Sword Art Online - Complexo de Deus escrita por ghost of Sparta


Capítulo 4
Fase 3 - Forjando laços


Notas iniciais do capítulo

Em busca de materiais raros, Kirito e Lisbeth se aventuram nas montanhas geladas do nível 55!



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24 de Junho de 2024 – Nível 55, Granzam.

Lisbeth acorda, ainda um pouco grogue, e olha ao redor. Ela pisca um pouco até focalizar a visão. Não sabia se já amanhecera ou não. Sabia, contudo, que estava numa caverna gelada com neve por todo o lado. Estaria morrendo de frio se não estivesse usando um casaco negro por cima de suas roupas habituais.


Lisbeth: “O que está acontecendo? Como vim parar aqui?”

Lisbeth abre seu saco de dormir e se senta. Na outra extremidade da caverna havia um garoto em trajes negros cavando na neve.

Lisbeth: “Ah. Estou me lembrando como vim parar nessa enrascada... tudo começou quando esse garoto, Kirito, veio até minha loja querendo uma arma personalizada e quebrou minha melhor espada...”

Nível 58, Lindus – Muitas horas antes

O som de algo partindo reverbera pela loja. A espada de cabo laranja se partira ao meio, a ponta de sua lâmina se fincando numa das paredes próximas.

Lisbeth: Ahhhh!

Lisbeth, a ferreira de cabelos rosa dona do estabelecimento, fica desesperada. Ela arranca a metade restante da espada das mãos de Kirito e a examina minuciosamente.

Lisbeth: Destruída... reparos impossíveis...

Kirito fica olhando de sua intacta «Elucidator» para a espada destruída nas mãos de Lisbeth sem saber o que dizer. Após alguns segundos a espada danificada se desfaz. Trocando o choque pela raiva, Lisbeth agarra Kirito pela gola de seu sobretudo.

Lisbeth: Aquela espada era meu melhor trabalho e você a destruiu! Como você vai assumir a responsabilidade?
Kirito: S-sinto muito. Nunca imaginei que aquela espada fosse quebrar tão fácil...
Lisbeth: O que?!

Lisbeth aproxima o rosto ameaçadoramente de Kirito.

Lisbeth: Então você está dizendo que minha espada era mais fraca do que você achou que era?
Kirito: Hmmm... bem... na verdade, sim.
Lisbeth: Ah! Então agora também resolveu me insultar?

Lisbeth libera Kirito, coloca as mãos na cintura e estufa o peito.

Lisbeth: Pois fique sabendo que se eu tivesse os materiais certos poderia forjar armas que cortariam sua maldita espada como se fosse manteiga.
Kirito: Ah! É mesmo?

Um sorriso se forma no rosto de Kirito.

Kirito: Então eu gostaria de ver você criar uma espada como essa. Algo que seja capaz de cortar minha «Elucidator» como se fosse manteiga.

Kirito embainha sua espada.

Lisbeth: Ah. Então você está duvidando, não é? Está bem, então. Me traga alguns ingredientes raros e eu te mostro do que sou capaz!
Kirito: E que ingredientes seriam esses?

Lisbeth pondera por alguns instantes. Um sorriso maligno logo se forma em seu rosto.

Lisbeth: Sabe do que mais? Acabei de pensar em algo perfeito...
Kirito (uma sobrancelha erguida): Ah, é?
Lisbeth: Vamos dar uma volta. Você pode me pagar um chá enquanto eu conto a história. É o mínimo que pode fazer depois de ter quebrado minha espada.
Kirito: Tudo bem por mim.


Lisbeth deixa a loja sob os cuidados de seus empregados NPCs e guia Kirito pela cidade. A dupla decide por um restaurante não muito longe dali e se sentam em uma das mesas a céu aberto. Atendendo aos pedidos de Kirito e Lisbeth, uma garçonete traz dois pedaços de bolo e duas xícaras de chá. A dupla de jogadores opta por comerem alguns pedaços do bolo antes de entrar propriamente no assunto daquela pequena reunião.

Lisbeth: Existe uma quest rara que ainda não foi completada, algo relacionado a um metal de extrema qualidade. Os rumores sobre isso começaram cerca de duas semanas atrás...

Lisbeth coloca a xícara que estava segurando sobre a mesa.

Lisbeth: Numa vila no extremo oeste do nível 55, você pode encontrar um senhor de barba longa tão branca quanto a neve, um NPC que lhe passará uma quest que fala sobre um dragão que dropa um metal raro: o lingote de cristal.

Enquanto ouve, Kirito se serve de um gole de seu chá.

Lisbeth: Obviamente isso chamou a atenção de vários jogadores, que se uniram em grupos para derrotar o dragão. O monstro, contudo, era poderoso demais e poucos conseguiram matá-lo. Houve algumas baixas, mas ninguém sabe precisar quantas. Para piorar, a cada derrota o dragão apenas dropava uma quantidade modesta de cols e alguns equipamentos comuns. Na maioria das vezes, a recompensa não chegava nem perto de pagar os gastos com as poções e cristais de teleporte usados durante a quest.

Com os olhos fechados, Kirito se serve de mais um gole de chá.

Lisbeth: Isso não fazia sentido. Uma criatura tão poderosa, dropar itens tão sem significância. Algumas pessoas sugeriram que devia existir alguma condição especial para o dragão dropar o metal raro, porém ninguém conseguiu deduzir qual era.

Kirito se serve de mais um gole de seu chá.

Lisbeth (levemente irritada): Ei! Você está prestando atenção?
Kirito (abrindo os olhos): Em cada detalhe. Então se eu trouxer esse lingote de cristal, você vai ser capaz de forjar uma boa espada para mim?
Lisbeth: Você realmente ouviu a história que contei? Dezenas de bons jogadores tentaram e não conseguiram. O que o faz achar que com você será diferente?

Kirito se limita a sorrir, o que irrita Lisbeth ainda mais. O garoto se levanta de seu lugar.

Kirito: Okay. Se eu sair agora, acredito que volto ainda hoje. Se puder me esperar na loja, podemos resolver isso logo e...
Lisbeth: Do que você está falando? É óbvio que vou acompanhá-lo.
Kirito: Me acompanhar? Por que?
Lisbeth (um sorriso maldoso): Para testemunhar em primeira mão quando você resolver voltar chorando porque foi incapaz de conseguir o metal raro. Vai ser a melhor coisa do meu dia.
Kirito (com a mão no queixo): Bem...

Kirito olha Lisbeth de cima a baixo.

Kirito: Não que eu não aprecie uma boa companhia, mas não seria mais fácil se eu fosse sozinho? Seria um grande problema se você acabasse me atrapalhando no caminho...

Lisbeth cerra os punhos e acaba mordendo o lábio involuntariamente. Estava sentindo a raiva borbulhar por todo o seu corpo.

Lisbeth: “Nunca imaginei que houvesse uma pessoa tão boa em mexer com meus nervos!”

Lisbeth bate na mesa, em protesto, e quase derruba as xícaras. Ela se levanta para encarar Kirito.

Lisbeth: Não zombe de mim! Mesmo que eu pareça só uma vendedora, na verdade sou uma especialista em clavas e martelos de batalha! Tenho certeza que meu skill de força é o triplo do seu! Acabaria com você com apenas um golpe se eu quisesse!
Kirito (dando de ombros): Se você diz...

Kirito dá uma pequena risada. O fato do garoto parecer estar a vontade e até se divertindo com a situação fazia o sangue de Lisbeth ferver ainda mais.

Kirito (admirado): Você é realmente uma pessoa diferente...
Lisbeth (uma sobrancelha erguida): O que você quer dizer com isso?

Kirito suspira.

Kirito: Muito bem. Será do seu jeito então.

Kirito abre uma janela de jogo e navega pelos menus. Em instantes, uma janela com uma proposta de grupo surge diante de Lisbeth.

Kirito: Eu me chamo Kirito. Espero que possamos nos dar bem até que a espada esteja pronta.

Kirito estende a mão para Lisbeth. A ferreira aceita a proposta de grupo, mas ignora o gesto cordial de Kirito. Ela se vira de costas para o garoto.

Lisbeth: É um grande desprazer conhecê-lo, Kirito. Vamos embora porque quero terminar logo com isso.

Lisbeth começa a andar rumo ao portal de teleporte. Kirito a segue após pagar a conta do restaurante.

Lisbeth: E prepare sua carteira! Quando eu terminar esta magnífica espada, vou cobrar uma fortuna por ela!
Kirito: Ok, ok...

Nível 55, Granzam – Minutos depois

Quando ouviu sobre a vila no oeste daquele andar, Lisbeth achou que seria fácil encontrá-la. Ledo engano. Ela e Kirito já estavam caminhando por alguns minutos e haviam passado por quatro rústicas vilas à procura do tal senhor de barba branca. A ferreira suspira, irritada.

Lisbeth: Só encontrar o NPC da quest já dá um enorme trabalho. Não é a toa que essa quest não foi completada ainda...
Kirito (checando sua tela de mapa): Você está sendo muito impaciente. Só existe mais uma vila no mapa dessa região, então logo vamos conseguir iniciar a quest.
Lisbeth: Você não devia estar um pouquinho mais preocupado com o dragão que vamos enfrentar?
Kirito: Por que? Não é como se fosse a primeira vez que saio numa quest...

Lisbeth olha para Kirito e balança a cabeça negativamente.

Lisbeth: Estou surpresa que você tenha sobrevivido até hoje. Isso não é uma caçada qualquer! Estamos falando de um poderoso dragão que já matou outros jogadores! Se você relaxar, vai acabar tendo o mesmo destino que eles!
Kirito: É uma criatura do andar 55. Não acho que eu vá ter problemas. Provavelmente você nem vai precisar ajudar.
Lisbeth (uma sobrancelha erguida): Você é incrivelmente forte ou apenas incrivelmente estúpido?
Kirito (rindo): O que você acha?

Lisbeth sente o sangue ferver.

Lisbeth: Ora, seu...
Kirito: Espere.

Kirito havia parado de se mover e erguido o braço diante de Lisbeth. A ferreira nota que os olhos do «Black Swordsman» estavam emitindo um leve brilho vermelho, sinal do uso de um skill de detecção de inimigos.

Lisbeth: O que foi?
Kirito: Saque sua arma. Temos companhia.

Kirito saca sua «Elucidator» e assume posição de combate. Lisbeth saca seu «Zoringen Hammer» e também se prepara para a batalha. O caminho que a dupla estava seguindo era cercado por diversas árvores cobertas de neve. De trás dessas árvores surge um grupo de esqueletos usando armaduras de combate no estilo romano e armados com machados de aço com lâminas de gelo.

Kirito: Fique atrás de mim enquanto eu...
Lisbeth: Hyahhhhhh!

Lisbeth assume a dianteira e gira seu martelo de guerra, destroçando três inimigos. Dois dos esqueletos tentam golpear a garota por trás de surpresa, mas ela reage rapidamente e bloqueia os golpes com o cabo de seu martelo. A ferreira gira seu martelo mais uma vez, destruindo mais dois esqueletos. Apesar do «Zoringen Hammer» parecer pesado, Lisbeth parecia não sentir nenhuma dificuldade em manuseá-lo.

Kirito: Você não devia se arriscar assim.
Lisbeth: Eu posso muito bem me virar sozinha.

Três esqueletos tentam atacar Kirito, mas o garoto se agacha e corta as pernas dos monstros com sua espada. Em seguida, ele salta por cima de dois outros esqueletos e corta suas cabeças. Lisbeth usa seu martelo e golpeia o chão, demonstrando uma força descomunal. O ataque gera uma onda de impacto que joga os dois esqueletos contra as árvores próximas. As criaturas acabam se desfazendo quando sua barra de HP chega a zero. Com todos os inimigos derrotados, Lisbeth apoia seu martelo no ombro e abre um sorriso triunfante.

Lisbeth: Viu só? Eu disse que podia me virar sozinh...

Lisbeth acaba soterrada por um pouco de neve que cai da copa das árvores atrás dela. Aparentemente o impacto sofrido pelas árvores causara este pequeno incidente. Kirito embainha sua «Elucidator» e agarra a mão da ferreira, puxando-a para fora do monte de neve. Lisbeth rapidamente recupera a compostura e limpa suas roupas. Em seguida ela encara Kirito, que estava segurando uma risada de uma maneira nem um pouco discreta.

Lisbeth: Nenhum comentário. Nenhum simples comentário.

Lisbeth abre sua janela de inventário.

Lisbeth: Que droga. Esses esqueletos não droparam nada de bom. Você teve alguma sorte?
Kirito: Não. Apenas uma poção de cura e alguns ossos.
Lisbeth: Esses ossos são material de nível muito baixo. Não serviriam para forjar nada mesmo que quissesemos. Descartei todos os que ganhei.
Kirito: Eu guardei alguns e você devia fazer o mesmo. Talvez sirvam para algo mais tarde. Nunca se sabe, não é?
Lisbeth: Tanto faz... vamos em frente.

Kirito e Lisbeth logo voltam a caminhar e começam a subir uma colina. Conforme avançam, a dupla nota uma neblina gélida tomando o ambiente. Lisbeth abraça o próprio corpo enquanto começa a tremer levemente de frio. Kirito, que estava caminhando a frente, não demora muito para notar o sofrimento de sua companheira de aventura. O garoto pára de andar.

Kirito: Você não tem roupas extras?
Lisbeth: Eu não sabia que esse andar era tão frio assim.

Uma brisa passa pelo local, fazendo a tremedeira de Lisbeth piorar. A menina se surpreende quando um casaco negro com capuz é atirado sobre sua cabeça.

Lisbeth: Eh?

Lisbeth, confusa, pega o casaco em suas mãos. A ferreira nota que Kirito estava olhando para ela. O garoto havia retirado o item de seu inventário.

Lisbeth: E quanto a você, Kirito? Vai ficar bem?
Kirito: O vento frio não me incomoda. É apenas uma questão de força de vontade.
Lisbeth (em tom de protesto): Você está dizendo que eu não tenho força de vontade?

Kirito, com um discreto sorriso no rosto, dá as costas e volta a caminhar. Sem pensar muito, Lisbeth resolve vestir o casaco.

Lisbeth: “Ahhh. Toda palavra que sai da boca desse cara me tira do sério.”

Lisbeth coloca a mão no casaco.

Lisbeth: Hmmm. Que quentinho...

A ferreira, pensativa, observa Kirito se afastando.

Lisbeth: “Não acredito que estou no meio do nada com esse cara. O que eu estava pensando?”

Lisbeth começa a esfregar as mãos para aquecê-las.

Kirito: O que foi, Lisbeth? Já chegou ao seu limite?

Kirito havia parado de andar e se voltado novamente para Lisbeth.

Kirito: Você não devia se forçar. Pode voltar para a loja se quiser.
Lisbeth (batendo o pé): Eu estou bem! Isso aqui não é nada!
Kirito: Se você diz, Lisbeth...
Lisbeth: E também... se quer fingir que é meu amigo, então deve me chamar de Lis!

Lisbeth, de cara fechada, começa a andar a passos largos, assumindo a dianteira.

Kirito: Como quiser... Lis.

Conforme avança, a dupla nota que o caminho vai se afunilando e ficando mais perigoso. À esquerda deles agora havia um precipício. Despencar dali não seria nada agradável.

Kirito: Essa estrada é mais perigosa do que eu imaginava...
Lisbeth (com um sorriso malicioso): Ahhh. Então você vai finalmente admitir sua derrota e sair correndo com o rabo entre as pernas?
Kirito: Na verdade estou mais preocupado que você não consiga me acompanhar. Seria um problema ter que me atrasar por causa disso...
Lisbeth: O que? Pois fique sabendo que...

A conversa dos dois é interrompida por um rugido.

Lisbeth: O que foi isso?

Kirito usa seu skill de detecção de inimigos.

Kirito: Tem algo descendo a colina.

Não demora muito para a dupla descobrir o que era. Diante deles logo surge um urso gigante de pelagem branca e cristalina. Sobre seu olho esquerdo havia uma marca circular preta e suas patas dianteiras estavam cobertas por uma sólida camada de gelo. A criatura se coloca em apenas duas patas e solta um rugido que faz um pouco de neve despencar das raras árvores por perto. Lisbeth checa o nome flutuando acima da cabeça da criatura.

Lisbeth: Frozen Bear? Nunca ouvi falar.

Lisbeth saca seu «Zoringen Hammer».

Lisbeth: Bem... vamos dar cabo logo dele...
Kirito: Espere.

Kirito havia colocado a mão no ombro de Lisbeth e a segurado.

Lisbeth: Ei! O que foi agora?
Kirito: Essa criatura tem um nível superior ao do andar. Não devia haver algo assim por aqui.
Lisbeth: Bem, eu não vou fugir depois de ter vindo tão longe.
Kirito: Não estou pedindo isso. Apenas, por favor, não corra riscos desnecessários, ok?

Lisbeth fica surpresa com o olhar sério de Kirito. Não parecia o olhar de alguém que estava com medo pela sua própria vida. O «Black Swordsman» parecia mais com alguém extremamente angustiado.

Lisbeth: “Ele está tão preocupado assim comigo? Não pode ser, não é? Nós nem nos conhecemos direito! Mas esse olhar... é o olhar de alguém que testemunhou algo terrivel... algo que ele não quer ver de novo...”

Kirito: Lis?
Lisbeth (suspirando): Ok, ok. Vou tomar cuidado. Eu prometo.
Kirito: Ótimo.

Kirito saca sua «Elucidator» e entra em posição de batalha.

Kirito: Agora, vamos derrubar essa criatura.
Lisbeth: Ok!

Lisbeth toma a dianteira e fica responsável pela primeira ofensiva. A ferreira desfere três poderosos golpes com seu martelo de guerra. O frozen bear, entretanto, bloqueia todos os ataques com suas patas reforçadas. A criatura tenta atacar Lisbeth, mas ela consegue se afastar o bastante para evitar o ataque.

Kirito: Lisbeth, Switch!

Lisbeth abre caminho. Kirito avança contra o frozen bear e desfere dezenas de rápidos golpes com sua «Elucidator». A criatura consegue bloquear alguns dos golpes, mas mesmo os que a atingem não surtem nenhum efeito. A barra de HP permanece inalterada. O frozen bear soca o solo com suas patas provocando uma onda de impacto. Mesmo fincando sua espada no chão, o surpreso Kirito acaba arrastado para trás e recebe danos leves.

Kirito: Por que não consegui afetar seu HP? Tem algo errado. A não ser que...

Kirito observa atentamente a barra de HP da criatura. Havia um icone acima dela que chama sua atenção.

Kirito (murmurando): Então é isso...
Lisbeth: Kirito, Switch!
Kirito: Não! Espere, Lis!

Lisbeth corre, arrastando seu «Zoringen Hammer» no chão e levantando uma nuvem de neve no percurso. Ela atinge a criatura com seu golpe mais forte, se valendo de toda a potência do seu skill de força.

Lisbeth: Te peguei!

Mas Lisbeth estava errada. O frozen bear havia bloqueado o ataque unindo suas duas patas. A criatura havia sido empurrada para trás alguns centímetros pela força do impacto, mas sua barra de HP permanecia inalterada.

Lisbeth: N-não é possivel...

O frozen bear agarra o martelo de guerra de Lisbeth com uma de suas patas e golpeia a menina com a outra. A ferreira é arremessada contra uma parede de gelo e vê sua barra de HP ser reduzida. A criatura joga a arma para o lado e dispara em direção a Lisbeth.

Kirito: Lis!

Kirito consegue se mover mais rápido, agarra Lisbeth pela cintura e se joga para longe com ela. O frozen bear acaba colidindo contra a parede de gelo e ficando um pouco atordoado. Lisbeth se levanta com a ajuda de Kirito e recolhe seu «Zoringen Hammer».

Kirito: Você está bem, Lis?
Lisbeth: S-sim. Meu HP ainda está no limite do verde. Por sorte, os ataques dele não são tão fortes. Afinal, por que não conseguimos machucar essa coisa?
Kirito: Está vendo o icone acima da barra de HP do frozen bear?
Lisbeth: Sim. E daí?
Kirito: Aquilo é um indicador de proteção elemental.
Lisbeth: Proteção elemental?
Kirito: Sim. No caso desse urso, existe uma proteção elemental de gelo. Significa que sempre que ele estiver num lugar frio, sua defesa ganhará um bônus de mais 150%.
Lisbeth: O que?!? Mas isso é roubo! Com uma defesa tão forte, não tem jeito de nossos ataques funcionarem.
Kirito: Eu já tinha ouvido falar dessa habilidade antes, mas criaturas com proteção elemental só deveriam existir a partir do 70º andar...
Lisbeth: Você disse que esse frozen bear tinha um nivel superior ao andar, não é? Talvez ele tenha se perdido por aqui...
Kirito: Monstros de SAO não se perdem. Eles seguem os parâmetros de um programa que define suas ações e locais de respawn.
Lisbeth: Então por que diabos esse urso está aqui?

Nesse momento o frozen bear se recupera e solta um rugido, interrompendo a conversa.

Lisbeth: Já que você está bancando o sabe-tudo... alguma idéia de como derrubamos esse cara?
Kirito: Temos que eliminar a proteção elemental, mesmo que seja por um momento. Para combater o gelo precisamos de fogo.
Lisbeth: Fogo, fogo, fogo...

Lisbeth vasculha rapidamente seu inventário.

Lisbeth: Ah! Eu tenho um lampião.
Kirito: Hmmm. Isso não vai nos dar uma brecha de ataque muito longa, mas vai ter que servir.

Kirito aponta sua espada para frente.

Kirito: Você põe fogo no monstro e depois eu o ataco com tudo o que tenho.
Lisbeth: Certo. Aqui vou euuuu!

Lisbeth corre até o frozen bear e atira o lampião na cabeça da criatura, evitando um ataque dela em seguida por centímetros. O objeto se desfaz em partículas de código, mas inicia um pequeno incêndio sobre o corpo do urso. O icone de proteção elemental desaparece da barra de HP do frozen bear.

Kirito: Minha vez!

Kirito brande sua «Elucidator» e parte para cima do frozen bear. Primeiro ele desfere três golpes rápidos nas pernas do monstro, fazendo-o cambalear. A barra de HP finalmente diminui e o urso urra de dor. O «Black Swordsman» prossegue seu ataque, agora mirando o peito. Ele desfere doze golpes, cada um mais rápido e mais forte que o anterior. Sempre que o frozen bear tenta um contra-ataque, Kirito se esquiva e já emenda o seu ataque seguinte. A barra de HP do monstro lentamente ia diminuindo e não levaria muito tempo para ficar amarela.

Lisbeth (murmurando): Que velocidade impressionante! Nunca vi nada parecido. Com esse tipo de habilidade, não me surpreenderia se ele fosse um dos jogadores das linhas de frente...

A batalha acaba se arrastando perigosamente para a beirada da estrada. O frozen bear tenta golpear Kirito mais uma vez utilizando as duas patas, mas o garoto se abaixa e prepara o contra-ataque. Nesse momento o icone de proteção elemental reaparece. As chamas que cobriam o frozen bear haviam se extinguido.

Lisbeth: Kirito! Cuidado! A proteção do urso voltou!

O frozen bear recebe o ataque em seu peito, mas dessa vez seu HP não sofre nenhum dano. Lisbeth age rápido e bloqueia um ataque do urso com seu martelo, protegendo seu parceiro de combate.

Lisbeth: Precisamos de um novo plano!

Kirito golpeia o chão com sua «Elucidator». O trecho na beirada da estrada era mais instável e fácil de ser danificado. Dessa forma, um pedaço do chão despenca para o precipicio, levando consigo o frozen bear. A dupla de jogadores observa o urso ser destruído ao chegar ao fundo do precipicio. Lisbeth suspira aliviada enquanto guarda seu martelo.

Lisbeth: Esta foi uma boa vitória...
Kirito: Verdade...
Lisbeth (cruzando os braços): Mas você não teria conseguido sem mim.
Kirito: Sim. Eu sei.
Lisbeth: Eh?

Lisbeth fica surpresa quando Kirito concorda com ela. O garoto embainha sua espada.

Kirito (com um sorriso gentil): Obrigado pela ajuda. Você fez um bom trabalho.
Lisbeth: De nada?

Kirito dá um leve tapa no ombro de Lisbeth quando passa por ela.

Kirito: Vamos em frente, Lis.

Kirito começa a andar.

Lisbeth: “É impressão minha ou ele acabou de me elogiar? Não sabia que palavras gentis podiam sair daquela boca!”

Kirito: Você vêm ou não?
Lisbeth: Claro que vou! Me espera!

Kirito e Lisbeth prosseguem sua caminhada ladeira acima. A ferreira chega a se perguntar se a vila que procuravam ficava no topo da colina, mas logo consegue sua resposta. A dupla se vê diante de um portão feito de gelo e aço com uma enorme fechadura no centro. A fechadura tinha o formato de uma caveira com olhos vermelhos. Kirito passa a mão pelo portão enquanto o checa.

Kirito: Deve haver alguma condição especial ou uma chave para abrir esse portão.
Lisbeth: Não podemos simplesmente derrubá-lo?

Lisbeth ergue seu «Zoringen Hammer» e desfere dois poderosos golpes. O impacto gera um sonoro eco metálico. O portão, entretanto, permanece intacto.

Lisbeth: Acho que isso responde minha pergunta...
Kirito: Tem uma placa aqui.

Lisbeth caminha até Kirito e nota que ele estava olhando para uma placa de madeira castigada pelo clima que estava fincada na beira da estrada. A ferreira lê o texto da placa que vinha acompanhado de uma seta.

Lisbeth: Aqui diz que a vila fica no pé da colina.
Kirito (aguçando a vista): Dá para ver daqui.

E realmente era possivel ver ao longe um pequeno grupo de construções.

Lisbeth: Então viemos pelo caminho errado? Vamos ter que voltar tudo?
Kirito (indicando com o dedo): Tem uma seta na placa apontando naquela direção.

A seta em questão apontava para fora da estrada. Ali havia um caminho um tanto inclinado e irregular que levava até o pé da colina. Lisbeth experimenta dar um passo por aquele caminho, mas seu pé logo afunda na neve e ela recua.

Lisbeth (limpando a neve do pé): Andar por aqui vai ser horrivel. A neve quase bateu na altura de meu joelho. Isso sem falar que um passo em falso e nós acabaremos rolando morro abaixo... tenho certeza que não seria nada agradável...
Kirito (com a mão no queixo): A neve restringiria nossos movimentos e nos deixaria a mercê de qualquer monstro que aparecesse. Talvez seja melhor darmos meia-volta e...

A frase é interrompida por um rugido.

Lisbeth: Isso não é bom...

Kirito e Lisbeth pegam suas armas e ficam lado a lado. Eles notam cinco frozen bears surgirem no horizonte, correndo com todas as forças e ávidos por alcançar suas novas presas.

Lisbeth: Fomos encontrados!
Kirito: Talvez o barulho que você fez tenha os atraído.
Lisbeth: E o que fazemos agora? Apenas um desses ursos nos deu muito trabalho... imagina cinco?
Kirito: Hmmm...
Lisbeth: Talvez eu consiga abrir caminho por entre eles, mas aí vamos ter que descer todo o caminho correndo e...

Kirito corta a placa com sua «Elucidator». Em seguida ele pega Lisbeth no colo, deixando a garota corada.

Lisbeth (se debatendo): O-o que v-você pensa que está f-fazendo?
Kirito: Segure firme, Lis.

Kirito dá um pique e salta para cima da placa, usando-a como uma prancha para deslizar pela neve. Os frozen bears páram no topo da colina, frustrados por não terem chegado a tempo.

Lisbeth: Ahhhh!

Kirito tem um pouco de dificuldade de controlar a descida. Ele desvia de uma árvore no último instante. Descendo em alta velocidade, a dupla corre vários riscos de colisão. Lisbeth fecha os olhos e afunda seu rosto no peito de Kirito, decidida a não ver o fim trágico que parecia os esperar. Em determinado momento, a placa desliza por cima de uma pedra congelada e arremessa Kirito e Lisbeth longe. Os dois giram no ar e terminam por cair num monte de neve que cobria os restos de uma carroça. Kirito acaba levando o impacto e Lisbeth fica por cima dele.

Kirito: Ufa. Não foi meu melhor pouso, mas deu para o gasto.
Lisbeth: Droga! Meu coração quase saiu pela boca!

Nesse momento Lisbeth nota que seu rosto estava bem próximo ao rosto de Kirito e que o braço do garoto estava enroscado em sua cintura. Ficando mais vermelha que tomate, a ferreira se afasta num pulo. Kirito aproveita a oportunidade para se sentar e limpar um pouco da neve que o cobria.

Kirito: Você está bem, Lis?
Lisbeth (tremendo levemente): Se eu estou bem? Se eu estou bem?!?

A tensão e o embaraçamento se misturam, fazendo a ferreira explodir. Lisbeth começa a arremessar bolas de neve em Kirito sem parar. O «Black Swordsman» se protege o melhor que pode com as mãos enquanto tenta se afastar.

Kirito: Ei! Pare com isso! Por que você está me atacando?
Lisbeth: Que idéia absurda foi aquela? Surfar na neve usando uma placa de madeira e sem ter como frear? Você poderia ter nos matado!!!
Kirito: Mas sobrevivemos, então está tudo bem, não é?
Lisbeth: Claro que não está, seu doido varrido!
Kirito (pedindo silêncio): Shhhh.

Kirito segura Lisbeth pelo braço e tapa a boca da menina.

Kirito (sussurrando): Não estamos sozinhos.

Kirito e Lisbeth se esgueiram por trás de uma moita e encontram um senhor com uma barba longa e extremamente branca. Ele estava usando roupas surradas e se encontrava sentado junto a uma fogueira olhando para o vazio. Lisbeth e Kirito se entreolham.

Kirito: É o NPC da quest.
Lisbeth: Finalmente.

Lisbeth se aproxima e acena cordialmente para o senhor.

Lisbeth: E aí? Podemos nos juntar a você?
Senhor: Oh.

O velho tosse algumas vezes e fita Lisbeth e Kirito com um sorriso amigavel no rosto.

Senhor: É raro ver viajantes por essas terras esquecidas por Deus. Sejam bem-vindos ao Drill Village, meus jovens.

A vila era bem pequena, apenas algumas poucas casas, todas velhas e parecendo abandonadas. Estava longe de parecer um lugar agradável para se viver. O velho aponta para o tronco do outro lado da fogueira.

Senhor: Não se acanhem. Podem se sentar e fazer companhia a esse humilde velho cujo tempo já se foi há muito.

O calor da fogueira estava bem convidativo e não havia qualquer razão para recusar. Kirito e Lisbeth prontamente se sentam.

Senhor: Enquanto nos aquecemos, gostariam de ouvir um conto interessante?

Uma janela do jogo surge diante de Kirito e Lisbeth.

Kirito: Olha. O convite para iniciar a quest apareceu.
Lisbeth: A primeira tarefa é ouvir a história do NPC. Fácil, fácil.

A dupla aceita a quest e o velho começa a falar. Mas a história não era curta como Lisbeth imaginava. O conto estava recheado de detalhes inúteis que começavam desde a longa e entediante infância do NPC, passando pelas descobertas de sua juventude e chegando até os dias dificeis de sua vida adulta.

Lisbeth (bocejando): Eu nunca imaginei que iniciar uma quest fosse levar tanto tempo...
Kirito: Realmente inacreditável... ele está contando toda a história de vida dele antes de chegar ao momento que ouviu falar do dragão...
Lisbeth: Só espero que ele termine essa história ainda esse ano...

Ouvindo a entediante história, os olhos de Lisbeth começam a pesar e antes que ela perceba sua mente se perde em memórias de dias distantes.

FLASHBACK

Era o amanhecer de um novo dia. Rika Shinozaki desperta com alguém segurando forte sua mão direita. Ela abre os olhos lentamente.

Rika: Eh?

Rika esfrega os olhos para ter certeza do que estava vendo. Havia uma menina de dez anos com cabelos castanhos divididos em duas tranças deitada ao seu lado. A menina sorri para Rika.

Nanami: Ohayo, Rika-nee.

Rika se levanta, surpresa, e acaba batendo a cabeça numa estante de livros que ficava presa na parede. Alguns dos livros acabam caindo na cama e no chão.

Nanami: Você está bem?
Rika (passando a mão na cabeça dolorida): Tudo bem. Não foi nada.
Nanami (não parecendo convencida): Hmmm...
Rika (sorrindo): Relaxa. Eu tenho uma cabeça-dura, então é preciso mais do que isso para me machucar.

Rika nota que Nanami ainda estava segurando sua mão.

Rika (apontando para as mãos entrelaçadas): O que você está fazendo, Nanami?
Nanami: Você estava tendo um sonho ruim, estava até suando frio, então vim te ajudar.
Rika: Me ajudar?
Nanami: Quando eu estou para baixo ou me sentindo mal, mamãe sempre segura minha mão. Ela diz que isso ajuda a acalmar o coração, a mostrar que você não está sozinha.
Rika: ...
Nanami: Eu queria fazer o mesmo com você. Vou estar sempre ao seu lado, Rika-nee. Vamos desbravar as estrelas juntas algum dia.

Rika começa a gargalhar e abraça a irmã afetuosamente.

Rika: Claro que vamos, bobinha. Não precisa se preocupar comigo. Deve ter sido apenas um sonho com as provas da escola.
Nanami: Então funcionou? Você conseguiu sentir o calor da minha mão enquanto estava dormindo? Sentiu que eu estava com você?

Rika encosta sua testa na testa da irmã mais nova.

Rika: Eu sempre sinto você ao meu lado, maninha. Basta eu olhar para o meu coração.

Nanami abre um largo sorriso. Neste momento Rika nota algo estranho.

Rika: Você não está um pouco quente demais, Nanami?
Nanami: Como assim?

Rika checa a temperatura da irmã mais nova e fica muito preocupada.

Rika: Você está queimando de febre!
Nanami: Estou?
Rika: Você não dormiu com a janela aberta de novo, não é?
Nanami: Ah. Mas eu não dormi no quarto.

Nanami tira um caderno de anotações do bolso e o mostra para a irmã.

Nanami (com um olhar sonhador): Eu fiquei a noite toda no telhado contando as estrelas. Olha aqui... eu cataloguei um monte delas!

Rika olha incrédula para Nanami.

Rika: Você é idiota?

Rika pega a irmã no colo e sai às pressas do quarto. Ela se move rapidamente pelos corredores não muito organizados da casa até alcançar um outro quarto. Havia uma mulher na casa dos quarenta anos vestindo um terno e terminando de passar maquiagem diante de um espelho.

Rika: Mãe! Mãe! Emergência!

A mãe - Yuria Shinozaki - leva um baita susto e acaba borrando o batom.

Yuria: Rika! Quer me matar de susto!

Yuria dá uma boa olhada para a filha.

Yuria: Quantas vezes já falei para não ficar correndo pela casa vestida desse jeito?

Rika olha para o próprio corpo. Ela tinha o costume de sempre dormir usando uma camisa do time de beisebol local e nada mais. Vivia levando broncas porque tinha a mania de acordar e andar pela casa vestida desse jeito.

Rika: Não é hora para isso, mãe! Olha! A Nanami está queimando de febre!
Yuria: O que?

Yuria checa a temperatura da filha de dez anos e fica desesperada.

Yuria: Meu deus! Como isso aconteceu?
Rika: Ela disse que ficou lá fora a noite toda.

Yuria pega Nanami no colo e começa a andar de um lado para o outro, incerta do que fazer.

Yuria: Seu pai já saiu para trabalhar... eu tinha uma reunião importante... mas você não está nada bem... o que fazer? O que fazer...?
Rika: Mãe!
Yuria: Ok, ok. Eu vou levar a Nanami para o hospital. Cuide dos gêmeos.
Rika (batendo continência): Deixa comigo.
Yuria: Vamos tirar esse pijama antes de irmos para hospital, Nanami.
Nanami: Oba! Eu vou andar de carro! Posso colocar a cabeça do lado de fora da janela?

Assim Yuria e Nanami deixam Rika sozinha no quarto. A menina cruza os braços e olha de relance para o relógio na parede.

Rika: Ahhh! Já é tão tarde? Eu vou chegar atrasada na escola!

Rika dispara para seu quarto e começa a recolher as peças de seu uniforme.

Rika: Droga! Onde eu deixei minha saia?

O quarto estava uma bagunça, como de costume, mas mesmo assim Rika era sempre capaz de encontrar suas coisas. Sua desorganização tinha um padrão. Para não encontrar sua saia, algo devia estar errado. Rika revira todo o seu guarda-roupa e chega até a virar o conteúdo de sua mochila no chão, mas não encontra sua saia.

Yuuji: Rika-nee! Rika-nee! Olha! Estou pronto para a escola!

Rika fica boquiaberta quando olha para a porta de seu quarto. Ali havia um menino de sete anos de idade usando um par de sapatos de salto alto e também uma saia escolar. A saia escolar de Rika.

Rika: O que você está fazendo, Yuuji?!

Rika corre até o irmão mais novo e começa a forçá-lo a tirar a saia.

Rika: Quantas vezes eu já disse para não pegar as minhas roupas?
Yuuji: Mas eu queria ficar tão bonito quanto a onee-chan...
Rika: Pelo amor de Deus! Você é um garoto! Um garoto! Não pode ficar usando roupas de meninas!

Nesse momento Yuria passa correndo pelo corredor.

Yuria: Ah. Aí estão meus sapatos.
Yuuji (sorrindo): Eles ficaram bonitos em mim, não é, mamãe?
Yuria (calçando os sapatos sem dar muita atenção): Sim. Lindos. Fofissimos.
Rika (balançando a cabeça): Você devia prestar mais atenção no que seus filhos fazem...
Yuria (dando um beijo na cabeça de Yuuji): Sua irmã vai levar você para a escola. Bye bye.

Então Yuria desaparece como um raio. Antes que Rika possa falar algo, outra pessoa surge. Era uma menina de sete anos de idade: Yukina, a irmã gêmea de Yuuji. A menina estava usando uma fantasia de leoa por cima de seu uniforme escolar imcompleto.

Yukina (girando o corpo para se mostrar): Olha, Rika-nee. Estou pronta para a escola.

Rika bate na própria testa com a mão esquerda. Ela suspira e junta os gêmeos, se agachando diante deles.

Rika: Eu sei que vocês adoram ficar bonitinhos, fofinhos e tal, mas a escola tem regras quanto ao que se pode ou não se pode vestir. Então vão lá para o quarto e vistam seus uniformes direitinho. Depois vamos todos tomar café-da-manhã juntos, certo?
Yuuji (decepcionado): Tá bom...
Yukina (decepcionada): Ok...

Yuuji e Yukina dão as mãos e voltam para seu próprio quarto. Rika recolhe suas roupas e se prepara para ir ao banheiro, mas alguém bloqueia a saída de seu quarto com o braço.

Ryo: Que feio, Rika. Abalando o senso fashion dos irmãozinhos...
Rika: Ryo...

Rika se encontrava diante de um garoto alto e magro, com cabelos longos, negros e sedosos, com uma franja sobre o lado direito do rosto. Tratava-se de Ryo, o filho mais velho da família Shinozaki.

Ryo: Você não devia ficar com tanta inveja da beleza de seus irmãos. Isso é a ordem natural das coisas. Alguns nascem para serem beldades dignas de adoração, outros nascem para ser pessoas sem sal e sem charme, difíceis de serem notadas ou lembradas.

Ryo fecha os olhos e joga o cabelo para o lado enquanto sorri.

Ryo: Mas eu te prometo, irmãzinha, que mesmo você sendo essa menina ignorante totalmente sem atrativos cujo único ponto de destaque são essas sardas horríveis, eu ainda vou te amar do mesmo jeito.

Ryo arregala os olhos quando ouve um som peculiar. Ele fica horrorizado quando sua franja cai caprichosamente rumo ao piso.

Ryo (numa voz aguda): Ahhhh!

O garoto cai de joelhos e abraça os restos de sua estimada franja.

Ryo: O que você fez?
Rika: Eu? Estava apenas prestando atenção na sua boca e não entendendo nada do que estava sendo dito. Não consigo entender a língua dos idiotas.
Ryo (protestando): Não foi só isso! Você cortou minha franja!
Rika: Não, eu não cortei.
Ryo: Você está com uma tesoura na mão!

Rika joga a tesoura na cama.

Rika (mostrando as mãos): Não. Não estou não. Seu cabelo deve ter caído naturalmente.

Ryo começa a chorar forte.

Ryo: A fonte de todo o meu charme... perdida... agora eu sei como Sansão se sentia...

Rika passa a mão na cabeça do irmão mais velho.

Rika (um sorriso maligno): Você devia tomar mais cuidado com esses produtos que passa no cabelo... pode acabar ficando careca um dia desses...
Ryo: Eh?

Ryo se afasta às pressas e se encolhe do outro lado do quarto, tremendo de medo. Rika dá uma leve risada e finalmente consegue ir para o banheiro. Ela toma um banho rápido, arruma o cabelo, escova os dentes e depois se dirige para a cozinha, onde os gêmeos já estavam esperando.

Yuuji: O que vamos ter para comer hoje, Rika-nee?
Yukina (ajeitando o laço no cabelo): Algo delicioso?
Rika: Hmmm.

Rika estava diante de um problema. Cozinhar não era exatamente seu forte, mas não podia deixar os gêmeos irem para a escola de barriga vazia.

Rika: Certo! Hoje vamos ter o super-mega-especial da Rika!
Yuuji: Oh. Isso é novo.
Yukina: É gostoso? É gostoso?
Rika: Vocês nunca provaram nada igual.

Rika frita dois ovos rapidamente. Depois recolhe diversos ingredientes aleatoriamente e os coloca num liquidificador. Após alguns instantes, serve dois copos para os gêmeos, rezando para que eles gostassem do café-da-manhã improvisado.

Yukina: Onee-chan... os ovos estão pretos e duros...
Yuuji (fazendo cara de nojo): E essa vitamina tem um gosto estranho...
Nanami (lambendo os lábios): Do que você está falando? A vitamina está deliciosa.
Rika: Viu? Até a Nanami gostou. Você só tem que dar uma chance para minha super-vitamina e...

Rika e os gêmeos se entreolham por um instante. Nanami havia se sentado ao lado deles e se servido de um pouco de vitamina.

Rika (surpresa): O que você está fazendo aqui, Nanami? A mãe não tinha te levado para o hospital?!?

Nesse momento todos ouvem o barulho de um carro estacionando às pressas. Yuria escancara a porta e entra na casa, olhando para todos os lados como se estivesse à procura de algo.

Yuria (apontando para Nanami): Ah! Aí está ela! Sabia que tinha esquecido de alguma coisa!
Rika: Como você pode ir para o hospital sem a paciente?!

Yuria pega Nanami no colo, volta para o carro e acelera rumo ao hospital. Rika suspira.

Rika: Francamente...

Rika pega uma caixa de cereal no armário e serve um pouco para os gêmeos. Em seguida ela pega uma caixa de suco de uva na geladeira.

Yuuji: Aqui... estava um pouquinho torto. Agora tá bom.
Yukina: Ah. Obrigada.

Yuuji estava ajeitando o laço na cabeça da irmã, que agradece com um sorriso estampado no rosto. Rika se encosta na pia para observar a cena.

Rika (sorrindo): Apenas mais um dia na casa dos Shinozaki, não é?

FIM DO FLASHBACK

Lisbeth abre os olhos lentamente e observa ao seu redor. O velho de barba branca ainda estava falando animadamente e a fogueira a sua frente ainda fornecia um calor aconchegante.

Lisbeth: “Eu dormi e nem notei?”

Kirito: Bom dia, bela adormecida.
Lisbeth: Eh?

Lisbeth nota que estava com a cabeça apoiada no ombro de Kirito.

Lisbeth: Ahhhh!

A ferreira se afasta abruptamente e quase cai do tronco, mas Kirito a segura. O NPC ignora toda a ação e não pára de falar por um minuto sequer.

Kirito (puxando Lisbeth de volta): Ei, tome cuidado.
Lisbeth: O-obrigada...

Lisbeth volta a se sentar, se sentindo um pouco desconfortável. Ela olha de esgueira para Kirito.

Lisbeth: D-desculpe por dormir no seu ombro...
Kirito: Não tem problema.
Lisbeth: Por quanto tempo eu apaguei?
Kirito: Só alguns minutos.
Lisbeth: Por que você não me acordou?
Kirito: Bem... eu imaginei que você estivesse cansada e quis te dar um tempo para se recuperar...
Lisbeth: Hmmm...
Kirito: E também, você parecia estar tendo um bom sonho e acabei ficando sem graça para te acordar...
Lisbeth: Um bom sonho?
Kirito: Sim. Você até estava sorrindo. Devia ser algo muito bom.
Lisbeth: Ah.

Lisbeth olha para a fogueira e suspira.

Lisbeth: O sonho foi sobre minha família. Sinto saudade dos meus pais e dos meus quatro irmãos.
Kirito: Quatro irmãos?
Lisbeth (contando nos dedos): Um irmão mais velho, uma irmã mais nova e um casal de gêmeos mais novo.
Kirito: Deve ser uma casa bem alegre.
Lisbeth (sorrindo enquanto fala): Todo dia acontecia algo diferente. Meus irmãos só faziam coisas absurdas e me deixavam sempre maluca. Certa vez minha irmã mais nova pegou um baita resfriado porque ficou a noite toda no telhado da casa querendo contar quantas estrelas havia no céu...

Lisbeth dá uma tímida risada enquanto repassa a lembrança em sua mente.

Kirito: São boas lembranças, não é?
Lisbeth: Sim. Definitivamente.
Kirito: Às vezes também sonho com minha familia... minha mãe, meu pai e minha irmã mais nova...
Lisbeth: Você tem uma irmã mais nova?
Kirito: Sim, mas ela não tem nada a ver comigo. Ela é muito dedicada e organizada, além de ser excelente em esportes. Sendo bonita, exemplar nos estudos e um prodigio no kendo, não é para menos que ela é bem popular na escola dela.
Lisbeth (com uma mão no queixo): Ora, ora. Temos um siscom aqui...
Kirito (cruzando os braços, indignado): Eu não sou siscom! Apenas tenho orgulho da minha irmã.
Lisbeth: Hahaha. Eu entendo como você se sente. Mesmo que às vezes eles me dêem nos nervos, amo meus irmãos mais do que tudo no mundo. Eu daria qualquer para ver eles de novo...

Lisbeth seca uma lágrima que se forma no canto de seu olho.

Lisbeth: Já fazia algum tempo que não pensava neles, na minha familia. Acho que eu vinha me forçando a não pensar nisso para não me sentir tão mal...

Kirito olha para Lisbeth e nota o semblante depressivo da menina. O garoto começa a esfregar o próprio ombro.

Kirito: Eu sei que seu sonho estava agradável e tal, Lis... mas você não precisava ter babado no meu ombro enquanto dormia...
Lisbeth: O que?! Eu não babo enquanto durmo!
Kirito: Não é isso que meu ombro molhado está mostrando...
Lisbeth (bufando de raiva): Eu vou te mostrar uma coisa, seu mentiroso!

Lisbeth começa a balançar Kirito, segurando-o pela gola da camisa. Ao invés de protestar, o garoto aceita tudo tranquilamente.

Lisbeth: “O que é este sentimento estranho? Mesmo que eu fique sempre discutindo com o Kirito, mesmo que ele fique me tirando do sério, por que me sinto melhor? Por que sinto meu coração mais leve?”

Lisbeth encara os olhos negros de Kirito e decide por soltar sua camisa.

Lisbeth: “Ele tem uma boca grande e algumas idéias estúpidas, mas também consegue ser gentil... ele até escutou meu desabafo... talvez o Kirito não seja tão ruim quanto parece...”

Kirito: Olha... acho que o NPC está chegando na parte que nos interessa.

O velho não havia parado de falar um instante sequer e parecia feliz apenas por ter companhia, mesmo que não estivessem lhe dando muita atenção.

Senhor: ... e na montanha mais alta do oeste, lugar inóspito do qual todos mantém distância, vive um dragão chamado X’rphan the White Wyrm. O generoso homem que me ajudou a construir minha segunda casa me contou tudo que ouvira sobre ele. O dragão branco domina o topo da montanha, afastando todos os invasores com seu bafo gélido, e se alimenta dos cristais que nascem daquela terra. Foi dito que ele é capaz de produzir um metal raro – o lingote de cristal – mas poucos foram aqueles que retornaram vivos de um encontro com X’rphan.
Kirito: Existe um caminho rápido de se alcançar o topo da montanha?

O velho aponta para a colina.

Lisbeth: Ele está apontando para o lugar de onde viemos...
Senhor: As principais rotas foram destruídas por acidentes com tempestades de neve, mas ainda existe uma viável. Naquela colina existe um portão forjado em aço e gelo que sela o caminho até X’rphan.
Lisbeth: Por que colocaram um portão ali?
Senhor: Para que viajantes desinformados não perecessem nas garras do feroz dragão branco.
Kirito: E como abrimos o portão?
Senhor: Vocês precisarão de uma «Skeleton Key».
Lisbeth: E onde achamos essa chave?
Senhor: Ela não pode ser encontrada, apenas forjada. Posso fazer isso por vocês, meus caros, se me trouxerem os materiais certos...

O velho estende as mãos, como se esperasse receber algo. Kirito e Lisbeth notam que a janela de quest havia recebido uma atualização.

Kirito: Vamos precisar de alguns materiais para o NPC forjar a chave...
Lisbeth: Acredito que eu tenho tudo aqui... essa não!
Kirito: O que foi?
Lisbeth: Entre os materiais necessários estão aqueles ossos dropados pelos soldados-esqueletos e nós jogamos eles fora... vamos ter que voltar todo o caminho...
Kirito: Não se preocupe. Eu guardei alguns.

Kirito abre seu inventário e retira alguns ossos, colocando-os sobre a neve.

Lisbeth (irritação na voz): Pare com isso.
Kirito: Do que você está falando?
Lisbeth: Você está com aquele olhar de “eu te avisei que íamos precisar disso, não foi?” e eu não gosto disso.
Kirito (rindo): Esse é um olhar bem específico. Não se preocupe, não tenho nenhuma intenção de esfregar isso na sua cara.
Lisbeth: Ainda bem.
Kirito: ...
Lisbeth: ...
Kirito: Mas eu te avisei, não foi?
Lisbeth: Ahhh! Você é inacreditável!

A dupla reúne todos os materiais necessários e os entrega ao velho, que dá uma sonora gargalhada, seguida de uma tosse.

Senhor: Muito bem, muito bem. É bom ver almas tão jovens e cheias de energia trabalhando tão duro para alcançarem um objetivo. Eu realmento espero que vocês sobrevivam a esta aventura e que seus feitos sejam passados de geração para geração.
Kirito: Obrigado. Em quanto tempo a chave fica pronta?
Senhor: Não deve levar mais do que dez minutos. Por favor, me acompanhem até minha humilde residência.

A dupla segue o velho até um casebre cuja entrada estava parcialmente coberta de neve. Uma chaminé se erguia no telhado. O interior da casa não era muito grande e havia apenas alguns poucos móveis de madeira decorando o ambiente. O velho acende uma fornalha e começa a trabalhar com os ingredientes. Kirito e Lisbeth se sentam num banco para aguardar. A ferreira aproveita o momento para checar os itens que havia em seu inventário.

Kirito: Você quer um?

Lisbeth nota que Kirito havia estendido um sanduíche em sua direção.

Lisbeth: Para mim?
Kirito: Sim. Não é o melhor lanche do mundo, mas dá para enganar a fome.
Lisbeth: O-obrigada.

Lisbeth começa a comer o sanduiche enquanto olha de esgueira para Kirito.

Lisbeth: “Eu realmente não entendo esse cara...”

Como prometido, o velho não demora muito para forjar a chave. Ele entrega a «Skeleton Key» para Kirito.

Kirito: Obrigado pela ajuda.
Senhor: Vocês poderão voltar ao topo da colina se seguirem este caminho...

O velho entrega um mapa para Lisbeth. Ele revelava um caminho secreto para se chegar até o portão, diminuindo o tempo de caminhada pela metade. Automaticamente as informações são copiadas para a janela de mapa de Kirito e Lisbeth.

Senhor: Tomem cuidado com as feras que se ocultam na estrada. Ao passarem pelo portão, encontrarão um caminho que levará ao topo da montanha, lar de nosso temido dragão. Só avancem em direção a X’rphan quando estiverem totalmente preparados.
Kirito: Nós tomaremos cuidado.
Senhor: Então é hora de partir, viajantes. Que os deuses de Aincrad iluminem seu caminho. Espero que um dia vocês possam me visitar novamente.

Kirito e Lisbeth deixam o casebre. Imediatamente a janela de quest recebe uma atualização, solicitando que eles abram o portão no topo da colina. A dupla olha para o céu, onde o sol já começava a se esconder.

Lisbeth: Já está ficando bem tarde...
Kirito: O que você quer fazer? Quer subir a montanha agora ou esperar amanhecer?

Lisbeth pondera por alguns instantes.

Lisbeth: Sabe do que mais? Vamos logo. Quero ver você chorando como uma menininha o mais rápido possivel.
Kirito: Eu vou conseguir o lingote de cristal. Pode ter certeza disso.
Lisbeth: Hah. Você está falando isso agora. Tenho certeza que suas pernas vão tremer quando virmos o tal dragão branco.
Kirito: Parece que alguém ainda não está convencida de minha habilidade com a espada...
Lisbeth: Estou convencida de que você tem uma boca grande, isso sim.
Kirito: Pois bem. Não vamos perder mais tempo. Vamos embora.

Kirito abre sua janela de mapa e começa a andar, seguindo as instruções fornecidas pelo NPC. Lisbeth abre um pequeno sorriso antes de seguir seu parceiro. Ela achava estranho o fato de que discutir com Kirito havia começado a se tornar divertido.

Lisbeth (murmurando): Só espero que não encontremos mais frozen bears no caminho...

E de fato eles não encontraram. O caminho até o portão fora tranquilo, Lisbeth e Kirito só tendo que exterminar alguns lobos de nível mediano. Minutos após sair da vila, a dupla se vê diante do portão de aço e gelo. Kirito insere a «Skeleton Key» na fechadura com formato de caveira e a gira. O portão emite um ruído metálico e se abre para os visitantes. Assim que atravessam o portão, Kirito e Lisbeth vêem suas janelas de quest serem atualizadas.

Lisbeth: Só o que resta agora é encontrar o lingote de cristal para completar a quest...
Kirito: Então vamos logo.

Após perder vários minutos caminhando por uma estrada que era castigada por um vento frio e passar por penhascos de gelo puro, Kirito e Lisbeth finalmente alcançam o topo da montanha.

O lugar era mais amplo do que se imaginava. Pilares de cristal dos mais diversos tamanhos emergiam da terra coberta por uma fina camada de neve. Os últimos raios de luz do sol refletiam por esses cristais, criando um fantástico arco-íris.

Lisbeth: Sensacional!

Lisbeth, maravilhada, começa a avançar por entre os pilares de cristal, mas Kirito a segura pelo casaco e a puxa de volta.

Lisbeth: Ei! O que você está fazendo?
Kirito: Coloque um cristal de teleporte nas mãos antes de avançar.
Lisbeth: Ok, ok. Eu não sou nenhuma noob, tá?

Lisbeth retira um cristal de teleporte do inventário e o coloca no bolso de seu vestido, onde seria fácil de alcancá-lo.

Kirito: E também, a partir daqui vai ficar muito perigoso...

Lisbeth nota que Kirito estava olhando para o maior pilar de cristal dali. No topo dele havia um enorme dragão branco repousando. X’rphan ainda não havia notado a presença dos invasores.

Kirito: Quando o dragão se mexer, esconda-se atrás de um dos pilares de cristal e não saia de lá até que eu diga para sair.
Lisbeth: Por que eu faria isso? Meu nível é bem alto e eu posso muito bem ajud...
Kirito (gritando repentinamente): Lisbeth!

As pupilas negras de Kirito focam direto nos olhos de Lisbeth, fazendo a garota estremecer um pouco.

Kirito: Lis, por favor.

Kirito estava com o mesmo olhar sério de antes. Dessa vez Lisbeth não tinha dúvidas: Kirito estava realmente preocupado com ela do fundo do coração. A ferreira fica sem saber direito como reagir. No fundo do seu peito, ela se sentia feliz por alguém se preocupar tanto com sua segurança.

Lisbeth (a cabeça baixa): Ok. Vamos fazer como você quer...

Kirito abre um sorriso. Ele passa a mão carinhosamente na cabeça de Lisbeth. A ferreira pensa em protestar, mas por algum motivo que ela não entende, acaba desistindo.

Kirito: Ok. Então vamos.

Kirito e Lisbeth voltam a caminhar, focando sua atenção no dragão adormecido. Não sabiam até que ponto poderiam se aproximar sem despertá-lo. A dupla acaba encontrando um enorme e peculiar espaço aberto no meio do conjunto de pilares e logo percebem o motivo.

Lisbeth: Uau.

Ali havia um enorme buraco, uma caverna cuja entrada possuía pelo menos dez metros de diâmetro. Kirito chuta uma pedra para dentro do buraco e a mesma desaparece naquela imensidão negra sem fazer nenhum som.

Lisbeth: Parece bem fundo...
Kirito: Cuidado para não cair.
Lisbeth: Como se eu fosse dar uma de boba. Sou esperta demais para cair nessa armadilha.

Neste exato momento o dragão levanta sua cabeça. Seu rugido feroz se espalha por todo o topo da montanha.

Kirito: Se esconda! Agora!

Lisbeth procura o pilar de cristal mais próximo e se esconde atrás dele.

Lisbeth: Não sabemos que tipo de ataques esse dragão tem... tome cuidado!

Kirito se limita apenas a sorrir e levantar o polegar de sua mão direita antes de sacar sua «Elucidator». X’rphan lentamente começa a bater suas asas, gerando correntes de vento que destroem os pilares de cristal mais próximos. O dragão logo alça vôo, seus assustadores olhos cor de rubi focados no «Black Swordsman». O garoto, contudo, não demonstrava o mínimo temor. Ele assume posição de combate e o dragão branco entende isso como um convite. X’rphan começa a abrir sua boca, em preparação para seu ataque.

Lisbeth: Ele vai atacar! Se proteja!

Apesar do grito de Lisbeth, Kirito não se move um centrimetro. Sua espada começa a emitir um brilho verde, indicação de que ele estava usando algum skill.

Lisbeth: “O que ele está pensando? Não tem como uma espada bloquear o ataque de um dragão!”

X’rphan dispara uma rajada gélida e Kirito simplesmente a rebate com sua «Elucidator», criando uma onda de ar frio que se espalha pelo ambiente. Preocupada, Lisbeth logo checa a barra de HP de Kirito. O dano sofrido havia sido mínimo e sua barra de HP estava se recuperando extremamente rápido.

Lisbeth: “Kirito rebateu um ataque do dragão com a espada... além disso, para o HP dele se recuperar tão rápido, ele só pode ter um skill de battle healing extremamente alto...”

A ferreira estava simplesmente perplexa com o que via.

Lisbeth: “Alguém com um poder tão absurdo certamente seria um dos jogadores chave... mas o nome de Kirito não está na lista dos principais jogadores de guilds... quem realmente ele é?”

Normalmente batalhar contra uma criatura voadora seria um problema, mas Kirito simplesmente salta extremamente alto apenas com suas pernas e alcança o dragão, iniciando uma série de ataques contra ele em pleno ar. O garoto concentra seus ataques no peito de X’rphan. Quando ele começa a perder altitude e pousa sobre um dos pilares, a barra de HP do dragão já havia diminuído em um terço. X’rphan se movimenta no ar e tenta um ataque com suas garras, mas o «Black Swordsman» se esquiva e salta para outro pilar. O dragão tenta atacar novamente com sua rajada gélida. Dessa vez, entretanto, Kirito salta por cima do ataque e mira seus golpes na cabeça do monstro, atingindo uma velocidade mais rápida do que o olho humano poderia acompanhar.

Kirito (golpeando com a espada): Mais rápido... mais rápido... mais rápido...

Quando Kirito pousa em outro pilar, a barra de HP da criatura já se encontra no amarelo. X’rphan solta um rugido de pura ira e voa bem alto. Em seguida, ele desce em alta velocidade em direção a seu adversário. Kirito não se intimida e salta em direção a criatura, cortando um de seus braços com sua «Elucidator» e pousando no chão coberto de neve. A barra de HP do dragão imediatamente muda do amarelo para o vermelho. A batalha não levaria mais do que mais um ou dois ataques para ser decidida.

Lisbeth: “Ok... tenho que dar meu braço a torcer... o Kirito é simplesmente incrivel!”

Lisbeth resolve sair de seu esconderijo, ainda decidindo se devia colocar seus pensamentos em palavras. Apesar de estar concentrado na batalha, Kirito nota a movimentação de sua parceira.

Kirito: Idiota! Não apareça ainda!
Lisbeth: O que? Mas por que não? O dragão já está quase acabado...

X’rphan volta a ganhar altitude e começa a bater suas asas para frente, levantando muita neve e criando um grande vendaval. Reagindo rápido, Kirito finca sua espada no chão, mas Lisbeth não tem a mesma sorte. A ferreira sente como se uma parede tivesse se chocado contra ela e é lançada no ar. Seu corpo é carregado pelo vento enquanto ela tenta inutilmente se agarrar em algo. Por sorte, este ataque do dragão não era capaz de causar graves danos, sendo utilizando mais para abalar os inimigos. Girando no ar descontroladamente e sem conseguir ver nada no caminho por causa da neve levantada, Lisbeth se prepara para o impacto da queda.

O problema é que, quando a neve se dispersa e a ventania perde força, Lisbeth nota que não havia chão onde pousar.

Lisbeth: Você só pode estar brincando comigo...

Lisbeth havia ido parar bem acima do buraco gigante que havia visto anteriormente. Com uma expressão de terror, tudo que ela pode fazer é gritar enquanto tenta instintivamente se agarrar em algo.

Lisbeth: O que ...?!?

Lisbeth fica surpresa quando uma mão coberta com uma luva negra agarra seu pulso. Kirito havia disparado em alta velocidade e saltado em direção à ferreira sem hesitação. Infelizmente não chegara a tempo de tirá-la da direção do buraco. O «Black Swordsman» puxa Lisbeth para si, passando seu braço direito na cintura dela e a abraçando com força.

Kirito: Segure-se em mim!

Sem pensar duas vezes, Lisbeth enlaça o corpo de Kirito com ambos os braços e o abraça com força. Desesperada, a ferreira fecha os olhos. Não havia como saber o tamanho do buraco. Aquela queda poderia significar a morte certa. Kirito, entretanto, não desiste. Com o braço livre, ele golpeia a parede com sua espada, impulsionando-se para bem próximo da parede oposta.

Kirito: Vamos lá, vamos lá...

Kirito tenta fincar sua espada na parede, mas ela é refletida como se tivesse colidido com um muro reforçado de puro aço. Lisbeth supera o medo e se atreve a olhar o que seu parceiro estava fazendo. Kirito tenta desacelerar a queda mais duas, três vezes, sem sucesso. Ao longe, o fundo da caverna já se tornava visivel. Parecia não haver escapatória. Com o corpo tremendo e mordendo o próprio lábio para segurar um grito, Lisbeth se agarra a Kirito com ainda mais força.

Kirito: Droga...

Kirito larga sua espada, envolve Lisbeth em seus braços e rotaciona seu corpo, de forma que ele fique na parte debaixo, a parte que receberia o maior dano.

Então o inevitável impacto acontece. Flocos de neve são jogados no ar e cobrem parcialmente os corpos inertes. Após alguns instantes, Lisbeth finalmente consegue acalmar seu coração o bastante para voltar a se mexer. Ela abre seus olhos e nota que estava deitada sobre Kirito, sua cabeça apoiada no peito dele. O «Black Swordsman» ainda segurava a ferreira bem apertado.

Kirito: Você ainda está viva?

Lisbeth acena positivamente com a cabeça.

Lisbeth: Sim. Ainda viva. Nós dois estamos.

Lisbeth relutantemente sai de cima de Kirito, permitindo que o garoto se levante. Ele recolhe sua espada e abre sua janela de inventário, adquirindo dois itens.

Kirito: Beba isso.

Kirito joga um frasco de poção de cura para Lisbeth, que a garota aceita prontamente. Ela checa sua própria barra de HP, percebendo que ela estava no amarelo. Kirito, entretanto, estava no vermelho.

Lisbeth: “Ele me salvou de novo... levou a maior parte do impacto para garantir que eu sobreviveria... ele poderia ter morrido...”

Lisbeth bebe a poção, o gosto doce se espalhando por sua boca, e vê sua barra de HP crescer novamente. Ela relutantemente fita Kirito. Sentia que devia ao menos algumas palavras de agradecimento a ele.

Lisbeth: Hmmm... bem... obrigada por me salvar...

Kirito estava olhando para o alto, em direção a saída da caverna.

Kirito: É muito cedo para me agradecer. Demos sorte que o dragão não veio atrás de nós, mas como vamos sair daqui?
Lisbeth: Como assim? Não podemos simplesmente nos teleportar?

Lisbeth pega o cristal de teleporte que deixara no bolso de seu vestido e o segura firme nas mãos.

Lisbeth: Teleporte! Lindus!

Para o azar da ferreira, nada acontece.

Lisbeth: Mas por que...?
Kirito: Se eu achasse que poderíamos fugir usando teleporte, teria usado os cristais durante a queda. Mas esse lugar parece ser uma armadilha para jogadores, então definitivamente é uma zona anti-cristal.
Lisbeth: Não pode ser...

Lisbeth coloca as mãos no rosto, seu semblante já mostrando um certo desespero. Kirito coloca a mão no ombro da ferreira.

Kirito: Calma. Não precisa ficar assim. Se os cristais não funcionam, então definitivamente deve existir outra saída.
Lisbeth: Talvez sim, talvez não. E se essa for uma armadilha impossível de escapar? E se for algo que garanta a morte lenta e sofrida dos jogadores?
Kirito (com a mão no queixo): Hmmm. Você tem razão. Deve ser algo do tipo.
Lisbeth: O que?

Irritada, Lisbeth começa a falar alto e a dar socos em Kirito.

Lisbeth: Ahhhhh! O que diabos você está fazendo, seu estúpido?! Por que concordou comigo?! Você deveria ser positivo! Deveria estar me consolando!

Kirito responde a explosão de Lisbeth com um sorriso.

Kirito: Você fica muito melhor assim.

Surpresa, Lisbeth fica paralisada e seu rosto logo fica corado.

Lisbeth: “Ele... ele estava tentando me animar?”

Kirito passa a mão na cabeça de Lisbeth, brincando um pouco com os cabelos dela.

Kirito: Que tal nos unirmos para pensar numa solução? Duas cabeças pensam melhor que uma.
Lisbeth: O-ok...

Kirito se afasta e começa a analisar a caverna. Lisbeth coloca a mão na cabeça, no local onde Kirito havia tocado. Em seguida, balança a cabeça com força e coloca seu cérebro em capacidade máxima, pensando num jeito de fugir.

Kirito: Não parece haver nenhum túnel, pelo menos não visível...
Lisbeth: Não poderíamos gritar por socorro para outros jogados que viessem atrás de X’rphan?
Kirito: Devemos estar há mais de 80 metros da saída... acho que nossas vozes não iriam tão longe...
Lisbeth: Hmmm...
Kirito: ...
Lisbeth: Poderíamos esperar que alguém venha nos buscar. Eu tenho amigos que sentiriam minha falta e fariam uma busca para me encontrar.
Kirito: O sistema de rastreamento não funciona em zonas anti-cristal. A não ser que você tenha dito exatamente onde você estava indo para seus amigos, eles não tem como te encontrar.

Lisbeth esfrega as mãos na cabeça, irritada.

Lisbeth: Ahhh! Eu não sei! Por que você não dá uma ideia também?

Kirito pondera por alguns instantes.

Kirito: Tenho uma idéia.
Lisbeth: Sério?
Kirito: Sim. Subir correndo pelas paredes.
Lisbeth: Huh?

Lisbeth olha para Kirito, boquiaberta.

Lisbeth: Você é estúpido?
Kirito: Bem... vamos descobrir.

Kirito dá alguns passos para trás e ganha impulso para a corrida. Lisbeth fica apenas observando, incrédula. Kirito começa a correr e salta, levantando uma nuvem de neve. O impulso leva o garoto bem alto na parede da caverna, onde ele começa a correr, conseguindo sustentar sua velocidade. Logo ele alcança um terço do caminho para a saída, mas vai se tornando mais difícil avançar.

Lisbeth: Não acredito que ele vai conseguir...

Nesse momento, Kirito pisa em falso e escorrega, despencando de onde estava e abrindo um enorme buraco em forma de ser-humano na neve. Lisbeth se agacha junto ao buraco, rindo.

Lisbeth: Eu já sabia que você era idiota, mas não tinha ideia que chegava a esse nível.

Kirito saí do buraco e bebe uma poção de cura.

Kirito: Se tivéssemos mais espaço, poderia funcionar.
Lisbeth: Nem em um milhão de anos.

Kirito coça a cabeça e suspira.

Kirito: Bem... por hora acho que devemos acampar aqui. Já está ficando escuro e não tem muito o que possamos fazer agora.
Lisbeth: É... talvez depois de um pouco de descanso a gente tenha alguma boa ideia.
Kirito: Não acho que exista respawn de monstros aqui, então devemos ficar seguros.

A dupla se senta na neve e fica em silêncio por alguns instantes. Então Kirito retira um fogão de acampamento de seu inventário e começa a cozinhar algo. Minutos depois ele serve duas porções em potes, entregando uma delas para Lisbeth. A ferreira fica extremamente agradecida, visto que seu estômago já implorava por comida.

Lisbeth: Ah. Obrigada.
Kirito: Não espere muita coisa. Meu skill de cozinha é horrível.

Lisbeth prova a sopa e sente um calor reconfortante se espalhar por seu corpo, algo para combater o frio daquele lugar.

Lisbeth: Que sensação estranha... não parece que é real...
Kirito: Hã?
Lisbeth: Quer dizer... esta situação... acampar no meio do nada e dividir uma refeição com um estranho... acho que isso nunca aconteceria na vida real...
Kirito: Você é uma artesã e não está acostumada. Eu acampo em campo aberto com certa frequência...
Lisbeth: Sério? Por que não me conta como é? Sobre as dungeons que você faz, os lugares em que acampou e todo o resto.
Kirito: Não acho que seria muito interessante...
Lisbeth: Vamos lá. Abre essa boca. Eu quero saber mais.
Kirito: Bem... se você insiste...

Kirito pensa por um momento.

Kirito: Teve uma vez que combati esse chefe de evento que tinha um ataque de nível baixissimo, mas tinha uma barra de HP inacreditavelmente alta. Acho que levei uns dois dias para vencê-lo e...

A dupla conversa sobre coisas triviais enquanto come, basicamente dividindo histórias de suas próprias aventuras. Depois da refeição, Kirito recolhe seus itens e retira dois sacos de dormir do seu inventário.

Kirito: Estes são bons itens. Preservam muito bem o calor e tem um efeito extra de ocultação contra monstros.

Kirito e Lisbeth entram em seus respectivos sacos de dormir. Eles ficam há poucos centímetros de distância um do outro, um lampião aceso entre eles. Kirito e Lisbeth se mantém em silêncio por um tempo, esperando o sono chegar. Entretanto, Lisbeth tinha algo que não conseguia tirar de sua cabeça. A ferreira olha de relance para seu parceiro.

Lisbeth: Ei, Kirito... posso te perguntar uma coisa?
Kirito: O que foi?
Lisbeth: Naquele momento... por que você me salvou? Quer dizer, não é que eu não esteja grata, mas não havia nenhuma garantia de que você conseguiria. Você poderia simplesmente ter morrido comigo, então... por que?

A expressão de Kirito fica mais séria por um instante, mas logo volta ao normal e o garoto responde com uma voz calma.

Kirito: Prefiro morrer com alguém ao invés de deixar esse alguém morrer sozinho sem fazer nada. Especialmente se esse alguém é uma garota como você, Lis.

Lisbeth olha surpresa para Kirito.

Lisbeth: Você é realmente estúpido. Ninguém mais pensaria assim.

Uma parte do coração de Lisbeth dói, enquanto ela tenta o seu melhor para controlá-lo. A ferreira não ouvira palavras tão sinceras e calorosas desde que ficara presa nesse mundo digital. O doloroso sentimento de solidão, antes enterrado bem fundo, emerge do coração de Lisbeth como uma tempestade incontrolável. Ela queria se livrar dessa sensação incômoda, queria algo que pudesse aquecer seu coração fragilizado. Antes que a menina se dê conta, palavras inesperadas saem de sua boca.

Lisbeth: Será que você... poderia segurar minha mão?

Kirito olha para Lisbeth, surpreso. Eles trocam olhares por alguns instantes, como se estivessem se estudando.

Kirito: Sim.

Lisbeth timidamente retira seu braço direito do saco de dormir e o estende em direção a Kirito, que faz o mesmo. Quando as mãos se tocam, ambos recuam por um momento, mas logo as mãos acabam unidas. Eles viram os corpos no saco de dormir, ficando de frente um para o outro.

Lisbeth: Está tão quentinho...
Kirito: É verdade...
Lisbeth: Você e eu somos apenas dados num mundo virtual, mas...
Kirito: Lis...

Lisbeth não completa sua frase. Ela apenas sorri e fecha os olhos, aproveitando aquela sensação calorosa para ter a melhor noite de sono desde que ficara presa em Sword Art Online.

Nível 55, Granzam – Agora

Lisbeth coça a cabeça, as memórias dos últimos eventos ainda frescas em sua mente.

Lisbeth: “Se sacrificar por alguém que acabou de conhecer... poucas pessoas fariam algo do tipo...”

Lisbeth fica admirando Kirito, que seguia concentrado em seu trabalho de escavação sem perceber que estava sendo observado.

Lisbeth: “Como foi que ele disse? ‘Prefiro morrer com alguém ao invés de deixar esse alguém morrer sozinho sem fazer nada.’ Kirito é realmente um cara estranho... estranho, mas legal...”

A lembrança de dormir segurando a mão de Kirito na noite anterior se destaca na mente da menina. Lisbeth olha para sua própria mão. Ainda podia sentir o calor aconchegante, aquela sensação agradável que acalmava seu coração. Não imaginava que podia sentir aquilo nesse mundo virtual onde tudo se baseava em dados.

Lisbeth: “Seria tão bom poder ter aquela sensação todos os dias... era tão quente e reconfortante...”

Notando que seu rosto estava corando, Lisbeth bate levemente na própria face com as duas mãos para se concentrar.

Lisbeth (murmurando): O que diabos você está pensando, Lis?

Lisbeth se levanta e se aproxima de Kirito.

Lisbeth (com um tom sarcástico): Ei. O que você está fazendo? Teve mais alguma idéia brilhante para sair daqui?

Kirito suspira.

Kirito: Pelo menos eu estava tentando algo...
Lisbeth (rindo): É... você conseguiu boas risadas minhas quando se espatifou no chão depois de tentar correr pelas paredes.
Kirito: De qualquer forma... veja.

Kirito retira um objeto do buraco que cavara na neve. Era uma espécie de cristal. Lisbeth checa a janela de item para saber mais informações do cristal.

Lisbeth: Lingote de cristal? Por acaso...
Kirito: É o material que viemos buscar para fazer a espada.
Lisbeth: Hmmm.

Lisbeth fica observando o cristal em suas mãos. Kirito se levanta e limpa suas roupas que estavam um pouco sujas de neve.

Kirito: O dragão come os cristais lá de fora e os digere, criando os lingotes. Não é a toa que ninguém encontrava o metal raro.
Lisbeth: Nós encontramos, isso é o que importa. Mas... por que está aqui?
Kirito: Esse buraco não é uma armadilha. É o ninho do dragão.

Enquanto fala, Kirito olha ao redor na caverna, como estivesse checando algo.

Kirito: Acredito que o lingote na verdade é excremento do dragão.
Lisbeth: Excremento?

Lisbeth olha algumas vezes do lingote para Kirito, sua mente processando o que acabara de ouvir.

Lisbeth (os olhos arregalados): Ehhhh?

Enojada, Lisbeth joga o lingote para Kirito.

Lisbeth: Por que diabos você me deu cocô de dragão para segurar?!? Você não tem nenhuma delicadeza, não é?

Kirito agarra o lingote e o coloca em seu inventário. Ele nota que sua janela de quest mostrava que a quest do dragão X’rphan estava concluída, fornecendo uma boa quantidade de pontos de experiência.

Kirito: Seja como for, conseguimos o que queríamos. Agora precisamos de um plano para sair daqui.

Lisbeth começa a limpar as mãos freneticamente no casaco.

Lisbeth: Espera. Você disse que essa caverna é o ninho do dragão, certo?
Kirito: Sim, eu disse.
Lisbeth: Mas dragões são criaturas noturnas, por isso...

Um forte rugido interrompe a conversa. Kirito e Lisbeth trocam olhares e lentamente focam sua visão na abertura no topo da caverna. X’rphan emerge dos céus e dá um vôo razante, entrando na caverna.

Lisbeth: Lá vem ele!

Lisbeth observa, perplexa, o feroz dragão avançando em direção a eles.

Kirito: Licença...

Kirito pega Lisbeth pela cintura e a coloca deitada em seu ombro.

Lisbeth: Eh? Espera! O que... ?

Kirito arrasta sua «Elucidator» no chão, criando uma neblina gelada para ocultá-lo. Em seguida ele ganha impulso e começa a correr. O dragão branco alcança o fundo da caverna e dissipa a neblina, mas não encontra suas vítimas. Kirito estava atrás da criatura, subindo a parede com sua velocidade de corrida. Ao atingir seu limite, ele se prepara para saltar.

Kirito: Se segure, Lis!
Lisbeth: Ahhh! Você quer nos matar?

Kirito salta e ele e Lisbeth vão parar nas costas de X’rphan. O garoto golpeia a criatura com sua espada, ficando-a nas costas dela em seguida. Não era um ataque mortal, mas era bastante incômodo. O dragão urra de raiva e começa a voar para fora da caverna com dois passageiros inesperados agarrados em suas costas. Kirito se esforça para manter a si e a Lisbeth nas costas do dragão.

Kirito: Estamos fora!

O dragão deixa a caverna e pára repentinamente. Kirito e Lisbeth acabam atirados para cima, indo parar acima das nuvens. Após subir alguns metros, a dupla começa a cair. Entretanto, estavam tão alto no céu que demorariam um pouco para alcançar o chão.

Kirito: Nossa!

Kirito e Lisbeth observam, maravilhados, o belo cenário proporcionado pelo nascer do sol. Um espetáculo digno de ser retratado em pinturas.

Lisbeth: Que lindo!

Lisbeth se surpreende quando, repentinamente, Kirito estende sua mão para ela.

Lisbeth: Kirito...?

Kirito acena positivamente com a cabeça, indicando que estava tudo bem. Após um breve momento de hesitação, Lisbeth decide por aceitar o gesto e segura a mão de Kirito. E dessa maneira, de mãos unidas, a dupla compartilha aquele cenário único.

Quando começara o dia anterior, Lisbeth nunca imaginaria que acabaria despencando do céu com alguém que acabara de conhecer. Entretanto ali estava ela, admirando o nascer do sol com Kirito. Ele era um cara bizarro, alguém difícil de se entender. Era um pouco rude, não sabia como tratar uma garota e tinha algumas idéias questionáveis, mas também era forte, destemido, gentil e disposto a se sacrificar para salvar um desconhecido. Quanto mais pensava sobre Kirito, mais queria saber sobre ele. Sentindo o peito transbordar de uma sensação que nunca experimentara antes, Lisbeth não consegue segurar o sorriso.

Lisbeth: Kiritoooo! Sabe de uma coisa...
Kirito (uma sobrancelha erguida): O que...?

Na velocidade que estavam caindo, o vento atrapalhava a entender direito o que estava sendo dito. Lisbeth enche os pulmões para gritar com toda força.

Lisbeth: Acho que estou apaixonada por você!
Kirito: O que? Não consegui ouvir!

Lisbeth não sabia como expressar o que estava sentindo. Não sabia nem ao menos se devia. Talvez não fosse algo tão profundo. Talvez fosse apenas uma coisa de momento.

Lisbeth: “Mas minha avó me disse uma vez que um momento é tudo o que você precisa para mudar toda a sua vida...”

Lisbeth começa a gargalhar de felicidade.

Kirito (gesticulando enquanto grita): Repete o que você disse! Eu não entendi!

Kirito é pego de surpresa quando Lisbeth enlaça os braços em seu pescoço e se aproxima. Antes que sua mente possa registrar o que estava acontecendo, algo suave toca seus lábios.

Um beijo. Nada extremamente longo nem audaz. Um beijo recheado de sentimentos que ansiavam por serem compartilhados. Quando os lábios se separam, Kirito e Lisbeth se entreolham, confusão explícita em seus olhos. A menina nota que acabara de agir por instinto.

Lisbeth: “O que eu acabei de fazer?!?”

Lisbeth sente o rosto queimar. Tinha certeza que estava corada agora. Ao olhar para Kirito, nota que o rosto do garoto estava mais vermelho que tomate.

Lisbeth (dando leves socos em Kirito): Por que você está corando também?
Kirito: Ai, ai, ai.

Instantes depois ambos caem num rio gélido aos pés da colina. Nada que algumas poções de recuperação de HP não dessem conta.

Nível 48, Lindus – Mais Tarde

Lisbeth e Kirito retornam ao Lisbeth’s Smith Shop e vão direto para os fundos, onde ficava a oficina. A menina acende a fornalha enquanto Kirito se senta num banco ao lado das escadas para aguardar.

Lisbeth: Você quer uma espada longa de uma mão, certo?
Kirito: S-sim, por favor.

Durante toda a viagem de volta houvera aquele silêncio incômodo. Havia uma aura de estranheza entre os dois e ninguém conseguia começar a falar sobre o que acontecera. Era óbvio, entretanto, que o beijo estava na cabeça dos dois.

Lisbeth retira um bloco de metal ardente da fornalha e começa a trabalhar nele usando seus skills de ferreira.

Lisbeth: “Ahhhh. Que clima horrível. Como eu resolvo isso? O que eu devo fazer?”

Lisbeth bate no bloco de metal com seu martelo de ferreira.

Lisbeth: “Por que eu fiz aquilo? Foi só impulso? Ou será que...”

Lisbeth bate mais uma vez com seu martelo. Ela olha de esgueira para Kirito e cora levemente.

Lisbeth: “Não... não foi impulso...”

Lisbeth bate mais uma vez com seu martelo. Ela se recorda dos últimos eventos. Da diversão que tivera, apesar dos riscos que correra. Dos momentos em que ela e Kirito estiveram de mãos dadas.

Lisbeth: “O calor da mão de Kirito... meus sentimentos... são todos verdadeiros...”

Uma vez mais, o martelo de Lisbeth atinge o bloco de metal.

Lisbeth: “Eu me decidi. Se eu puder fazer uma espada que agrade o Kirito, vou me declarar para ele.”

A tensão faz algumas gotas de suor escorrerem pelo rosto de Lisbeth. Ela estava colocando todos os seus sentimentos naquele trabalho. Após uma última martelada, o bloco de metal começa a brilhar e a se transformar. Num instante uma espada longa de coloração esverdeada surge diante de Lisbeth. Kirito se aproxima para observar a arma mais de perto. Lisbeth abre a janela de item da espada.

Lisbeth: «Dark Repulser» ...
Kirito: É a primeira vez que ouço esse nome.
Lisbeth: Ela não consta nos catálogos de armas que possuo. As estatísticas dela são incríveis...

Lisbeth olha séria para Kirito.

Lisbeth: Experimente.
Kirito: Certo.

Kirito pega a espada e efetua alguns golpes no ar. Lisbeth assiste a tudo com a mão no peito. Não se lembrava de ter ficado tão ansiosa antes em sua vida.

Lisbeth: O que achou?

Kirito sorri.

Kirito: Pesada. É uma boa espada.
Lisbeth (aliviada): Sério?
Kirito: Posso sentir seu coração nela. É realmente um excelente trabalho.

Kirito vira de costas e embainha a «Dark Repulser», guardando-a em seu inventário em seguida. Lisbeth sente dificuldades em controlar sua euforia.

Kirito: Bem... meu pedido está concluído. Quanto eu lhe devo?
Lisbeth (agitando os braços): Ah! Não, não, não. Não precisa me pagar.
Kirito: Eh?
Lisbeth: Em troca eu gostaria de me tornar...

Uma breve pausa.

Lisbeth: ...sua ferreira particular.
Kirito: Hã? O que isso quer dizer?
Lisbeth: ...
Kirito: Lis?

Tímida, Lisbeth olha para os próprios pés. Estava reunindo forças para dizer o que precisava ser dito.

Lisbeth: Quando você voltar das batalhas, venha até a minha loja e deixe que eu faça a manutenção do seu equipamento! Eu quero cuidar de você a partir de agora e para sempre!
Kirito (corando levemente): Ah.

Lisbeth: “Droga! Droga! Droga! Não era isso que eu queria dizer! Desse jeito ele não vai entender meus sentimentos!”

Kirito e Lisbeth trocam olhares. No instante seguinte, acabam falando ao mesmo tempo.

Kirito: Lis, eu...
Lisbeth: Kirito, eu...

Os dois começam a rir da estranheza da situação.

Kirito: Ok, Lis. Você primeiro.
Lisbeth: Kirito, eu... eu...

Lisbeth cerra o punho.

Lisbeth: “Diga, Lis. Droga! Fala logo! São apenas três palavrinhas bem simples.”

De repente a porta da oficina é escancarada e uma garota de cabelos castanho alaranjados entra correndo. Ela se joga sobre Lisbeth, abraçando-a com força.

Lisbeth: A-asuna?
Asuna: Lis! Eu estava morrendo de preocupação. Você estava sumida desde ontem, totalmente irrastreável, e não respondia minhas mensagens. Onde diabos você estava?
Lisbeth: Ah. Desculpa, Asuna. Eu estou bem. Fiquei presa numa caverna...

Asuna desfaz o abraço.

Asuna: Numa caverna? Sozinha?
Lisbeth (apontando para Kirito): Não. Com ele.

Asuna finalmente nota a presença de Kirito e, assustada, dá um passo para trás.

Asuna: K-kirito?
Kirito: Oi, Asuna. Há quanto tempo.
Asuna: Não faz tanto tempo. Acho que uns dois dias, não é?
Kirito: Imaginei que você estaria nas linhas de frente.
Asuna: Eu estava tentando completar uma quest nesse nível, mas acabei andando por aí como louca à procura da Lisbeth.

Lisbeth olha de Asuna para Kirito. Estava um pouco confusa.

Lisbeth: Vocês... vocês se conhecem?
Kirito: Sim.
Asuna (colocando a mão no ombro de Kirito): Nós dois lutamos lado a lado nas linhas de frente. Nos conhecemos praticamente desde o inicio do jogo.

Asuna sorri para Kirito. Era um sorriso tão meigo, tão caloroso, tão sincero. Lisbeth raramente vira sua amiga dar um sorriso daquele antes. Então a verdade atinge Lisbeth como um balde de água fria.

Lisbeth: “Não me diga que o Kirito é o garoto por quem a Asuna se apaixonou...”

Lisbeth estava em choque. Mal conseguia prestar atenção na conversa.

Asuna: ...o Kirito queria uma espada forte, então eu recomendei sua loja.
Lisbeth: Entendo...
Asuna (colocando as mãos na cintura): Espero que ele não tenha feito nada errado com minha amiga.
Kirito (corando): E-eu nunca f-faria isso!
Asuna: Hmmm. Você parece culpado para mim.
Kirito: É difícil confiar em mim? Quando foi que te decepcionei?
Asuna (puxando a orelha de Kirito): Eu realmente não posso deixar você sozinho, não é?
Kirito: Ai, ai, ai.

Lisbeth observa a discussão de Kirito e Asuna, incrédula. Os dois pareciam tão próximos. Lisbeth sentia uma dor crescendo lentamente em seu peito. Sem ter o que dizer, Lisbeth apenas baixa a cabeça, triste.

Asuna: Ele foi rude com você?
Lisbeth: ...
Asuna: Lis?
Lisbeth: Ah. Rude? Que isso. Ele só destruiu a minha melhor espada. Nada demais.

Asuna lança um olhar mortal para Kirito, que dá um passo para trás.

Asuna: Me desculpe por isso, Lis.
Lisbeth: Que isso, que isso. Você não precisa se desculpar.

Lisbeth se aproxima de Asuna para sussurrar algo.

Lisbeth: Ele é um cara bizarro, com umas idéias meio estranhas, mas é uma boa pessoa. Vou estar torcendo por você, Asuna.
Asuna (corando): Eh? Ehhhhhhhhhhh? Não é nada disso! Você entendeu errado!

Lisbeth corre em direção a saída.

Asuna: Aonde você está indo?
Lisbeth: Eu preciso resolver uma coisinha na cidade.
Asuna: E a loja?
Lisbeth (forçando um sorriso): Minha amiga querida vai cuidar dela alguns minutinhos.
Asuna: Ei! Lis! Ei!

Lisbeth não responde. Já tinha usado todas as suas forças. Com lágrimas desabando de seus olhos, a menina corre para o mais longe que pode. Ela se refugia nos limites da cidade, sentando-se ao lado de uma ponte.

Lisbeth: “Burra! Burra! Burra! Por que eu achei daria certo? Isso não é um conto de fadas. Estava muito bom para ser verdade.”

Lisbeth consegue conter as lágrimas, mas alguns soluços ainda persistem. Ela fica observando a tranqüilidade do rio tentando se controlar.

Kirito: Lisbeth.

Lentamente, Lisbeth se levanta e limpa os resquícios das lágrimas.

Lisbeth: Agora não é uma boa hora. Se você me der um tempinho, prometo que volto a sorrir como antes.
Kirito: Lis...
Lisbeth: Como você me achou?

Kirito aponta para a torre de uma igreja da cidade.

Kirito: Eu fui ao lugar mais alto que achei para te procurar...

Lisbeth dá uma fraca, mas ainda triste risada.

Lisbeth: Você sempre faz essas maluquices, não é?

Lisbeth se agacha junto ao rio para observar o seu reflexo.

Lisbeth: Eu vou ficar bem. Eventualmente.
Kirito: Lis...
Lisbeth (cobrindo o rosto, envergonhada): Será que você poderia esquecer tudo o que aconteceu?
Kirito: Eu vim aqui para te agradecer.
Lisbeth: Eh?

Lisbeth se levanta e olha, confusa, para Kirito.

Kirito: Até agora eu achava que estava tudo bem em viver a vida só, em vagar por esse jogo mortal sozinho. Eu passei por situações ruins, vi coisas que quase destruíram meu espírito, que me fizeram sofrer muito. Então eu decidi evitar me aproximar das pessoas de novo.
Lisbeth: Kirito...
Kirito: Raramente eu formo grupos com outros jogadores, em geral praticamente só o faço com Klein, Asuna e Silica... mas, por algum motivo, quando eu a vi, pensei que ficaria tudo bem se fosse você. Eu fiquei pensando na estranheza dessa idéia. Até agora, eu rejeitava todos, só aceitando ajuda quando fosse estritamente necessário. Por que com você eu me sentia diferente?
Lisbeth: ...
Kirito: Quando eu vi você cair naquele buraco, eu pensei que seria melhor morrermos juntos do que eu ser o último de pé. Mas nós dois sobrevivemos e eu realmente fiquei muito feliz por isso.

Kirito olha para sua própria mão.

Kirito: Quando você me deu sua mão, pude sentir o calor dela... e não pude afastar um pensamento: esta pessoa ainda está viva. Eu, você e todos os outros jogadores de SAO... nós definitivamente não existimos para aguardar o dia de nossas mortes. Eu acredito que estamos vivos pela vontade de continuar vivendo.

Kirito olha diretamente nos olhos de Lisbeth.

Kirito: Por me ajudar a entender isso, eu te agradeço, Lis.
Lisbeth: Eu também tenho que te agradecer muito, Kirito. Eu estive por muito tempo procurando por algo real nesse mundo, algo em que pudesse me agarrar para não ceder a loucura desse jogo mortal, algo para combater a solidão em meu coração. E eu encontrei a resposta no calor de sua mão. O que vivemos juntos, aquilo não foi fruto de dados de um jogo, aquilo foi real.

Lisbeth vira de costas para Kirito. Não queria encarar seu olhar. Sabia que fraquejaria se o fizesse.

Lisbeth (olhando para sua mão): Eu ainda posso sentir o calor... deve durar por algum tempo...
Kirito: Lis...

Lisbeth põe a mão nos lábios. A sensação do beijo ainda estava bem vívida. Então ela se lembra de sua amiga Asuna, de como ela mostrava um sorriso diferente quando estava ao lado de Kirito.

Lisbeth: Você tem um lugar ao qual pertence. Asuna está esperando por você...
Kirito (confuso): Asuna?
Lisbeth: Eu vou ser forte. Posso agüentar mais um pouco, mas, por favor, me prometa que você vai terminar logo este mundo.

Lisbeth abraça o próprio corpo. Estava se esforçando para se controlar. Ela sabia que não tinha escolha. Não havia outra forma daquilo terminar. Algumas lágrimas se formam nos olhos da menina.

Kirito: Está bem. Você tem minha palavra. Eu vou terminar esse jogo.

Lisbeth se surpreende quando Kirito se aproxima e coloca as mãos em seus ombros.

Kirito: Mas apesar de meu esforço, apesar de toda força que obtive até agora, não vou poder fazer isso sozinho. Vou precisar de alguém ao meu lado.
Lisbeth: Do que você está falando?
Kirito: Será que posso contar com você como minha ferreira particular?
Lisbeth: Eh?

Lisbeth se vira para encarar Kirito de frente. Estavam tão próximos agora que ela jurava que podia até sentir o calor do corpo do menino.

Lisbeth: C-como a-assim?

Kirito coça a cabeça e cora levemente.

Kirito: Eu realmente preciso de alguém para cuidar da manutenção do meu equipamento, sabe? A proposta que você me fez na loja é muito boa para ser desperdiçada...
Lisbeth (surpresa): ...
Kirito: O que me diz?

Lisbeth: “Será que está tudo bem em ser um pouco egoísta? Será que eu posso querer esse doido só para mim? Eu não sei o que devo fazer...”

Lisbeth olha para o sorriso gentil de Kirito e cora.

Lisbeth: “Talvez ficar ao lado dele seja o bastante por agora...”

Lisbeth não consegue mais se conter e abraça Kirito com força.

Kirito: E-ei!
Lisbeth: Eu aceito. Serei sua ferreira particular. Sua única e leal ferreira.

Lisbeth belisca Kirito.

Kirito: Ai, ai... para que foi isso?
Lisbeth: Só um pequeno aviso para o caso de você pensar em me trair...
Kirito (forçando uma risada): Hahaha. E-eu nunca faria isso...
Lisbeth: Sei...
Kirito: Agora que tal voltarmos para a loja?
Lisbeth: Não. A loja pode sobreviver um pouquinho mais sem mim.

Lisbeth esfrega o rosto no peito de Kirito, sorrindo. O garoto chega a erguer as mãos para abraçar a menina de volta, mas desiste no caminho. Ainda havia algo o segurando, algo no fundo de seu peito. Para deixar Lisbeth apreciar o momento, Kirito decide por ficar naquela posição por mais um tempo.

Kirito: Ok, Lis. Só mais um pouco então...

« Fim da Fase »


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo da fic para vocês. Esse é especial porque foca na minha personagem preferida: Lisbeth!!! Para quem curte a personalidade da ferreira, esse capitulo é leitura obrigatória hehehe.

Espero que tenha ficado divertido. Ainda vamos ver muito da Lis na fanfic.

A gente se vê na próxima atualização ^^

E a seguir: Domadora de Dragões!!!

Curiosidades:

— A moeda utilizada dentro do jogo SAO é o col.
— O nome verdadeiro de Lisbeth é Rika Shinozaki. A cor original de seu cabelo é castanho, embora no jogo ela tenha escolhido deixá-lo rosa.
— No anime, Kirito e Lisbeth se encontraram pela primeira vez no episódio 07.



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