Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 24
O Segredo de Isabelle


Notas iniciais do capítulo

Isabelle faz uma descoberta e acaba tendo algumas surpresas para Severo.



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 24: O Segredo de Isabelle

Estava escuro. Alguma coisa apertava seu peito e sua barriga, impedindo-a de respirar. Ela não tinha idéia de quanto tempo estava assim, até que a visão voltou aos poucos, e ela pode sentir que fora deitada em algum lugar confortável enquanto alguns sons chegavam aos seus ouvidos. Concentrou-se nas sensações que conseguia captar a sua volta e, de repente, os rostos de Narcisa e Belatriz debruçados sobre ela apareceram à sua frente.

– Belle, querida, você está bem? – Narcisa repetia a todo instante, enquanto abanava Isabelle com um feitiço em sua varinha. – Que susto você nos deu! – acrescentou quando viu que ela abrira os olhos.

Aos poucos, Isabelle recobrava a consciência. Agora ela entendia por que as duas mulheres estavam com ela. Elas estavam no quarto dela, acompanhando a primeira prova do seu vestido de noiva juntamente com Madame Malkin, embora Isabelle ainda não soubesse por que Narcisa insistira que Belatriz também estivesse presente.

– Estou bem... eu acho. Foi só uma falta de ar – ela respondeu tentando se levantar. – Este corpete está muito apertado.

– Eu o fiz exatamente nas medidas que nós tiramos mês passado. – A voz de Madame Malkin soou ríspida de algum lugar dentro do seu quarto. – Uma noiva deve se cuidar se pretende estar estonteante no dia do seu casamento.

– Madame Malkin tem razão, querida – Narcisa argumentou enquanto a ajudava a se levantar. – Nós estamos apenas em agosto, e o casamento será só em dezembro. Eu ainda me lembro como tive que me cuidar às vésperas do meu casamento, passava praticamente a pão e água...

– Mas você estava maravilhosa, Narcisa – Madame Malkin completou. – Ainda hoje me lembro daquele vestido, foi um dos melhores que já fizemos.

Narcisa suspirou.

– Eu me lembro... Mas agora Draco já está com um ano, e eu ainda não voltei a minha antiga forma. Acho que jamais conseguirei entrar naquele vestido de novo.

Isabelle revirou os olhos com aquela conversa. Já estava se sentindo enjoada com as reclamações de Narcisa. Intimamente, ela se perguntava por que estava fazendo a prova do vestido tão cedo. Ah, claro... – lembrou-se. Narcisa exigiu que os bordados fossem feitos à mão, sem o uso de mágica, para dar um ar mais \'romântico\' à veste. Suspirando, Isabelle voltou para seu posto num banquinho à frente do espelho, pensando que com todas as suas tarefas em St. Mungus, Narcisa havia tomado as rédeas dos preparativos do casamento, sabendo mais detalhes e tomando mais decisões sobre a festa que a própria noiva.

Ela sentiu ser engolfada por camadas e camadas de cetim branco, até que finalmente Madame Malkin os ajustasse em seu corpo magicamente. As mulheres no quarto suspiraram de admiração, e quando Isabelle se viu no espelho não pode conter o sorriso. O vestido era lindo, e ainda estava sem o bordado tão exigido por Narcisa.

– Agora temos que pensar o que fazer com esse cabelo – Madame Malkin refletiu enquanto mandava pequenos alfinetes marcarem os pontos do vestido que precisavam de ajustes.

Foram interrompidas por uma batida na porta, e logo depois, a cabeça sorridente de Lúcio apareceu na fresta entreaberta.

– Posso entrar? – ele perguntou. – Ou vocês vão me proibir de ver minha própria irmã vestida de noiva?

Com um aceno de Narcisa, a porta se abriu totalmente, e Lúcio entrou no quarto, segurando uma caixa forrada de veludo. Isabelle estranhou os olhos brilhantes de felicidade do irmão enquanto a examinava, ela jamais imaginaria que Lúcio se importasse tanto com cerimônias de casamento e vestidos de noiva.

– Você está linda, minha irmã – ele disse depois de examiná-la. – Mas eu tenho uma coisa que nossa mãe usou no casamento dela e queria que você a usasse em seu casamento também.

Isabelle desceu do banquinho onde estava e foi até o irmão. Dentro da caixa que ele segurava havia uma tiara de prata inteiramente trabalhada e com pequenos diamantes cravados em toda sua extensão. As mulheres no quarto ficaram sem palavras.

– Ela é linda! – Isabelle exclamou. O fato da tiara ter pertencido a sua mãe era ainda mais valioso que os incontáveis diamantes que cintilavam do adereço.

Madame Malkin a conduziu novamente para sua posição à frente do espelho e colocou a tiara em sua cabeça, ajeitando o cabelo de Isabelle de várias maneiras, até que se decidiu por um coque que deixava algumas mechas caírem displicentemente, emoldurando seu rosto com o cabelo dourado.

– Belle, querida! – Narcisa exclamou emocionada. – Você está parecendo uma princesa!

– É uma pena que vai casar com o sapo, e não com o príncipe – Belatriz adicionou desdenhosa.

Lúcio virou-se para responder à cunhada, mas Isabelle já havia perdido os sentidos novamente. Narcisa e Madame Malkin a seguraram pelos braços antes que caísse no chão e a abanavam energicamente, até que ela abriu os olhos novamente.

– Isabelle, tem certeza que está se sentindo bem? Já é a segunda vez que...

– Eu já disse que estou bem, Narcisa – Isabelle a interrompeu. – Só não consigo respirar com esse corpete apertado.

Narcisa olhou para a cunhada contrariada e então se dirigiu à Madame Malkin:

– Bem, eu acredito que a senhora já terminou o que tinha que fazer aqui. Eu e minha irmã ajudaremos Isabelle a tirar o vestido assim que ela se recuperar direito, e o elfo o entregará na sua loja. Não vou segurá-la por mais tempo aqui em casa. Lúcio? – ela chamou virando-se para o marido. – Você poderia acompanhar Madame Malkin até a saída enquanto nós cuidamos de Isabelle?

Lúcio estendeu o braço para Madame Malkin, que juntou suas coisas e o acompanhou para fora do quarto, não sem antes avaliar Isabelle com um olhar desconfiado. Quando a porta se fechou, Narcisa encarou Isabelle com um olhar sério e cruzou os braços.

– Muito bem, Isabelle – ela começou com a voz grossa. – Agora que só estamos nós aqui, você pode confessar: você está grávida?

A pergunta caiu como uma bomba para Isabelle. Esse já era seu terceiro desmaio em menos de dois meses. Ela vinha sentindo-se fraca e enjoada desde então, mas preferia dizer que era culpa da atribulada rotina no St. Mungus. Plantões demais e poucas horas para se alimentar explicavam perfeitamente seus freqüentes mal-estares. Não queria acreditar que o diagnóstico que já dera a várias bruxas que lhe procuraram com os mesmos sintomas também serviria para ela. Não agora, não quando estava tão envolvida no meio de uma guerra que parecia não distinguir crianças de adultos, certo de errado.

Seus olhos fugiram do olhar penetrante de Narcisa quando ela tentou balbuciar uma resposta:

– Grávida? De onde você tirou isso, Ciça? Eu estou apenas...

– Sentindo enjôos? Desmaios? – Narcisa a interrompeu. – Eu tenho feito vista grossa para as suas escapadas noturnas desde a época que você voltava de férias de Hogwarts, mas eu não vou admitir uma vergonha dessas na nossa família.

– O que você poderia esperar, Ciça? – Belatriz se intrometeu. – Eu avisei a vocês que não era prudente se misturar com mestiços. – Sem deixar Isabelle replicar, ela continuou: – Eu não sei por que o Lúcio confia tanto no Snape; já faz um ano que ele está tentando descobrir sobre quem é a profecia e nada. O Lorde das Trevas já está perdendo a paciência com ele.

– O quê? – Isabelle perguntou com os olhos arregalados. De repente, a segurança de Severo lhe pareceu mais importante que a acusação de Narcisa.

– Isso mesmo que você ouviu, querida – Belatriz respondeu com um tom vitorioso. – Se você estava pensando que seu sapo um dia voltaria como príncipe encantado, estava muito enganada. Se ele não aparecer com nada concreto para Lorde em breve, você não terá noivo para se casar no final do ano.

– Não diga uma coisa dessas, Bela! – Narcisa advertiu. – Você sabe como o Lúcio o considera desde que ele o salvou daquele ataque. Seria uma vergonha para nós!

– Lamento, minha irmã, mas se ele não se mostrar digno da sua posição com o Lorde, é isso mesmo que vai acontecer. – Aproximando-se de Isabelle, Belatriz continuou: – E se você está realmente grávida, eu a aconselharia a livrar-se logo deste problema. Carregar o rebento de um fracassado é um fardo grande demais!

Isabelle arregalou os olhos, horrorizada com as palavras que acabara de ouvir. Mas surpreendentemente, foi Narcisa quem repreendeu a irmã:

– Bela! Não diga uma coisa dessas! Eu jamais poderia imaginar minha vida sem o Draco, principalmente se alguma coisa acontecesse ao Lúcio. Você não entenderia – acrescentou quando a irmã abriu a boca para responder. Depois, virando-se para Isabelle, continuou: – Eu espero estar errada, mas se não estiver, lembre-se que uma gravidez antes do casamento vai atrapalhar ainda mais os planos do seu noivo de construir uma família respeitável ao seu lado. Talvez vocês devessem fazer uma viagem, casarem-se no exterior, e só voltarem quando essa criança estiver grande o suficiente para evitar perguntas maldosas.

– Eu não estou grávida, Narcisa – Isabelle finalmente reuniu forças para dizer, embora com pouca convicção. – Eu só estou cansada demais com os últimos plantões. Há muitos pacientes e poucos bruxos para atendê-los.

– Se você diz – Narcisa respondeu desconfiada. – Eu apenas dei o meu conselho, espero que você saiba discernir o que é o melhor a fazer. Você viu como seu irmão está feliz com esse casamento, não o desaponte.

Dizendo isso, ela e Belatriz saíram do quarto, deixando Isabelle sozinha. Depois de livrar-se das inúmeras camadas de pano que Madame Malkin a envolvera, ela sentou-se na cama. Tirando da cabeça a tiara que Lúcio lhe dera, Isabelle segurou-a em suas mãos desejando que sua mãe estivesse com ela agora; ela saberia o que fazer, o que lhe dizer. Fechou os olhos e, com a ajuda da sua varinha, fez o feitiço que sempre fazia em suas mãos quando alguém lhe procurava com a mesma dúvida. Tocou a região abaixo do ventre, na altura do útero, e deixou suas mãos sensibilizadas explorarem seu corpo. Ela já estava atrasada há duas semanas, mas nem havia se preocupado com isso. Passara a última semana cuidando de duas crianças atacadas por lobisomens e quase não dormira naqueles dias, há muito tempo que ela vinha se descuidando do seu próprio corpo para cuidar de outros mais necessitados. Agora, seu corpo estava lhe dizendo para diminuir o ritmo, havia mais alguém dentro dela precisando dos seus cuidados.

Isabelle não conseguiu controlar as lágrimas que brotaram dos seus olhos quando constatou que estava realmente grávida. Não eram lágrimas de tristeza ou desespero, mas de alegria. Todas as preocupações que sempre tivera por causa da guerra, da sua posição e de Severo, simplesmente desvaneceram. Tudo o que importava agora era aquele pequeno ser dentro dela, que ela já amava sem nem mesmo conhecê-lo. Sabia que seus próximos passos a partir de agora seriam dados apenas por causa dele, para garantir que seu filho estivesse sempre bem e em segurança.

Pop!

Ela levantou-se assustada ao ouvir o som de alguém aparatando em seu quarto, mas era apenas Dobby.

– A senhora disse que Dobby tem que levar um vestido.

Isabelle enxugou os olhos ainda molhados e entregou o vestido para Dobby levar até a loja de Madame Malkin. O elfo doméstico o segurou com dificuldade em suas pequenas mãozinhas, mas não deixou o quarto.

– A senhorita estava chorando. Dobby fica triste também.

Isabelle sorriu com a ingenuidade do elfo que sempre lhe fizera companhia desde criança.

– Não se preocupe, Dobby. Eu estou bem.

– A senhorita deveria ver o Sr. Snape. A senhorita sempre volta feliz quando fala com ele.

Isabelle aumentou ainda mais o sorriso, mas ao mesmo tempo, o elfo começou a se bater na cabeça.

– Dobby pede desculpas, senhorita. Não devia se intrometer nos assuntos dos seus mestres.

– Está tudo bem, Dobby – Isabelle o acudiu. – Eu não estou brava. Aliás, você me deu uma ótima idéia.

O elfo parou de se bater e também sorriu.

– Se é assim, Dobby fica feliz em ajudar a senhorita. – E desaparatou do quarto depois de uma mesura.

*-*-*-*-*-*-*-*

Severo acabara de aparatar em seu escritório quando Giggles entrou para anunciar a presença da Srta. Malfoy na sala de estar. Ele sorriu com a notícia; aquele dia estava quase perfeito. Depois de meses tentando decifrar o conteúdo da profecia que ouvira no ano passado, Severo finalmente conseguira chegar a dois nomes. Ele teve um pouco de dificuldade no início, jamais imaginaria que a profecia fosse sobre uma criança que nem havia nascido na época. Começou a procurar entre bruxos mais velhos, membros da Ordem da Fênix ou não, que tinham filhos nascidos no mês de julho. Nada. O número de bruxos que já haviam enfrentado o Lorde das Trevas e sobrevivido era escasso, e mesmo assim, nenhum deles se encaixava na profecia. Finalmente, ele se convenceu que, se o reinado do Lorde fosse próspero, a profecia poderia estar se referindo a alguém ainda muito jovem, que cresceria com o fardo de derrotar seu mestre. Uma criança. Houve vários nascimentos no mês julho daquele ano e do ano anterior, entretanto, havia apenas duas crianças cujos pais, membros da Ordem da Fênix, já haviam enfrentado o Lorde por três vezes: Neville Longbottom, filho de Frank e Alice Longbottom, dois aurores que ficaram famosos por evitar diversos ataques de Comensais da Morte enquanto ele estava em Mortlake (por isso a demora em identificá-los); e claro, havia também Harry Potter, filho da sua ex-amiga Lílian Evans, a única sangue-ruim que ele conhecera com verdadeiro talento para magia, mas que preferiu se unir ao simplório Potter e aquele bando de covardes. Ele descobrira apenas na semana passada que os dois já tinham um filho de um ano, e a notícia fez com que ele recordasse com detalhes o dia do ataque no Festival de Wall e a tentativa frustrada do Lorde das Trevas de invadir Hogwarts. Juntando estes dois eventos com o dia em que Lílian fora misteriosamente salva da Maldição da Morte também qualificava seu filho, Harry, para a profecia.

Entretanto, havia uma coisa que não o deixou comemorar sua recente descoberta. Voldemort o parabenizara pelo seu trabalho, mas havia um pequeno detalhe que seu mestre deixara escapar e que deixou Severo preocupado: havia um traidor na Ordem da Fênix; há cerca de um ano que o Lorde das Trevas já tinha outro espião entre o grupo criado por Dumbledore para derrotá-lo. Ele havia demorado muito na sua tarefa de desvendar a profecia e sentia que esteve muito próximo de ser substituído por seu mestre, precisava agir rápido para não se tornar obsoleto entre os Comensais da Morte, precisava ganhar a confiança de Dumbledore e ser aceito em Hogwarts, de preferência ainda neste semestre. Felizmente, ele ainda tinha um trunfo nas mangas: mesmo que a Ordem da Fênix tivesse um traidor, este ainda não fora capaz de descobrir como Dumbledore parecia conhecer de antemão os planos do Lorde. Parecia que mesmo depois da morte de Régulo Black, a Ordem da Fênix ainda tinha um espião; havia um traidor também entre os Comensais da Morte, e o covarde traidor de Dumbledore ainda não fora capaz de descobri-lo. Se ele, Severo Snape, desmascarasse o verdadeiro traidor, sua posição com o Lorde das Trevas estaria inabalada.

A notícia de que Isabelle o aguardava espantou estes pensamentos temporariamente da sua mente. Ela andava tão atarefada depois que se tornou Curandeira, que era raro encontrá-la no meio da tarde, com tempo exclusivamente para ele.

– Narcisa me disse que vocês ficariam a tarde inteira ocupadas com as provas do vestido – ele disse assim que entrou na sala. – Achei que não a veria hoje – completou sorrindo antes de beijá-la.

Isabelle o encarou mordendo os lábios, procurando as palavras certas para contar-lhe sua nova descoberta. Mas Severo não esperou que ela começasse, ele também tinha novidades:

– Tenho ótimas notícias! Eu finalmente descobri – ele exclamou animado para Isabelle. – O Lorde das Trevas já tem o nome daqueles que poderiam destruí-lo. São apenas crianças, nós podemos cuidar deles antes que a profecia se realize.

– O quê? – Isabelle olhou para ele horrorizada. – O que você quer dizer com cuidar deles?

Severo percebeu que, na sua excitação, falara demais. Isabelle podia ser uma Malfoy, mas não era uma Comensal da Morte. Sua futura mulher era frágil demais para determinados assuntos; ela podia simpatizar com as idéias do Lorde das Trevas, mas não era capaz de entender os sacrifícios que deveriam ser feitos para levar ao fim uma verdadeira causa. Ele a pegou pelo braço para conduzi-la até o sofá, esperando encontrar uma forma de apaziguar a notícia que acabara de lhe dar.

Isabelle empalideceu quando ouviu as últimas palavras de Severo. Há um ano que ela vinha tentando esconder tudo o que sabia sobre a profecia, e pelo que Belatriz lhe dissera, isso quase causou a morte de Severo. Ela precisava convencê-lo de que estava seguindo o caminho errado, antes que o Lorde das Trevas lhe desse uma tarefa da qual ele jamais seria perdoado, e sua vida estaria perdida para sempre.

Quando ele a fez sentar-se no sofá, Isabelle finalmente tomou forças para entrar num assunto que já estava protelando há muito tempo:

– Você tem certeza do que está fazendo, Severo? Você está cada vez mais envolvido com as Artes das Trevas e você sabe que elas sempre exigem alguma coisa em troca.

Severo estreitou os olhos para a noiva. Isabelle e sua família sempre foram profundos conhecedores das Artes das Trevas, por que ela estava com este discurso agora? Há algum tempo que ele vinha percebendo uma mudança em Isabelle, que imaginava estar relacionada com seu treinamento como Curandeira, mas agora, ele se perguntava se ela estava lhe escondendo alguma coisa.

Sem querer transparecer suas dúvidas, Severo sorriu para Isabelle e explicou, como se estivesse tentando confortar uma criança:

– Não se preocupe comigo, eu sei com que estou lidando.

– Sabe mesmo? – ela retrucou. – Você está cada dia mais pálido, mais magro. Só você ainda não percebeu o quanto está sendo exigido. – Ela agarrou os braços dele e o fez encará-la nos olhos. – Eu vi meus pais morrerem por causa das Artes das Trevas, não vou suportar perdê-lo também.

Severo franziu a testa. Ele nunca soubera exatamente o que havia acontecido com os pais dela; isso sempre fora um assunto proibido na Mansão Malfoy.

Vendo a expressão de dúvida no rosto de Severo, Isabelle continuou:

– Você não acreditou naquela história ridícula de varíola de dragão, não é? Meu irmão doou uma fortuna para o St. Mungus e foi só isso que eles conseguiram inventar. – Ela desviou o olhar de Severo e fechou os olhos para tentar conter as lágrimas que começaram a escorrer. – Eu nem pude vê-lo antes de enterrá-lo; Lúcio disse que o estado do corpo dele era deplorável.

Severo aproximou-se mais dela, abraçando-a com força por não saber outra maneira como consolá-la. Isabelle tentava domar as lágrimas, mas seu esforço foi em vão, e foi com a cabeça baixa e as mãos escondendo o rosto que ela prosseguiu:

– E você tem idéia do que minha mãe sofreu nos últimos anos de vida? Ela suportou tudo aquilo porque sentia que estava sendo punida. As Artes das Trevas exigiram dela um preço muito alto por resgatar para o Lorde das Trevas uma arma capaz de torná-lo invencível.

– Isabelle! – Severo a advertiu. – Se alguém ouvi-la falando desse jeito pode pensar...

Ele não conseguiu terminar a frase. Não queria pensar nas conclusões que outros chegariam se ouvissem Isabelle falando daquele jeito. Não. Ele a conhecia desde que eram crianças, e Isabelle sempre fora uma defensora das idéias do Lorde das Trevas.

Isabelle não conseguia controlar o choro, suas emoções estavam à flor da pele. Virou-se de frente para Severo e o abraçou, procurando um pouco de segurança nos braços dele. Quando conseguiu se acalmar, ela levantou o rosto para olhá-lo.

– Você deve a sua vida ao Potter. Eu sei que você não acredita nisso, mas por favor, apenas me prometa que não fará nada contra ele.

O quê? Ela estava preocupada com o Potter? Com aquela maldita dívida? Ele estava naquela posição agora por causa dela, por que era o único jeito de ser aceito na família dela, e ela lhe implorava pela vida do seu pior inimigo?

 – Eu vou fazer o que o Lorde das Trevas me ordenar, Isabelle – ele respondeu seco. Levantando a manga esquerda das suas vestes, acrescentou: – Eu estou ligado a ele, este foi o preço que tive que pagar. Não importa o quanto você implore, eu não vou desobedecê-lo.

Isabelle sentiu uma ânsia de vômito quando ele mostrou o antebraço para ela e virou o rosto para não ser obrigada a encarar a Marca Negra.

Indignado com a reação e a incompreensão de Isabelle, Severo levantou-se, ficando de pé em frente dela, e continuou na sua voz fria:

– Isso – ele disse apontando para a Marca Negra em seu braço – foi o que me fez ser respeitado no seu mundo, Isabelle. Você diz que está preocupada comigo agora, mas nunca foi capaz de enfrentar sua família por mim. Eu tive que conquistar a confiança deles pelos meus próprios meios para não perdê-la. Eu estou apenas sofrendo as conseqüências de não medir esforços para estar ao seu lado, não me julgue pelo que você desconhece.

Isabelle fechou os olhos mais uma vez antes que outra enxurrada de lágrimas tomasse conta dela. Ela sabia que Severo estava certo e também se sentia culpada pelo rumo que a vida dele tomara. Ela apenas nunca imaginara que um dia ele lhe jogaria isso na cara.

Sem saber o que dizer, levantou-se do sofá e foi até a janela, esperando que a vista do pôr-do-sol no horizonte lhe trouxesse inspiração para o que ainda precisava confessar. Entretanto, sem saber, ela já tinha confessado seu segredo mais íntimo, e os poucos segundos de silêncio que se seguiram foram suficientes para Severo refletir nas últimas palavras dela e chegar à conclusão óbvia.

Potter, Potter... Por que ele tem que estar sempre por perto? – Severo pensou enquanto observava Isabelle caminhar até a janela. Potter? Por que Isabelle está preocupada com ele?

– Eu não lembro de ter mencionado quem eram as crianças da profecia – foi o que ele disse em voz alta. – Por que você mencionou o Potter?

Isabelle levou uma mão à boca ao ouvir a pergunta. Percebeu os passos de Severo na sala, caminhando na direção dela. Sentiu seus braços agarrando-a pelos ombros e fazendo-a virar-se para ele, para encará-lo.

– O que você sabe sobre o Potter? – ele perguntou.

Isabelle estava assustada demais para responder. Os olhos pretos de Severo brilhavam numa raiva que ela jamais vira antes, e ela sabia qual seria a próxima reação dele. Ele estava tentando penetrar na sua mente, ela podia sentir, mas não permitiria. Continuou encarando-o séria, e ele soltou uma risada desdenhosa.

– Oclumência – ele concluiu. – Era para isso que você veio me pedir ajuda, anos atrás? Parabéns, Isabelle, você me enganou direitinho. Eu nunca imaginei que uma Malfoy se humilharia a ponto de dormir com um mestiço para conseguir o que queria.

– Não! – Isabelle protestou, sentindo-se humilhada. As lágrimas voltaram facilmente aos seus olhos. – Você não entende! Eu fiz tudo isso para... porque... – Ela não conseguia suportar a expressão de ódio no rosto de Severo, tentou virar o rosto, mas ele a obrigava a encará-lo.

– Você é a traidora – ele concluiu olhando-a enojado. – Esgueirando-se na mente do seu irmão, de Belatriz, na minha mente! Por isso o Lorde não conseguia identificar o traidor, porque ele não tinha a Marca Negra. Porque era uma víbora na pela de uma jovem encantadora, com influência entre todos os seguidores do Lorde, e dissimulada o suficiente para explorar suas mentes sem ser percebida. – Ele respirou fundo e a raiva em seus olhos brilhou com ainda mais força quando ele perguntou: – Quantos, Isabelle? Com quantos você se deitou para obter as informações tão valiosas para o Dumbledore? Você também contou para o Black o que fazia para ajudar a Ordem? Ele também sabe que a antiga namoradinha se transformou numa vagabunda que se desloca da cama de um Comensal para outro?

Isabelle o encarou indignada. Sentia-se fraca, presa entre a janela e o corpo furioso de Severo. Ela tentava desvencilhar-se dele, mas ele segurava seu maxilar com força, obrigando-a a olhar para frente.

– E você ainda achou que eu seria tolo o suficiente para deixar-me convencer a trocar de lado? – Os lábios de Severo se abriram num sorriso falso. – Em breve, o único que um dia poderia derrotar o Lorde das Trevas estará morto. Uma nova era começará para os bruxos, sem trouxas e sangues-ruins para nos importunar. Uma era onde apenas os bruxos de verdade serão respeitados.

– É isso mesmo que você quer, Mestiço? – Isabelle finalmente retrucou, os olhos estreitos quando pronunciou o antigo apelido. – Um mundo feito apenas para os sangues puros?

Severo recuou com a resposta dela, mas não disse uma palavra.

– Foi você quem me fez ver o quanto é estúpido nos dividirmos entre sangues puros ou sangues ruins – ela continuou quando percebeu que ganhara a atenção de Severo. – É esse mundo que você quer para o seu filho? Um mundo que o rejeite por carregar o nome de um trouxa? Eu fiz o que fiz porque amo você e não quero ver mais ninguém sofrer o que nós sofremos por causa de tradições estúpidas. Seus pais sofreram por isso, nós também; eu não quero que o meu filho seja o próximo da fila.

Mas Isabelle fora longe demais ao falar da família dele. Toda a fúria que Severo estava guardando explodiu num ato impensado, e quando ele deu por si, estava com a varinha apontada para Isabelle:

– Não ouse falar dos meus pais! Eles não têm culpa da sua traição! Você nem os conheceu!

Assustada, Isabelle encolheu-se contra a parede, intuitivamente protegendo a barriga. Aquela cena fez Severo recordar-se de outra bem semelhante, quase vinte anos atrás. Ele, que tanto odiara o pai trouxa, estava imitando-o. Da mesma maneira que vira seu pai ameaçar sua mãe, ele agora ameaçava Isabelle. A imagem dela encolhida, protegendo-se, lhe trouxe lembranças que ele julgava esquecidas, e ele não podia seguir os mesmos passos do pai. Guardou sua varinha e afastou-se da janela, deixando Isabelle recompor-se. De costas para ela, ele disse simplesmente.

– Nós não temos mais nada para conversar. É melhor você sair.

– Eu não vou sair – Isabelle respondeu firme depois que se levantou.

A petulância de Isabelle, depois de tudo o que acontecera, o fez virar-se subitamente para ela, uma sobrancelha levantada em sinal de que ela fora longe demais.

– Eu estou grávida – ela disse assim que ele se virou.

Severo abriu a boca para falar alguma coisa, mas fechou-a logo em seguida. De alguma maneira, ele sabia que ela não estava mentindo.

– Se o meu amor por você não é suficiente para evitar que você comece um caminho sem volta, ao menos pense no seu filho. Quando eu disse que não quero que ele cresça num mundo dividido entre sangues ruins, mestiços e sangues puros, eu tinha um motivo real para pensar assim.

– Eu já estou neste caminho, Isabelle – ele respondeu.

Isabelle o olhou com olhos suplicantes, mas não foram suficientes para comover Severo. Ele estava ferido demais com o que descobrira dela. Ele queria feri-la da mesma forma. Caminhou até onde ela estava parada e, sério, continuou:

– Além disso, depois do que você fez, eu não posso ter certeza que esse filho é mesmo meu.

Isabelle arregalou os olhos num misto de ódio e desapontamento. Agora sim, ele tivera sua vingança. Você já brincou por tempo demais comigo, Srta. Malfoy. Está na hora de arranjar outro otário para se aproveitar.

Devolvendo o anel de noivado que Severo lhe dera, Isabelle levantou os olhos e juntou suas últimas forças para responder-lhe:

– Você tem razão. Você não é o pai desta criança. – Severo levantou a sobrancelha novamente. – Eu achei que o pai desta criança fosse um bruxo mestiço brilhante, que jamais se deixaria iludir por uma promessa mentirosa de poder. Mas eu estava enganada, não é? Esse bruxo nunca existiu.

Sem esperar uma resposta de Severo, Isabelle deu-lhe as costas e desaparatou no instante seguinte. Segundos depois, um jarro de porcelana se despedaçava na parede próxima a que ela estivera.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Severo conhece a Ordem da Fênix...



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