Pokémon Nuzlocke: Heaven & Hell escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 12
Capítulo 11 - Sisters


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! E desculpem pelo atraso :c Semana complicada and stuff qq Demorei para organizar melhor o capítulo. Porém, não haverá atrasos para o próximo, prometo! E espero que gostem desse aqui c:



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A escuridão absoluta cedia lugar para a luz alva, que indicava um novo começo. Intensos e poderosos, os raios dourados do grande astro, que começava a surgir no horizonte, começavam a blasonar toda a sua gloriosidade, manifestando-se por toda e qualquer pequena brecha entre a folhagem verde das majestosas árvores de copa alta. Seu calor encarregava-se de amenizar o clima frio da densa mata, tornando-o mais agradável e confortável. O silêncio característico do local permanecia, sem que fosse possível ouvir qualquer canto ou murmúrio que pudesse distingui-lo de um quarto de hospital.

Sutilmente incomodado pela claridade oriunda do sol, o canídeo de longos e macios pelos brancos era forçado a abrir lentamente seus olhos, revelando duas orbes vermelhas vívidas, porém serenas. Permitiu que seus pulmões se deliciassem com o ar fresco da manhã, identificando o cheiro inconfundível do orvalho fresco sobre a grama verde. Ainda deitado, Louis admirou toda a venustidade da manhã, sorrindo para a vegetação esmeraldina, que parecia desejar-lhe um aconchegante e casual ‘bom dia’. Parte de sua tranqüilidade esvaiu-se, porém, ao notar que o gatinho de pelos claros, ao lado do qual adormecera, não mais estava presente.

Entristecido, o Furfrou colocou-se de pé, constatando que o grupo de jovens, bem como seus pokémons, já haviam deixado o acampamento, visto que suas coisas não mais estavam dispostas sobre o chão, e as cinzas da fogueira que os aquecera durante a noite anterior começavam a misturar-se ao vento. Melancólico, suspirou; gostaria de ao menos ter tido a chance de despedir-se de Augustus, que há pouco conhecera, porém já construíra laços. Por passar a maior parte do tempo sozinho, ignorado ou dispensado pelos poucos outros pokémons que conhecera, a companhia do Meowth lhe trouxera certo reconforto.

Começando a conformar-se com a partida do único amigo que tivera em anos, o poodle de pouco mais de um metro de altura estava preparado para dar ás costas ao local onde descansara e esquecer-se do bom amigo que um dia conhecera, retornando à sua antiga vida solitária, à qual estava tão miseravelmente acostumado. Contudo, ao dar seu primeiro passo em direção ao coração da floresta, fora surpreendido por uma doce voz feminina, a qual passara a conhecera recentemente.

— Ah, Louis! Você acordou, finalmente. — murmurou a menina de peculiares cabelos azuis, fitando o canídeo desolado com seus olhos ametista. — Os outros foram embora há algum tempo, mas decidi ficar para te avisar. Não queríamos acordá-lo apenas para dizer que estávamos de partida. — esclareceu, apanhando um recipiente transparente contendo ração especial, o qual preparara minutos atrás, e estendendo-a para o cachorro que, um pouco hesitante, aceitou o alimento.

— Todos se foram? — indagou, degustando calmamente seu café da manhã. — Imagino que tenham de continuar suas jornadas. — reconheceu, falhando em tentar esconder a tristeza em sua voz.

— Sim. — assentiu a garota, arrumando alguns de seus pertences que ainda encontravam-se dispostos sobre a grama. — Não estamos muito longe de Nacrene, e pretendemos nos instalar na cidade ainda hoje, para continuar com nossos planos. — relatou.

— E quanto a Augustus? — desviou sua atenção da ração por um momento, dedicando-se à resposta de Alyss. Como queria ter a chance de reencontrar-se com o felino, mesmo que apenas para despedir-se do mesmo antes de forçar sua mente solitária a esquecê-lo.

— ... Augustus? O Meowth da Caroline? — a jovem arqueou uma das sobrancelhas, incapaz de compreender a preocupação do Furfrou quanto àquele pokémon em específico. — Ele foi junto com ela e o resto de seu time. — informou, ainda confusa, esperando uma explicação de Louis que não viera.

O canídeo assentiu, soturno, convencendo-se de que nunca mais encontraria o gatinho novamente, perdendo sua fome completamente e deixando o pouco que restava da ração de lado. Alyss não demorou a perceber os sinais de tristeza do poodle, embora não a compreendesse, e perguntou-se se sua reação não seria devido ao fato de estarem partindo; não se conheciam por muito tempo, entretanto, talvez o pokémon houvesse criado apego pelo grupo e os outros monstrinhos de bolso. Um pouco hesitante, a jovem decidiu aproximar-se do cãozinho cabisbaixo, agachando-se ao seu lado e assim. conseguindo sua atenção

— Bem, Louis, — começou, meio sem jeito, retirando de um dos compartimentos de sua mochila de viagem uma esfera bicolor, vermelha e branca, de interior vazio e em tamanho reduzido, mostrando-a ao Furfrou, que a analisou um pouco confuso. — se você quiser, pode vir comigo. — propôs, fitando o pokémon.

— Ir... Com você? — repetiu as palavras em um tom baixo, como se as testasse.

Pensativo, o Furfrou analisou cautelosamente a proposta que lhe havia sido feita. Não conhecia muito bem Alyss, ou as outras jovens e seus companheiros; porém, durante o pouco tempo em que haviam passado juntos, o grupo constituíra a família que nunca havia tido, e lhe fornecido a atenção e carinho dos quais nunca antes dispusera. Ainda não confiava plenamente nos jovens e, apesar de conhecer suas intenções, era incapaz de dizer se estas seriam verdadeiras. Contudo, Augustus parecia inteiramente convicto de que aqueles humanos eram, por algum motivo, diferentes, e estavam dispostos a ajudá-los e arriscar-se por eles; e a certeza do Meowth era suficiente para que ele também acreditasse nas palavras dos treinadores. Além disso, tornar-se parte do time da jovem de cabelos azulados garantiria que o cachorro e o felino se reencontrassem novamente, o que Louis alegremente ansiava.

O canídeo de pelos brancos fitou a garota que poderia ser sua nova treinadora por mais alguns segundos, ainda ligeiramente incerto. Havia crescido livre e selvagem, pertencente à grande e majestosa floresta que fora seu ninho durante toda a sua existência, e desconhecia como era ter de abdicar de sua autonomia, integrando-a a uma humana e submetendo-se à captura, passando a residir em uma pequena esfera de metal, sendo liberto apenas quando possível. Tais pensamentos o assustavam, porém, em contra partida, uma série de vantagens parecia estender-se à sua frente; não mais teria de preocupar-se em procurar alimento ou abrigo, e temer eternamente por sua segurança. Conseguiria também a companhia que tanto lhe fizera falta nos últimos anos de sua vida e, acima de tudo, poderia rever e conviver com seu amigo felino. E não havia nada no mundo que o Furfrou desejasse mais do que aquilo naquele momento.

— Aceito a proposta. — assentiu o Poodle, por fim, esboçando um sorriso de canto nervoso e tímido.

— Que ótimo. — Alyss deixava parte de sua alegria transparecer através do brilho adquirido por seus olhos púrpura. — Será incrível tê-lo no time. — afirmou, sorrindo, aproximando-se um pouco mais do pokémon para tocar-lhe a cabeça, acariciando-o delicadamente.

A jovem então estendeu o dispositivo esférico na direção do canídeo, que o tocou com seu focinho, ainda com certo receio. Naquele momento, a pokébola se abriu, emitindo uma forte luz de coloração avermelhada que envolveu o Fufrou, sugando-o para dentro. O botão central da esfera piscou uma única vez antes de emitir um som eletrônico, indicando que a captura havia sido feita com sucesso.

Alyss fitou o dispositivo por alguns segundos, sorrindo para este, como se o cachorro que agora ali residia pudesse vê-la. Embora já houvesse conhecido dois novos pokémons desde o início de sua jornada, a sensação de alegria que a invadia continuava a mesma, fazendo-a sentir-se inexplicavelmente agradável. Estava ciente de que, no mundo tão caótico em que vivia, o encontro com aquelas magníficas criaturas era um evento incrivelmente raro, mesmo que áreas mais protegidas e ainda não devastadas, onde os poucos restantes da espécie costumavam residir; e a menina de cabelos azulados agradecia um ser superior todas as vezes que lhe permitiam a sorte de conquistar a confiança de um novo amigo, que a acompanharia durante o resto de sua vida.

Por fim, a garota teve de deixar seus devaneios, embora ainda fosse preenchida por aquela êxtase da captura bem sucedida, ao lembrar-se de que deveria reencontrar seu grupo, que não deveria estar muito longe ainda. E, assim, guardou cautelosamente a pokébola de Louis dentro de sua mochila, junto com os outros membros de seu time; mal podia esperar para anunciar à estes sobre o novo companheiro que teriam.

Alyss apertou o passo, seguindo na direção que havia sido tomada por Matthew e suas amigas, cerca de vinte minutos atrás; estes haviam dito que a esperariam, portanto, não deveria ter problemas em encontrá-los. Durante seu percurso, a jovem estava tão distraída pela mistura de sentimentos e pensamentos em sua mente que nem ao menos preocupou-se em observar a paisagem à sua volta; a floresta começava a tornar-se menos densa, anunciando que sua saída estava próxima, embora fosse ainda impossível avistar qualquer sinal da cidade vizinha. As árvores faziam-se menos presentes e, com a maior ausência de vegetação, os raios quentes do grande astro dourado, que agora jazia alto no manto de cor azul com mesclas rosas, característica do amanhecer, conseguiam transparecer com maior facilidade, iluminando o trajeto da garota. Era possível ouvir o farfalhar das folhas alaranjadas, que em breve cairiam, dançando junto ao fraco vento matinal, e o barulho oriundo dos galhos que quebravam-se sob os pés da menina.

Como esperava, não precisara de muito tempo para reencontrar-se com os jovens junto aos quais seguiria jornada; em menos de quinze minutos caminhando apressadamente, Alyss já avistava o trio, que não mais possuíam a companhia de seus pokémons, que haviam sido recolhidos para sua segurança, uma vez que se aproximavam de Nacrene. Ao ouvir os passos da garota de cabelos azuis, Amy prontamente se virara, sorrindo para esta.

— Bem vinda de volta, Alyss. — cumprimentou a garota, observando Matt e Caroline dirigirem a recém-chegada um aceno de cabeça. — Você se despediu do Louis? — perguntou, fitando a jovem de cabelos azulados.

— Não precisei. — a garota abriu um sorriso orgulhoso. Ao perceber a confusão dos outros quanto à sua resposta, viu-se obrigada a explicar-se: — Louis decidiu seguir comigo. — afirmou, ainda acostumando-se à idéia de ter a companhia de um novo pokémon.

— Ah, isso é incrível! — comemorou Amy, com alguns leves pulinhos de alegria; aquele comportamento combinava perfeitamente com sua aparência infantil, embora a garota já houvesse provado a todos não se parecer nem um pouco com uma criança. — Quanto mais, melhor. — completou, acalmando-se, e tornando a caminhar.

Durante o resto da viagem, o grupo permaneceu-se calado; com exceção de Amy e Matt, que ainda pareciam ter muito o que conversar, desde histórias sobre o passado, após se separarem, até o seus objetivos e planos futuros. Alyss continuava presa em seus próprios pensamentos alegres, e a cada minuto que se passava sua vontade de rever o cachorro de pelos brancos que há pouco capturara tornava-se maior. Poucas vezes tentara interagir com Caroline, porém, acabara desistindo de tal, ao perceber que a jovem de cabelos negros estava distante.

A verdade era que, devido à sua crescente paranóia, Caroline fora impedida de descansar após o longo trajeto que haviam percorrido após sair de Striaton, e estava completamente exausta; olheiras faziam-se presentes abaixo dos olhos azul-marinho da garota, que haviam escurecido para um tom quase negro, e a jovem mal era capaz de caminhar sem tropeçar ou cambalear. Porém, seu cansaço físico e mental não era o suficiente para que a menina deixasse seus temores de lado; esta continuava a virar-se frequentemente para trás, apenas para assegurar-se de que não estava sendo seguida, mesmo que se sentisse observada. E conversar não estava em sua lista de prioridades no momento.

Felizmente, não tiveram de caminhar por mais de uma quarenta minutos até que pudessem observar uma redução significativa na quantidade de árvores da floresta, que agora assemelhava-se mais a um bosque. Era possível notar também uma pequena trilha de terra, que se destacava por entre a grama, indicando que aquela área recebia visitantes com mais freqüência do que o restante da Rota abandonada. E, não muito longe, encontrava-se o definitivo fim da vegetação, que cedia espaço para um declive de relevo de aproximadamente quinze metros de altitude, com uma estrada de descida cimentada.

Sobre os últimos centímetros quadrados de grama verde e fresca, o grupo de jovens parou para observar a cidade que se encontrava logo a sua frente. Nacrene aparentava-se sutilmente menos movimentada do que Striaton, o que significara certo alívio para os jovens; havia automóveis simples cruzando as ruas da área urbana, que era constituída por casas e prédios, a maioria deles de pequeno porte. Diferentemente de sua estadia anterior, a cidade que agora admiravam não era tão amontoada de construções, e não havia tantas pessoas caminhando descontraídas pelas áreas de comércio. Na verdade, se comparada a outras, podia ser considerada pequena, embora ainda possuísse cerca de o dobro da área de Nuvema.

— Podemos ir logo? — a voz grave e rouca da menina de cabelos negros soou, evidenciando seu cansaço. Caroline apenas conseguia pensar em estabelecer-se logo em um hotel e aproveitar a noite de sono que merecia, e da qual fora privada por cerca de uma semana.

A atenção do grupo se voltou para a garota exausta, e todos logo concordaram, não hesitando em descer calmamente a rampa que os levaria direto ao portão que saudava visitantes da cidade; um letreiro de madeira, apoiado por duas estacas de mesmo material, continha cravadas em si as palavras “Bem vindo à Nacrene! Esperamos que aproveite sua estadia!”. Aquele era mais um detalhe que diferenciava a cidadezinha dos outros centros urbanos que anteriormente haviam visitado; ela parecia muito mais convidativa.

À medida que caminhavam por entre as ruas da cidade, suas peculiares características tornavam-se mais notáveis, até mesmo para a exausta Caroline: não era uma mera massa cinzenta de poluição, tão amontoada de edifícios e construções mórbidas que seria capaz de estressar qualquer um apenas pelo ambiente preto e branco. Pelo contrário; apresentava uma perfeita harmonia entre natureza e urbanização, mostrando-se equilibradamente desenvolvida. A concentração de prédios, em sua maioria de residência, era menor, e entre as ruas asfaltadas percorriam longos corredores de gramados verdes e flores multicoloridas, com a presença de algumas árvores muito bem podadas de pequeno porte, eqüidistantes umas das outras. Até mesmo o céu aparentava possuir um tom azul mais vívido e limpo, mesclado por finas e delicadas nuvens brancas, que tendiam a ganhar uma certa coloração dourada devido aos raios do sol.

E, embora environmental friendly, não deixava de irradiar sua capacidade tecnológica; as construções eram, em sua maioria, constituídas por um material espelhado ou vidro, alguns destes de um tom verde claro, combinando perfeitamente com a natureza abrigada pela cidade. Moinhos brancos, especialmente preparados para transformar correntes de vento em energia eólica, estendiam-se estrategicamente posicionados nos pontos de menor concentração de prédios, e muitos dos edifícios possuíam placas solares em seu topo.

— Essa cidade é incrível. — Amy foi a primeira a comentar algo; seus olhos verdes brilhavam, refletindo a cidade.

— Eu sei. Nunca me canso daqui. — concordou Matt.

Caroline e Alyss pareciam ocupadas admirando cada inovação de Nacrene para ao menos dedicar parte de sua atenção aos comentários dos amigos. A jovem de cabelos negros parecia deixar parte de seu cansaço e preocupação esvair-se, pensando em como sentia-se mais confortável naquele local do que em centros urbanos mais populosos e cinzas, como Striaton. Talvez por ter crescido em uma fazenda, rodeada por natureza, e sentir-se enjoada ao passar muito tempo entre prédios e ruas tumultuadas.

— Vou mostrar a cidade toda para vocês. — exclamou o ruivo, agora dirigindo-se as outras duas jovens, logo atrás dele. — Há lugares incríveis aqui e, claro, levarei vocês também ao local de treinamento e... — o rapaz parecia animado, porém, fora interrompido pela garota de cabelos negros.

— Podemos só ficar um pouco no hotel, por favor? — pediu, um tanto quanto mal-humorada.

— Ah, bem... Certo. — ao notar o cansaço da menina, Matthew acabou por concordar, dando de ombros, e continuando pelo caminho que os levaria ao hotel.

Alyss e Amy ficaram um pouco desapontadas ao saber que não poderiam explorar aquela magnífica cidade no momento. No entanto, compreendiam a exaustão da amiga e respeitavam-na, portanto, apenas contentaram-se em esperar um pouco antes de finalmente poder desbravar as ruas de Nacrene.

A paz da tranquila cidade, entretanto, não reinou por muito tempo; ao caminhar por uma das calçadas, em busca do hotel citado por Matthew onde poderiam se hospedar, depararam-se com um vulto quadrúpede de pelos roxos cruzando apressadamente as ruas, atrapalhando o trânsito de automóveis e criando certo caos. Antes que o grupo pudesse compreender o que ocorria, porém, viaturas vermelhas e brancas, nas quais podia-se ler, em suas laterais, “Polícia de Nacrene – Pkm. Control”, cercaram a ágil criatura, que se viu incapaz de escapar e encolheu-se, amedrontada.

Não demorou muito para que uma multidão de curiosos cercasse o palco do conflito, murmurando e discutindo algumas teorias e sugestões sobre o que ocorria, em busca do local perfeito para observar tudo com clareza. Quatro homens vestidos em uniformes de mesma cor dos carros que anteriormente dirigiam, retiraram-se de seus veículos; um deles carregava uma rede, outro apressava-se em retirar uma grande gaiola de barras reforçadas da traseira de uma picape, e outros dois portavam armas. Ao identificar os objetos nas mãos das autoridades, Caroline recuou alguns passos, assustada; apenas não correu por sentir-se presa entre as outras pessoas ao seu redor. Porém, logo percebeu que as armas empunhadas pelos homens não eram como aquelas responsáveis por centenas de mortes no evento do Contest; possuíam dardos tranqüilizantes, que logo foram disparados contra a criatura aflita.

Quando o ser finalmente acalmou-se, os outros dois homens rapidamente colocaram-no dentro da gaiola de metal. Agora, era possível observar com maior nitidez, notava-se que tratava de um pokémon felino; a maior parte de seus longos pelos apresentava-se em uma coloração roxa, exceto por seu peito, patas, ponta da comprida cauda e maxilar inferior, que possuíam um tom creme. Marcas em formato de diamante estavam salpicadas por todo o seu corpo, sendo da mesma coloração roxo-escuro de suas pontudas orelhas triangulares. O medo e apreensão estavam evidentes em seus olhos dourados, embora ele não medisse esforços para tentar escapar de sua prisão, como se soubesse que seria inútil fazê-lo.

— Tudo sobre controle. — informou um dos policiais através de um walkie talkie, abaixando sua arma. — Estaremos levando o monstro para ser abatido. — e, com essas palavras finais, guardou o rádio em um bolso especial em seu cinto, aproximando-se dos outros três homens para ajudá-los a colocar o leopardo na caçamba da picape.

Uma pontada de tristeza e dó atingiu o peito das três jovens ao ouvir as palavras do oficial. Naquele momento, era possível afirmar com certeza que todas tinham um desejo em comum; libertar o inocente gato aflito, poupar-lhe de sua morte injusta. No entanto, poderiam apenas assistir à cena, sem nada poder fazer. Alyss estava um pouco mais acostumada com tais mortes mas, ainda assim, testemunhar uma situação daquelas ainda a deixava melancólica, embora certamente reagisse melhor que as outras duas amigas. Amy parecia controlar-se para não chorar, seus olhos já ficando vermelhos e marejados. Já Caroline tinha seus olhos fixos na criatura, um misto de raiva e medo em seu semblante.

A multidão começava a dissipar-se, percebendo que a situação já havia sido tratada, e não havia nada mais para se fazer naquele local. No entanto, perceberam estar enganados quando uma mulher correu apressadamente até o círculo formado pelas viaturas estacionadas, dirigindo-se até a gaiola. Alguns olhares e suspiros surpresos se sucederam, enquanto os moradores de Nacrene pareciam reconhecer a mulher; esta, apesar de aparentar cansada devido as olheiras abaixo de seus olhos castanho escuro, possuía uma postura séria e profissional. Seus cabelos negros eram presos em um coque alto mal feito, e seus lábios estavam pintados de um tom vermelho sangue, do mesmo tom de suas unhas. Vestia uma saia negra que cobria seus joelhos, e um casaco de botões de mesma cor por cima de um suéter bege de gola alta.

— Senhora Arrington. — um dos oficiais rapidamente tornou sua atenção para a recém chegada, cumprimentando-a com um gesto de cabeça; ele a respeitava.

A mulher nada respondeu, e nem ao menos desviou o olhar para fitar o homem que lhe dirigira a palavra; mantinha toda a sua atenção no leopardo encolhido em sua prisão. Examinava-o com os olhos, demonstrando certo interesse pela criatura, que parecia temê-la.

— É um belo espécime que vocês tem aqui. — a peculiar mulher rodeava o pokémon engaiolado. — Eu o quero. — anunciou, parando enfim, virando-se para o homem que a saudara. — Empalhá-lo-ei para colocar à mostra em meu museu. Isto é, se os senhores autorizarem. — arqueou uma das sobrancelhas, inexpressiva.

— Quem é ela? — perguntou Amy, fitando o ruivo; este sorria para a mulher, como se a conhecesse.

— Margareth Arrington. — revelou Matthew, passando as mãos por seus cabelos embaraçados. — É a dona do grande Museu de Nacrene, o mais famoso de toda Unova. — após dizer tais palavras, aproximou sua boca do ouvido da garota, sussurrando: — Ela é a Líder de Ginásio de Nacrene.

A menina de cabelos castanhos ondulados arregalou os olhos, surpresa com a descoberta. Por outro lado, sentia-se aliviada; se aquela era a líder de ginásio, ela deveria proteger os pokémons, o que significaria que, na verdade, o indefeso felino não estava condenado.

— C-claro, senhora Arrignton. — o oficial assentiu para a mulher prontamente, gesticulando para que os outros homens colocassem o leopardo de pelos roxos em segurança no veículo, ordenando que deixassem a gaiola na porta do Museu de Nacrene.

— Obrigada. — Margareth sorriu, satisfeita. — Tenham um bom dia. — e, com aquela frase final, desapareceu novamente por entre a multidão.

Os presentes pareciam já esquecer-se do ocorrido, retornando à suas atividades normais enquanto as autoridades organizavam o trânsito. E, em uma questão de segundos, tudo já estava sob controle, como se nada houvesse ocorrido. Uma vez novamente sozinhos, Matthew pôde explicar às outras jovens sobre a mulher.

— Creio que estejam ansiosos para enfrentá-la. — admitiu o ruivo, tornando a caminhar, liderando o trio de garotas. — Quanto mais rápido chegarmos ao hotel, mais rápido poderão fazê-lo.

— Mas nós nem ao menos nos preparamos ainda! — protestou a jovem de cabelos azuis, cuidando para não exaltar-se demais.

— E é por isso, — Matthew virou-se para fitar a jovem, abrindo um sorriso amarelo — que as levarei até o melhor local de treinamento que vocês poderiam ter.

Mais algumas ruas foram atravessadas pelo grupo até que este finalmente se encontrasse à frente do hotel recomendado por Matthew. O prédio não era tão alto, apresentando cerca de oito andares apenas, a altura média das construções da cidade. Seu exterior possuía um belo design; era majoritariamente de vidro esverdeado, apresentando-se em formas triangulares pelas paredes brancas, e em seu topo havia uma espécie de estufa, onde eram cultivadas plantas e flores variadas, o que poderia explicar o fato de o hotel ser intitulado “Greenhouse”.

As três jovens e o rapaz não perderam muito tempo admirando a fachada do prédio, logo passando pela porta giratória e seguindo por um tapete de um tom verde claro, estendido pelo chão de mármore branco, que os guiava até a recepção. Alyss, Amy e Caroline apanharam suas chaves e preencheram os papéis que lhes haviam sido requisitados; Matt, porém, disse que não se hospedaria, uma vez que já tinha abrigo.

— Creio que vocês precisem de um pouco de descanso. — sugeriu o ruivo, dirigindo-se às três, mas fitando apenas Caroline, como se sua frase houvesse sido uma indireta. — Encontro vocês aqui, na recepção, ás seis em ponto. Não se atrasem. — ele lançou um último sorriso antes de dar as costas e desaparecer.

As jovens, então, dirigiram-se até o elevador do majestoso estabelecimento. Daquela vez, as três acabaram por ficar em andares diferentes, devido a pouca quantidade de quartos vagos no hotel. Amy ficara com o quarto 203, no segundo andar, e Alyss com o 505, no quinto. Caroline, por sua vez, estava no último andar e, portanto, fora a última a saltar do elevador.

A garota de cabelos negros caminhou pelo único corredor do andar até deparar-se com a porta branca que procurava, na qual estava estampado o número 806, em prateado. Não hesitou em colocar o cartão que segurava da maneira certa no leitor, que emitiu um som agudo e uma fraca luz verde antes de destrancar a porta, a qual a jovem logo empurrou.

O quarto era, de fato, bem luxuoso; não era tão grande quanto o do hotel no qual se hospedara em Striaton, mas tão confortável quanto. A suíte de paredes verde-claro era decorada com vasos de plantas de tamanhos e formas diferentes, todos de vidro, contendo flores das cores mais variadas. De frente para a cama de casal, forrada por lençóis brancos com estampa de vinhas verde-menta, havia uma bancada de vidro, sob a qual jazia uma televisão de trinta e duas polegadas. A parede que constituía a extremidade do quarto era inteiramente feita de vidro, sendo a responsável por iluminar o local, e possuindo uma bela vista de Nacrene. Caroline rapidamente dirigiu-se até esta, fechando as cortinas verde-menta para que tivesse maior privacidade e segurança.

A jovem deitou-se na cama e fechou seus olhos por breves segundos, deixando que a fadiga se fizesse ainda mais presente. Respirou fundo, tentando afugentar todos os pensamentos ruins que percorriam sua mente, o som do disparo das armas rindo de forma macabra, como se dissessem “vamos te encontrar”. Caroline não tinha vontade alguma de acompanhar Matthew e suas outras amigas até o local de treinamento; ela gostaria de permanecer deitada ali eternamente, esperando acordar apenas quando aquela confusão toda tivesse fim. Mas, como ocorria sempre que pensava em desistir, lembrava-se dos rostos alegres de seus pokémons durante combates e treinos, e de como tudo aquilo parecia ser surpreendentemente saudável para eles. Mesmo que não mais tivesse qualquer vontade de comandar ataques, a garota de cabelos negros precisava fazê-lo, para o bem daqueles que amava – e, eventualmente, isso levaria a seu fim.

Dentro de poucos minutos, a garota adormecera, desejando não ter nenhum pesadelo até que a inevitável hora de acordar chegasse, para que pudesse ao menos descansar por algumas horas. E, felizmente, ela conseguiu.

****

Altos pilares rochosos forneciam sustento ao teto de pedra, do qual pendiam diversas estalactites longas e pontiagudas, que causaria um estrago considerável caso viessem a cair algum dia. Apareciam, crescendo através do solo, reluzentes cristais de formas, cores e tamanhos diferenciados, dependendo da composição química de cada um, mostrando-se também presentes, embora em menor quantidade, nas paredes. A única iluminação que o local possuía era fornecida por uma espécie de clarabóia, um círculo pequeno e disforme presente no teto, pelo qual atravessavam os últimos raios de luz dourados do dia, os quais eram refletidos por todas as formações cristalinas existentes, de modo a iluminar igualmente cada área da caverna subterrânea. O local era frio e úmido, mas sua beleza o tornava agradável. O silêncio do subsolo era quase completo, exceto pelo som dos passos e da respiração dos jovens, que se tornavam mais altos devido ao eco, que os repercutia por todo o amplo palácio de rochas esquecido.

— Matt, nossa! Esse lugar é... — a menina de cabelos castanhos ondulados sorria, sem ao menos ter consciência de que o fazia, enquanto observava a grandiosidade indescritível do local. Após alguns segundos vasculhando sua mente por uma palavra que fosse capaz de caracterizar com honra a caverna, acabou por desistir.

— Não há palavras para descrevê-lo, não é? — o ruivo riu, passando as mãos por seus fios avermelhados. — Foi assim que me senti quando o visitei pela primeira vez.

— Como você descobriu esse lugar? — indagou Alyss, igualmente atônita e maravilhada.

— Eu e Vincent acabamos chegando até aqui sem querer enquanto fugíamos dos agentes do governo que nos perseguiam. — informou o jovem, trocando olhares com o enorme canídeo bípede negro ao seu lado, dando tapinhas leves em seu ombro. — Durante os dias que passamos aqui, tivemos de trabalhar juntos para sobreviver, e formamos uma grande dupla.

— De fato. — concordou o Zoroark, abrindo um leve sorriso.

— E quanto a... — Caroline iniciou, mas fora interrompida por Matthew.

— Segurança? — completou o garoto, como se já soubesse das dúvidas da menina. Estava seu medo tão evidente? — Não se preocupe, ninguém jamais achou este local. Passei um bom tempo aqui, e retornei muitas vezes, sem ser incomodado pela presença de um ser sequer. — afirmou, tranquilizando a jovem de cabelos negros, antes de mudar de assunto. — Bem, não irei atrapalhá-las durante seu treino. Além disso, tenho uns assuntos a resolver. — disse, trocando olhares com o lobo negro. — Nos vemos depois. Ah e, caso tenham tempo, visitem o Mercado Negro daqui. É um local bem interessante. — sorriu.

Assim, o jovem despediu-se das três garotas, abraçando Amy uma última vez antes de retraçar o caminho que tomara para chegar à caverna subterrânea. O trio então, novamente sozinho, olhou para os lados uma última vez, apenas para certificar-se de que o local era, de fato, seguro, antes de finalmente libertar seus pokémons. Alyss teve de explicar aos outros dois integrantes de seu time sobre a mais nova adição, Louis, que fora recebido com muita hospitalidade. O cachorro de pelos brancos ainda estava um pouco inseguro quanto seguir jornada com a garota que mal conhecera, mas todas as suas preocupações se esvaíram quando ele deparou-se com Augustus. Os dois passaram certo tempo conversando, já que a treinadora do poodle decidira não forçá-lo demais logo em seu primeiro dia juntos, preferindo trabalhar algumas técnicas novas com Damen e Maiko, e Caroline pouco sentia vontade de treinar seus companheiros. Dessa forma, Leroy e Firestarter tiveram a idéia de travar uma batalha amistosa para passar o tempo e treinar sua força, enquanto Louis e Augustus observavam o grupo e trocavam palavras.

O local era amplo o suficiente para que cada uma das jovens possuísse sua própria área de treino, de modo a não ficarem próximas demais umas das outras para evitar acidentes. A garota de cabelos negros encontrava-se sentada em uma rocha mais ao fundo, vez ou outra repreendendo o cavalo de crinas flamejantes por estar esforçando-se demais, algo que fora recomendado pela médica de Striaton que não fizesse, arrancando resmungos do Ponyta Shiny que, muito contrariado, acabava por parar para descansar por um momento, antes de voltar a confrontar a lontra alaranjada. Mais próximos do centro, Alyss comandava algumas ordens a seus dois pokémons, utilizando os cristais que cresciam no solo da caverna como alvo para que Maiko praticasse seus golpes de espada, enquanto Damen treinava a potência de seu Thunderbolt atingindo algumas rochas que, por fim, anulavam o golpe. O poodle e o gatinho estavam deitados um pouco mais afastados de onde ocorriam os treinos, apenas descansando e conversando descontraidamente.

Mais próxima à uma das extremidades do místico local, Amy dava continuidade ao treinamento que iniciara com Donner e Kairi em Striaton, pedindo que ambos se enfrentassem, aprimorando suas habilidades de ataque e defesa simultaneamente.

— Kairi, mude para o Force Palm! — ordenou a menina, observando orgulhosa os esforços de seus pokémons. — Donner, contra ataque com Pound!

Ambos afastaram-se por um breve momento, para que pudessem recompor-se e estabilizar suas respirações antes de novamente investirem um contra o outro, seguindo com a nova sequência de golpes que lhes fora proposta. A loba de pelos azulados tinha cerca de um metro de altura, sendo muito mais alta do que o lagarto de corpo amarelo, embora este não se intimidasse com facilidade. A cada soco desferido pela Riolu, Donner rapidamente utilizava sua cauda como um bloqueio, anulando o efeito do ataque da oponente sem que sofresse danos. Tal método de treinamento havia elevado consideravelmente a agilidade de ambos os pokémons, o que certamente lhes seria útil durante batalhas de verdade.

— Muito bem gente! — incentivava a menina de cabelos negros. — É por conta de vocês, agora. — anunciou, deixando um sorriso de canto escapar, permitindo que o Helioptile e a Riolu seguissem com o combate da maneira que preferissem.

Um sorriso travesso iluminou o rosto de Kairi, como se esta já soubesse o que fazer, enquanto Donner revidava com um olhar sério e determinado. Embora ambos demonstrassem velocidade e força semelhantes, o lagarto parecia estar mais cansado e preocupado com a estratégia bolada por sua adversária. Desse modo, decidiu atacar antes que essa pudesse lhe causar qualquer dano, saltando para trás para ampliar a distância entre os dois, de modo a fornecer-lhe uma segurança momentânea. O réptil optou por um golpe que não fosse drenar suas energias em grande quantidade, avançando contra sua companheira de time em alta velocidade, tentando atingi-la com seu Quick Attack. Surpreendeu-se ao notar que esta não parecia medir esforços para esquivar-se, apenas fitando seu oponente com ferocidade, e possuindo uma das patas estendidas em direção ao lagarto. Donner ficou confuso inicialmente, mas logo ao atingir a palma da pokémon lutadora fora capaz de compreender sua estratégia; uma aura avermelhada rodeou o corpo da loba de imediato.

— Fim de jogo, Donner. — sorriu a Riolu, vitoriosa, enquanto um feixe de energia surgia do centro de sua palma, lançando o Helioptile com força para trás.

— Donner! — Amy exclamou, preocupada, indo a seu encontro. Um pouco tonto, o lagarto amarelo abriu um sorriso, assentindo para afirmar que estava bem, antes de sua treinadora colocá-lo em seu colo para tratar de seus ferimentos superficiais. Logo depois, a jovem voltou sua atenção para sua outra pokémon. — Isso foi incrível, Kairi! — parabenizou. — Foi muito inteligente utilizar o Counter para colocar um fim à luta. — e, então, novamente fitou o Helioptile em seu colo. — Você também foi ótimo, Donner. Você está certamente muito mais veloz e forte. Estou muito orgulhosa de vocês dois. — afirmou, sorrindo para seus pokémons, que retribuíram o gesto.

Após pouco mais de meia hora de treino, as jovens decidiram fazer uma pausa para que seus pokémons recuperassem suas energias. Já eram cerca de oito horas da noite, e a lua havia assumido completamente o lugar no céu ocupado pelo sol poucas horas atrás, tornando a iluminação na caverna subterrânea um pouco mais fraca, embora esta ainda fosse suficiente, graças aos cristais, que se encarregavam de difundir a luz fraca do satélite natural por todo o subsolo. As três sentaram-se ao centro, discutindo seus planos futuros. Amy e Alyss pareciam decidir sozinhas a maior parte de seu trajeto e atividades que fariam em cada cidade, bem como o tempo médio em que permaneceriam no mesmo lugar, vez ou outra traçando rotas à lápis no antigo mapa aberto sobre a mesa. Caroline estava mais distante; seu olhar fixava-se no pedaço de papel velho, mas sua mente vagava sem rumo por milhares de outros pensamentos. A garota, ainda tomada por receios e incertezas, não possuía intenções de continuar sua jornada por muito tempo, e cada segundo que passava decidindo os planos para algo que possivelmente acabaria em breve, sentia-se mais melancólica e desmotivada; por isso, optava por manter-se parcialmente ausente na conversa.

Terminada a discussão sobre eventos posteriores, as três decidiram deixar o local de treinamento e seguir até o Mercado Negro de Nacrene, onde poderiam inscrever-se para batalhar contra a líder de ginásio; quanto mais rápido o fizessem, menos tempo precisariam ficar na cidade. Assim, retornaram todos os seus pokémons, guardando as esferas de cada um em compartimentos escondidos em sua bolsa, para que pudessem ser transportados em segurança até o local onde poderiam respirar ar puro novamente, e então começaram a refazer o caminho mostrado por Matt para que pudessem sair de seu mais novo centro de treinos.

Deixando a área principal, a mais ampla e adequada para que realizassem seus treinamentos, as jovens seguiram por um caminho terroso que se tornava cada vez mais estreito; este tinha cerca de cem metros de comprimento, e era necessário prestar atenção ao terreno acidentado para que não caíssem. Ao fim do pequeno túnel, deparavam-se com uma parede de aproximadamente dois metros de altura, contra a qual estava apoiada uma escada de madeira, a qual utilizaram para encontrar-se novamente fora do subsolo. Uma vez já na superfície, uniram suas forças para empurrar uma pedra de tamanho considerável sob o buraco que as levara até o centro de treinamento, tampando-o para escondê-lo de visitantes indesejados. Aquele esconderijo, como havia sido confirmado por Matthew, era, de fato, perfeito; nenhum desinformado seria capaz de encontrá-lo por acaso, uma vez que a entrada para esta encontrava-se em uma região muito densa da Rota abandonada para Nacrene.

As três garotas fizeram seu caminho por entre as árvores, desviando de pedras e raízes em seu percurso, precisando de cerca de vinte minutos para encontrarem-se fora da grande Floresta, de volta ao centro urbano. Àquela hora da noite, a cidade já era iluminada por luzes em sua maioria verde, como que para fazer notável a grande presença de áreas verdes por entre as ruas pouco movimentadas; Nacrene era, de fato, uma cidade muito agradável, mesmo à noite. A intenção do grupo, no entanto, era manter-se afastadas dos centros comerciais, onde havia maior concentração de pessoas, e tentar passar despercebidas pelos becos escuros.

Após andarem mais um pouco, fugindo de olhares e tentando não chamar muita atenção enquanto distanciavam-se da parte mais movimentada da cidade, as três finalmente encontravam-se em uma área onde a urbanização era bem menos presente, com estradas não asfaltadas e sem prédios ou casas, onde a iluminação era parcialmente ausente. A sua frente, estendia-se uma peculiar construção, diferente de qualquer outra que houvessem antes visto: era completamente feita de vidro – ou outro material transparente –, possuindo um formato esférico, e abrigando diversas plantas que, a julgar por seus aspectos e cores exóticos, não deveriam crescer naturalmente na região. Era no subsolo daquela estufa que se encontrava o famoso Mercado Negro de Nacrene, sobre o qual Matt tanto lhes falara.

— E como entramos? — sussurrou Alyss, preocupando-se em não ser ouvida, mesmo que não houvesse qualquer pessoa por perto.

— Matt disse que só precisamos colocar a chave eletrônica no leitor, e a porta se abrirá. — explicou a jovem de cabelos castanhos ondulados, retirando de sua mochila um cartão que lhe fora entregue pelo ruivo. Naquele momento, Amy refletiu sobre como fora, além de agradável, extremamente importante o reencontro com o amigo, uma vez que, sem sua ajuda, jamais teriam sido capazes de encontrar um local adequado para realizarem seus treinamentos e nunca conseguiriam entrar no Mercado Negro. Talvez conseguissem o último com ajuda de Juniper, porém, a aparição do garoto lhes poupara tal esforço.

— Funcionou. — sorriu a jovem de cabelos azuis ao ouvir o ‘beep’ emitido pelo leitor da porta, que começava a se abrir.

Virando-se para trás mais uma vez, apenas para ter certeza de que ninguém as observava, as garotas adentraram o local apressadamente. Com certa dificuldade, esgueiraram-se por entre a flora que crescia graciosamente no interior da estufa, buscando uma espécie de armazém onde, supostamente, eram guardadas as ferramentas necessárias para o trabalho diário na terra. Não tiveram problemas em achar a pequena construção de madeira, localizada entre duas grandes árvores, semelhantes a palmeiras, e outras plantas altas que forneciam cobertura o suficiente, de modo que tornava impossível que qualquer um do lado de fora as enxergasse.

Para abrir a porta do armazém, tiveram de utilizar novamente o cartão eletrônico, que rapidamente lhes permitiu a entrada. O interior da cabaninha era bem rústico, possuindo algumas pás e ancinhos pendurados em paredes e baldes e regadores no chão. No entanto, o que realmente interessava as jovens era o alçapão de madeira, escondido por um tapete retangular listrado. Ao levantar a tampa, depararam-se com outro buraco, pelo qual desceram através de uma escada, um pouco receosas. Quando todas estavam no estreito túnel de terra, iluminado por uma única tocha presa à parede rochosa, tornaram a fechar o alçapão, por segurança. A sua frente, havia uma única porta de metal, ao lado da qual podiam identificar um pequeno buraco esférico na parede, mecanismo com o qual já estavam familiarizadas. Amy, que estava a frente, rapidamente apanhou uma das pokébolas em seu bolso, posicionando-a na saliência, que escaneou o objeto, prontamente lhes permitindo a entrada.

O mundo por trás da porta era, no entanto, muito mais diferente do que aquele com o qual estavam acostumadas.

O chão era inteiramente de mármore branco, e as paredes eram feitas de gesso e pintadas de um tom verde com estampas florais douradas; não era como os outros Mercados que já haviam visitado, muito mais rústicos e simples, sem maiores acabamentos e majoritariamente esculpidos no solo e paredes rochosas mesmo. As instalações de vendedores deste luxuoso estabelecimento apresentavam-se também diferentes, sendo, em sua maioria, fixas e de vidro, não de madeira e panos. Outra peculiaridade era o menor número de pessoas, talvez decorrente da pouca divulgação, por segurança, da localização do espaço. Era consideravelmente menor do que o Mercado Negro de Striaton, porém, ainda assim possuía espaço o suficiente – e de sobra – para abrigar os sessenta ou setenta visitantes da área.

— Nossa... — suspirou Alyss, maravilhada, mais como um pensamento alto.

— É... Muito diferente do que já vimos antes. — afirmou Amy, esboçando um sorriso, mas logo então voltando sua atenção para as pokébolas em sua mochila, as quais apanhou rapidamente. — Kairi, Donner, vocês precisam ver isso! — exclamou, libertando ambos os monstrinhos de bolso.

— Vocês também! — disse a garota de cabelos azulados, liberando seus três companheiros.

Caroline foi a última a apanhar os três dispositivos esféricos que possuía, apertando seus botões centrais sem pressa, para libertar seus pokémons. As criaturinhas olharam ao redor, maravilhadas; jamais haviam colocado os pés em lugares tão luxuosos como aquele.

— O que é esse lugar? — indagou Leroy, com um brilho inexplicável em seus olhos negros.

— O Mercado Negro de Nacrene. — informou a jovem de cabelos negros, sorrindo para a lontrinha, e logo depois voltando sua atenção para as duas amigas. — Quanto tempo acham que devemos ficar aqui?

— Apenas o suficiente para comprar o que precisamos. — respondeu Alyss, fitando a amiga. — Creio que não mais de meia hora. — deu de ombros.

— Alyss! — a Oshawott chamou, animada, puxando a calça jeans da treinadora, apontando para o local que mais lhe interessara no novo ambiente. — O campo de batalhas está vazio! — afirmou.

— Será que você pensa em alguma outra coisa além de lutas? — a Riolu revirou os olhos, desaprovando o comportamento da meio-irmã.

— Você só não faz o mesmo por que não é tão boa quanto eu. — provocou a lontrinha azul, cruzando os braços a frente do peito estufado, em uma postura orgulhosa.

— Como?! — a loba de pelos azuis encarou a Oshawott com certa fúria visível em suas orbes esmeralda.

— É isso mesmo. — repetiu Maiko, aproximando-se da irmã. — Você nunca me venceria em uma batalha. — abriu um sorriso desafiador, certa de suas palavras.

A Riolu pareceu encarar a lontrinha com certa raiva, rosnando baixo. Detestava o excesso de orgulho da pokémon junto a qual crescera, mas se havia uma coisa que odiava mais do que seu comportamento era ser desafiada.

— Amy! — a loba voltou-se para sua treinadora, em um tom autoritário. — Vamos para o campo de batalha. Agora! — e, então, virou-se, liderando o caminho até o campo, localizado na extremidade do estabelecimento, sendo seguida por uma Maiko satisfeita e uma Amy confusa.

— Err... Eu vou comprar alguns mantimentos, encontro com vocês quando acabar. — murmurou Caroline para Alyss, que assentiu, logo então seguindo sua pokémon.

As duas jovens foram seguidas por seus outros pokémons, exceto pelo Furfrou da garota de cabelos azuis, que parecia entretido com uma conversa com Augustus. Com um suspiro, a menina de cabelos negros chamou seus companheiros, para que a acompanhassem até a barraca onde eram vendidos medicamentos especiais para os monstrinhos de bolso.

— Eu gostaria de quatro Poções, por favor. — pediu a jovem à amigável vendedora ruiva, colocando o dinheiro contado sobre a bancada de vidro. Tentou conter sua preocupação ao notar que não lhe restava muito, e ainda precisaria pagar sua estadia no hotel, que não seria barata. Porém, diferente de Alyss e Amy, não possuía qualquer talento do qual pudesse usufruir para receber certo salário.

— Care. — a voz suave do Ponyta de chamas azuladas soou, chamando a atenção da garota. — Olha só.

O cavalo estava ao lado de um cartaz de cerca de um metro de comprimento pendurado na parede azul. Neste, estavam estampados um Ponyta montado por um treinador, que atravessava uma faixa dourada; era um anúncio sobre uma corrida que ocorreria na cidade. Interessada, Caroline guardou os frascos medicinais que lhe haviam sido entregues em sua mochila, aproximando-se de Firestarter para que pudesse ler as informações junto a ele.

— É hoje à noite. — observou a jovem, identificando a data e o horário dispostos no fim do cartaz.

— Talvez ainda possamos nos inscrever. — exclamou o Ponyta, deixando um sorriso animado iluminar seu rosto. — Care, se nós vencermos, conseguiremos dinheiro suficiente e...

— Não, Fire. — a menina o interrompeu imediatamente, fitando-o com um olhar sério. — Lakota disse que você não deveria se esforçar, e nós dois sabemos como as corridas são exaustivas. — explicou.

— Mas, Care, eu estou bem... — novamente o cavalo começou, antes de ser cortado pela treinadora.

— Eu disse que não. — repetiu, firme, fazendo o Ponyta bufar, irritado. — Agora, vamos. Preciso comprar mais comida para vocês também.

Decepcionado, o cavalo acabou por seguir a menina, junto à Leroy, que deixava sua curiosidade transparecer mais do que o normal, explorando cada canto do ambiente novo. Augustus e Louis, porém, permaneceram a fitar o cartaz por mais algum tempo.

— Caroline precisa das corridas para ganhar dinheiro. — o gatinho esclareceu, observando o amigo canino com certa tristeza em seu olhar. — Como Fire ainda não se recuperou completamente, ele não pode correr. E, consequentemente, ela não pode ganhar dinheiro. — encarou o chão, melancólico.

— Bem, talvez você possa ajudá-la a conseguir mais. — sugeriu o Furfrou, sentando-se ao lado do pequeno Meowth, que agora possuía uma expressão confusa. — Você costumava roubar para sobreviver, não?

— ... Você acha que eu devo roubar para ajudá-la? — indagou Augustus, ainda um pouco incerto. — Mas Caroline disse que eu nunca mais deveria fazer isso. Disse que era errado. — encolheu-se, como se repreendesse a si mesmo por seus atos passados.

— Ás vezes, o certo é fazer a coisa errada. — Louis deu de ombros.

O Meowth permaneceu pensativo por mais alguns segundos, como se analisasse a idéia do amigo. Certamente seria capaz de furtar algumas notas para que sua treinadora possuísse o suficiente para sobreviver enquanto não podia correr com Fire. Talvez Louis estivesse certo, e roubar fosse realmente a melhor opção que possuía no momento. Augustus assentiu e agradeceu, com um novo sorriso em seu rosto, retornando ao encontro de sua treinadora.

Após comprar um pouco mais de ração especial para pokémons e alguns pokéblocos, a garota dirigiu-se, junto aos monstrinhos de bolso que a acompanhavam, até o campo de batalhas na extremidade do estabelecimento, onde a luta entre Maiko e Kairi estava ainda apenas iniciando. Uma platéia de interessados havia se formado ao redor do local onde ocorria o confronto, alguns deles até mesmo torcendo.

— Vai precisar de mais do que isso para me derrubar, maninha. — murmurou a Oshawott, que acabara de esquivar-se de um dos punhos da loba de pelos azuis, fazendo-a rosnar.

— Maiko, aproveite a proximidade para atacar com um Furry Cutter! — comandou a jovem de cabelos azuis com um sorriso no rosto.

A lontrinha assentiu, não perdendo tempo ao retirar a concha que guardava em seu cinto lateral, esta já brilhando em um tom esverdeado, e ergueu-a na direção da irmã. A Riolu, surpreendida, teve apenas tempo de saltar para trás o mais rápido que conseguira, fugindo da lâmina conduzida pela Oshawott.

— Revide com Force Palm! — proferiu rapidamente Amy, ao perceber que a pokémon oponente preparava-se para executar seu golpe uma vez mais.

Aceitando a ajuda da treinadora, Kairi estendeu ambas as patas em frente ao seu corpo, onde uma energia amarelada começou a se concentrar. O gesto, porém, não intimidou Maiko, que avançara em sua direção com sua concha envolta por uma aura verde. Com um grunhido atordoado, a loba de pelos azuis suportou o golpe da irmã, logo rugindo enfurecida, enquanto um raio de energia amarelo-claro atingiu a Oshawott que, com um grito de surpresa e dor, fora lançada alguns metros para trás.

— Maiko! — Alyss chamou, preocupada com a pokémon caída. Esta, porém, rapidamente colocou-se de pé, afirmando estar pronta para dar continuidade ao confronto. — Tudo bem, siga com Water Pulse!

— Endure! — revidou a menina de cabelos castanhos ondulados, posicionada do outro lado do campo.

Sem hesitar, a lontra azulada tornou a guardar sua concha em seu cinto, antes de unir as patas acima de sua cabeça, estufando o peito e concentrando-se ao máximo. Em poucos segundos, uma energia azulada formou-se entre suas palmas, tornando-se cada vez maior, até atingir aproximadamente o tamanho de uma bola de futebol. A Oshaowtt então lançou a esfera de água em direção à Riolu, que se mantinha em posição de defesa, com os braços cruzados a frente de seu corpo como um escudo, sendo envolta por uma aura esbranquiçada. O ataque de Maiko atingiu certeiramente seu alvo, uma vez que este mantinha-se imóvel, arrastando a loba azul alguns metros para trás, levantando uma quantidade considerável de areia. Quando a cortina de poeira baixou, podia-se ver a Riolu ainda de pé, arfando, mas sem qualquer ferimento superficial; sua técnica de defesa havia funcionado.

— Isso, Kairi! — comemorou a garota, sorrindo para sua pokémon, que continuava séria. — Agora, use o Quick Attack! — ordenou, confiante.

— Maiko, preste atenção! — alertou a menina de cabelos azuis. — Use o Water Gun para baixo para desviar! — pediu.

Uma vez mais, a Oshawott estufou o peito, concentrando seu poder de água, mas antes mesmo que pudesse abrir sua boca para disparar a forte corrente contra o chão, que a impulsionaria para cima, Kairi atingiu seu estômago com um golpe de corpo extremamente ágil. Um gemido alto de dor foi ouvido da pequena lontra quando esta foi arremessada para trás com força, arrastando seu corpo pelo solo arenoso do campo. Ali ela permaneceu, respirando com certa dificuldade, esforçando-se para erguer o peso de seu corpo novamente.

— Maiko! — Alyss gritou novamente, pronta para correr em direção à sua pokémon ferida, quando esta finalmente obteve sucesso em colocar-se de pé, virando-se para trás e assentindo. A garota, porém, ainda possuía uma expressão preocupada. — Maiko, acho que está na hora de parar... — ela sugeriu, percebendo que a Oshawott tremia.

— Te derrotar foi fácil demais. — a Riolu arfava devido ao cansaço, porém, um sorriso vitorioso estava estampado em seu rosto. Um sorriso que enfureceu a lontra de uma maneira inexplicável.

Sem qualquer comando, a pokémon aquática correu em direção à irmã, ignorando a dor que sentia em seu corpo e sacando uma vez mais sua concha; esta, agora, começava a ser envolto por energia, deixando um rastro azulado no ar. Ao mesmo tempo, a loba negra avançou contra ela, com seu punho brilhando intensamente. Uma vez mais, os golpes se chocaram; porém, ao invés de se separarem com o impacto, ambas pareciam segurar uma o ataque da outra. Maiko utilizava toda a sua força restante para tentar forçar o punho da Riolu para baixo, resistindo seu golpe, mas a Riolu parecia pronta para finalizar aquela batalha.

— Desista, Maiko, e aceite: eu venci. — provocou a Riolu, ainda sorrindo.

— Não! — gritou a Oshawott, com raiva perceptível em sua voz. — Não acabou ainda! — afirmou.

E, de repente, uma aura esbranquiçada envolveu por completo o corpo da lontrinha azulada, cegando temporariamente todos os presentes. Suspiros surpresos e confusos, bem como comentários sobre o que estava ocorrendo, podiam ser ouvidos entre a platéia. Até mesmo Kairi estava atônita, baixando sua guarda por um momento para tentar compreender o que ocorria com a irmã que, agora, além de emitir uma luz intensa, começava a crescer e mudar de forma.

— Maiko...? — murmurou a Riolu, com os olhos verdes arregalados.

— Não acabou ainda. — repetiu a lontra azul, dessa vez mais calmamente, enquanto um sentimento maravilhoso a invadia; era como se fosse imparável e invencível, como se nada pudesse ficar a sua frente. — E eu vou vencer. — ela afirmou, aproveitando o momento de distração de Kairi para continuar se golpe, atingindo o peito da irmã com sua lâmina azulada, lançando-a para trás com um grito de desespero.

O brilho, por fim, cessou, revelando uma criatura diferente da pequena Oshawott que antes ali batalhava. A lontra azul havia crescido, ficando até mesmo um pouco mais alta do que a Riolu, e sua cauda também estava mais longa. Uma espécie de saia de pelos, do mesmo tom de azul de suas orelhas e mechas no cabelo branco – agora também mais comprido –, havia crescido ao redor de suas pernas, cobrindo seus joelhos. O cinto de couro em sua cintura agora abrigava duas conchas ao invés de uma única, tornando-a duplamente mais ameaçadora. O sarashi – espécie de blusa de faixas que envolvia seus peitos – havia tornado-se sutilmente mais apertado devido a seu crescimento, porém, aquilo não a incomodava no momento. A ponta de suas patas dianteiras e traseiras eram negras, como se utilizasse luvas e botas, e o restante de seu corpo humanóide apresentava-se em um tom azul turquesa. E, embora cansada e ferida devido à batalha, seus olhos verdes pareciam ter adquirido um novo brilho.

A Dewott fitava sua irmã caída no solo do campo de batalha, a alguns metros de distância. Não pôde evitar o sorriso que se formou em seu rosto ao ouvir os assovios e gritos de torcida da platéia, que proferiam seu nome. Lentamente, a Riolu ferida ergueu sua cabeça, apenas para confirmar que aquela criatura tão diferente, porém tão semelhante, era sua irmã.

— Kairi! — a voz preocupada da treinadora de cabelos castanhos ondulados pôde ser ouvida, enquanto esta corria até sua pokémon machucada. — Você está bem? — indagou, oferecendo ajuda à loba de pelos azuis, que logo recusou-a.

— Eu... Consigo... Me levantar. — murmurou a Riolu, fraca. Tentou conter, sem sucesso, seus gemidos de dor, devido aos hematomas que haviam se formado em seu corpo, causados pelos ataques contínuos que recebera, mas seu orgulho era grande demais para deixar-se abalar pela dor. Com certo esforço, logo estava de pé, recorrendo ao apoio de Amy para não cair.

— Maiko, você... — chegou então a vez de Alyss dirigir-se até a Dewott, analisando sua nova aparência. — Evoluiu. — completou, com um sorriso brilhante em seu rosto.

A lontra azulada esboçou um sorriso fraco, porém, deixou seu cansaço transparecer através de um grunhido; a luta havia sido incrivelmente difícil, resultando em alguns ferimentos superficiais e dores em diversos locais de seu corpo. Contudo, apear de sua fraqueza física, sua alma era inabalável, transbordando o orgulho que a pokémon sentia por si mesma. Soltou mais um suspiro atordoado quando sentiu os braços de sua treinadora a envolverem, estranhando o gesto, mas esforçou-se para retribuí-lo.

— Parabéns pela batalha, Amy. — exclamou a menina de cabelos azuis, libertando sua Dewott do abraço e virando sua atenção para a amiga. — Você e Kairi foram incríveis. — estendeu-lhe a mão.

— Obrigada, Alyss. — sorriu a jovem de cabelos castanhos, apertando a mão da outra. — Você e Maiko também. Ah, e parabéns pela evolução. — congratulou.

— Você não terá tanta sorte da próxima vez. — murmurou a Riolu, fitando a meio-irmã com certa fúria.

Ao ouvir o comentário da irmã, a Dewott sorriu, parecendo ignorá-lo, e aproximou-se da loba. A princípio, a Riolu parecia confusa, erguendo uma sobrancelha, e sua confusão logo se transformou em surpresa ao ver Maiko estender-se a mão.

— Você lutou bem. — murmurou a lontra de pelos azuis.

— O-obrigada, Maiko. — respondeu Kairi, aos poucos deixando que sua desconfiança se esvaísse e seu semblante se tornasse menos sério, sendo iluminado por um sorriso de canto. — Você foi melhor ainda. — afirmou, abaixando a cabeça em um gesto de respeito.

— Nossa, vocês têm os mesmos olhos. — observou Leroy, que acabara de interromper o momento familiar das duas pokémons.

— E as mesmas orelhas. — completou a Riolu, desviando sua atenção para a lontra alaranjada por um breve momento, antes de envolver a irmã em um abraço.

— Ei, vocês duas! — chamou a menina de cabelos castanhos ondulados, logo conseguindo a atenção de ambas. — Vamos cuidar desses machucados. — ela sorria, abrindo uma das poções que guardava em sua mochila.

Trocando um último sorriso, as irmãs caminharam juntas até suas treinadoras. E, embora nenhuma delas dissesse, ambas eram agradecidas por ter, em um mundo tão caótico, alguém com quem pudessem sempre contar; ás vezes brigavam, e as disputas infantis eram inevitáveis. Mas, sempre encontrariam forças uma na outra, e jamais iriam se separar, não importassem as circunstâncias.

****

— Boa noite, gente. — murmurou a jovem de cabelos negros, sonolenta, cobrindo-se com os quentes lençóis verdes da cama de casal.

As luzes estavam apagadas no quarto de Caroline, as cortinas da única ampla janela devidamente fechadas, bem como a porta trancada. Sob o carpete verde listrado, descansava serenamente o cavalo branco de crina azul flamejante; desde o incidente no Contest, passara a dedicar-se mais a suas noites de sono, aproveitando-as para recuperar sua energia perdida durante o dia. Leroy acomodava-se aos pés da treinadora, na borda da cama, enrolado em seu próprio corpo para manter-se aquecido. Já o Meowth preferia dormir próximo à garota, pela qual começava a criar grande apego, sentindo-se mais seguro ao seu lado.

Naquela noite, porém, ele não dormia. Apenas aguardava.

Exausta, Caroline não demorou a cair no sono; sua respiração pesada tornava-se mais leve e seus batimentos cardíacos mais lentos, enquanto seu corpo se entregava ao cansaço. Ao perceber que a garota havia adormecido, o Meowth levantou-se, saltando da cama e movimentando-se pela suíte sem fazer qualquer tipo de barulho; aprendera a ser sorrateiro nas noites que passara com o grupo de ladrões que o abrigava. Dirigiu-se até o banheiro, esgueirando-se por um duto de ventilação cujo a proteção havia sido quebrada. Movimentou-se silenciosamente pelos tubos, que o levaram ao lado de fora do quarto.

Uma vez nos corredores pouco iluminados do hotel, o gatinho identificou sua saída de emergência mais próxima, dirigindo-se até esta sem muito hesitar. A sensação de retornar a fazer aquilo que tanto amava era maravilhosa; relembrava-se dos velhos tempos, antes de separar-se dos amigos ladrões que o haviam ensinado a sobreviver. E, com aquele pensamento em mente, uma nova música ecoou pela cabeça de Augustus, que involuntariamente começou a cantarolar.

Na na na na na na na, — iniciou, baixinho para não atrair atenção. — All dressed up for a hit and run.

Naquela noite, ele voltava à ativa.


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Notas finais do capítulo

Eeee é isso o/ Gostaram? Usei esse capítulo para explicar melhor a relação da Kairi e da Maiko como irmãs, e também para contar um pouco mais sobre o passado do Augustus. Enfim, nos vemos sexta que vem! Comentários, críticas, reviews... são todos muito bem vindos! Até a próxima o/