Beautiful and Dangerous escrita por Rory Gilmore


Capítulo 44
43. Um Pedido


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta!



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– Você não tem que fazer isso todos os dias. – disse Lila após entrar no carro verde de Mitchell Wate.

Ela estava irritada, mas talvez isso não fosse novidade para ninguém (até mesmo para o próprio Mitchell, que não a conhecia há muito tempo), no entanto, aquele dia de trabalho havia sido especialmente frustrante. Dois clientes haviam reclamado por causa da velocidade que a comida levava para ficar pronta, suas gorjetas foram baixas e, para completar, ela tinha derrubado uma tigela de molho no chão e acabara com as barras de seu jeans favorito sujas de vermelho. Então sim, ela não estava apenas de mal humor, estava de péssimo humor.

E, claro, tendia a descontar isso nas pessoas ao seu redor.

– E você poderia ser mais gentil comigo quando eu venho até aqui para te buscar. Só estou tentando ser legal.

Esse era o problema, ele tentava ser legal demais e, realmente, parecia ser legal demais para que não houvesse nada de errado com ele. Lila suspirou e voltou os olhos para encará-lo enquanto ele dava a partida.

– Ok, vamos esclarecer as coisas, há quase cinco dias você me disse que queria passar um tempo comigo, simplesmente para falar sobre escrita e até agora ainda não chegamos a discutir o assunto. É normal que eu ache isso estranho.

– Sim, mas é você quem entra nesse carro toda vez e mal troca duas palavras comigo. – disse ele na defensiva - Eu ouço um insulto e vejo um revirar de olhos. Isso é tudo. É normal que eu fique receoso em abordar qualquer assunto com você.

Lila suspirou e ergueu ambas as mãos em sinal de rendição.

– Tudo bem, gênio, você venceu! Sou uma pessoa horrível, agora diga alguma coisa sobre literatura antes que eu mude de ideia e resolva saltar de um carro em movimento.

Mitchell bufou.

– “O Bebê de Rosemary”. – disse ele – Você já leu?

Ela franziu o cenho.

– Não. – houve uma pausa e um balançar incrédulo de cabeça por parte da garota - Você gosta desse tipo de livro?

– É um clássico do terror e suspense. De que tipo de livros você gosta?

– Romances.

Mitchell balançou a cabeça afirmativamente, como se, de certa forma, esperasse por essa resposta.

– Legal. – ele pareceu pensar por um instante antes de voltar a falar - Se você quiser ler o meu primeiro rascunho de um romance é só pegar dentro da minha mochila no banco de trás.

Inclinando-se para trás Lila alcançou a alça da mochila preta de Mitchell e a puxou para seu seu colo, depois de abri-la ela começou a revirar o conteúdo, empurrando os diversos cadernos para conseguir agarrar o bolo de folhas sulfite datilografadas. Deveriam ter mais ou menos quatrocentas páginas e a massa densa de folhas era pesada.

Ela lançou a mochila de volta ao banco de trás e então folheou rapidamente o conteúdo do romance.

– Nossa, você escreveu bastante. – murmurou a moça.

Mitchell simplesmente deu de ombros.

– Isso não quer dizer que está bom.

– Claro que não. – disse Lila, girando os olhos.

– Agora é sua vez: o que você escreve?

Tudo, ela quis responder, mas resolveu elaborar melhor sua resposta. Em primeiro lugar ela não escrevia de tudo e em segundo nem tudo o que ela escrevia era bom o suficiente para ser lido. Principalmente não seus devaneios “quase literários” que apareciam vez e outra por entre suas anotações das aulas.

– Poemas e textos científicos em sua maioria.

– Posso ver qualquer dia desses?

– Os textos sim, os poemas não. – quando Mitchell lhe deu um olhar de canto ela se sentiu um pouco egoísta - Desculpe é que eles são meio pessoais.

Ele simplesmente acenou com a cabeça enquanto estacionava diante do prédio dela.

– Eu entendo. Bem, chegamos, acho que essa é a sua parada. – houve uma pausa, em que ambos não tinham mais nada para dizer e, ficaram apenas encarando a paisagem pelo vidro dianteiro do carro, enquanto o estranho silêncio os rondava - Vou ficar feliz em receber a sua opinião sobre meu livro. – disse o rapaz por fim.

– Vou ler e assim que terminar, eu te telefono.

Lila Jane agarrou sua bolsa e colocou uma das mãos na porta, pronta para sair do veiculo e ir para casa, querendo mais do que tudo ter Macon lhe esperando do lado de fora, pronto para salvá-la de sua falta de dom com a comunicação social, no entanto, assim que ela abriu a porta deparou-se com alguém diferente. Marian.

– Ei, Lils. – disse a amiga, com um enorme sorriso no rosto - Quem é esse?

Houve um breve suspiro. Era de se esperar que não demoraria muito tempo para que Marian ou qualquer outra pessoa que a conhecesse, eventualmente acabasse por vê-la com Mitchell e, se iniciassem as inevitáveis conversas sobre “seguir em frente” com “alguém novo”. Aquilo não era algo que Lila quisesse ouvir.

– Ah, Marian, esse é Mitchell Wate. Mitchell essa é a minha melhor amiga Marian Ashcroft.

Marian acenou para o rapaz, inicialmente oferecendo-lhe um sorriso doce, que logo foi aplacado por suas palavras.

– Oi, você. Vou deixar tudo bem claro, quebre o coração da minha amiga e quebro a sua cara.

Os olhos de Mitchell se arregalaram e as bochechas de Lila ficaram vermelhas.

– Nossa! – exclamou ele - Bom, vindo de uma amiga da Lila acho que esse ataque verbal era de se esperar.

A morena deu de ombros.

– Não me entenda mal, só estou me certificando de que você sabe disso. Sou certificada em combater idiotas que queiram magoar a minha Lila.

– Marian! – advertiu ela.

– Vamos lá, querida, é para isso que as amigas servem. Agora chame seu amigo para compartilhar conosco um café expresso.

Lila olhou entre os dois e apertou a alça da bolsa entre os dedos, em um movimento de nervosismo. Ela não estava pronta para deixar Mitchell entrar em sua vida, nem ele nem ninguém. Não se sentia pronta para dividir seu tempo com nenhuma outra pessoa, senão Macon Ravenwood. Ainda trabalhava em encontrar uma solução para tê-lo de volta e, não desistira e nem tão cedo desistiria de fazê-lo.

– Eu não sei se essa é uma boa ideia, May. – disse a moça.

– Acredite em mim é uma ótima ideia.

...

Era tarde da noite quando Lila Evers e Marian Ashcroft trabalhavam na Lunae Libri.

– Então, Mitchell já teve coragem para te convidar para sair com ele? – perguntou Marian enquanto passava as folhas de um livro antigo.

Lila trabalhava empacotando os pedidos de todos os seres Sobrenaturais existentes, enquanto a amiga dava baixa na devolutiva de livros e pergaminhos. Ela pegou um pacote de papel pardo e colocou dentro dele um pesado exemplar sobre conjuros da Luz.

– Ele convidou, eu disse para você. Quando foi à lanchonete.

– Sim, mas isso já faz semanas! Estou falando de outra tentativa uma de verdade e uma que faça você aceitar. Seria uma boa coisa, Lila.

Seria uma boa coisa, ela estava cansada daquela frase. Colocou o último pacote que fizera na pilha do correio e passou ao bilhete seguinte, procurando pelo título da obra solicitada, antes de perceber que estava lendo uma letra conhecida. A letra cuidadosa de Macon. Seu coração deu um salto no peito quando ela levou os olhos ao fim da folha de papel e se deparou com o nome dele, assinado exatamente como ela se lembrava.

– O que houve? – perguntou Marian, mas como não obteve respostas, aproximou-se da amiga, tentando, sem sucesso, ler o bilhete por cima de seu ombro - Lila?

– Olhe para isso. – disse ela erguendo a folha - Macon pediu um livro. Acho que vou fazer essa entrega pessoalmente.

Quase que de imediato May balançou a cabeça de maneira frenética.

– Não, nem pense nisso! Você não pode ir até lá e vê-lo novamente, vai apenas fazer com que você fique depressiva outra vez.

O coração de Lila batia de forma dolorosa contra o peito. Precisava tanto vê-lo. Queria tanto abraçá-lo, beijá-lo e sentar-se para simplesmente compartilhar uma conversa com ele...

– Mas essa era exatamente a oportunidade pela qual eu estava esperando, eu preciso ver Macon uma última vez.

– Não, Lila. – insistiu a outra, a preocupação evidente em sua voz e em sua expressão - Não faça isso. Procure o livro e eu o entrego a ele.

Lila Jane franziu o cenho.

– Se ele é perigoso para mim você não acha que poderia ser perigoso para você?

Os olhos de Marian se baixaram, ela deixou o livro que segurava sobre a mesa e passou os braços ao redor da amiga.

– Sim, eu acho, mas de toda forma farei isso. Por você.

– Obrigada, Marian.

Ela não concordava com aquilo, ainda queria ver Macon, mas saber que Marian faria isso por ela e que verificaria se ele estava bem já era um passo a ser dado.

...

Marian não tinha medo do escuro, mas ela certamente temia as criaturas que se escondiam nele. Ela odiava ter que vagar sozinha pelos Túneis, mas havia prometido a Jane que faria pessoalmente a entrega daquela noite.

Ela andou rapidamente pelos corredores sinuosos, utilizando-se de uma lanterna para manter seu caminho iluminado. Não demorou muito tempo para que ela chegasse a porta que desejava, bateu suavemente na madeira e depois entrou dentro do pequeno escritório.

Macon Ravenwood estava sentado na cadeira de sua escrivaninha com um livro de feitiços aberto a sua frente, assim que ela entrou no recinto ele se virou.

– Ah. – resmungou Macon com uma expressão de decepção – É apenas você.

– E quem você esperava que fosse? – ela estendeu para ele o pacote de papel pardo que tinha nas mãos – Trouxe o seu pedido, espero que seja a edição correta.

Ele pegou o pacote das mãos da Guardiã e o jogou sobre a pilha de livros e pergaminhos que havia em cima da poltrona verde no canto da sala.

– Tanto faz a edição. – murmurou ele.

Um suspiro de frustração escapou pelos lábios de Marian, pois ela sabia que tanto Macon quanto Lila nutriam esse sentimento depressivo do amor perdido dentro de si e isso parecia ter alterado o humor de ambos da mesma forma. Inicialmente ela pensara que teria medo de encarar Macon Ravenwood sabendo que ele já havia passado por sua Transformação, mas ele ainda parecia o velho Macon e isso não deixou que seu coração se descompassasse de pavor.

– Estou indo embora. – anunciou Marian.

– Espere. – disse Macon imediatamente – Como ela está?

Ela se virou para o Incubus e viu o desespero refletindo nos olhos dele. Ela sentia pena daquele rapaz, se ele soubesse o quanto Lila estava arrasada, o quanto sentia sua falta...

– Ela está bem, Macon, mas eu não podia deixar que ela viesse até aqui para fazer a sua entrega. Nós dois sabemos que você a afastou de si por uma razão e como ambos prezamos pela segurança de Lila Jane tentamos mantê-la segura da nossa própria forma. Eu não vou mentir e dizer que quando você a deixou não levou uma parte do coração dela, mas nas últimas semanas ela tem começado a se recuperar lentamente e ver você destruiria toda essa fagulha de recuperação que ela conseguiu obter.

– Eu não a culpo, Marian, por querer o bem de Jane, na verdade eu a agradeço por isso, algumas vezes me pego tento o desejo imprudente de vê-la. Como hoje, por exemplo. Eu a amo com toda a minha alma e é por isso que pedi que nunca mais se aproximasse de mim, cometi um erro muito grande ao pensar que podia amá-la como qualquer humano faria. – ele levou as mãos aos cabelos, puxando os fios para trás com claro nervosismo – Não sou humano e nem digno de tê-la.

Marian mordeu o lábio, pensando em Lila sozinha em seu apartamento derrubando lágrimas cheias de dor, uma dor tão real e destruidora quanto a que Macon demonstrava naquele momento.

– Eu sinto muito por vocês dois, Macon.

Ele assentiu e depois ergueu a cabeça.

– Quem é o rapaz que anda saindo com ela?

– Você tem observado Lila Jane? – a expressão de indiferença de Macon foi tão impactante que ela resolveu continuar como se aquilo não a surpreendesse em um pouco – É Mitchell Wate, eles são apenas amigos.

Não houve resposta por um longo tempo até Macon parecer se dar por vencido, se jogar novamente na cadeira e voltar a falar.

– Eu sou um monstro, Marian, achei que não seria, mas sou. Eu matei um homem. – confessou ele.

Ele apertou a pote do nariz e se inclinou para frente. Estava agitado, aflito e corrompido pelo próprio sofrimento.

– Vaguei pelas ruas da cidade com minha sede por sangue queimando como nunca jamais havia acontecido. Fui fraco, ataquei uma pessoa e compreendi que mesmo que quisesse muito eu jamais poderia me aproximar da mulher que amo novamente e colocá-la em perigo.

Apertando a alça da bolsa Marian se dirigiu a porta e parou sobre a soleira por um instante.

– Você tem razão, a segurança de Lila Jane é a coisa mais importante no momento, portanto espero que nada de ruim aconteça com ela por causa do seu mundo, Macon. Adeus.

Ela fechou a porta do escritório e disparou em direção a saída que ficava próxima a universidade, podia não temer o escuro, mas não se arriscaria nele por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Se você está lendo isso e, mesmo depois dessa longa pausa, não desistiu dessa história então eu lhe mando meus profundos agradecimentos. Obrigada a todos que estão lendo e, continuam a ler. E muito obrigada pelos comentários.
Devo mais do que mil desculpas para vocês! Eu pensei (e estava muito enganada) que esse semestre seria mais fácil, porém estou tendo aulas muito teóricas e fiz muitas horas de estágio (que agora felizmente já terminou). Enfim, estive sem tempo para respirar nos últimos meses, espero que vocês me entendam, mas não vou em momento algum desistir dessa história.
Vou terminá-la e se por algum motivo e fizer outra pausa, saibam que é por conta da minha faculdade.
Devo um grande obrigada novamente. Se vocês encontrarem erros ortográficos ou de concordância, me avisem que eu arrumo. Comentários são sempre muitíssimo apreciados.



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