Voce ainda vai me amar? escrita por Francielle Santana


Capítulo 10
Capítulo 10




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Chegamos num parque da cidade. Meio de semana e pela manhã não era exatamente o momento com mais movimentação. Ele estacionou e fomos caminhando até uma arvore que ficava próximo a um lago, que hoje estava bem mais bonito. É, acho que o prefeito resolveu cuidar mais do que tinha. Observei como ele era calmo. Algumas poucas crianças brincavam no pedalinho com alguns acompanhantes. Tudo tao... silencioso. Parecia que uma musica suave tocava e só eu estava fora de sintonia. Meus pensamentos, angustias, incertezas, dançavam dentro de mim, e parecia mais um rock ou musica eletrônica. Completamente fora do compasso.

– E então, como estamos?

– Estamos? - Indaguei quase sussurrando sem tirar os olhos de uma das crianças.

– Mari... - Ele disse prolongando meu apelido, de uma forma que parecia querer explicar que estava sofrendo com tudo aquilo, que ele nem sabia que era tao tudo assim.- Primeiro aquele momento incrivel na praia, depois voce some, e volta. Discute com meu melhor amigo e sai chorando daquele jeito. Não atende meus telefonemas, nao responde minhas mensagens, e-mail. Marina - ele se posicionou na minha frente - nem para a escola voce foi. O que te faria mudar tanto? Por que sempre existe algo entre nós? Quando parece que vai ficar tudo bem, voce some, fica estranha, se afasta. Eu não consigo entender, e olhe que eu quero muito...

Respirei fundo.

– André, eu sinto muito estar fazendo essa bagunça na sua cabeça, eu realmente não queria. Isso não estava em meus planos. Houve um passado entre eu e o Sergio. Nós fomos namorados, só que terminamos mal, e ver ele me tirou do serio. Me descontrolei.

André virou as costas e ficou admirando o rio, assim como eu estava tentando fazer.

– Isso quer dizer que voce ainda...

– Não... - fui até ele e me encostei no seu braço- Eu não gosto dele. Só fui uma idiota. Todos temos decepções, e quando mal curadas, qualquer abalo gera transtorno. Ver ele, e ainda por cima sendo seu amigo me deixou um tanto transtornada, só preciso de um tempo.

Ele se virou e me abraçou, senti o alivio crescente nele a medida que ficava mais angustiada. Uma parte ja foi dita, mas era a menor parte. Pelo menos por um tempo tudo ia ficar calmo, ele iria me respeitar. Só não sei até quando.

***

Os dias foram se arrastando como dava. Consegui depois de um tempo olhar para o Sergio sem ter vontade de vomitar. O que não me impedia de evita-lo. Comecei a ir a mais eventos como aquele, com o André. Ainda bem que os temas não eram sempre sobre relacionamentos. Me sentiria desconfortável. Comecei a ter novos amigos, que me acolheram super bem. Me senti um pouco falsa com eles. Sentia que estava apresentando uma Marina inexistente e que tudo a qualquer momento poderia se desfazer. Se aquilo era um sonho, eu queria vive-lo ao máximo antes que o despertador da realidade me despertasse. Com o André estava na mesma, não ficávamos, não namorávamos, ele apenas me esperava. Como sou egoísta.

***

– Mãaae, onde esta meu bronzeador?

– No banheiro, filha. Pegou o protetor de Gaby?

– Sim.

O dia nao poderia ter começado mais lindo. O sol estava brilhante, no seu esplendor. Era cedo, e André tinha nos convidado para dar um passeio na praia. A Gaby estava linda e toda animada. Criança e seu amor pelo simples. Dei um beijo na minha mãe e entrei no carro. Já sentia aquele cheiro maravilhoso de água salgada. Quando criança só eu parecia sentir esse cheiro. Me encostava na janela do carro dela e inspirava até não ter mais espaço dentro de mim. Sorri lembrando o quanto era bom. André parou o carro e nos ajudou com algumas coisas. Achamos um espaço legal, sem muita movimentação. Parecíamos uma familia de verdade.

– Voce parece mãe dela.

Fui tomada pelo susto. André estava nos olhando enquanto eu dava agua a ela.

– É que me apeguei muito a ela. E como minha mãe trabalha e tudo mais... eu tive que cuidar dela a maior parte do tempo, sabe?!

– É bonito de ver.

Sorri tentando aliviar a tensão. O tempo estava quente e eu decidi tirar a blusa de Gaby e repassar o protetor, mas lembrei que tinha colocado ele dentro da minha bolsa que ficou no carro. Ninguem merece.

– André, você pode ficar com ela? Tenho que pegar o protetor dela no carro.

Ele assentiu e carregou a Gaby. Com o passar do tempo ele havia pegado o jeito. Só ela que ainda ficava encarando ele o tempo inteiro, de uma forma engraçada.

– Vem ca, ela não gosta de mim, não é? Marina, ela nunca ri comigo...

– Vai ver ela aprendeu com a Kamila a te achar estranho.

Ri enquanto ia até o carro. Mas ele simplesmente não estava na bolsa. Só posso ter perdido, que dom. Será que eu realmente coloquei na bolsa? Vi uma mercearia no posto de gasolina proximo de onde estava e fui até la comprar outro, era o jeito. Quando cheguei André estava emitindo uns sons estranhos.

– André?

– Oi, oi, é... eu estava tentando fazer ela rir ainda. Por sinal, achei o protetor dela e ja passei. Não se preocupe, passei direitinho. Posso te responder a localização de todos os sinais dela. E não tinha como te avisar ja que você deixou o celular aqui, não é?

Suspirei de indignação. Comprei um protetor desnecessariamente, me locomovi desnecessariamente. Queria gritar necessariamente.

– Para de rir da minha cara, André! Me da minha filha...

– Ja é sua filha?! - ele se virou para a Gaby - Olha, não fica com saudades do pai, tá? Voce só vai pra mãe um pouco e depois volta. E ai, vai pegar ela ou não?

Ele estava estendendo ela pra mim, percebi que fiquei sem reação. Eu tinha acabado de dizer que ela era minha filha, e ele levou na brincadeira. Que sorte. Mas se auto intitular pai dela era covardia demais. Meu coração não aguenta desse jeito.

*

Depois de alguns mergulhos, voltamos. Ja estava quase na hora do almoço. Como fomos cedo, aproveitamos bastante.

– Marina, acho que temos visita...

Nem precisaria levantar os olhos, o tom da voz de André era o suficiente.

– E ai André?

Era o Sergio, claro. Ele tinha acabado de sair da água. Estava com uma prancha nas mãos. Se eu lembrasse que ele tentava surfar desde quando namorávamos, eu pensava melhor antes de escolher aquela praia.

– Oi Marina.

– Oi Sergio. Tudo bom?!

– Tudo sim. Que garotinha bonita.

– Minha irmã - Falei enquanto ele tentava se aproximar dela, mas ela recusou virando o rosto. Era a primeira vez que eles se viam e que eu os via juntos. Eles se pareciam tanto. Parece seriamente que o Deus do André deixa ele cego pra não perceber.

– Se ela gostasse de você, Sergio. Eu não sei o que faria da minha vida.

Eu continuei cuidando dela e arrumando tudo que estava jogado, brinquedos, palito de picole, e meus fragmentos de bom senso.

– Cara, eu sabia que ja tinha visto aquela marca em algum lugar.

– Voce ta bem, André?! - Sergio perguntou, e eu não pude evitar. Ele tinha uma marca, como sinal na barriga. Me lembrei do que o André falou. "Posso te responder a localização de todos os sinais dela..." O sinal de nascença que minha filha tinha era igual ao do pai.


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