Everlong escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Não revisei por preguiça mesmo. KLJSDA u.u
Espero que gostem. Beijinhos.



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Naquela mesma manhã, enquanto Charlie ainda cuspia sangue e eu tentava me manter calma, dois guardas apareceram. Eles eram altos e carrancudos, carregavam uma espada para cada um. Seus rostos eram cobertos por máscaras de pano, o que fez eu me perguntar como seria o rosto deles. Eles aproximaram, e eu levantei, andando a frente deles como mandado. Enquanto eu andava, tentei dar uma boa olhada nas outras celas. Tudo o que eu via era celas vazias.

Eu me senti fria.

Eles me levaram até um grande salão principal, o salão da cadeira do rei. E como você pode esperar, o rei estava lá. Ele tinha aquele olhar arrogante - como o de Kyro, a grande diferença de um pro outro, é que Kyro tinha se juntado para me ajudar.
– Ajoelhe-se para o seu rei. - ele disse, como da primeira vez.
– Não. - contrariei.
Fechei meus olhos e deixei sentir a primeira bofetada. Sorri.
– Você é um idiota. - disse.
Mas dessa vez não senti dor, nem nada. A única sensação que eu tive foi de arrepio ao ouvir a risada de Calário.
– Tenho uma proposta. - ele disse, sério, logo após dar a risada.
Meu rosto não tinha expressão, não disse nada, mas ele continuou.
– Como você sabe, Charlie o seu amigo, possui a marca. A única forma de acabar com a peste, é matando o marcado, pois ele vive tempo o bastante para acabar com os reinos e só morre após a destruição. Mas eu não o marquei para acabar com todos os reinos, eu não quero isso. - ele se levantou - Mas eu sei que você conhece a marca. - sorriu.
Eu olhei em volta, entre os vãos do pilares do salão, surgiam vários lobos. Eles eram enormes, com uma pelagem tão negra quanto a noite. Rosnavam. Os olhares deles pesavam sobre nós, pareciam ter um sorriso no focinho cada um.
– Qual a proposta? - perguntei, rezando para ele não trocar de assunto novamente.
– Quero que você se case comigo.
Senti uma repulsa, dei alguns passos para trás. Fiz um sinal negativo com a cabeça.
Papai tinha me contado quando eu era alguns anos mais nova. Era pecado dois reinos se juntarem, totalmente proibido. Além do mais, o nojo e ódio que eu sentia dele não deixariam eu me casar com ele.
– Case-se comigo, ou a morte será seu fim. - ele disse e se sentou novamente.
Os lobos a nossa volta uivaram. Os grandes olhos amarelos de cada um demonstrando excitação, revolta e desejo.
Ignorei totalmente a possibilidade de haver um casamento. Calário não queria amor ou felicidade, ele desajava as riquezas do meu reino. Não dúvido que após o casamento ele me matasse.
Senti quando cada um dos guardas pousaram as mãos sobre meus ombros. Eu me virei, indo a frente deles novamente e seguindo até as masmorras.
De novo, eu estava no "conforto" da minha masmorra. Quando eu não conseguia ouvir mais os passos dos guardas, aproximei-me do Charlie e disse baixinho:
– Char... - sacudi-o até ele acordar - Temos que fugir hoje a noite.
Charlie se sentou, esfregando aquela carinha linda. Ele demonstrou de quem não estava entendo nada e disse:
– Não temos como fugir e eles só estarão na floresta daqui a dois dias.
– Não, não! Temos que fugir hoje. Calário é louco. Ele vai nos matar, nos matar a qualquer momento. - exclamei.
– Mad... - ele começou - Não tem como fugir daqui. Sem armas... não tem nem como abrir essa porta.
Eu o encarei como se esquisse chutar o rosto dele, então me fechei. Fiquei a morder meus lábios, mergulhada em meus próprios pensamentos. Era horrível ter a sensação de que a qualquer momento você estaria morta, horrível. Por segundos, eu entendi como Charlie se sentia.
Naquela madrugada, quando eu consegui dormir sem ter nenhum pesadelo. Charlie me acordou e, disse "É agora". Ele foi rápido, fez porta se abrir sem nenhum som. Seguimos pelo corredor, olhando em todas as celas a procura de Richard, sem nenhuma resposta.
Encontramos o primeiro guarda na saída das masmorras. Charlie deixou o olhar dele cair sobre o homem, então, o inimigo caiu sem reação. Eu puxei o punhal dele, enquanto meu amigo escolheu a espada.
Nunca estive me sentindo tão nervosa. E um ponto dentro de mim, sentia medo de Charlie, mesmo eu o amando.
Chegamos no último degrau que levavam para a liberdade, nós paramos e seguramos a respiração. Era minha responsabilidade encontrar a saída a partir de agora. Seguimos por um corredor vazio e estreito que deu direto no salão principal, o salão da cadeira do rei. Estava totalmente escuro, a única coisa que iluminava o lugar era a luz do luar que entrava pelas grandes janelas.
Olhei para o lado e a grande criatura estava deitada lá. Os olhos fechados, o focinho pousado entre as patas. Parecia quase invísivel no escuro. Então, eu percebi que o salão todo estava infestado de criaturas daquelas dormindo. Seguimos, tentando não encostar nos lobos ou fazer barulho, não foi nada fácil.
As portas do salão se abriram com um barulho infernal, mas os lobos ficaram deitados, presos em seu sono. Agradeci e dei os primeiros passos para a rua. O castelo se estendia por uma grande ponte de pedras que ficava acima de um lago. Era ótimo caminhar por ali quando não se tinha que correr de lobos que tinham acabado de acordar.
Eles eram enormes, mostravam as presas e rosnavam. Tinha quase certeza que se algum deles me mordesse, arrancaria minha perna fora.
Então, quando já estavamos fora do castelo, Charlie gritou:
– Vá para a praia, eu irei para a floresta.
E eu fiz o que foi mandando. Correr na beira da praia, com a água batendo em seus pés não era tão bom assim, principalmente quando você tinha certeza de que tinha algo na água. Eu senti quando as mãos se enrolaram no meu calcanhar e me puxaram, arrastando me até onde a água era razoável.
Novamente, eu estava de cara com a sereia. Ela tinha um largo sorriso, como já tinha me mostrado, mas ela não disse nada. Apenas beijou minha testa e eu consegui respirar normalmente na água.
– Esse é o beijo das sereias, assim você pode respirar. - ela arregalou os olhos e fez uma revêrencia - Sinto muito, minha rainha. Eu quero que a senhorita me acompanhe até meu reino.
– Eu não posso. - respondi.
– A senhora deve ir comigo. - ela enrolou aquelas mãos em torno do meu pulso e nadou tão rápido que eu não conseguia entender nada.
Ela parou quando ficamos a frente dos portões do mar, não eram nenhum pouco receptivos. Algumas sereias faziam o bloqueio, mas elas não eram bonitas. O crânio delas era liso, apenas cobertos por pele e seus olhos eram negros, as mãos eram maiores que o normal e suas caldas tinham marcas estranhas. Assustadoras. Seguimos, ela mantia suas mãos em volta do meu pulso.
Ela me levou até um castelo e ali fui recebida pelo rei dos mares. Ele era grandioso e simpático, apesar de ter expressões de mal. Parecia um tanto atormentado, nervoso talvez.
Na mão esquerda do rei estava um tritão de pura prata, com a direita, ele mexia na barba enquanto me observava. Parecia estar me avaliando, eu não sei. Para o meu alívio, ele abriu um grande sorriso e disse com sua voz de trovão:
– Você me lembra ao seu pai. Impressionante, vocês são idênticos.
Eu o encarei como se ele estivesse me insultando. Aquele não era o momento para elogios. Eu estava em pânico.
O rei dos mares nadou até onde eu estava. A centímetros do meu corpo, ele era enorme, me deixava assustada. Beijou o topo da minha cabeça e sorriu, parecia triste.
– Eu não posso interromper essa guerra, nem qualquer outra. Mas... - pausou - posso te ajudar, Rainha.
Senti uma pontada de dor ao ouvir aquela palavra, "Rainha". Isso signficava "sem família", sem um Rei que era meu pai.
– Você é jovem, não passou pelas dores da vida. - acariciou meu cabelo cor de fogo e sorriu novamente, triste.
– Eu só quero que isso acabe. - eu disse, num tom de desespero.
– Irá acabar, querida. Só tem que tomar as decisões certas, e você sabe quais elas são. - respondeu.
Mas eu não queria estar ali, falando com um velho meio-peixe louco. Eu queria estar no meu castelo, correndo pela floresta com Charlie, enquanto ele envolvia seus braços ao meu redor. Queria estar reclamando como é chato se filha de um rei e dizer que odiava meus vestidos.
Meus pensamentos melancólicos se evaporaram quando o Rei dos mares se afastou. Ele bateu com o tritão no chão, três vezes, e faíscas azuladas ficaram flutuando acima dele. Aquela cor era tão bonita, parecia um pedaço do céu. Na mão direita do velho, estava um frasco pequeno onde ele deixou que as faíscas bonitas ficassem contidas.
– Só as use quando for necessário. - colocou nas minhas mãos, se afastou. - Agora vá, vá.
Quando olhei para o meu lado direito, lá estava a sereia. Ela envolveu suas mãos no meu pulso, me puxou e nadou mais rápido do que a vinda. Sinceramente, eu me sentia desconfortável com aquela situação. Ela era um monstro que a qualquer momento podia enlouquecer e me devorar.
Senti um alívio quando a areia estava aos meus pés, ainda mehor quando consegui respirar normalmente fora d'água.
O sol estava nascendo no horizonte, pintando o céu de tons de laranja e rosa. Era lindo. Mas eu tinha a certeza que isso era algo que duraria pouco. Eu estava a poucas horas de sofrer.
Cruzei meus braços. Eu estava morrendo de frio. Eu não sabia para onde ir e o que fazer, eu estava sozinha. Realmente, perdida. Tenho que admitir que sou nada sem alguém para me guiar, e naquele momento eu quis deitar e chorar. Eu não conseguia nem ao menos voltar para casa, então imagina salvar os reinos.

" A loira se ajoelhou a frente da jovem menina. A garotinha não devia ter mais de cinco anos, os cabelos já eram conhecidos, tons de preto e azul. Ela tinha lágrimas nos olhos, parecia ter chorado a noite inteira. Estava tão triste.
A mulher ficava muito bonita com o vestido rosa, ele lhe a valorizava. Um homem, já de idade observava tudo de longe, ele também era loiro, parecia uma muralha.
– Eu te amo, filha. - a mulher disse com falsas lágrimas.
A garotinha abraçou a mãe, e deixou que todo o mar de tristeza transbordasse pelos olhos.
Como uma reviravolta, eu soube que o cenário tinha mudado. A garota agora já devia ter por volta dos doze anos, parecia incomodada com algo. A mãe dela estava a sua frente, sorrindo e com lágrimas de felicidade nos olhos.
– Como eu senti sua falta, querida. - abraçou a jovem - Eu juro que irei melhorar, agora serei uma mãe presente.
A menina a encarou, seus olhos pegavam fogo. Naquele momento, desejou ter nascido com o dom da bruxaria para poder colocar uma boa de uma maldição na mãe.
– Eu quero ir com meu pai. - respondeu, fria.
– Não, não! Agora você vai morar comigo, querida. - a mulher tentou depositar um beijo na bochecha da garotinha.
A outra bufou e virou as costas, correndo porta a fora. Gritando, ela correu até alcançar a floresta e passar a noite lá. Suas mãos tão machucadas por aquela noite, foram as mesmas que acariciaram as costas da avó que a acolheu. "

Quando abri meus olhos, eu estava ainda na praia. A água estava nos meus pés, gelada. Mas isso não importava, eu estava mais preocupada em saber o porquê de ter visto o passado de Hayley. Por que?
Por um breve momento, eu achei que aquilo fosse besteira, mas não.
Todas, eu repito, todas as minhas visões se encaixavam. O avô de Kyro tinha matado aquele jovem pois ele era apaixonado por minha avó, os dois garotos amavam a minha avó. A inveja matou um deles. Mas por que o passado da Hayley? O que ela tem com tudo isso? Exatamente o que eu estou pensando, nada.
Deixei que meus olhos observassem a paisagem a minha volta. A minha direita, ao longe, estava o castelo de Cálario. A minha esquerda, a praia continuava. A minha frente, ao longe, estava a floresta.
Eu tinha que caminhar por um bom tempo em um caminho de pedras até chegar a floresta, onde eu estaria a salvo. Talvez, eu até encontrasse com Charlie. Era uma das minhas poucas saídas, não podia perder a oportunidade mas eu estava tão cansada, e minhas pernas doíam, eu estava com frio.
Corri, corri, corri.
Me ajoelhei sobre as pedras. Eu não ia conseguir correr até a floresta e de lá, seguir até o castelo de Kyro. Era um caminho muito extenso, cheio de obstáculos e pesadelos.
Olhei para o chão, para minhas mãos e minhas pernas. Meu vestido estava terrível, não era mais branco e sim, marrom de tão sujo. Ri, Rosmerta iria me matar se visse aquilo. Minhas mãos estavam cortadas, sujas e doloridas, como as minhas pernas.
– Madley. - um grito.
Eu estava enlouquecendo.
– Madley. - novamente, o grito.
Eles iriam escolher uma nova rainha. Ninguém iria querer uma rainha louca.
– Madley! - de novo.
Olhei para a minha frente. Distante, estava Kyro, ele balançava as mãos freneticamente.
Levantei, e tentei andar o mais rápido possível até ele. Até minha segurança. Ele envolveu seus braços ao meu redor, e beijou minhas bochechas. Não posso negar que eu queria ficar ali por séculos, apenas abraçada ao corpo dele.
– Nós temos que ir. - ele sussurou - Eles irão aparecer a qualquer momento. Vamos.
Fiz um sinal negativo, mordi meus lábios. Eu não iria chorar.
Ele passou suas mãos pelas minhas pernas, e eu apertei a nuca dele com as minhas mãos, escondendo meu rosto no seu peito. Por um breve momento, me senti um bebê.
– Vai ficar tudo bem. - ele disse, beijando o topo da minha cabeça, da mesma forma que as mães fazem quando seu filho se machuca.
Fechei meus olhos, deixei que eles pesassem e eu caísse no sono. Era só o que eu queria, alguém para dizer que tudo iria melhorar e me abraçar, me fazendo esquecer toda aquela situação.


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