Coração de Vidro escrita por Raquel Eloi Bisquin


Capítulo 5
A heroína do chapéu de palha


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e continuem acompanhando!



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Alessia fez uma anotação mental. Nunca, em hipótese alguma e jamais aparecer em um palácio vestida como humana e usando um chapéu enorme de palha. A Rainha a havia olhado com diversão, Alina com deboche e pelo canto dos olhos avistou Paco segurando uma gargalhada.

—Essa é a princesa de Yousei? Mas parece um bobo da corte.- Alina não perdeu a chance de alfinetar.

—Ei! Essa roupa está em alta no mundo humano.-Alessia tentou se defender.

—Na verdade não… Essa camisa é para alguém com 20 quilos a mais que você e esse chapéu só é usado na roça… Você está bem estranha.- Anna se pronunciou pela primeira vez.

—Estou começando a me afeiçoar a humana, ela diz coisas inteligentes!-Elísio estava encostado em um pilar observando a discussão.

A sala do trono era fria e muito branca, Anna desconfiava que era feita totalmente de gelo. No teto o maior e mais belo lustre de gelo se encontrava. A garota se encantou com seus cristais que formavam diversas formas e pareciam apontar para todas as direções. A sua frente uma mulher de cabelos brancos e pele pálida a encarava e sua cabeça uma coroa se encontrava “Essa deve ser a rainha” A menina pensou e pelo rosto simpático concluiu ser uma boa pessoa.

Mas a mulher de pé ao lado do trono de cara amarrada não parecia em nada ter a mesma bondade da rainha.  Só de olhar nos olhos dela, um arrepio lhe subiu pela coluna. Desta ele tinha certeza que devia manter distância.

—Chega!- Niamh se levantou de seu trono e caminhou até Anna.- O importante é que Alessia encontrou a sacerdotisa… Parabéns querida.

—Ah me poupe, ela praticamente trombou com a humana! Só eu que vê algo estranho nesta história? Alessia não acharia algo nem se ela estivesse dançando bem diante de seus olhos!-Alina falou.

Alessia amava a irmã… Mas tinha que admitir que sonhou incontáveis vezes nas milhares formas de matá-la. As vezes ela lhe tirava do sério e nunca via algo de bom nela. Mas a garota não desistiria e ainda iria provar seu valor.

—Cale-se Alina! Estamos progredindo!- A rainha interrompe a filha e se vira novamente para Anna- Seja bem-vinda ao reino de Yousei minha querida, sei que está um pouco perdida mas logo lhe explicaremos tudo, sei que deve ter muitas perguntas.

—Sim tenho. Onde está o rei?-Anna apenas viu mulheres na corte de Yousei.

—Senta que lá vem história!-Alessia ironizou.

Niamh sorriu e caminhou de volta para o trono onde se sentou novamente.

—Bem acho que devo começar do início.

—Não majestade… Comece do fim!

Alina estava em seu típico estado de humor. Niamh criou uma bola de neve e lhe lançou no rosto. Alessia não pode segurar uma gargalhada e recebeu um olhar assassino da irmã mais velha.

—Cale-se garota. Céus como te aturo?- A rainha pacientemente recomeçou- A princípio os youkais e humanos dividiam o mesmo mundo, esse tempo foi chamado de era das trevas pois houveram muitas mortes humanas. Entenda, youkais são criaturas sobrenaturais. De todos os tipos, porém existem os de luz e os de trevas que se alimentam de humanos e esse tipo de youkai é chamado de Youma.

—Só pra deixar claro eu nunca devorei um humano… Pelo menos não todo!- Elísio de manifestou.

—E os dê luz que são voltados para natureza, são chamados de Yousei. E eles todos dividiam o mundo com os humanos. Porém, os humanos resolveram tomar atitudes drásticas e levantaram uma caçadora de youkais. Essa guerreira era filha de uma humano e um youkai, meio criatura mística.

—Desde sempre meio-youkais só dão trabalho!-Alina cortou a mãe e ganhou uma nova bola de neve no rosto.

—Mais da metade da nossa espécie foi morta e os dois reinos formaram uma aliança com os humanos e levantaram uma barreira mágica. Assim os dois mundos estariam separados, e só algumas vezes por ano os youkais escapavam, no mundo humano esse dia é classificado como dia das bruxas.

—Mas o dia das bruxas é só uma vez por ano…

—Não na verdade é o dia em que mais humanos foram mortos...

—E o que isso tem haver com o rei?-Anna não estava entendendo.

—Ah minha cara, não temos um rei em Yousei… A família real é apenas de mulheres, homens são apenas para procriação e no reino de Youma só existem reis. Entenda, o pai de Alina é um de nossos generais e o pai de Alessia…

—É um humano. Minha mãe resolveu sempre teve uma queda por humanos…-Alina interveio com mal humor.

A cabeça de Anna estava a ponto de explodir com tantas informações. O que seria de sua vida neste mundo novo e completamente bizarro.

 

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Após as inúmeras broncas do amigo de infância, Alessia agora estava deitada contra sua vontade na enfermaria. O lugar era arejado e ficava na parte norte do castelo, onde ela podia ver o mais lindo pôr-do-sol das enormes janelas. A luz entrava pelo quarto e deixava o lugar com um lindo tom alaranjado, tudo que Alessia desejava no momento era se sentar na sacada e observar o sol sumir vagarosamente, enquanto pensava nos últimos acontecimento.

Ela se obrigou a levantar, sentindo algumas dores onde a espada de Elísio havia atravessado. Aproveitou que estava sozinha e caminhou em direção a janela, não acreditando na beleza que seus olhos agora podiam ver: O príncipe Elísio estava de pé em uma das torres do castelo, o sol iluminava seu rosto e a brisa balançava seus cabelos negros. Agora ele não parecia assustador ou um demônio maligno, mas um anjo de roupas negras. Elísio fechou os olhos, como se estivesse absorvendo a luz da tarde, deu um sorriso de lado e abriu os braços, como em contemplação ou em agradecimento. Alessia o observava com muita atenção e sorriu quando o viu sorrir, porém ficou desconcertada quando Elísio flagrou seu olhar.

Elísio abriu as asas e voou até o parapeito da janela onde Alessia estava. A menina queria correr de volta para cama e se esconder debaixo das cobertas, tamanho o embaraço.

—Aproveitou o show?- Ele disse com um sorriso sínico no rosto.

—Se está falando do pôr-do-sol, sim estou aproveitando muito.

O príncipe escondeu as asas e se sentou na janela. Um silêncio desconfortável se instalou, Alessia não sabia o que dizer para quebrá-lo, por sorte ele mesmo se encarregou disso.

—Foi um longo dia, você deve estar cansada e machucada…

—Quem escuta até imagina que de alguma forma o senhor se importa comigo cavalheiro…

Elísio apenas a olhou e sorriu, evitando o comentário.

—Mas estou surpresa…-Alessia prossegue.

—Com…?

—Não esperava que fosse do tipo: Paz e amor… Pensei que o seu povo gostasse de ver sangue, dor e guerra!

—Não se engane, gosto de ver sangue, mas de preferência os dos meus inimigos.-Disse ainda olhando o horizonte.

—É uma bela filosofia de vida…

—E você tem alguma? Digo filosofia de vida?- Ele falou fazendo aspas com as mãos.

—Quero ser forte, e digna de ser princesa e deixar Alina orgulhosa.

—Algo me diz que já falhou…-Ele deu uma risada, e a princesa ameaçou derrubá-lo.

—Mas me diga uma coisa… Porque está tão motivado a não ser como todos os Youmas?

Elísio olhou para a princesa por alguns segundos, examinando como os raios do sol deixava seu cabelo quase avermelhado, fazendo um lindo contraste com seus olhos azuis e profundos. Quase podia sentir ser levado do gelo glacial ao calor extremo, como se aquela garota fosse um emaranhado de emoções. Ele desviou o olhar e fingiu olhar para o nada, pensando se podia realmente se abrir com aquela garota atrapalhada.

—Sou filho único, então quando criança tinha poucas crianças para brincar, eu estava sempre cercado por adultos e as poucas que brincavam comigo sempre se iam.- O príncipe suspirou- Então eu fugia do castelo e me aventurava pela floresta, acho que nessa parte somos muito parecidos.- Alessia o olhou com surpresa- Em uma dessas minhas aventuras eu encontrei um menino da mesma idade que eu e logo fiquei sabendo que ele era do reino de yousei. Ele era legal, sempre sorria e me chamava de Eli… Quando percebi, todas as tardes eu fugia para me encontrar com esse novo amigo. Até que um dia…

O olhar de Elísio ficou perdido, e Alessia o analisava com cuidado, esperando que terminasse a história. Vendo que o príncipe não prosseguia ela  então perguntou:

—Um dia...?

Elísio piscou algumas vezes, como se estivesse voltando para a realidade.

—Um dia meu pai me seguiu, ele ficou intrigado para saber onde eu ia todas as tardes e me encontrou perto do rio jogando pedrinhas com meu amigo Will. Meu amigo viu meu pai e logo o reconheceu como rei dos Youmas e correu assustado. Meu pai não havia dito nada, apenas chamado meu nome. Todos os dias depois disso eu voltei lá, esperando que ele aparecesse… Mas ele nunca mais voltou.

—Talvez algo tenha acontecido…

—Não! Você não entende.- Elísio olhou nos olhos de Alessia- Eles sentem medo de nós, por natureza, sempre esperando o pior.

—Não te acho tão ruim assim…

—Eu quase te matei hoje!-Elísio riu.

—Tirando essa parte, a ainda vai ter revanche!

—Eu também não te acho tão fraca assim…

Elísio e Alessia se encararam por alguns segundos, atrás deles o sol se ia, dando lugar a noite, eles sorriram quando um corvo voou para o ombro do príncipe.

—Alessia?

Alessia levou um susto e Elísio quase caiu da janela. Paco estava de pé na porta do quarto com cara de poucos amigos.

—Te falei para não levantar da cama!

—Eu estou melhor, não se preocupe!-Alessia abriu os braços em protesto.

—Parece que sua babá chegou.-Elísio ironizou.

—Veio aqui terminar o serviço e matá-la de uma vez alteza?

Elísio fechou a cara e encarou Paco com seus olhos negros, abriu as asas e sumiu noite a fora.


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Notas finais do capítulo

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