimentos indiretos, que eram capazes de atingir o oponente sem comprometer a distância segura que mantinha do mesmo.

–Agora, nós precisamos achar... -a menina fora interrompida por um som de celular, indicando que uma nova mensagem havia sido recebida. Alyss arqueou uma das sobrancelhas, tanto surpresa por haver sinal no meio daquela floresta densa, quanto por desconhecer quem poderia ter lhe mandado uma mensagem. Talvez fosse Draven, mas achava que ele não tentaria contatá-la até que estivesse em Striaton também. Deu de ombros e apanhou o aparelho em seu bolso, arregalando os olhos no momento em que leu a mensagem.

–O que houve? -indagou a Oshawott ao perceber a treinadora estremecer. Aproximou-se desta, subindo até seu ombro para que pudesse ler o que estava sendo mostrado na tela, mas não conseguiu compreender o que queria dizer. Havia diversos caracteres que não deveriam estar ali, com certeza. E cerrava os olhos, mas apenas conseguia ler aquela mistura de letras, sem muito entender.

A meninas de cabelos azuis continuou a fitar a mensagem, paralizada. Nem mesmo ela utilizava tantas gírias de internet. Lia e relia o texto várias vezes, como se procurasse entender as entrelinhas, descobrir quem poderia tê-lo enviado, mas obviamente não conseguia decifrar nada mais do que estava escrito: "hEY YO, i heard u liek mudkipz! srsly tho um conhecido me disse qtu não é contra pokemanz, então vamos ser amigas (ノ◕ヮ◕)ノ*:・゚✧".

Quem poderia ter lhe enviado aquilo? Talvez outra pessoa que abrigasse pokémons, mas como conseguira seu número? Perguntava-se se as outras duas meninas também havia recebido a mesma mensagem. E então lembrou-se de que deveria procurá-las. No momento que iria começar sua busca, porém, fora surpreendida.

–Alyss! -a garota pôde ouvir seu nome ser chamado por uma voz feminina familiar, que obrigou-a a desviar sua atenção do celular e impulsivamente guardá-lo novamente em seu bolso, como para escondê-lo. Olhava ao redor, procurando pela menina, mas não conseguia encontrá-la.

–Nós nunca vamos achá-la! -uma outra voz conhecida respondeu, dessa vez, masculina.

–...Caroline? -a jovem indagou, agora finalmente deparando-se com a menina de cabelos negros, que abriu um certo sorriso ao vê-la; um sorriso aliviado, não de genuína felicidade por rever a amiga.

–Ah, finalmente te encontramos. -a outra suspirou. Passara cerca de meia hora rodando pela floresta à procura de uma das duas. Não fora, de fato, muito tempo, mas certamente pareceram horas para a garota impaciente.

Caroline aproximou-se da menina de incomuns cabelos azuis, sendo seguida por seu Buizel e seu Ponyta, que logo colocaram-se a seu lado. Notou que Maiko ofegava e, embora Damen mantivesse sua expressão de sempre, desconfiava que tivessem lutado também. Felizmente, nenhum deles parecia gravemente ferido. E, naquele momento, lembrou-se de que uma das garotas ainda não estava ali.

–Você viu Amy? -indagou, observando Alyss negar com a cabeça.

–Estávamos prestes a ir procurar por vocês. -respondeu a outra.

–Então vamos tentar achá-la. -sugeriu a menina de cabelos negros, tendo sua ideia aprovada por Alyss, que assentiu.

As duas, acompanhadas de seus pokémons, rodavam sem rumo pela floresta, chamando por Amy, mas sem obter respostas. O sol estava mais intenso, já que era aproximadamente meio dia e, embora a folhagem das árvores bloqueasse grande parte da irradiação solar, alguns raios ainda conseguiam atingir Caroline, incomodando-o.

Haviam passado cerca de uma hora à procura da garota, sem ter sucesso na missão de encontrá-la. Tentaram até mesmo contatá-la por celular, mas aparentemente o dela estava desligado ou sem sinal. A esperança das duas começava a se esgotar, a medida que uma certa preocupação pela menina as invadia. Temiam que pudesse estar ferida ou perdida demais para encontrar a saída da floresta, mas tentavam pensar no melhor. Talvez já houvesse até mesmo chegado à Striaton.

Após mais algum tempo de caminhada, as garotas suspiraram, aliviadas, ao depararem-se novamente com o caminho de pedras que levaria à cidade. Porém, ainda não haviam encontrado Amy. Ambas estavam extremamente cansadas, assim como seus pokémons, tanto pelo pouco tempo de sono que tiveram quanto pelas batalhas exaustivas, e distanciar-se da rota novamente para procurar a amiga perdida seria um risco.

–Talvez... Ela já tenha chegado à Striaton. -a jovem de cabelos negros deu de ombros.

–...É. -Alyss concordou, relutantemente. Detestava a ideia de deixar Amy sozinha, pois imaginava-se como se sentiria caso estivesse na mesma situação. Porém, reconhecia que agora que haviam finalmente retornado à trilha, o melhor seria seguir até a cidade e tentar entrar em contato com a garota ao chegar lá.

Entreolharam-se uma vez mais, ainda um pouco incertas sobre o que estavam prestes a fazer. Retornaram seus pokémons, guardando os dispositivos esféricos em suas mochilas, para que estes não fossem vistos, uma vez que haviam retornado novamente a uma área em que pudesse haver pessoas. E, sem dizer uma palavra sequer, seguiram pela estradinha de pedras. Não muito conversaram no caminho, talvez pelo cansaço ou mesmo pela dúvida.

Alyss ainda tentava decifrar a mensagem que recebera. Gostaria de perguntar à Caroline se haviam lhe enviado o mesmo texto, porém, caso isso não houvesse ocorrido, teria de lhe contar sobre o mesmo. E ela buscava respostas, e não mais perguntas.

Não demorou mais do que meia hora para que finalmente chegassem à cidade. Striaton era, de fato, grande; milhares de prédios, tanto residenciais quanto comerciais, erguiam-se por todos os lados, sendo complementados pelas altas montanhas verdes ao fundo. Estavam presentes também diversas árvores, demonstrando um perfeito equilíbrio entre urbanização e natureza.

Exceto pela falta de pokémons.

Achar um hotel em meio a tantas construções fora, de certa forma, difícil. Era fácil se perder pelas largas e extensas ruas, mas também conseguiam pedir informação mais facilmente, devido a grande população da cidade. Uma mulher que esperava por um ônibus informou-lhes que havia um hotel à algumas quadras de distância. E, de fato, ao andar um pouco mais na direção indicada, depararam-se com um grande letreiro à frente de um luxuoso prédio branco com detalhes em dourado, onde podia-se ler "Hotel Royale".

As duas fizeram o check-in sem prestar muita atenção, logo entrando no elevador e trocando algumas palavras antes de se dirigirem a seus respectivos quartos. Combinaram de continuar tentando ligar para Amy, para saber onde ela estaria.

A primeira coisa que fez ao abrir a porta do quarto 607 fora jogar-se na cama de lençóis brancos e dourados. A maior parte do hotel parecia seguir aquele estilo de cores, acompanhado também por vermelho em certas áreas, que lembrava muito a realeza. O quarto era tão amplo quanto aquele no hotel em que se hospedara anteriormente, sendo constituído pelas mesmas coisas, possuindo também um frigobar com alguns lanches dentro. O chão era completamente coberto por um carpete escarlate macio, exceto pelo banheiro, composto por azulejos brancos. Ali havia também uma banheira, a qual a menina certamente usaria em breve. Mas, primeiro, precisava falar com a amiga desaparecida.

Tentava discar seu número, ainda sem sucesso. Enviou também algumas mensagens de texto, esperando que a garota fosse vê-las e respondê-las o mais rápido possível. Até mesmo tentou contatá-la através do X-Transceiver, mas a chamada falhava após alguns segundos, provavelmente pela falta de sinal. Após mais algumas tentativas falhas de ligar para ela, finalmente ouviu o relógio vermelho em seu pulso apitar incessavelmente, não hesitando em apanhá-lo.

Mas não era Amy.


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Notas finais do capítulo

Again, esperamos que tenham gostado, e por favor nos provem que não temos apenas leitores fantasmas ;u; Nos vemos de novo no próximo capítulo o/