Calibre invertido escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 1
CALIBRE INVERTIDO


Notas iniciais do capítulo

Exposto no d'Orsay, por uma personagem nada convencional.



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Estou jogado ao chão, essa é a hora morta que leio em todos os poemas, quando percebo que certos conceitos existencialistas são apenas espectros que enfeitam vidas carregadas de naturezas-mortas. “Sou um espectro, se isso te confortar”. Estou apenas preenchido por um vazio inarrável, uma história sem fim nem começo que nenhum criacionista pararia para ler, sou um personagem como dizia uma inspiradora personificação, infelizmente, virtual.
Uma câmera sem zoom dá close na minha face de tacho, sofro de hipotermia, e ao invés de abolir o gelo, aceito ele como uma antiga fase que ainda está intrínseca a minha alma, feito um moinho que gira sem ar, talvez sem motivação, o mistério que procuro nos outros é na maioria, do espaço-tempo, metas para acobertar os meus, sejam eles obscuros e obsoletos, ou apenas uma ilusão arquitetada para enfeitar esse personagem “tic-tac” que só ouve apelos do próprio cerne.
Esse anseio por novas conexões me insere em uma rede perigosa, de intrigas, amores e decepções, estou no âmago do fato no centro de tudo isso, tanto tempo se passou que me perdi entre eles, não compreendo mais o que é areia e o que é farinha, a fermentação que sofro corroí o que resta da minha insanidade exasperada, que contudo cria um mundo eufórico e mesmo assim tentador, é o que dizem, “a grama do vizinho é sempre mais verde”.
O umidificador apenas umidifica a folha em branco, o ar gelificado não transpõe meus poros, estou morto, tantas vezes perdido, agora extraviado no mundo que minhas mãos longas e afiadas criaram, isso não é tão óbvio. “As árvores não andam e os anjos não sonham”. O sorriso que rasga a face rubicunda de engraçados tolos, parvos criando anedotas para mascarar a alma flagelada não se iguala as curvas de uma mulher que anseia ser amada, feito Melissa, “É nesse momento que ela entende, ou tem a ilusão de entender, que os homens não estão interessados na essência de uma mulher, nem são capazes de amar prescindindo da carne. Assim, Melissa passa a oferecer o próprio corpo a quem quer que o peça, entregando-se esperançosa de que alguém, ao olhá-la nos olhos, perceba sua sede de amor”. Posso não ter uma visão correta, entretanto essa hipocrisia criada por nós está intimamente ligada na tênue linha que separa a conexão com as pessoas, da afeição com o mundo criável, onde o nosso parceiro pode ser perfeito e a rua repleta de pluma, orquestrar o caos é prazeroso, não há como negar.

Prefiro a quietude, e você? Responda-me, não fuja, não é necessário um: “Me desculpe!”, prefiro ouvir o que se passa dentro da sua conturbada mente cheia de pensamentos estridentes que lembram uma antiga e cotidiana guerra da Síria. Importo-me com o nome que dá ao seu personagem. Tudo bem, fique sem dizer a sua cidade, a cidade dos sonhos é apenas um andaime pingente em um mundo tragicamente real, o que importa é o que faz com o seu objeto cortante, digo a todos que tudo que se passa pelas suas mãos é um objeto neutro, a mesma faca que corta um alimento, pode dilacerar uma jugular.

A frase de Maquiavel deve ser digna de profunda reflexão. “Os fins justificam os meios”. Vale a pena se isolar para pensar na vida? E se nossos demônios tomarem as rédeas da situação? Quando percebemos há sangue no teto, e vísceras dançando no chão, o que seria justo? Até onde o nosso livre arbítrio iria? A estupefata e esdrúxula frase que ilustra esse quadro vem a seguir: “Vale a guerra pela paz?”, em sentidos materiais, na minha visão, certamente não, contudo o litígio que travamos hodiernamente contra a nossa sombra, deve ser persistente, depois da tempestade sempre há o arco-íris. Prevejo frases angustiantes e depressivas vindo ao encontro de um texto proveniente de um decadente escritor. Sim, finais felizes são poucos, porém em um tornado sempre há um ponto cego.

Dane-se tudo que tentei transcender, é apenas um desabafo enigmático, apenas um grito estonteante dizendo: “Eu estou aqui para ajudar!”, esperando que alguém me procure, posso ser um psicólogo, um psiquiatra, só não me peça para matar alguém, posso ser muito, mas assassino, seja de sonhos, pessoas ou culturas, não posso (não sou). Termino por aqui, meu contato já está na sua agenda, queira você ou não.


FIM
13/08/14


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