Você já se sentiu dentro de algo e ao mesmo tempo fora? Sara refletia sobre isso sentada num banco no meio do pátio antes do começo da aula. Ela tinha tudo o que queria: uma casa confortável, uma família que a amava, boas notas... Exceto amigos. Quase ninguém em Orchidia a conhecia. Ela se sentia extremamente normal, um estereótipo da garota de classe média sem nada de especial.

Ela era uma boa garota, nunca falava mal de alguém ou se metia em problemas. Estava numa camada da sociedade onde muitos de sua cidade gostariam de estar, mas ao mesmo tempo ela não se sentia dentro. Não se sentia parte da cidade, parte dos adolescentes. Ela era um peixe fora d'água anônimo.

Uma garota de cabelos lisos com mechas loiras interrompeu seus pensamentos ao entrar rapidamente no banheiro em meio a lagrimas. Algo muito ruim deve ter acontecido, ela pensou. Essa garota está em prantos. Sara não conseguiu permanecer sentada, ela tinha que tentar ajudar aquela garota.

Entrou no banheiro e encontrou a menina trancada na última cabine. Ela chorava alto. Sara deu duas batidas na porta:

– Por que você está chorando? Saia daí, deixe-me te ajudar.

– Vá embora, você não pode me ajudar.

– Bem, talvez eu não possa resolver o seu problema, mas posso tentar te ajudar a se sentir melhor... O que acha?

– Ninguém pode me ajudar a me sentir melhor a respeito da minha reputação.

– Você fez algo ruim ou errado?

Não houve resposta. Sara continuou:

– Não é o fim do mundo. Saia daí. Não pode ser tão ruim.

Houve alguns segundos de silêncio. Então a menina destrancou a porta.

– Ótimo. – disse Sara, puxando-a para fora – Qual é o seu nome?

– Juliana.

– Prazer, Juliana. Meu nome é Sara, e a partir de hoje, sou a sua fada madrinha.

A garota deu uma risadinha quase inaudível.

– Fada madrinha?

– Exatamente. Agora conte-me o que aconteceu.

A garota respirou fundo. De qualquer forma, quase todos sabiam do acontecimento no último sábado à noite. Que mal haveria em falar a respeito? Decidiu desabafar.