Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 15
Garota Festeira.


Notas iniciais do capítulo

E você se vai...

Não sabe se para ou se continua.
Se molha ou seca.
Se dança ou se me beija.
Se cansa e se deita.

E você olha...

Para o azul do mar ou para o horizonte?
Para o céu ou para as nuvens?
Para a prancha e para as ondas.
Olha os meus olhos ou minha alma?

E você me ama...

Não sabe o que é amor, e canta.
Não sabe o que é dor, e dança.
Não sabe o que é perder e se vai.
Novamente me deixa.

E você se foi.



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O mar está calmo. O céu meio laranja azulado. E a esfera dourada vai sumindo atrás das árvores.

A calmaria dele me distrai. Seus olhos vibrantes se perdem nas lembranças de sua última viagem.

O vento que vem do leste bate em teus finos cabelos dourados, e ele se deita na areia, como quem se entrega ao vento.

Deito-me ao seu lado, jogando meus curtos cabelos negros para trás. Ele me envolta em teus grandes braços, e conversamos sobre nossos antigos amigos, sobre antigas memórias, desejos puros e inocentes.

Pássaros dão vida ao céu que agora está um completo azul, e adormeço ali.

[...]

O céu escuro é iluminado por diversas estrelas, e na varanda do apartamento ele acende seu segundo cigarro.

Pego minha pequena garrafa de vinho e encosto-me à cadeira que está em sua frente.

Trocamos risadas, nos beijamos e vamos para o quarto. Aumentamos o som de Eye Of The Needle, e a noite parece não ter fim.

Mas ela termina quando paramos na sala, cansados, e nos perguntamos o que estamos fazendo ali. Certamente aquilo era errado para ambos. E era apenas 04h41 da madrugada, segundo o relógio da cômoda.

Caminho até a cozinha em busca de mais vinho, e juntos erramos novamente no corredor.

Acordo vomitando no banheiro, e me pergunto o que diabos eu fiz para ali estar. Minha cabeça dói, como se eu tivesse bebido mais do que deveria. E creio que foi isso mesmo que ocorreu. Tudo estava girando, logo encosto-me à parede e me vejo vestida apenas com uma calcinha verde.

Encontro minha blusa branca jogada na cômoda e a coloco.

Volto para cozinha e engulo um comprimido com ajuda de um gole de café.

Sua mala está ao lado da porta, e lhe pergunto o que significava tal coisa. Interrogo-lhe sobre sua decisão e novamente discutimos. Então você joga seu anel em mim, e se vai.

Volto para o banheiro e vomito o comprimido. Junto a tal vêm minhas lágrimas, e meu ódio. Pego meu pacote de doce, meu cigarro, e vou para o quarto.

Fecho a cortina, e adormeço sobre as lágrimas e as cinzas do cigarro.

Desperto com meu celular tocando. É a garota dos cabelos longos me convidando para mais uma festa. Sem hesitar, visto a primeira roupa que encontro e vou direto para sua casa.

Encontro pessoas conhecidas, e bebo.

Beijo pessoas desconhecidas, e bebo.

Vou para o quarto com o conhecido, e bebo.

Novamente volto para casa sozinha pela manhã. Vejo os erros da noite passada na internet, fecho os olhos e adormeço sobre mais cinzas de cigarros.

E os dias se repetem nessa mesma rotina.

Acordo. Fico bêbada. Saio de casa. Talvez para praia. Bebo. E volto sozinha.

Após um mês, desde que ele se foi, acordo com batidas na porta, era sua irmã.

Seus cabelos castanhos estão presos em um coque perfeito. Seus olhos claros se afogam em lágrimas, enquanto seus finos lábios avermelhados dizem que ele se foi. Dizem sobre um carro cinza e um motorista bêbado. Descrevem o estrago do acidente, e o estado do seu corpo. Corpo que não guarda mais sua alma.

Estendo-lhe um copo d’água enquanto minhas mãos tremem em resposta a tal notícia.

Volto para praia, e me deito sobre a areia, como quem se entrega à solidão. Acendo um cigarro, e jogo para Iemanjá sua aliança prateada. O passado se passa pelo meus pensamentos como em filmes.

Sou tomada pela dor, pelo ódio, pelo alívio, e por diversas emoções que transbordam em forma lágrimas. Como alguns doces que encontro na minha bolsa, e fumo mais um cigarro, enquanto caminho até o mar.

Olho para as árvores e vejo a esfera dourada partindo. Vejo os pássaros dando vida ao fim do dia. E me vejo fugindo novamente da realidade em um copo de whisky.


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