Setevidas escrita por tony
O menino está atirado sobre uma cama e vários lençóis brancos manchados de sangue, que escorreram de sua testa.
Na nuca de Lupin há um enorme ferimento. O corte segue da nuca até metade do pescoço, não é muito profundo, eu acho. No quarto, Lucas não para de andar de um lado para o outro enquanto Neophina sussurra suas preces. O silêncio é agonizante, mesmo assim nos mantém distantes de confusões, discussões e palavras desnecessárias para o momento.
Hesito, mas não penso duas vezes:
— Neophina, Lucas? — Chamo, e logo recebo a atenção de ambos. — Quando eu me feri no treinamento e quando cheguei nessa tribo ferido, vocês disseram algumas palavras que me curaram... Por que não...
— Não é assim tão simples. — Lucas responde com certo grau de arrogância. — O mantra de cura era criado pela tribo das serpentes. — Ele suspira. Parece que vai ser uma longa história. — As serpentes tinham o domínio sobre a cura. A cura tem o efeito da regeneração, porém a cura é espontânea, assim como a regeneração, ela varia, algumas palavras curam apenas ferimentos, outras podem curar doenças, e outras até podem recuperar membros completamente destruídos ou arrancados. Só não podem salvar da morte. Quando as tribos eram uma só, e todos os clãs viviam em harmonia, as serpentes eram quase “o hospital” — Ele diz dando ênfase nas palavras. — Responsável pela ajuda psicológica e física de todos. Eles criavam mantras e palavras de cura, caso o tratamento precisasse ser prolongado, ou quando a coisa estava feia. Mas, cada palavra podia ser apenas usada uma vez ao semestre... O que corresponde à quase um ano na tribo das serpentes.
— Ah... entendi. E vocês só conhecem um mantra?
— Reza a lenda que quando as tribos eram unidas, conheciam os mantras pra todos os tipos de doenças, ferimentos e tratamentos. — Neophina diz aflita. — Depois que se separaram, foram perdendo com o passar dos anos e só ficou uma que é a mais conhecida por todas as tribos.
— Os empregados estão trazendo a água que está fervendo. — Orphus diz entrando no quarto.
Ignoro o comentário e volto a olhar diretamente para Lucas. — Qualquer um pode recitar o mantra? Até um humano? — Pergunto.
Ele fica pensativo. — Um humano com poderes mágicos, talvez sim.
— Ótimo. — Respondo. — Eu irei recitá-lo.
— É perigoso, você nunca fez isso antes. Não sabe como funciona.
— Então me diga. — Falo em tom desafiador. — Eu não vou ficar parado enquanto seu irmão está adoecendo.
— Nash, não é...
— Ele tem razão. — May o interrompe. — Não podemos ficar parados sem fazer nada.
— E o que sugere? — Orphus pergunta.
— Iremos fazer uma conjuração. — A garota diz com um sorriso irônico.
Ela ta achando que isso é brincadeira?
— Ficou maluca, May?! Isso é magia banida, ninguém sabe ao certo como fazer, é muito perigoso.
Ela joga seus cabelos ruivos pra trás e da um longo suspiro: — Acho que as vezes você se esquece que sou a prima do mago mais poderoso do Universo.
— É, e acho que as vezes você se esquece que por causa da sua magia, Nash perdeu a memória e Lupin veio parar nesse castelo. — Lucas responde irritado.
— O que é uma conjuração?
— Não iremos fazer isso, Nash, nem pense na hipótese de...
— Por que não? — May insiste.
— O que é gente? — pergunto.
— Não deveríamos usar esse tipo de magia May, isso é...
— Mas é a única forma que temos para salvá...
— O QUE É CONJURAÇÃO, PORCARIA?! — grito escandalosamente chamando a atenção de todos na sala. Me surpreendo como Lupin não acordou depois dessa.
— Existem magias que foram banidas dos livros e dos...
— Credo, Lucas! — May diz se jogando na frente do garoto. — Tu começa uma explicação falando que a magia é banida?
— Ele tem que saber dos perigos, primeiro.
— Ei, me escuta. — May diz segurando minhas bochechas. — Conjuração, é uma magia que triplica os poderes de outra. Se recitarmos o mantra depois que usarmos uma conjuração, é capaz de Lupin ser curado em um estalo de dedos.
Olho para o garoto. Ele está atordoado e suando frio na cama.
— Então vamos fazer uma conjuração.
— Ótimo. Alguém que pensa racionalmente aqui! — May diz virando-se para Lucas.
O garoto se aproxima de mim e diz: — Se você não conseguir fazer a conjuração por completo...você morre!
Engulo em seco...Ah? Esse é o perigo de se fazer uma conjuração?! A morte?!
— Ta de brincadeira, né?
— Conjuração é algo muito sério Nash. Não quero que você faça isso.
Olho para Lupin e depois viro minha atenção novamente para Lucas.
— Não temos escolha.
— Sempre há uma escolha.
Suspiro.
O quarto está cheio de lençóis brancos espalhados por todo canto. Eu, Natália, Orphus, Neophina e Lucas formamos um círculo ao redor da cama de Lupin que não para de se contorcer. As cartas de Shat flutuam entre cada um de nós. Entre mim e a Natália está a carta “O mago”, entre a Natália e Orphus está a carta “A força”, entre Orphus e Neophina está “Os enamorados”, entre Neophina e Lucas está a carta “A torre” e entre Lucas e eu se encontra “A estrela”. Todas as cartas estão brilhando de acordo com a energia que circula entre nós. Pelo que entendi, a conjuração é rápida e só necessita de muito cuidado e atenção. Eu só preciso dizer as palavras certas, na hora certa.
— Om — Natália diz repetindo a palavra diversas vezes sem parar.
— Tare — Orphus faz o mesmo.
— Tuttare — Neophina começa a verbalizar concentrada.
— Ture — É a vez de Lucas e depois a minha. Até agora eu só ouço “OM OM TARE TARE TUTTARE TUTTARE TURE TURE”, acho que quem entrar no quarto vai pensar que estamos fazendo uma magia das braba.
— Soha. — Digo encontrando uníssono entre nossas palavras e quando começamos a dizer ao mesmo tempo uma luz emerge das cartas.
Continuamos repetindo as palavras. Ficar falando “Soha” toda hora enjoa, mas é preciso! Me concentro até a luz das cartas começar a diminuir e elas caírem no chão.
Todos ficam em silêncio.
— Acabou? — Pergunto. — Cadê as purpurinas, glitter e os fogos de artifíco e...
Uma grande explosão ocorre lançando todos contra a parede. Olho para o lado e vejo que de alguma forma, todos estão grudados sem conseguir se mexer.
— O que está acontecendo? — Grito.
— Eu não sei. — Natália berra como se as coisas tivessem saído do controle.
O chão não existe mais. Um enorme redemoinho roxo e abstrato está circulando a cama e sugando-a como uma areia movediça. O corpo de Lupin flutua no ar emitindo uma grande rajada de luzes para todos os lados. As cartas estão todas girando ao seu redor como se quisessem ajuda-lo, mas faíscas atrás de faíscas protegem seu corpo contra a ação das cartas. O teto começa a rachar e a parede começa a tomar uma nova tonalidade de cor. Lucas ainda está sussurrando algumas palavras até que me vem uma ideia na cabeça.
— Espectro de luz que oscila entre o vermelho e violeta... — Grito, a parede me larga e eu começo a flutuar no chão, ou melhor, sobre o redemoinho.
— Nash? O que você está fazendo?! — Lucas berra ao me ver se aproximar de Lupin.
— Atue na mais pura faixa de sete cores da minha aura. — Digo. Um raio sai do corpo de Lupin e vem direto na minha direção, mas a carta “A torre” é mais rápida e me envolve em uma barreira de energia. —Envolva o peregrino Nathanael com as suas emoções.
— Mas que droga! — Natália reclama tentando se libertar da parede.
— Halo! — Grito me transformando e voando em direção ao menino.
No corpo de Lupin há diversos símbolos estranhos, mas apenas ignoro me concentrando no mantra.
Assim que minhas mãos tocam em sua testa, verbalizo:
— Om Namah Shivaya.
O redemoinho começa a girar mais forte engolindo de vez a cama. As cartas começam a girar em torno de mim e de Lupin enquanto Neo, Orphus, Natália e Lucas caem no chão.
Tudo agora voltou ao normal.
Pouso com minhas lindas asas gloriosas no chão, fazendo pose de herói com Lupin nos braços.
O brilho do corpo do menino começa a desaparecer e as manchas e símbolos também. Depois de alguns segundos, ele abre os olhos.
— O... O que aconteceu? — Ele diz acordando.
Sorri. — Longa história.
— LUPIN?! — Lucas grita correndo em minha direção.
O garoto salta do meu colo e se põe de pé. — Mano! — Ele corre dando um abraço no irmão. Neo e Orphus se beijam aliviados por tudo ter ocorrido bem, enquanto Natália vem em minha direção.
— Como você...
— É fácil. — Respondo interrompendo a garota. — ... Conjuração, é uma magia que triplica os poderes de outra, não é? Mas se não há magia a qual triplicar, como a conjuração iria funcionar? Vocês pensaram na conjuração, mas não pensaram na magia que usaria logo depois... por isso as coisas fugiram do controle. A conjuração foi tão forte que recuperei até a minha memória.
Natália da um meio sorriso. — É... Até que você é esperto!
Dou língua pra garota. — Eu sei disso.
...(Alguns meses depois)...
Compro dois sorvetes. Um pra mim e outro para Lupin.
— Nenhuma carta se manifestou desde quando voltamos da tribo das Orcas e dos Golfinhos.
Lupin suspira. — Eu sei. — Ele diz lambendo o sorvete — Mas olha pelo lado bom, as tribos estão em paz novamente.
— Uhum.
— Orphus e Neophina viraram rei e rainha das tribos.
— Uhum. — Digo ignorando os finais felizes e me concentrando no meu sorvete de flocos.
— Conseguimos estabelecer a paz lá dentro.
— Uhum.
— E você está apaixonado pelo meu irmão ainda, né?
— Uhum.
Lupin sorri.
— PERA! EU NÃO...
O garoto gargalha.
— ORA, SEU... — Corro atrás do garoto pelo parque enquanto Lucas, Natália e Clara nos observam sentados na sombra da árvore aproveitando o clima agradável.
Não estou irritado com Lupin por me pegar desprevenido fazendo essas perguntas.
No fim, ele tem razão: Eu estou apaixonado por Lucas e eu espero que ele também esteja por mim.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Oi pessoal,
Sei que estava sumido, mas espero que me perdoem por isso XD
#Espero que gostem do capítulo e não deixem de comentar o que estão achando.
Bjos :)