Setevidas escrita por tony


Capítulo 36
Como fazer uma conjuração




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O menino está atirado sobre uma cama e vários lençóis brancos manchados de sangue, que escorreram de sua testa.

Na nuca de Lupin há um enorme ferimento. O corte segue da nuca até metade do pescoço, não é muito profundo, eu acho. No quarto, Lucas não para de andar de um lado para o outro enquanto Neophina sussurra suas preces. O silêncio é agonizante, mesmo assim nos mantém distantes de confusões, discussões e palavras desnecessárias para o momento.

Hesito, mas não penso duas vezes:

— Neophina, Lucas? — Chamo, e logo recebo a atenção de ambos. — Quando eu me feri no treinamento e quando cheguei nessa tribo ferido, vocês disseram algumas palavras que me curaram... Por que não...

— Não é assim tão simples. — Lucas responde com certo grau de arrogância. — O mantra de cura era criado pela tribo das serpentes. — Ele suspira. Parece que vai ser uma longa história. — As serpentes tinham o domínio sobre a cura. A cura tem o efeito da regeneração, porém a cura é espontânea, assim como a regeneração, ela varia, algumas palavras curam apenas ferimentos, outras podem curar doenças, e outras até podem recuperar membros completamente destruídos ou arrancados. Só não podem salvar da morte. Quando as tribos eram uma só, e todos os clãs viviam em harmonia, as serpentes eram quase “o hospital” — Ele diz dando ênfase nas palavras. — Responsável pela ajuda psicológica e física de todos. Eles criavam mantras e palavras de cura, caso o tratamento precisasse ser prolongado, ou quando a coisa estava feia. Mas, cada palavra podia ser apenas usada uma vez ao semestre... O que corresponde à quase um ano na tribo das serpentes.

— Ah... entendi. E vocês só conhecem um mantra?

— Reza a lenda que quando as tribos eram unidas, conheciam os mantras pra todos os tipos de doenças, ferimentos e tratamentos. — Neophina diz aflita. — Depois que se separaram, foram perdendo com o passar dos anos e só ficou uma que é a mais conhecida por todas as tribos.

— Os empregados estão trazendo a água que está fervendo. — Orphus diz entrando no quarto.

Ignoro o comentário e volto a olhar diretamente para Lucas. — Qualquer um pode recitar o mantra? Até um humano? — Pergunto.

Ele fica pensativo. — Um humano com poderes mágicos, talvez sim.

— Ótimo. — Respondo. — Eu irei recitá-lo.

— É perigoso, você nunca fez isso antes. Não sabe como funciona.

— Então me diga. — Falo em tom desafiador. — Eu não vou ficar parado enquanto seu irmão está adoecendo.

— Nash, não é...

— Ele tem razão. — May o interrompe. — Não podemos ficar parados sem fazer nada.

— E o que sugere? — Orphus pergunta.

— Iremos fazer uma conjuração. — A garota diz com um sorriso irônico.

Ela ta achando que isso é brincadeira?

— Ficou maluca, May?! Isso é magia banida, ninguém sabe ao certo como fazer, é muito perigoso.

Ela joga seus cabelos ruivos pra trás e da um longo suspiro: — Acho que as vezes você se esquece que sou a prima do mago mais poderoso do Universo.

— É, e acho que as vezes você se esquece que por causa da sua magia, Nash perdeu a memória e Lupin veio parar nesse castelo. — Lucas responde irritado.

— O que é uma conjuração?

— Não iremos fazer isso, Nash, nem pense na hipótese de...

— Por que não? — May insiste.

— O que é gente? — pergunto.

— Não deveríamos usar esse tipo de magia May, isso é...

— Mas é a única forma que temos para salvá...

— O QUE É CONJURAÇÃO, PORCARIA?! — grito escandalosamente chamando a atenção de todos na sala. Me surpreendo como Lupin não acordou depois dessa.

— Existem magias que foram banidas dos livros e dos...

— Credo, Lucas! — May diz se jogando na frente do garoto. — Tu começa uma explicação falando que a magia é banida?

— Ele tem que saber dos perigos, primeiro.

— Ei, me escuta. — May diz segurando minhas bochechas. — Conjuração, é uma magia que triplica os poderes de outra. Se recitarmos o mantra depois que usarmos uma conjuração, é capaz de Lupin ser curado em um estalo de dedos.

Olho para o garoto. Ele está atordoado e suando frio na cama.

— Então vamos fazer uma conjuração.

— Ótimo. Alguém que pensa racionalmente aqui! — May diz virando-se para Lucas.

O garoto se aproxima de mim e diz: — Se você não conseguir fazer a conjuração por completo...você morre!

Engulo em seco...Ah? Esse é o perigo de se fazer uma conjuração?! A morte?!

— Ta de brincadeira, né?

— Conjuração é algo muito sério Nash. Não quero que você faça isso.

Olho para Lupin e depois viro minha atenção novamente para Lucas.

— Não temos escolha.

— Sempre há uma escolha.

Suspiro.

O quarto está cheio de lençóis brancos espalhados por todo canto. Eu, Natália, Orphus, Neophina e Lucas formamos um círculo ao redor da cama de Lupin que não para de se contorcer. As cartas de Shat flutuam entre cada um de nós. Entre mim e a Natália está a carta “O mago”, entre a Natália e Orphus está a carta “A força”, entre Orphus e Neophina está “Os enamorados”, entre Neophina e Lucas está a carta “A torre” e entre Lucas e eu se encontra “A estrela”. Todas as cartas estão brilhando de acordo com a energia que circula entre nós. Pelo que entendi, a conjuração é rápida e só necessita de muito cuidado e atenção. Eu só preciso dizer as palavras certas, na hora certa.

— Om — Natália diz repetindo a palavra diversas vezes sem parar.

— Tare — Orphus faz o mesmo.

— Tuttare — Neophina começa a verbalizar concentrada.

— Ture — É a vez de Lucas e depois a minha. Até agora eu só ouço “OM OM TARE TARE TUTTARE TUTTARE TURE TURE”, acho que quem entrar no quarto vai pensar que estamos fazendo uma magia  das braba.

— Soha. — Digo encontrando uníssono entre nossas palavras e quando começamos a dizer ao mesmo tempo uma luz emerge das cartas.

Continuamos repetindo as palavras. Ficar falando “Soha” toda hora enjoa, mas é preciso! Me concentro até a luz das cartas começar a diminuir e elas caírem no chão.

Todos ficam em silêncio.

— Acabou? — Pergunto. — Cadê as purpurinas, glitter e os fogos de artifíco e...

Uma grande explosão ocorre lançando todos contra a parede. Olho para o lado e vejo que de alguma forma, todos estão grudados sem conseguir se mexer.

— O que está acontecendo? — Grito.

— Eu não sei. — Natália berra como se as coisas tivessem saído do controle.

O chão não existe mais. Um enorme redemoinho roxo e abstrato está circulando a cama e sugando-a como uma areia movediça. O corpo de Lupin flutua no ar emitindo uma grande rajada de luzes para todos os lados. As cartas estão todas girando ao seu redor como se quisessem ajuda-lo, mas faíscas atrás de faíscas protegem seu corpo contra a ação das cartas. O teto começa a rachar e a parede começa a tomar uma nova tonalidade de cor. Lucas ainda está sussurrando algumas palavras até que me vem uma ideia na cabeça.

— Espectro de luz que oscila entre o vermelho e violeta... — Grito, a parede me larga e eu começo a flutuar no chão, ou melhor, sobre o redemoinho.

— Nash? O que você está fazendo?! — Lucas berra ao me ver se aproximar de Lupin.

— Atue na mais pura faixa de sete cores da minha aura. — Digo. Um raio sai do corpo de Lupin e vem direto na minha direção, mas a carta “A torre” é mais rápida e me envolve em uma barreira de energia. —Envolva o peregrino Nathanael com as suas emoções.

— Mas que droga! — Natália reclama tentando se libertar da parede.

— Halo! — Grito me transformando e voando em direção ao menino.

No corpo de Lupin há diversos símbolos estranhos, mas apenas ignoro me concentrando no mantra.

Assim que minhas mãos tocam em sua testa, verbalizo:

— Om Namah Shivaya.

O redemoinho começa a girar mais forte engolindo de vez a cama. As cartas começam a girar em torno de mim e de Lupin enquanto Neo, Orphus, Natália e Lucas caem no chão.

Tudo agora voltou ao normal.

Pouso com minhas lindas asas gloriosas no chão, fazendo pose de herói com Lupin nos braços.

O brilho do corpo do menino começa a desaparecer e as manchas e símbolos também. Depois de alguns segundos, ele abre os olhos.

— O... O que aconteceu? — Ele diz acordando.

Sorri. — Longa história.

— LUPIN?! — Lucas grita correndo em minha direção.

O garoto salta do meu colo e se põe de pé. — Mano! — Ele corre dando um abraço no irmão. Neo e Orphus se beijam aliviados por tudo ter ocorrido bem, enquanto Natália vem em minha direção.

— Como você...

— É fácil. — Respondo interrompendo a garota. — ... Conjuração, é uma magia que triplica os poderes de outra, não é? Mas se não há magia a qual triplicar, como a conjuração iria funcionar? Vocês pensaram na conjuração, mas não pensaram na magia que usaria logo depois... por isso as coisas fugiram do controle. A conjuração foi tão forte que recuperei até a minha memória.

Natália da um meio sorriso. — É... Até que você é esperto!

Dou língua pra garota. — Eu sei disso.

...(Alguns meses depois)...

Compro dois sorvetes. Um pra mim e outro para Lupin.

— Nenhuma carta se manifestou desde quando voltamos da tribo das Orcas e dos Golfinhos.

Lupin suspira. — Eu sei. — Ele diz lambendo o sorvete — Mas olha pelo lado bom, as tribos estão em paz novamente.

— Uhum.

— Orphus e Neophina viraram rei e rainha das tribos.

— Uhum. — Digo ignorando os finais felizes e me concentrando no meu sorvete de flocos.

— Conseguimos estabelecer a paz lá dentro.

— Uhum.

— E você está apaixonado pelo meu irmão ainda, né?

— Uhum.

Lupin sorri.

— PERA! EU NÃO...

O garoto gargalha.

— ORA, SEU... — Corro atrás do garoto pelo parque enquanto Lucas, Natália e Clara nos observam sentados na sombra da árvore aproveitando o clima agradável.

Não estou irritado com Lupin por me pegar desprevenido fazendo essas perguntas.

No fim, ele tem razão: Eu estou apaixonado por Lucas e eu espero que ele também esteja por mim.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal,
Sei que estava sumido, mas espero que me perdoem por isso XD
#Espero que gostem do capítulo e não deixem de comentar o que estão achando.
Bjos :)



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