Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 14
O balão vermelho.


Notas iniciais do capítulo

"As vezes sinto saudades,
Saudades daquilo que não existe mais.
As vezes sinto falta,
Falta daquilo que nunca conheci.
As vezes sinto felicidade,
Felicidade por apenas estar aqui.
E as vezes sinto amor,
Amor que eu nunca compreendi."



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Eu sou um balão vermelho. Flutuo sobre as vidas de pobres humanos, os quais creem que suas vidas se resumem em tudo aquilo que está ao seu redor. Aqueles que acreditam que não existe nada mais além daquilo que são capazes de enxergar e/ou tocar.

Pobres tolos.

Perdem seu tempo criando falsas promessas, metas que nunca irão cumprir, criando sonhos pequenos, e imaginando super-heróis tão tolos quanto os mesmos.
Pobres humanos.

Tentam decifrar coisas sem nenhuma mensagem subliminar, e deixam de lado histórias que nos fazem sentir e pensar sobre o que realmente é amar. E mais uma vez perdem tempo, analisando coisas que não foram feitas para serem compreendidas, apenas sentidas.

Pobres ignorantes.

Alguns rotularam o amor em 3 tipos. Outros não acreditam em tal verdade. Uns preferiram não sentir. A maioria teve medo. Artistas tentaram dar cor ao tal. Mariana suspeitou sobre ele. Sabrina se escondeu. Maria se perdeu tentando descobrir seu valor. E apenas Chiara sentiu o que é o amor.

Pequenos humanos. Grandes garotas.

E eu? Eu sou apenas um balão.

Às vezes me entrego ao ritmo de grandes músicas, ao lado de pessoas que esbarraram em mim enquanto tentavam se encontrar, ou apenas estavam perdidas.

“Ora, minha senhora, tentar se encontrar e estar perdido não é quase a mesma coisa?” –disse Luke, o intruso.

“Não, meu caro. Em um você tenta arrumá-lo, noutro você apenas o reconhece.” –o respondi.

“Continue sobre você, querida” –disse a voz perdida de Andressa.

Dancei, certa vez, com um índio, o cara que estava arrasado após o fim de um relacionamento.

Curti um pouco com um tal gaúcho, o qual estava ouvindo uma canção pela primeira vez.

E valsei com um soldado, o tal menino que estava ferido. Que estava perdido, e que me chamou para dançar. Talvez tenha se interessado pela minha tal insignificância, ou queria apenas chorar.

“Você o amou?” –indagou Luke.

“Não sei o que seria amar, para você. Mas creio que senti algo forte por ele.”

“Conte mais sobre ele.” –Andressa agora estava ao meu lado, com seus curtos cabelos soltos.

Lhe contei sobre a verdadeira dança, lhe mostrei canções que curariam sua ferida, e dançamos por um tempo que pareceu não ter fim. Mas no final, apenas nos soltamos, e voltei a viajar por cima de pobres humanos.

“Afinal, por que se soltaram?” –perguntou Luke, jogando sua franja para o lado esquerdo.

“Pois nada dura para sempre. Ou talvez seja pelo simples capricho do destino, de nos dar a oportunidade de algo melhor.” –respondi virando um copo de tequila.

“São meros orgulhosos que estão perdendo tempo.” –disse Andressa.

“Ou ganhando um pouco mais” –disse Chiara, um pouco atrasada.

As vezes retorno ao baile para encontrar alguém novo para dançar, e quando encontro, torço para que não dure mais que uma canção.

Estou aprendendo a dançar sozinha, e confesso que a sensação é tão libertadora quanto imaginam. Alguns dizem que isso é solidão, aquela que todos temem, mas que poucos sabem que só és sozinho aqueles que não sabem dançar sem um par. Só sofrem, os tolos que não tentam se auto conduzir. E só morrem sozinhos, aqueles que deixam de dançar por puro medo de amar.

“Então você prefere estar sozinha, minha senhora?” –Luke perguntou enquanto pedia mais uma dose de vodka.

“Eu prefiro estar bem, meu nobre amigo. Estando acompanhada ou não, é apenas um detalhe.” –lhe respondi.

“E você está bem, querida?” –Andressa indagou enquanto arrumava sua coroa de flores.

“É claro que está bem, olhe só para ela, seus olhos sorriem por si mesma” –se intrometeu Chiara com um copo de refrigerante.

“Queria ter essa capacidade de ser feliz por si mesma.” –disse Maria, aparecendo por trás da multidão junto com Sabrina.

“E eu queria ter coragem para me aventurar em um grande amor” –disse Sabrina abrindo uma garrafa de vinho.

“Fale mais sobre você, senhorita” –disse Mariana pegando a garrafa de Sabrina.

Eu sou apenas um balão vermelho, e danço sozinha em qualquer hora do dia. Um balão que não temes a solidão, e sou um balão vermelho vivo, cor de amor e dor, os dois em uníssono. Vermelho vivo, sabor de abacaxi com hortelã.

“Por fim, minha senhora, tu sabes amar?” –perguntou Luke um tanto quanto inocente.

Talvez seja pouco, muito pouco, as coisas que vivi em meus 21 anos, as músicas que dancei, os amores que eu cantei, e as canções que escrevi. Talvez seja muito pouco perto daquilo que ainda irei viver, aprender e sentir.

“Mas, meu caro, neste instante, eu juro, eu sei amar.” –disse olhando para a linha do horizonte que se estendia pela janela.


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Notas finais do capítulo

E você, meu nobre leitor, o que sabes sobre esse tal amor?



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