Cap. 13

Nossos rostos estavam quase colados, narizes quase se encostando. Podia sentir sua respiração na minha boca e o rufar de seu coração que ficava cada vez mais e mais acelerado, assim como o meu.

Ele começou à se aproximar e, delicadamente, encostou seus lábios nos meus. Gostei disso, apesar de a poucos minutos o odiar. Felizmente, para o meu não enlouqueçimento, uma abençoada pessoa bateu na porta, pulamos ao ouvir o som das batidas.
A mãe dele entrou no quarto e falou alguma coisa, que não tive decernimento para entender. Só conseguia pensar no que havia acabado de aconteçer. Seu beijo foi muito leve e doce, apaixonado e empolgado. Eu estava começando a ver Jason Scott não mais como o garoto que conheço, mas como aquele garoto... Especial.
Mas isso era tão errado, e eu estava tão confusa! Jason parecia ser o certo, o seguro, o meu destino. Rafael era aquela paixão de infância jamais esquecida. Sempre gostei de Rafael. Por que isso agora? Por que quando finalmente consigo o que quero, tem que se dissolver? Por que só quero o que não tenho? O que seria o certo agora?
Lembrei de um ditado de minha mãe, quando ela ainda morava com a gente. Não troque o certo pelo duvidoso, ela dizia. Rafael era o certo, a parte racional. Jason era o duvidoso, a parte emocional. E se eu escolhesse que Jason era o certo para mim, quem mais isso ia magoar? O rosto de Rafa apareceu em minha mente, com os olhos marejados.
Eu não faria isso. Não ia magoar quem eu amava, mesmo que de um jeito muito estranho. Ia esquecer Jason. Ignorá-lo. Peguei minha bolsa e sai do quarto sem nem olhar para trás. Ele ia terminar aquele maldito trabalho sozinho.
Não sei como, mas meu amor por Rafa estava se desvanescendo, enquanto a chama do pequeno amor que sinto pro Scott cada vez mais aumenta.
Já não sei mais quem amo, quem não magoarei. Pensando isso, a imagem de eu e Rafa sentados na praia me atingiu e de repente Rafael foi se transformando em Scott, sucessivamente.
Outra lembrança me veio, os beijos. O suave, doce e apaixonado beijo de Jason veio primeiro, depois, o intenço e cuidadoso beijo de Rafael.

A diferença era a mesma entre quente e frio, noite e dia, seco e molhado. Como se escolher entre duas coisas completamente diferentes? Era tão injusto que por causa de um beijo eu tivesse que ficar ali, no meio da rua, pensando sobre duas pessoas que eu gostava e que não queria magoar jamais. E o pior é que eu conhecia Rafael há muito tempo e ele sempre teve o mesmo efeito em mim. Por anos, garoto ou garota jamais abalou meu sentimento por ele. E agora aparece um gringo vindo de não sei de onde e não sei por que e muda tudo. E eu conheci ele há UM ÚNICO DIA!
Quem é a pessoa sádica que escreve o destino? Por que ela tem que fazer isso comigo? Por que tem que fazer minha vida assim, tão problemárica? Destino, você é mentalmente problemático, ou simplesmente não se importa?
-Não, é só minha vida que você está arruinando! -  Gritei para o céu infinito, andando para longe da mansão de Scott. Não queria ficar ali nem mais um minuto.
Cheguei na parada de ônibus e começei a me questionar novamente até o ônibus chegar. Cheguei em casa e me joguei no sofá, com dor de cabeça e sem saco pra ninguém. Deixei um pouco de pensar na questão Scott-versus-Rafael e pensei no carnaval, depois de amanhã teria uma festa à fantasia que eu sempre fui, acho que esse ano vai ser diferente.   

Não quero chegar à começar a pensar na escola, como vou tratar Scott, como ficarei perto de Rafael... pensei tanto nessas coisas que acabei adormeçendo, a cabeça fervendo.