Pokémon Nuzlocke: Heaven & Hell escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 5
Capítulo 4 - Death


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores fantasmas o/ Desculpem pela demora, vamos tentar postar mais frequentemente. Espero que gostem do capítulo!



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O burburinho era quase ensurdecedor; todos que estavam reunidos ao redor do pequeno palco de pedra comentavam sobre o que estava prestes a ocorrer, fazendo suposições - estas as quais causavam espanto a menina de cabelos negros. A tensão invadia o local, deixando os presentes desconfortáveis e aflitos.

O céu, antes claro, era dominado por nuvens de um tom cinza escuro, que poderiam precipitar a qualquer momento. Não era mais possível enxergar o sol, sua luz havia sido apagada pelas sombras. Não estava muito frio, uma vez que o vento não soprava forte, mas Caroline podia sentir os pelos em seu corpo se arrepiarem, um por um.

–O que... está acontecendo? -sussurrou Alyss, mas não parecia direcionar a pergunta a nenhuma das outras meninas, já que sabia que estas também não tinham ideia do que iria acontecer.

As três movimentaram-se por entre a multidão, estabelecendo-se em um local onde conseguiam enxergar melhor o palco. Nele, podiam identificar um pequeno pokémon cinza claro, de longas orelhas e cauda peluda. Em seus olhos, a aflição que sentia era evidente. Tinha suas quatro pequenas patas presas a correntes, mas não parrecia fazer nenhum esforço para soltar-se delas; talvez por saber que não conseguiria e, mesmo que o fizesse, não teria para onde correr. Virou sua cabeça para a direita, fitando o homem que estava de joelhos a seu lado, com suas mãos presas por algemas atrás de seu corpo. Este murmurava algo inintelegível para seu pokémon, derramando algumas lágrimas. Atrás dos dois, havia dois homens altos em ternos negros; sua postura lembrava estátuas. Entre eles, havia um rapaz alto que aparentava ser mais jovem; era musculoso de pele morena e possuía longos cabelos negros, que desciam até a altura de sua cintura, sendo espetados e direcionados para trás. Utilizava luvas pretas, que deixavam seus dedos à mostra, e calças de mesma cor. Suas costas eram cobertas por um casaco negro, preso em seu pescoço por uma corrente. Ele sorria, o que parecia um tanto irônico e inapropriado, dada a situação. Possuía um ar meio sombrio; sádico.

De repente, com um pedido de silêncio, o barulho causado pelas conversas paralelas cessou. Todos então tornaram a olhar para o alto homem musculoso, e assim fizeram as meninas.

–Obrigado, senhoras e senhores. Estamos aqui para alertá-los de algo de extrema importância. -começou o rapaz no centro do palco, sem desmanchar seu sorriso amarelo. -Este homem -ele puxou os curtos cabelos castanhos do homem de joelhos, desviando seu olhar do chão forçando-o a virar-se para o público -Foi encontrado não muito longe daqui, mantendo relações com pokémons.

Exclamações surpresas e horrorizadas puderem ser ouvidas. Agora, todos comentavam sobre os 'crimes' que o prisioneiro cometera, a maioria julgando-o, enquanto uma minoria mantinha-se indiferente - e, mesmo que alguém ali se opusesse ao que acontecia, jamais se pronunciaria, por medo de ter o mesmo destino.

Caroline, assim como Alyss e Amy, arregalou os olhos, esquecendo-se de como respirar. Seu coração batia rápido e forte, enquanto mil pensamentos cruzavam sua mente. Ela tentava manter-se estável e não transparecer emoções - já que não queria atrair a atenção de outros - mas estava tensa. Qual era a diferença entre ela e o homem no palco? Nenhuma. Poderia ser ela. O pensamento a deixou ainda mais assustada.

–Bem, acho que todos conhecem as regras e, claro, as punições. Estou certo, Joe? -ele encarou o homem de joelhos a sua frente, rindo, e logo depois afastou-se. -Saia, Mightyena.

Uma pokébola foi lançada ao ar, irradiando um feixe de luz branca que, ao dissipar-se, revelou um grande cão, de pelos pretos e cinza-claros. Este possuía cicatrizes por todo o seu corpo e, em seu pescoço, havia uma coleira negra com uma luz vermelha, que piscava. Embora fosse intimidador, seu olhar transparecia pena ao olhar para o Minccino a sua frente.

Suspiros de suspresa foram ouvidos, inclusive vindos da menina de cabelos negros. O governo não condenava tanto o laço entre pokémons e homens? Se assim era, por que um de seus agentes possuía pokémons? Mesmo que os utilizando apenas como ferramentos, isso soava extremamente hipócrita. Não que o governo se importasse muito com o que os outros iriam pensar.

–O que está esperando? Não temos o dia todo. -reclamou o rapaz, apertando um botão em um pequeno aparelho que estava em suas mãos.

Naquele momento, ficou clara a função da coleira; a luz vermelha tornou-se mais forte e o cachorro lançou sua cabeça para trás, enquanto grunhia, atordoado. Em seus olhos vermelhos, estava evidente a dor que sentia; gemia, mas logo depois foi obrigado a mover-se. Ele fitou o pequenino mais uma vez, arrependido pelo que ainda iria fazer, antes de avançar sobre ele com seus dentes afiados à mostra.

Utilizou uma sequência de mordidas e arranhões, lançando o pokémon aos ares. Seus pelos cinza haviam tornado-se vermelhos e, estirado no chão, não mais se mexia. O homem a seu lado, aparentemente seu dono, gritava desesperadamente, chamando por seu companheiro, mas sem obter respostas. Seu rosto estava vermelho e por ele escorriam lágrimas pesadas. Em suas roupas estava respingado o sangue de seu pokémon.

O sangue. Vê-lo derramado sobre o palco era o que mais atordoava a garota. Caroline olhou para o chão, tentando imaginar que estava em qualquer outro lugar, longe dali. Engoliu em seco ao lembrar-se de Firestarter - afinal, aquele poderia ser ele. Ou até mesmo Leroy, o qual arrastara para aquela rua sem saída junto à ela. Devia tê-los avisado, lhes dado a chance de correr para longe, assim como ela queria fazer. Naquele momento, começou a se arrepender de ter aceitado a proposta de Juniper, temendo pelo pior. Ela sentia que iria desmaiar a qualquer momento; só queria sair daquele lugar o mais rápido possível, antes que alguém percebesse que seu comportamentoo era estranho. Já não mais se importava com sua respiração ofegante e seus batimentos acelerados, já que não conseguia, e nem ao menos tentava mais controlá-los. Precisava sair dali. Mas, quando achou que tudo havia acabado, pôde ouvir a voz autoritária do rapaz de cabelos negros.

–Termine seu trabalho. -ordenou o homem musculoso, encarando com um olhar frio o grande cachorro negro.

Agora não mais hesitante, o Mightyena avançou em direção ao homem de joelhos, que ainda berrava, repetindo o processo. Talvez, ele só quisesse terminar aquilo o mais rápido que pudesse, uma vez que não parecia orgulhar-se de suas ações - mas não tinha outra escolha, senão executar as ordens de seu dono. Caso se recusasse a fazê-lo, ele provavelmente acabaria como sua última vítima, o pequeno Minccino.

–Muito bem. -o rapaz sorriu ironicamente para o cachorro, que mantinha seu olhar baixo, como se estivesse envergonhado do que acabara de fazer, antes de retorná-lo. Em seguida, virou-se para a platéia. -Espero que todos tenham entendido. Não será tolerado qualquer tipo de contato com essas criaturas. Infratores serão devidamente punidos. Muito obrigado, e tenham uma boa tarde.

Dito isso, retirou-se, acompanhado pelos outros dois altos e fortes agentes do governo, que carregavam os corpos em grandes sacolas plásticas pretas, deixando para trás a trilha de sangue. A multidão, após alguns minutos mais discutindo sobre o ocorrido, começou a dissipar-se, mas as três jovens permaneciam imóveis, paralisadas. Todas pareciam ter a mesma coisa em mente; elas poderiam ser as próximas.

Uma chuva fraca começava a cair, escorrendo sobre o palco de pedra e levando junto a ela o sangue derramado. Mais uma vez, o homem fizera a bagunça e a natureza teria de limpá-la. Logo, todos se esqueceriam do ocorrido e voltariam a seguir suas vidas. Para Caroline, porém, aquilo ficaria marcado em sua memória para sempre, e com certeza apareceria de noite para atormentá-la.

Nenhuma das três meninas dizia uma palavra sequer. Permaneciam sob a chuva, enquanto suas respirações desaceleravam, voltando ao normal. Agora olhando para baixo, a garota de cabelos negros tentava esquecer o que havia acontecido, mas não conseguia parar de pensar em seus dois pokémons. O que aconteceria se alguém descobrisse sobre eles? Certamente levariam o mesmo fim que o pobre Minccino.

Não.

A menina fechou os punhos, cerrando os dentes. Jamais deixaria que aquilo ocorresse. Havia decidido sair em sua jornada para salvar os pokémons, certo? Então seria isso o que faria. Não deixaria nada de ruim acontecer a Fire ou Leroy, nem a qualquer outro pokémon. A cena que presenciara servira de motivação para tentar ao máximo alcançar seu objetivo: derrotar o governo.

–Eu... Eu acho que devíamos procurar um hotel. -exclamou Amy, em um tom desanimado, diferente daquele que possuía normalmente, tão alegre e descontraído.

As outras duas apenas assentiram, sem nada dizer. A chuva tornava-se cada vez mais forte; teriam que encontrar um lugar para ficar antes que ficassem doentes. Felizmente, não precisaram andar muito até se depararem com um prédio de quatro andares, em frente ao qual havia uma grande placa onde podia-se ler "Hotel de Accumula". Não hesitaram em entrar; após todo o ocorrido, só queriam ter um tempo sozinhas, para descansar e tirar suas mentes daquele mundo sem sentido em que viviam.

****

Caroline sentava-se na beira de sua cama, secando seus cabelos molhados, devido a chuva, com uma toalha. Já havia trocado de roupas, colocando calças jeans e uma regata branca de gola V.

Felizmente, o hotel em que estava era sutilmente mais confortável e sofisticado. O ambiente era mais amplo, o que garantiria espaço suficiente para ambos os seus pokémons, quando fosse libertá-los. A cama era confortável tendo, a seu lado, uma mesinha de cabeceira, sobre a qual estava um telefone e, a sua frente, uma televisão de aproximadamente trinta e duas polegadas pendurada na parede. No banheiro, havia uma grande banheira, a qual havia usado para tomar banho assim que chegara.

Suspirou ao olhar para sua mochila, dentro da qual estavam as pokébolas de Leroy e Firestarter. Repensou sobre os acontecimentos da tarde; não conseguia entender por que ficara tão surpresa. Afinal, já havia lido sobre situações como aquela milhares de vezes em jornais; o artigo mais recente que lera relatava sobre a prisão de uma família inteira que possuía apenas algumas daquelas criaturinhas - na verdade, seria ainda julgado se iriam ser condenados à morte ou não, incluindo seus dois filhos, mas Caroline não acompanhara para saber se isso ocorrera ou não - e, obviamente, os pokémons foram levados para campos de concentração e executados, na frente de seus donos. Não era a primeira vez que um pokémon era assassinado pelo governo. Mas, certamente, era a primeira vez que ela presenciava uma cena como aquela, e desejava que fosse a última - no fundo, porém, sabia que não seria. Sacudiu a cabeça, tentando esquecer o ocorrido, mas ainda sentindo-se abalada. Estava prestes a libertar seus pokémons, quando o relógio vermelho em seu pulso começou a apitar.

–Olá, Caroline. -exclamou uma Juniper sorridente que apareceu na tela principal. -Como vão as coisas?

–Bem. -mentiu a garota. Não queria perder tempo contando para a mulher sobre o ocorrido.

–Só liguei para avisar que há um Mercado Negro em Accumula, não muito longe de onde estão. -relatou.

Caroline perguntou-se como a cientista sabia sua localização, mas então lembrou-se que ela possuía um aparelho rastreador, e que os dados de Firestarter e dos pokémons das outras garotas provavelmente estavam salvos nele.

–Ah, obrigada. -sorriu levemente antes de despedir-se e ouvir a mulher do outro lado desejar-lhe boa sorte.

Tornou a fitar os dispositivos vermelho e branco em cima da cama, hesitando um pouco antes de apanhá-los e apertar seus botões centrais, ao mesmo tempo. Estes emitiram uma luz branca, que logo revelou os pokémons.

O Ponyta balançou a cabeça, como sempre fazia, observando o ambiente familiar a sua volta. Já o pequeno Buizel fitava tudo, curioso, saltando de um lado para o outro; era sua primeira vez em um quarto de hotel, e parecia gostar do local.

–Onde estamos? -perguntou Leroy, finalmente.

–Em Accumula. Mais precisamente, em um hotel. -ela não pode evitar o sorriso que apareceu em seu rosto ao fitar seus pokémons; jamais deixaria algo ruim acontecer a eles.

–Está... tudo bem? -indagou o cavalo, arqueando uma das sobrancelhas. Parecia sentir que a menina estava desanimada; sabia que este não era seu comportamento usual, especialmente por ela estar tão animada na última vez em que a vira.

–Sim. -ela rapidamente respondeu, mas sabia que não conseguiria mentir para Fire durante muito tempo; ele iria perceber que algo estava errado. -Eu só... Estava pensando sobre tudo. Não sei se... Se eu fiz a escolha certa. -abaixou a cabeça, imersa em pensamentos. Queria chorar, mas não o faria. Não queria que seus companheiros se preocupassem.

O Buizel observava a situação, um pouco confuso. Sentou-se na cama ao lado da menina, como que para tentar confortá-la. O Ponyta fez o mesmo, encostando sua cabeça levemente no ombro da treinadora.

–Care, eu não sei o que houve depois que saímos da Rota 1 -Firestarter começou. -Mas nós estamos nessa juntos. Não vamos voltar atrás agora.

–É isso mesmo! Você disse que iríamos viver aventuras, não é? -completou animadamente o pequeno Buizel.

A garota de cabelos negros esboçou um leve sorriso, colocando seus braços ao redor do cavalo, e logo depois virando-se para Leroy, acariciando o topo de sua cabeça.

–Obrigada. É ótimo ter vocês comigo. -sorriu mais uma vez, antes de mudar de assunto. -Então, ainda são duas da tarde. Nós podemos discutir um pouco sobre treinos e... batalhas. -sugeriu.

Ao sair de casa, a menina abominava batalhas, ao ponto de detestar somente a idéia de obrigar pokémons a se atacarem sem motivo algum. Porém, desde que assistira a luta entre Maiko e Damen, as emoções que ambos demonstraram em combate, e após perceber que seus próprios pokémons pareciam tão felizes apenas com a ideia de confrontarem outros, começava a mudar de idéia. Talvez não fosse uma forma de tortura; talvez gerasse prazer aos pokémons.

Os dois pokémons concordaram animadamente, mostrando-se prontos para ouvir o que a treinadora tinha a dizer. A jovem rapidamente tirou sua pokédex da mochila, utilizando-a para aprender sobre os golpes e habilidades de seus pokémons. Se iria ser uma treinadora de verdade, precisaria aprender muito.

A presença de seus pokémons e seu apoio parecia tê-la feito esquecer de tudo que havia acontecido anteriormente, como se houvesse sido apenas um sonho ruim, que não ocorrera de fato.

****

–Kairi, será que agora você pode me contar essa história de irmã? -disse a menina de cabelos castanhos, fingindo estar brava. Havia acabado de contar o que ocorrera para sua Riolu, e queria tirar a tensão que havia se instalado no quarto.

A pokémon não parecia estar abalado de qualquer modo, prometendo a Amy que não sairia de seu lado, não importava o que acontecesse. Podia ser fechada e parecer não se importar com mais ninguém além dela própria, mas tinha uma conexão com sua treinadora e, mesmo que discordasse de suas ideias, jamais a deixaria.

–Ah, já havia me esquecido disso. -riu a Riolu. Quando estava sozinha com sua treinadora, parecia deixar um lado menos sério e rabugento transparecer. -Bem, nós não somos irmãs de verdade; somos meio-irmãs. -explicou, observando sua treinadora sentar-se atentamente para ouvir o que a pokémon tinha a falar. -Nosso pai era um Zangoose. Ele conheceu a mãe da Maiko, e ela nasceu. Mas quando ela era ainda pequena, sua mãe foi morta por humanos, e nosso pai resolveu trazê-la junto a ele e protegê-la.

****

–Então, nosso pai conheceu a mãe da Kairi, uma Lucario. Eu a vi nascer; nós crescemos juntas e criamos uma laço bem forte, mesmo não sendo irmãs de sangue. Mas, ás vezes, ela pode ser muito mandona e resmungona, por isso brigamos. -explicou a Oshawott, terminando de contar a história à sua nova treinadora, que havia lhe pedido explicações.

–Ah, sim. Agora faz mais sentido. -compreendeu a menina de cabelos azuis, acariciando levemente o pelo do Espurr adormecido em seu colo.

–Agora já podemos sair? -perguntou, ansiosa, tomando sua concha. -Eu quero quebrar algumas coisas! -disse, movimentando o objeto pelo ar e acidentalmente soltando-o, fazendo-o atingir a parede apenas à alguns centímetros de distância da grande televisão de tela plana.

–Ei, só tente não quebrar nada aqui dentro! -Alyss arregalou os olhos, observando a rachadura que fora criada no local atingido pela arma da Oshawott. Depois, virou-se para responder à sua pergunta. -Não podemos sair agora, está muito cedo. Vamos esperar até a noite cair. Juniper falou que há um mercado negro por aqui, e não seria má ideia ir até lá.

–Só a noite? -resmungou a pokémon. -E o que faremos até lá? -indagou.

–Hm... conversamos? -a resposta da menina soou mais com uma pergunta do que uma afirmação. Havia muito que queria perguntar a Maiko, mas não sabia se ela concordaria.

–... Ah, tudo bem, já que não temos nada para fazer mesmo. -a pokémon deu de ombros, logo sentando-se ao lado da jovem de cabelos azuis. Essa poderia ser sua oportunidade de conhecer melhor sua nova treinadora, e ela não a desperdiçaria.

****

A garota desceu as escadas o mais silenciosamente que pôde. Seu quarto ficava no terceiro andar, mas as outras duas estavam no andar debaixo. Havia conversado com ambas algumas horas antes, combinando de encontrar-se com elas uma da manhã em ponto.

Era difícil enxergar os números nas portas, uma vez que todas as luzes do corredor estavam apagadas. Puxou seu celular do bolso, utilizando a lanterna para que pudesse encontrar o quarto certo.

–207; é esse. -exclamou, sorrindo para os números gravados em uma placa de metal presa à porta. Bateu suavemente, apenas duas vezes, e aguardou.

Não demorou muito para que a menina de cabelos azuis abrisse a porta cautelosamente. Esta escondia-se debaixo do gorro de seu casaco roxo, tendo suas mãos nos bolsos do mesmo. Ela também sorria; parecia animada pelo que iriam fazer. Parecia tão perigoso depois de tudo que haviam presenciado, mas precisariam ir ao mercado negro o mais rápido possível.

–Pronta para ir? -sussurrou Alyss, recebendo um sinal positivo da outra menina. As duas então seguiram para o quarto 203, onde estava Amy, e bateram de leva na porta, tentando ao máximo não fazer muito barulho.

–Vamos! -exclamou a garota animadamente, sendo logo repreendida pelas outras duas, que colocaram o dedo indicador a frente da boca, pedindo por silêncio. -Oh, certo. -ela assentiu, abaixando seu tom de voz.

As três desceram até o andar principal, saindo pela porta de trás silenciosamente; afinal, não queriam ser encontradas pela recepcionista ou qualquer outro funcionário do hotel.

As ruas estavam desertas, como esperado; não havia uma pessoa sequer nas ruas. Estas estavam repletas de largas poças de água, devido à chuva da tarde, que durara até poucas horas antes de saírem. Estava tudo extremamente silencioso, sendo possível ouvir apenas o uivo fraco do vento que passava por entre as casas da cidade. A única iluminação era a dos altos postes de luz, os quais as jovens tentavam evitar, para que não pudessem ser vistas.

Accumula era uma cidade muito bela, e também maior e mais populosa do que Nuvema. Possuía mais estabelecimentos e construções mais sofisticados. Porém, mesmo que bem iluminada, era difícil enxergar quaisquer outros detalhes menos chamativos nas ruas, devido à escuridão da noite.

Não muito precisaram andar até chegaram ao local indicado pela professora; era um beco escuro, que causava calafrios por estar deserto e extremamente mal iluminado. Em seu fim, depararam-se com o clube abandonada que havia sido citado; Juniper dissera que haviam cessado a demolição do mesmo para focar em obras mais importantes para a cidade, então, em seu subsolo, havia sido criado um mercado negro.

As três caminhavam com cautela por entre tábuas derrubadas e martelos, dentre outros materiais de construção. Havia muita poeira no local, como era de se esperar. Seguiram para trás de um largo balcão onde, provavelmente, preparavam bebidas antes do estabelecimento ser fechado. Já sabiam o que procuravam, e não demorou muito para que o encontrassem; no piso de madeira, coberto por um tapete velho, havia um alçapão que, ao ser aberto, revelava uma grande escadaria. Suas experiências mais recentes diziam à garota de cabelos negros que qualquer porta ou esconderijo a ser aberto revelaria escadas.

Amy, como sempre, foi a primeira a descer, aparentando não temer o que poderia encontrar. As outras a seguiram, com certa cautela para que não caíssem. Ao fim da escadaria, podia-se observar uma parede de pedra mal acabada e, próximo a uma brecha na rocha, uma saliência que guardava uma cápsula redonda, fixa à parede.

Enquanto a menina de cabelos castanhos colocava sua única pokébola dentro da esfera, assim como Juniper as havia instruido, Caroline pensava sobre como tudo havia sido tão bem criado e escondido; realmente, havia sido feito apenas para aqueles que possuíam pokémons, já que não tinha como qualquer outra pessoa descobrir o esconderijo por acidente. Além disso, mesmo que isso viesse a ocorrer, só poderia passar pela porta quem obtivesse uma pokébola com um pokémon dentro dela, uma vez que esta somente era aberta ao reconhecer a energia contida dentro do dispositivo; era como um sistema de digitais, só que para pokébolas.

Segundos após, a fenda na parede de pedra começou a se tornar maior, revelando, lentamente, o mundo que havia por trás dela. A garota não podia acreditar no que via.

O local não parecia ser muito amplo, porém, deveria haver, pelo menos, duzentas pessoas ali dentro. E, junto a elas, pokémon de diversos tamanhos, cores e formas, correndo de um lado para o outro; alguns travavam batalhas amistosas, enquanto treinadores mais sérios confrontavam-se em um pequeno campo simples, na extremidade oeste do mercado. Barracas coloridas estavam dispostas por todos os lugares, vendendo os mais variados produtos; poções, comida para pokémons, pokébolas - era como o paraíso, um pedaço do céu escondido abaixo do inferno.

As três jovens sorriam incondicionalmente; o mercado negro superava suas expectativas. Rapidamente, passaram pela porta, observando-a se fechar lentamente atrás delas. Foi então que lembraram-se de que estavam em um local seguro novamente.

–Fire, Leroy, podem sair! -exclamou a menina de cabelos negros, lançando suas duas pokébolas ao ar.

Tanto o Ponyta quanto o Buizel olhavam ao redor, admirados pela beleza do local em que estavam. Mesmo tendo crescido em uma floresta, Leroy jamais vira tantos pokémons juntos, o que o deixara extremamente animado. Fire parecia estar mais entretido com uma batalha de treinadores iniciantes que ocorria.

–Vocês também, Damen e Maiko! -Alyss fez o mesmo, libertando seu Espurr e sua Oshawott.

O Espurr, como sempre, permaneceu inexpressivo. Não mexia suas orelhas ou farejava o ar a seu redor, simplesmente sentava-se de frente para a treinadora. Já a Oshawott observava animada todos os pokémons correndo de um lado para o outro; queria batalhar com um deles antes de sair.

–Saia, Kairi! -disse a menina de cabelos castanhos, retirando sua pokébola do bolso.

A Riolu, como da última vez, saira de braços cruzados, mas seus olhos estavam abertos, movendo-se para os lados, embora não virasse sua cabeça para observar o que ocorria.

–Bem, acho que temos muito o que fazer por aqui. -disse a garota de cabelos negros, fitando as outras duas. -O que acham de nos encontrarmos aqui de novo em uma hora? -propôs.

–É uma boa ideia. Tenho que comprar algumas coisas, e vou aproveitar para treinar com a Maiko em algum canto. -respondeu Alyss, observando sua Oshawott, já com a concha na mão, encarando outros pokémons.

–É, nós também temos que treinar um pouco. -exclamou a menina de cabelos castanhos, vendo sua Riolu revirar os olhos.

As três então seguiram em direções diferentes, acompanhadas por seus pokémons. Caroline logo avistou uma barraca de topo vermelho, vendendo poções e outros remédios; não hesitou em caminhar até lá.

–Olá, em que posso ajudar? -perguntou o vendedor amigavelmente. Era um homem alto, aparentando ter uns trinta anos.

–Hm, gostaria de comprar algumas poções. -respondeu, fitando a tabela de preços disposta sobre a mesa, ao lado de vários produtos. Possuía dinheiro suficiente para comprar até dez daquelas, mais decidiu levar apenas quatro; guardaria o resto que tinha para emergências, e aguardaria chegar até o primeiro ginásio ilegal, onde poderia conseguir mais. Isto é, se conseguisse vencer. Então, lembrou-se de que deveria treinar um pouco com Firestarter e Leroy.

–Rapazes, o que acham de começarmos nosso treinamento? -ela sorriu, fitando os dois, já distanciando-se da barraca, indo em direção ao campo de batalha.

–Finalmente! -respondeu o Buizel, animado, golpeando o ar algumas vezes e murmurando algo sobre 'ser invencível', o que fez o Ponyta a seu lado rir, antes de virar para a treinadora e concordar.

No campo de batalha, depararam-se com algo inesperado; enquanto, de um dos lados, um pequeno pokémon verde - o qual parecia ser um Bulbasaur, pelo que a menina conhecia sobre os antigos 'pokémons iniciais' - lutava para permanecer de pé, do outro havia um alto cavalo de chamas vermelhas alaranjadas no topo de sua cabeça e costas - na verdade, uma égua.

–Uma Ponyta? -o cavalo arregalou os olhos observando-a, surpreso. Havia crescido ao lado de outros de sua espécie, mas não esperava encontrar mais um deles fora da fazenda.

–Que... Coincidência. -exclamou Caroline, observando a batalha.

–Esse bichinho verde não parece que vai aguentar muito tempo... -observou Leroy, fitando o pokémon que mal se mantinha de pé.

Com um comando final do treinador da Ponyta, esta disparou brasas em direção ao oponente que, já cansado, não conseguiu desviar, caindo. Um garoto então rapidamente o segurou no colo, sorrindo para ele; provavelmente era seu treinador.

A menina então virou-se para observar o vitorioso; era um garoto de aproximadamente dezoito anos, seus cabelos eram loiros, quase dourados, e seus olhos eram azul claro. Vestia uma camisa social branca e calças jeans, possuindo uma expressão orgulhosa. Ele foi até sua pokémon, acariciando-a e parabenizando-a pela batalha.

–Quem vence escolhe o próximo oponente! Quem vai ser? -gritou um dos homens na platéia - ou melhor, um aglomerado de pessoas que reuniam-se em volta do campo para observar as batalhas - para o garoto. Este escaneou a multidão rapidamente, fixando seus olhos em Caroline e fazendo-a estremecer. Parecia surpreso ao ver o Ponyta de chamas azuis que a acompanhava.

–Você! -ele gritou, finalmente, apontando para a menina de cabelos negros. -A do Ponyta shiny.

Todos então se viraram na direção apontada, fitando a escolhida. Esta se sentia desconfortável pelos olhares sobre ela; sentia-se pressionada. Locomoveu-se lentamente até o campo, acompanhada por seus dois únicos pokémons. Já pensava em uma estratégia para vencê-lo; havia aprendido sobre vantagens e desvantagens de tipo e sabia que, batalhando com Leroy, teria uma chance maior de sair vitoriosa, já que ele era do tipo água e a Ponyta, do tipo fogo.

–Qual é seu nome? -o menino perguntou, observando sua nova oponente.

–Caroline. -ela respondeu, em um tom quase inaudível, sendo empurrada para a frente por seu Ponyta; parecia que este tentava encorajá-la.

–Connor. -respondeu, fazendo uma breve pausa para analisar os pokémons da menina, mas logo continuando. -Não está pensando em usar esse Buizel, não é? Queria que fosse um combate entre Ponytas. -ele abriu um sorriso de canto de rosto.

Droga. Aquilo desmancharia sua estratégia. Mas foi então que lembrou-se de uma das vantagens de Firestarter, e sorriu de volta.

–É claro que não. -respondeu, fazendo um sinal com a cabeça para que o cavalo de fogo se colocasse em campo. Leroy parecia um pouco desapontado; queria ter a chance de batalhar. Mas a treinadora logo virou-se para ele, explicando sobre seu plano e prometendo treinar com ele mais tarde. Dito isso, o Buizel sorriu e correu de volta à plateia, para observar a batalha.

Fire estava animado com sua primeira batalha; sua treinadora havia lhe dito durante sua vida toda que só deveria lutar quando necessário mas, por dentro, sempre tivera um enorme desejo de confrontar outro pokémon em campo, testar sua própria força e habilidade.

–Ótimo. -Connor sorriu, olhando para sua Ponyta. -Vamos lá, Blaze. Comece com o Tackle!

–Desvie! -gritou a menina de cabelos negros o mais rápido que pôde.

A pokémon de fogo corria em uma velocidade incrível, pronto para atingir o oponente com um golpe de corpo. Felizmente, no último segundo, Firestarter conseguiu saltar para o lado, esquivando-se do golpe.

–Fire, aproveite para usar o Double Kick! -comandou a garota, relembrando-se dos golpes de seu pokémon, os quais havia checado mais cedo no quarto do hotel.

O cavalo assentiu, não precisando correr muito para que conseguisse atingir a adversária com dois fortes chutes que a lançaram no chão. Poucos segundos depois, porém, ela estava novamente de pé, bufando e aumentando a intensidade das chamas em suas costas.

A sensação de estar em uma batalha era incrível; nunca antes se sentira assim. Era algo diferente de qualquer coisa que já tivesse antes experimentado; nem mesmo a alegria que sentia percorrer a pista de obstáculos na fazendo em que vivia podia ser comparado ao que sentia naquele momento. Seu sangue pulsava, a adrenalina subia, sentia-se poderoso - sentia-se vivo.

–Ember! -o garoto revidou, e logo sua Ponyta estufou o peito, lançando diversas brasas contra Firestarter.

O pokémon chacoalhou sua cabeça ao ser atingido, um pouco atordoado, mas não parecia realmente ferido. Em seguida, seu corpo começou a brilhar em um tom branco, e logo as chamas azuis que percorriam seu corpo tornaram-se maiores e mais vívidas. Caroline sorriu ao ver que seu plano havia dado certo; só achava estranho o fato de o treinador de uma Ponyta não conhecer sua habilidade.

–Então a habilidade do seu Ponyta é Flash Fire. -observou Connor, logo depois respondendo à pergunta que estava na mente da menina. -Ponytas podem aprender duas habilidades; essa e Run Away. Parece que você está com a vantagem aqui. -ele franziu o cenho, mas logo depois voltou a sorrir. -Vamos continuar! Use o Tackle novamente!

Dessa vez, a pokémon não errou seu alvo; atingiu Fire com uma forte investida que o empurrou alguns metros para trás, mas o cavalo ainda se mantinha de pé.

–Droga. -murmurou a garota ao ver seu pokémon cambalear. Ele olhou para trás, como que esperando por um próximo comando. Caroline estava pensativa; tentava bolar uma estratégia. Sabendo que o poder dos golpes de fogo de seu Ponyta havia aumentado, o que lhe seria de grande ajuda, uma vez que a oponente não possuía a mesma habilidade que ele e seria afetada, rapidamente ordenou: -Ember!

Outra das vantagens que conhecia sobre seu Ponyta, por experiência própria, era que as chamas produzidas por ele eram mais fortes e poderosas. Percebera isso enquanto cuidava dos pokémons em sua fazenda; enquanto todos desferiam pequenas brasas amarelas ou alaranjadas, Firestarter era o único capaz de lançar chamas azuis, as quais causavam muito mais danos. Resolvera pesquisar sobre isso, e admirou-se ao descobrir o que, de fato, ocorria; seu Ponyta, diferente da maioria dos outros, era capaz de realizar combustão completa, isto é, aproveitar ao máximo seu oxigênio para obter mais energia, gerando chamas de um tom azulado - o tom mais puro e poderoso que o fogo poderia ter. Não sabia, porém, se isso teria alguma relação com a sua coloração diferenciada; era algo que ainda queria descobrir.

Firestarter assentiu, com um sorriso em seu rosto. Estufou o peito, concentrando a maior quantidade de oxigênio que conseguia, e logo começou a disparar diversas brasas azuis em direção à Ponyta que, embora conseguisse desviar de algumas, foi atingida pela maioria delas, caindo, fraca. Porém, conseguiu juntar suas últimas forças para se colocar de pé novamente. As chamas azuladas haviam causado um dano considerável na pokémon, mesmo ela possuindo resistência natural contra o elemento. Além disso, as regiões do campo atingidas pelas brasas do cavalo azul estavam levemente queimadas.

–Hm, você é boa. Mas não tanto. -Connor abriu um meio sorriso torto, cruzando os braços. -Blaze, está na hora da nossa arma secreta!

A égua sorriu para o treinador, logo depois virando-se para Firestarter e piscando algumas vezes. Ela então começa a andar lentamente em direção à ele, que agora parecia hipnotizado pela pokémon.

–...Fire? -chamou a menina, não entendendo a situação. -Fire, use o Tackle! -mas o pokémon não parecia ouví-la.

–Ele não vai atacar. -o garoto riu de leve. -Blaze usou o Charm; isso significa que seu Ponyta teve seu ataque reduzido por estar entretida com ela, e está cego demais para prever isso: Low Kick!

–Fire, cuidado! -Caroline gritou, mas em vão; seu Ponyta ali permaneceu, olhando fixamente para Blaze.

Isso deu à Ponyta a perfeita chance para atacar; apoiou suas patas de frete no chão, levantando as traseiras e desferindo um poderoso coice no cavalo, que caiu. Com certo esforço, ele conseguiu se levantar, parecendo irritado. Estava prestes a atacar, quando fora impedido por sua treinadora.

–Já chega, Fire! -ela foi até sua direção, colocando a mão em suas costas.

–O que? Mas eu... eu ainda consigo. -respondeu baixo, ofegante.

–Não. Chega. Você foi muito bem, não precisa se matar aqui. -a menina o repreendeu. Não queria levar seu companheiro ao limite logo em sua primeira batalha; deveria evitar ao máximo ferimentos graves. Logo em seguida, virou-se para Connor. -Obrigada pela batalha. -ela abriu um pequeno sorriso, já se retirando da arena para dar espaço a outros treinadores, que ansiavam por uma batalha.

–Sem problemas. Da próxima vez que batalharmos, talvez você tenha mais sorte. -ele abriu um sorriso de canto, convidando outro garoto a ser seu oponente.

–Não baixe sua guarda quando nos enfrentarmos novamente, pônei. -debochou a Ponyta, sorrindo para Firestarter. Este bufou, parecendo ignorá-la.

–...Próxima vez? -Caroline arqueou uma das sobrancelhas, após processar a fala do garoto. O que ele queria dizer com aquilo? Provavelmente, nunca mais iriam se ver.

Esperando animadamente ao lado de outros treinadores, Leroy parecia ter alguns comentários sobre a batalha. Relembrava cada momento, sempre aumentando um pouco os feitos de Firestarter, dizendo ser "a melhor batalha a qual ele assitira" - mas, provavelmente, uma das únicas. O cavalo ria, junta à menina mas, no fundo, queria ter vencido; achava que era forte o suficiente para continuar, e ganhar. Não conseguia compreender por que a treinadora não o deixara provar ser forte; mais forte do que aquela égua.

Havia se passado apenas meia hora; ainda tinha metade do tempo inicial para fazer o que quisesse. Talvez agora pudesse treinar com seu Buizel, como lhe havia prometido, em uma área onde houvesse menos movimentação. Porém, antes que conseguisse escolher um local adequado, foi chamada por Amy e Alyss, que estavam logo atrás dela.

–Caroline! -gritou a de cabelos castanhos. -Nós vimos a sua batalha!

–Sim. -concordou a menina de cabelos azuis, com um sorriso. -Vocês foram muito bem.

–Ah, obrigada. -ela sorriu de volta, e seu Ponyta bufou. Parecia estar ainda desapontado por não ter vencido.

–É minha vez agora! -exclamou a Oshawott, brincando com sua concha. -Vamos Alyss, eu quero derrotar a Kairi! -ela então fitou a irmã com um olhar competitivo.

–O que?! -A Riolu arqueou uma de suas sobrancelhas, cruzando os braços. -E quem disse que você vai vencer?! Você podia ser mais forte antes, mas eu também cresci! -rosnou.

–Acho que é por isso que elas não queriam ficar no mesmo time... -observou Amy.

–Bem, acho que não há problemas em... -Alyss começou a falar, mas não terminou sua frase. Seu olhar estava distante, como se observasse alguém ao longe. Arregalou os seus olhos; parecia estar vendo um fantasma. -Não pode ser. -sussurrou, incrédula.

As outras duas meninas, bem como os pokémons - com exceção de Kairi e Maiko, que continuavam a discutir sobre quem era mais forte -, estavam confusos. Olhavam ao redor, em busca de alguém conhecido, mas não encontraram ninguém. Até que se depararam com um peculiar garoto, que parecia fitar Alyss com a mesma expressão que ela possúia; surpresa. Este era alto, possuindo cabelos loiros bagunçados e um tanto espetados. Seus olhos eram de um tom vermelho vívido. Utilizava, por cima da regata branca e de calças jeans azuis, um sobretudo negro, no qual estava estampado um majestoso dragão de fogo, que possuía sua cabeça no centro da peça. Suas mãos eram cobertas por luvas pretas. Repentinamente, ele começou a se aproximar. O mais surpreendente é que, em sua cabeça, repousava uma pequena pokémon, lembrando um pássaro, tendo seu corpo azul e longas penas brancas, muito semelhantes à nuvens. Uma mecha azul caía sobre seu olho. No pescoço do menino, havia também um pokémon que a menina não pôde identificar; lembrava muito uma espécie de cobra, tendo seu corpo enrolado ao redor do pescoço do treinador. Seu corpo era todo de uma cor azul claro, com exceção de uma marca que começava em seu focinho e descia por sua barriga até a ponta de sua cauda. Possuiá peculiares orelhas brancas, que pareciam ser adaptadas para a água, além de uma franja curta que caía sobre seu olho direito.

–...Draven? -a menina de cabelos azuis disse em um tom baixo, porém alto o suficiente para ser compreendida pelo garoto, ignorando completamente as expressões confusas que a cercavam.

–O que está fazendo aqui, Alyss? -perguntou o menino, arqueando uma de suas sobrancelhas. -Não esperava te encontrar por aí. -logo depois, sua expressão séria transformou-se em um sorriso. A pokémon pássaro em sua cabeça abriu um sorriso tímido, enquanto a que enroscava-se em seu pescoço apenas analisava as jovens.

–Eu... Resolvi virar uma treinadora. -a garota deu de ombros. Queria explicar-lhe tudo o que ocorrera, mas só o faria depois; tinha muito a lhe dizer. Na verdade, estava curiosa para saber o que o amigo vinha fazendo nos últimos meses, desde que se viram pela última vez. Foi então que lembrou-se de que ele queria ser um treinador; e, claro, todo jovem com esse sonho, mesmo em um mundo tão diferente do que ele era antes, precisava ter um inicial. -E onde está Alexa? -sorriu.

Draven fez um gesto com sua mão direita, apontando para trás por cima de seu ombro. Assim, uma pokémon completamente diferente de qualquer outro que já houvera visto - embora não fossem muitos - surgiu de trás do treinador, dando dois passos para a frente e cumprimentando Alyss. Em seguida, virou-se para seu Espurr, que assentiu com a cabeça ao perceber o cheiro da antiga conhecida.

A pokémon possuía, no mínimo, um metro. Ela era, em maior parte, de um tom laranja, com exceção de sua barriga, que era de uma cor creme. Possuía uma longa franja, com uma única fina mecha avermelhada, que caía por cima de seu olho direito, cobrindo-o por completo. O outro, verde esmeralda, era atravessado por um risco vermelho vívido, dentro de sua pupila; lembrava sangue. Possuía um fino chifre em sua testa. Em seu corpo, havia listras de um tom vermelho escuro; Caroline conseguiu contar quatro em seus braços e três em suas pernas, além de mais quatro em suas costas e cinco em sua cauda que, ao fim, possuía alguns anéis de tom mais escuro, onde uma poderosa chama brilhava. O detalhe mais chamativo eram as várias cicatrizes que percorriam seu corpo, o que fez a menina pensar que a pokémon já havia tido um encontro desagradável com humanos.

Caroline não aguentava mais segurar suas dúvidas; quem era aquele garoto misterioso à sua frente? Não quis ser intrusiva, mas decidiu se pronunciar.

–Hm... Vocês se conhecem? -perguntou o óbvio, apenas aguardando algumas explicações.

–Ah, sim, claro. -a menina de cabelos azuis virou-se para o resto do grupo. -Este é Draven, um amigo de infância. E Alexa, sua Charmeleon.

–Prazer. -o garoto acenou para as outras duas, observando também seus pokémons.

–Essa lontrinha é nova. -a charmeleon falou pela primeira vez, apontando para a Oshawott.

Rapidamente, Maiko virou-se para Alexa, encarando-a com um olhar furioso. Logo em seguida, agarrou sua concha, apontando-a ao ar.

–"Lontrinha"? -ela parecia bastante ofendida. -Eu vou te mostrar a lontrinha! -estava prestes a correr em direção à Charmeleon, quando foi repentinamente parada por sua treinadora, que a segurou.

–Ei, calma, Maiko. -a garota tentava tranquilizar a pokémon, mas parecia que o único jeito de conseguir aquilo seria com uma batalha.

–Argh, você simplesmente quer atacar qualquer coisa que se mova. -a Riolu revirou os olhos. Sua irmã podia ser extremamente impulsiva e imatura às vezes.

–Talvez não seja uma boa idéia pequena, você não vai querer se machucar. -respondeu Draven, fitando a Oshawott e recebendo um olhar furioso da mesma.

–...Então você simplesmente acha que, caso batalhassemos, você ganharia? -Alyss franziu o cenho.

Qualquer um escutando aquela conversa podia prever o que aconteceria; estava óbvio demais. A menina de cabelos azuis poderia ser considerada louca por querer desafiar um treinador tão mais experiente do que ela; a derrota era praticamente inevitável. Além disso, nunca havia treinado com Maiko, embora ela parecesse já ter certa experiência em batalhas. Porém, Alyss havia realmente se ofendido com a afirmação do garoto, que foi quase como um 'você não tem chance'. Não podia deixar aquilo assim.

–Não é isso, Alyss... -o menino tentou reverter a situação, mas logo abriu um sorriso divertido. -Mas somos muito mais experientes do que você. -ele riu de leve, mas a menina não parecia se divertir do mesmo jeito.

–Então tudo bem. Nós te desafiamos para uma batalha. -a garota parecia séria, tanto em seu tom de voz quanto em sua expressão. Sua pokémon abriu um leve sorriso, aprovando a ação da menina.

Draven, assim como as outras duas garotas, arregalou os olhos. Parecia não acreditar no que acabara de ouvir. Sabia que a amiga podia ser um pouco maluca de vez em quando, mas aquilo era insano. Por fim, acabou suspirando, assentindo com a cabeça, e dirigindo-se até o campo de batalha, seguido pela garota.

Por mais que esta soasse determinada, sabia que o que havia acabado de fazer era uma das maiores idiotices que já cometera em sua vida.


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