Algumas pessoas dizem que amar é deixar o outro livre, é saber a hora certa de dizer adeus, mas Lila Jane sempre pensou que na verdade amar é lutar com todas as suas forças por aquele com quem você se importa. Ela levaria um longo tempo para compreender que desprender-se de uma pessoa pensando unicamente no bem dela é o ato de amor mais bonito possível. Mas também é o mais doloroso.

A verdade que necessita ser dita é que ela tanto não fazia ideia do que aquele dia em particular lhe traria quanto não estava pronta para deixá-lo ir, ou para ser deixada para trás. Talvez somente aqueles que já se sentiram profundamente apaixonados por alguém possam saber exatamente o que ela sentiu naquela noite quente de primavera.

Por volta das sete horas, quando o sol já havia ido se deitar e a lua cheia reinava em pleno esplendor, a estudante de História Americana deixou seu dormitório para trás com rumo ao local marcado para seu encontro com Macon.

Era verdade que ela já sabia que aquele momento estava chegando, mas ultimamente Lila não quisera pensar sobre a Transformação o sobre seu tempo que se esgotava a cada batida do relógio. Suas horas na Lunae Libri haviam se tornado mais extensas, seus momentos com Macon mais frequentes e sua vida social cada vez mais inexistente.

Ela não se importava de não sair com seus colegas de classe ou de não andar conversando muito nem mesmo com a própria Marian, depois de Macon a única coisa que lhe importava era passar por aquele semestre com notas decentes. Lila pensava a cada dia mais na falta que sua mãe lhe fazia, perder uma pessoa nunca era fácil, mas algumas dores eram tão intensas que pareciam nunca te deixar.

Ao ver Macon Ravenwood parado diante de um enorme carvalho ela abriu um sorriso, correu até ele atirou-se em seus braços. O rapaz a apertou contra seu peito por um momento e depois se afastou dela, arrumou seus óculos sobre o nariz e depois beijou-lhe os lábios. Quando se separaram Lila deixou que seus dedos brincassem com as pontinhas do cabelo dele que caiam como linguetas negras por sua testa.

– Sobre o que você queria conversar? – perguntou ela.

Macon suspirou, deu um passo para trás e se virou para a árvore, ela podia ver o quanto ele se preparava para dizer o que queria e começou a temer, pois belas palavras nunca se seguiam de uma hesitação tão grande e cheia de tensão como aquela.

– Jane, eu não queria fazer isso. – começou ele – Mas você sabe que não temos muito mais tempo e que por mais que eu confie em sua incrível capacidade como pesquisadora, nunca encontraremos uma solução assim tão rápido.

Lila umedeceu os lábios, criando coragem para fazer-lhe a pergunta cuja resposta marcaria definitivamente suas vidas.

– O que você está dizendo?

– Que precisamos terminar com isso. Chegou a hora de dizer adeus.

Ela não pensou no que fazia. Lila Jane sentiu um misto de sentimentos tão grande invadi-la que ela não sabia nem mesmo diferenciar as coisas que passavam em sua cabeça. Seus olhos se encheram de água, suas mãos começaram a tremer e seus joelhos fraquejaram. O único reflexo que ela possuiu foi o de desferir um tapa contra o rosto do homem que amava.

– Não seja covarde, Macon! – gritou ela em meio ao turbilhão de lágrimas que começara a escorrer por seus olhos - Eu pensei que você estivesse disposto à lutar ao meu lado por tudo o que temos. E o amor que você diz sentir por mim, onde ele foi parar?

Estendendo as mãos para ela, Macon agarrou-lhe a cintura e a puxou contra si, deixando que Lila Jane enterrasse o rosto em sua camisa e soluçasse contra seu peito, como uma criança perdida que precisava urgentemente de amparo. Ela sentia raiva de si mesma por ter batido nele, mas queria de alguma forma (qualquer forma) fazê-lo perceber tudo o que estava jogando para o alto.

Se Macon Ravenwood fosse embora, ele a deixaria em pequenos pedaços, quebrada e estilhaçada como um vidro que se espatifara no chão.

– Jane, o meu amor por você é maior do que qualquer outra coisa, se eu estou lhe dizendo adeus é porque é necessário. É porque você estará melhor sem mim, e saber que você está feliz e segura é a única coisa que me importa nesse momento.

– Mas não estarei feliz. – insistiu ela – Jamais conseguirei ser completamente feliz novamente se você me deixar. Já perdi minha mãe, não posso perder você.

Ele ergueu seu queixo sobre dois dedos, até que pudesse encarar seus brilhantes olhos azuis, com aquela intensidade quente de suas íris negras.

– Me escute, você tem uma segunda chance, pode voltar a ser feliz, pode reconstruir sua vida, como tenho certeza de que fará, mas se serve de consolo isso é tão difícil para mim quanto está sendo para você. Eu te amei para nunca mais amar ninguém. – murmurou ele – Você foi a melhor parte da minha vida, mas chegou a hora que nós dois sabíamos que estava próxima: a de dizer adeus.

– Não faça isso comigo. – pediu ela – Podemos continuar procurando por respostas. É muito cedo para desistir e a sua mãe disse...

– Minha mãe acredita em contos de fadas, Jane. Não há nada que se possa fazer.

Ela enterrou o rosto nas mãos, tentando pensar, querendo que algum argumento valioso aparecesse em sua mente e que ela pudesse fazê-lo voltar atrás em sua decisão.

– Eu não me importo de não viver muita coisa contanto que eu esteja ao seu lado, Macon, você sabe disso. Você é o homem que eu amo e isso não vai mudar tão facilmente, você é tudo o que sempre quis.

Ele balançou a cabeça negativamente, discordando dela.

– Você merece uma linda vida, Jane. Não um monstro. – ele fez uma pausa e então retornou a voltar os olhos para ela – Você não vai sobreviver se estiver comigo, farei com você o mesmo que meu irmão fez com a namorada depois da Transformação. Vou rasgá-la ao meio e não vou ser capaz de me arrepender disso.

– Macon, você não é nada parecido com Hunting e sabe disso. Não vai conseguir fazer com que as crônicas dos seus parentes me façam te achar menos digno. Não vai conseguir me assustar.

Tomando o rosto dela em suas mãos Macon beijou sua testa, com os olhos cerrados e o corpo tenso, a dor do momento clara em seu rosto.

– Eu preciso que você me entenda, Jane. – sussurrou ele – Isso é para o seu bem.

Soltando-a abruptamente Macon começou a andar de costas no meio da escuridão e depois virou-se, caminhando rapidamente e misturando-se as sombras. Lila pôs-se a correr atrás dele, mas ela não foi rápida o suficiente, não importa o quanto ela tivesse se esforçado para segui-lo, se Macon não quisesse ser visto ele não seria.

Parando com seu corpo inteiro doendo por conta da corrida ela percebeu que nunca mais o alcançaria.