Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 20
O Baile de Fornatura


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, chegou a hora de deixar Hogwarts.



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 20: O Baile de Formatura

Quando as aulas recomeçaram, Dumbledore ainda não tinha a menor idéia de quem havia ajudado Voldemort a entrar no castelo; ou talvez, ele apenas temia admitir que fora enganado por seus próprios alunos. Felizmente, a notícia da invasão de Comensais da Morte em Hogwarts às vésperas do Natal foi facilmente abafada, e os poucos pais que temiam que seus filhos voltassem à escola no próximo semestre foram convencidos com as novas proteções que o próprio Diretor lançara no castelo, além da proibição do uso da Rede Flu e a cuidadosa inspeção nas corujas que chegavam ao castelo. Infelizmente, o clima de guerra e terror que tomava conta do mundo bruxo finalmente conseguira atravessar os muros de Hogwarts, e Dumbledore lamentava ter que tomar decisões tão drásticas.

Enquanto isso, fora do castelo, o Ministério parecia cada vez mais fraco frente ao poder do Lorde das Trevas. O reinado de terror de Voldemort havia atingido uma proporção tão grande, que muitos bruxos admitiam o preconceito contra trouxas e nascidos trouxas, nem que fosse apenas por medo de enfrentarem a ira de Você-Sabe-Quem.

Vendo que o Ministério sozinho não parecia capaz de enfrentar Voldemort com sucesso, Dumbledore, juntamente com um grupo de bruxos corajosos e que já haviam perdido muito com esta guerra, finalmente resolvera que era hora de levantarem resistência contra o reinado de terror que se erguia. A Ordem da Fênix fora fundada em homenagem à Fawkes e com a esperança de que, assim como a fênix, ela fosse sempre capaz de ressurgir das cinzas e trazer um pouco de esperança aos bruxos que ainda acreditavam nos velhos preceitos da magia: amor, benevolência e confiança. A princípio, a Ordem era formada apenas por bruxos pertencentes ao círculo mais íntimo do Diretor, como seu irmão Aberforth Dumbledore, a Profa. Minerva McGonagall, o Guarda-Caça Rúbeo Hagrid e seu grande amigo e auror Alastor Moody. Após o ataque a Hogwarts, entretanto, bruxos mais jovens, que começavam a duvidar da capacidade do Ministério, também se juntaram à Ordem, aurores recém formados como Frank e Alice Longbottom, Quim Shacklebolt e Estúrgio Podmore, entre outros bruxos jovens e brilhantes como os irmãos Fábio e Gideão Prewett.

Alheio às tentativas do Diretor Dumbledore de se interpor ao Lorde das Trevas, Severo voltou para Hogwarts naquele semestre com a certeza de que estaria com a Marca Negra em seu braço assim que terminasse seus estudos. Apesar da tentativa frustrada de invadir Hogwarts, causando a punição severa dos Comensais da Morte envolvidos naquela missão, o Lorde pareceu muito satisfeito com o trabalho dos jovens aspirantes a seus servos. Embora houvesse a desconfiança de que foram traídos, os sonserinos envolvidos no ataque concluíram que, provavelmente, alguém os ouvira na sala comunal ou na biblioteca. Sem quererem parecer negligentes ao Lorde das Trevas, eles também jamais comentaram o assunto, que acabou sendo esquecido. Quando voltou para casa, Severo também sentiu, pela primeira vez, que seu avô finalmente estava orgulhoso dele. Os inúmeros elogios recebidos pelo Lorde das Trevas talvez fossem os responsáveis por essa mudança de comportamento. Entretanto, há muito que Severo não se importava mais com o avô; era ao Lorde das Trevas que ele queria impressionar e conquistar a confiança, ainda mais agora que ele tinha certeza que esta era a única forma de ser um bruxo respeitado entre as famílias de sangue puro, principalmente os Malfoy.

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O último semestre finalmente chegou ao fim, embora muitos alunos do sétimo ano desejassem que ele jamais acabasse. A pressão para tirarem boas notas nos N.I.E.M.s vinha de todos os lados. Além da família e dos professores, eles mesmos sentiam o peso de ter suas futuras carreiras profissionais definidas em uma única semana de provas. Além disso, faltava apenas um mês para o Baile de Formatura, o que fazia a preocupação em encontrar um par para o baile somar-se ao nervosismo com a proximidade das provas.

Severo e Isabelle não estavam fora deste grupo. Embora seus amigos do sétimo ano da Sonserina já soubessem que estavam namorando, eles ainda evitavam aparecerem juntos quando estavam fora da sala comunal, e Severo sabia que ela jamais aceitaria ir ao baile com ele como namorados, principalmente porque Lúcio estaria presente. Ele já estava se conformando com isso quando estavam sentados na sala comunal, discutindo com os demais amigos sobre o Baile de Formatura e os N.I.E.M.s.

– Você nem deveria estar preocupada com suas notas do N.I.E.M., Isabelle – Ana estava falando. – Afinal, com a quantia de doações que o St. Mungus recebe da sua família, eles jamais se negariam a aceitá-la.

– Eu ainda não sei se vou me inscrever para o St. Mungus esse ano – ela respondeu cautelosa.

– O quê? – Severo e Ana perguntaram, incrédulos, quase ao mesmo tempo, enquanto os outros viraram para ela com olhos arregalados de surpresa.

– Narcisa sugeriu que eu passasse um ano viajando fora do país para depois me decidir – ela explicou. – Ela fez isso quando se formou, e estou pensando seriamente em seguir o conselho dela.

– E desde quando você ouve conselhos da Narcisa? – Ana perguntou franzindo a testa, ainda sem acreditar no que ouvia da amiga. – Você gosta dela agora?

Isabelle deu um suspiro e, então, respondeu:

– E eu tenho alternativa? Ela é a dona da casa agora.

– Ainda assim – Ana insistiu –, você parecia tão empolgada para entrar em St. Mungus no semestre passado... O que aconteceu para você mudar de idéia?

– Nada – Isabelle respondeu desviando o olhar da amiga e fingindo interesse no primeiro livro que tirou de sua mochila. – Eu só estou analisando todas as minhas opções.

– Bom – Evan se intrometeu na conversa, passando um braço em volta dos ombros da namorada –, eu só espero que isso não vire moda, e que a Ana continue na Inglaterra no próximo semestre.

Enquanto os dois namorados se beijavam, Isabelle virou-se para Severo, mas ele já havia se levantado e estava com a mochila nas costas quando disse:

– Eu tenho que encontrar o Prof. Slughorn no laboratório de Poções, vejo vocês na aula. – E saiu, sem olhar para Isabelle.

Severo passou pelas masmorras a passos largos. Ele não tinha nenhum compromisso com o mestre de Poções, mas entreter-se com o preparo de alguma poção o faria esfriar a cabeça. Estava bravo com Isabelle, com a idéia de que ela ficaria longe por um ano, pelo fato dela não ter lhe contado nada sobre isso, e porque ela ainda se negava a admitir que os dois estavam juntos. Mais uma vez ele se pegou imaginando se ela não fazia tudo isso porque sentia vergonha dele, porque o fato dele ser um mestiço era muito mais importante do que ela ousaria admitir. Como ele queria que aquele semestre acabasse logo para, longe dos olhos de Dumbledore, poder receber a Marca Negra, conquistar a preferência do Lorde das Trevas e, assim, o respeito dos demais Comensais da Morte. Foi planejando seguir fielmente às ordens do Lorde até provar que era seu melhor Comensal que Severo chegou ao laboratório, onde encontrou o Prof. Slughorn passando instruções para Lílian.

– Ora, ora, ora – Slughorn exclamou assim que viu Severo na porta. – Parece que temos mais um ansioso pelos N.I.E.M.s. Venha, meu caro, você pode treinar suas habilidades com as mesmas poções que indiquei para a Srta. Evans; são as mais prováveis de cair na prova. Encontro vocês na aula, daqui a uma hora.

Severo entrou no laboratório em silêncio e começou a arrumar seu caldeirão na bancada à frente a de Lílian assim que o professor saiu. Olhou de relance para a lista de poções indicadas pelo Prof. Slughorn; a primeira era a Poção do Morto-Vivo. Pegou as raízes de valeriana e começou a picá-las agressivamente, sem prestar muita atenção ao que estava fazendo. Lílian levantou o olhar do seu próprio caldeirão ao ouvir o barulho violento da faca cada vez que atingia a bancada e franziu a testa ao observar o comportamento tão atípico do colega. Quando ele terminou de picar as raízes e começou a cortar a Vagem Saponífera, conforme indicavam as instruções do livro, foi que ela concluiu que alguma coisa estava errada e tentou iniciar uma conversa.

– Você não escreveu em seu livro que amassar a Vagem Saponífera produz mais seiva que cortá-la?

Severo parou o que estava fazendo e levantou uma sobrancelha. Como ele não disse nada, ela continuou com um tom preocupado:

– E eu nunca vi você picando ingredientes daquele jeito. Há alguma coisa errada?

Severo largou a faca na bancada e sentou-se num banco próximo, suspirando.

– Eu só queria que essa semana e a próxima acabassem. E aquele estúpido Baile de Formatura também.

Lílian também largou sua poção e sentou-se num banco do outro lado da bancada, de frente para Severo.

– Eu entendo – ela respondeu. – Eu também não vejo a hora de passar essa tensão pelos N.I.E.M.s. Mas quanto ao baile – ela continuou –, eu acho que vai ser legal. Você já pensou que, depois de tantos anos, será a última vez que veremos alguns entre nós?

– Sim – Severo respondeu com outro suspiro quando se lembrou dos planos de Isabelle de deixar a Inglaterra. Lembrando-se de seus antagonistas da Grifinória, continuou: – E acho isso ótimo.

Lílian recuou com o rancor de Severo. Ela concluiu que ele estava se referindo ao Tiago e seus amigos, afinal, eles nunca se deram bem.

Do outro lado da bancada, Severo nem percebeu a reação de Lílian, estava absorto na decepção que sentira ao ouvir os planos de Isabelle e queria arranjar um jeito de feri-la da mesma forma que ela o feriu. Sabendo que não poderia levá-la ao Baile de Formatura como sua namorada, Severo concluiu que teria o direito de levar qualquer outra garota no lugar dela e, de repente, se viu em frente à escolha perfeita.

– Lílian – ele chamou, inclinando-se na mesa na direção dela –, eu ainda não convidei ninguém para o baile. Sei que muitos vão achar estranho, mas esse ano que passamos juntos como assistentes do Slughorn me fez ver que você é uma pessoa muito especial, e adoraria que você fosse ao baile comigo. – Ele avançou ainda mais na bancada, alcançando a mão dela. – Então? Você aceita?

Lílian se afastou dele e sentiu seu rosto enrubescer. Apesar de Severo ser da Sonserina, ela gostava das longas tardes que passava com ele no laboratório de Poções, discutindo sobre vários assuntos das suas aulas. Entretanto, ele nunca fora mais que um amigo para ela. Além disso, depois do que acontecera no ano passado, no Festival de Wall, ela vira um lado diferente de Tiago – ele deixara de ser um arrogante exibido e parecia ter amadurecido bastante no último ano, assumindo de forma responsável a posição de Monitor-Chefe. Ela pensara muito nele no último semestre e, quando finalmente conseguira se recuperar do choque da morte de Carlos, viu-se inclinada a aceitar um dos inúmeros convites de Tiago para sair. Agora, seu problema era contar isso ao Severo sem magoá-lo.

– Eu sinto muito Severo – ela começou –, mas eu vou ao baile com o Tiago. Eu pensei que você já soubesse que nós estamos namorando...

CRASH!

Severo e Lílian viraram-se em direção ao barulho de vidro se quebrando no chão – vinha da mesma direção da porta. Isabelle estava parada, com um frasco de vidro quebrado na frente dela e um olhar fulminante no rosto. Severo se levantou para ir até ela, mas no instante seguinte ela já tinha desaparecido, seguido para a sala de aula de Poções. Ele saiu correndo para a sala, arrependendo-se do que fizera. Não sabia o quanto Isabelle ouvira da conversa deles, mas nesse momento desejava que aquilo jamais tivesse acontecido. Agora ele tinha certeza que a perdera para sempre.

Assim que pisou na sala de aula, ele a viu sentada no mesmo lugar de sempre. Outros alunos já ocupavam seus lugares, esperando pela chegada do professor, e Severo caminhou calmamente até a bancada que os dois ocupavam. Isabelle estava sentada de braços cruzados e, assim que ele se sentou ao lado dela, ela virou-se e o encarou com os olhos estreitos.

– Você é patético, sabia?

– Eu... – Severo tentou se explicar, mas ela já tinha se levantado e estava na frente da bancada ocupada por Pedro e Sirius.

– Então, Sirius – ela começou, sentando-se na mesa e fazendo questão que Severo a ouvisse –, quanto tempo você ainda vai esperar para me convidar para o baile?

Sirius olhou para ela sem acreditar no que estava ouvindo e perguntou zombeteiro:

– E quem disse que eu vou convidá-la para o baile?

– Ora, Sirius – ela respondeu sorrindo –, nós somos o par mais bonito da escola, todos estão esperando por isso. Você não pode decepcioná-los...

– Eu posso levar você ao baile, Isabelle – Pedro interrompeu quase gaguejando. – Se você quiser, é claro – acrescentou cauteloso.

Isabelle dispensou um olhar de desprezo para o garoto e então se dirigiu a Sirius, como se Pedro nem existisse:

– Eu preciso saber como você vai ao baile para providenciar minhas vestes, você sabe que essas coisas não se arranjam de última hora...

Sirius recostou-se na cadeira, tentando entender o comportamento de Isabelle. Foi quando percebeu o olhar atento e furioso de Severo, e de repente, tudo fazia sentido. Ele abriu um sorriso largo, e respondeu:

– Está bem, Isabelle. – Ele se levantou e tomou a mão dela na sua. – Você aceita ir ao Baile de Formatura comigo?

Isabelle ficou de pé e, fingindo fazer uma mesura, respondeu sorrindo:

– Será uma honra, Sirius Black.

Ela deu meia volta e seguiu para seu lugar. Sirius acompanhou-a com o olhar até cruzar com os olhos pretos furiosos do Snape e sorriu desdenhoso. Sirius não tinha a menor intenção de comparecer ao seu Baile de Formatura, não depois de tanto tempo sem falar com seus pais. Além disso, ele sabia que Isabelle o convidara para o baile apenas para irritar o Ranhoso. Entretanto, mesmo sabendo que estava apenas sendo usado por ela, ele concluiu que seria divertido ser o alvo daquele olhar enquanto passava uma noite inteira dançando com Isabelle.

Quando o Prof. Slughorn entrou na sala para a última aula de Poções do sétimo ano, Isabelle já estava em seu lugar, ao lado de Severo. Entretanto, os dois não trocaram nenhuma palavra durante o exercício indicado pelo professor: a preparação de um antídoto usando a Lei de Golpalott. Severo nem mesmo tentou ajudá-la com a identificação dos componentes do veneno ou a seleção dos ingredientes do antídoto, e quando Isabelle olhou de relance para o livro dele, procurando por ajuda, encontrou simplesmente um aviso indicando que era muito mais fácil o uso de um bezoar.

Os dois não se falaram mais pelo resto do dia. Isabelle ainda estava brava com a cena que presenciara no laboratório do Prof. Slughorn, e Severo sentia-se traído com a idéia de vê-la com o Sirius novamente e porque ela resolvera viajar após a formatura, ficando um ano longe dele. Também não se falaram no outro dia, e o mesmo aconteceu na semana seguinte, durante os exames dos N.I.E.M.s. Nem a excitação com a chegada das provas fora suficiente para acabar com a teimosia dos dois, que acabaram retornando para casa no final da semana sem trocarem mais nenhuma palavra.

*-*-*-*-*-*-*-*

A Cerimônia de Formatura foi realizada exatamente uma semana após o término das provas dos N.I.E.M.s. Naquele dia, os alunos que terminaram o sétimo ano retornaram pela última vez a Hogwarts, junto com seus familiares, para festejar o final de mais uma fase em suas vidas. Severo estava entre eles, acompanhado apenas do seu avô.

O Salão Principal fora decorado especialmente para a ocasião. As longas mesas de cada Casa foram retiradas, e agora, o centro do salão se transformara numa grande pista de dança, rodeada por pequenas mesas onde as famílias dos formandos se acomodavam. A decoração era formada pelas cores de cada Casa em cada canto do salão, subindo pelas paredes e se encontrando no teto encantado, onde o brasão de Hogwarts parecia flutuar. Sete anos freqüentando o salão com o teto encantado, participando de várias Cerimônias de Abertura e Dias das Bruxas, fizeram com que Severo não se espantasse com a decoração mágica da festa, a única coisa que o interessava era a mesa onde se encontrava a família Malfoy.

Depois de uma rápida cerimônia, com um discurso curto do Diretor e a entrega dos diplomas, o Baile finalmente começou. Severo permaneceu sentado a maior parte do tempo, fingindo interesse na conversa com os amigos sonserinos, mas observando atentamente Isabelle e Sirius. Eles estavam dançando no centro do salão; Sirius olhava para ela como se fosse devorá-la, mas Severo não tinha como censurá-lo. Isabelle estava linda, usando vestes verdes e prateadas, da cor da Sonserina, e o cabelo preso no alto da cabeça, deixando a nuca e o pescoço expostos, fazendo-o desejar beijá-los até que ela estremecesse em seus braços, como só ele sabia fazê-la.

Em algum lugar da mesa, um dos seus amigos fez um comentário maldoso sobre ela e o namoro mal resolvido dos dois, e aquilo foi a gota d’água. Severo levantou-se em silêncio e caminhou até a pista de dança. Quando chegou até onde Sirius e Isabelle estavam, segurou-a pelo braço e ordenou:

 – Nós temos muito para conversar, vamos sair daqui. – Seus olhos pretos brilhavam de raiva enquanto ele a forçava a segui-lo.

Entretanto, Sirius se colocou à frente dele, impedindo-o de prosseguir.

– Ela está comigo, Ranhoso – ele disse firme. – Você vai ter que me vencer se quiser arrastá-la daqui.

Os dois já estavam com as varinhas empunhadas, e um grupo de curiosos já começava a se formar em volta deles quando Isabelle se enfiou no meio dos dois.

– Vocês querem parar de ser tão infantis! – ela gritou. Virada para Sirius, continuou: – Eu não preciso de um brutamontes para me defender. – Virando-se para Severo, disse: – E eu não tenho nada para falar com você, Mestiço!

Lutando contra os curiosos em volta, ela atravessou o salão e subiu correndo as escadas, sem um destino definido. Severo encarou Sirius com os olhos estreitos, mas guardou sua varinha e tentou seguir Isabelle. Sirius tentou fazer o mesmo, mas foi impedido pelos amigos Remo e Pedro.

Severo perdeu a conta de quantos andares havia subido até finalmente alcançar Isabelle. Ele a segurou novamente pelo braço, fazendo-a virar de frente para ele.

– Me larga, Severo – ela gritou encarando-o com olhos estreitos. Ela estava brava e, ao mesmo tempo, lutava contra as lágrimas que começavam a brotar em seus olhos. – Você pode me deixar aqui para ir atrás daquela sangue-ruim!

Severo olhou em volta, estavam num dos corredores do sétimo andar; ele tinha muitas coisas para esclarecer com Isabelle e, mesmo que fosse pouco provável alguém subir até ali no meio do baile, desejou encontrar uma sala segura onde ninguém pudesse ouvi-los. Severo soltou o braço de Isabelle e começou a vaguear pelo andar, procurando uma sala onde os dois pudessem ter privacidade. De repente, depois de passar três vezes pelo mesmo lugar, ele notou uma porta materializar-se na parede. Fez sinal para que Isabelle entrasse. Ela o olhou desconfiada, mas depois de um suspiro, resolveu entrar e ouvir o que ele tinha a dizer.

 Assim que os dois entraram, a porta se fechou abruptamente. Isabelle pensou que se tratava de uma simples sala de aula, se espantou quando viu uma pequena sala de estar, com duas poltronas confortáveis e um tapete alto, enorme, forrando o chão em frente à lareira. Severo, por outro lado, estava tão nervoso que nem notou a decoração da sala. Assim que a porta se fechou, segurou Isabelle novamente, prendendo-a entre seu corpo e a parede.

– Qual é o problema, Isabelle? Antes eu tinha que esperar nós nos formarmos, agora você inventou essa viagem. Você tem tanta vergonha assim de estar com um mestiço?

– Eu já disse que não é isso – ela respondeu chorando. – Quantas vezes eu vou ter que repetir isso? Você sabe que eu não quero brigar com o meu irmão, pelo menos enquanto eu estiver morando com ele...

– Você já fez dezessete anos, não é mais dependente dele – ele a interrompeu. – Mas agora que vamos nos formar, que você finalmente iria para Londres para trabalhar no St. Mungus, você resolve largar tudo e viajar? Isso não faz sentido.

Isabelle tentou desviar o olhar, mas os dois estavam tão próximos, e Severo a encarava com tamanha intensidade, que era impossível. Ela o encarou, devolvendo o olhar furioso, e respondeu:

– Eu fui atrás de você aquele dia para explicar, mas você já tinha corrido atrás daquela sangue-ruim...

– Eu não fui atrás dela – ele se defendeu. – Eu fui até o laboratório para pensar em tudo o que você disse, e ela estava lá.

Severo continuou encarando-a, o brilho furioso ainda estampado no olhar. Vendo que ele não diria mais nada, ela estreitou ainda mais os olhos e continuou:

– Mas eu vi você convidando-a para o baile.

– Você teria aceitado se eu pedisse para vir comigo? – ele perguntou com um sorriso falso esboçado nos lábios. Quando ela não respondeu, ele completou: – Eu acho que não. Você ainda prefere o Black, não é?

– É claro que não! – ela respondeu indignada. – Eu só fiz aquilo porque... – Ela baixou os olhos para evitar o olhar furioso de Severo antes de prosseguir: – Porque eu estava com ciúmes. Eu não podia suportar a idéia de vê-lo com a sangue-ruim.

Severo pareceu considerar as palavras dela por um longo tempo. Deu um passo para trás para dar-lhe mais espaço, e então, concluindo que Isabelle falava a verdade, ele a fez olhar para cima segurando-a delicadamente pelo queixo e perguntou:

– Então por que você vai se afastar de mim?

Isabelle deu um longo suspiro, e Severo percebeu que ela lutava contra as lágrimas quando respondeu:

– Meu irmão desconfia de nós, por isso ele e Narcisa estão insistindo tanto nessa viagem. Eles acham que é suficiente para eu esquecer você.

– E você também acha isso? – ele perguntou, chegando novamente mais próximo de Isabelle, seu corpo a prensava contra a parede agora. – Porque você é uma bruxa adulta agora, seu irmão não tem mais nenhum poder sobre você. Se você quisesse realmente ficar comigo, isso não a impediria.

Isabelle arregalou os olhos com o tom de voz de Severo. Ela tentou se afastar, mas ele a prendia fortemente, exigindo uma explicação plausível. Fechou os olhos por um instante para evitar os olhos pretos e profundos de Severo, juntando forças para enfrentá-lo.

– Por favor – ela começou, tentando impedir que as lágrimas corressem mais uma vez dos seus olhos –, você tem que acreditar em mim. Eu não concordei com essa viagem para me afastar de você.

– Então, por quê? – ele disse simplesmente.

Ela deu um suspiro e, mais clama, secou as lágrimas no rosto antes de falar:

– Lembra da promessa que fiz para minha mãe? Eu acho que posso usar a desculpa dessa viagem para fazer o que ela me pediu. – Ela deu um passo à frente e abraçou Severo inesperadamente. – Eu não sei como vou conseguir ficar tanto tempo longe de você, mas eu tenho que fazer isso. Por favor... – Ela não conseguiu continuar, e Severo começou a sentir que as vestes em seus ombros estavam úmidas. – Você sabe que eu não posso lhe contar nada sobre isso, mas acredite em mim – ele ouviu depois de algum tempo.

Arrependido de não ter procurado Isabelle antes, o que teria também evitado a intromissão de Lílian e Sirius na história, Severo abraçou-a com força, acariciando seus cabelos, brincando com os cachos loiros que pendiam do alto da cabeça. Quando ela finalmente se acalmou, Severo a fez olhar para ele novamente e disse:

– Eu também vou sentir sua falta, essas duas últimas semanas foram horríveis... – Ele passou uma mão suavemente pelo rosto dela e continuou com um sorriso encorajador: – Mas se você precisa fazer isso, eu lhe darei todo apoio. Quando você viaja?

– Amanhã – ela respondeu mordendo os lábios.

Severo arregalou os olhos, e Isabelle apressou-se em explicar:

– Você não falou mais comigo depois daquele dia, eu não...

– Shhh... – ele disse colocando um dedo em seus lábios. – Eu não quero mais falar sobre isso.

Ela franziu a sobrancelha, sem saber o que fazer, e ele a beijou. Em pouco tempo os dois já estavam entregues um ao outro, com beijos cada vez mais ousados e alheios ao baile que acontecia sete andares abaixo. Eles não se falaram por duas semanas e ficariam afastados por mais um ano, não tinham tempo a perder.

Sem saber dizer a quanto tempo estavam deitados, aconchegados no tapete em frente à lareira, Severo finalmente se moveu, acariciando a cabeça que descansava em seu peito e lamentando que aquele momento tivesse que acabar. Por pouco tempo eles esqueceram que ainda estavam em Hogwarts e que suas famílias já deviam estar estranhando a ausência deles.

– Nós temos que descer para o salão – ele disse –, antes que comecem a nos procurar.

Isabelle respondeu com um muxoxo.

– Eu quero ficar aqui para sempre. Ninguém inventou um feitiço para parar o tempo e nós ficarmos presos aqui? – ela perguntou com um sorriso triste.

Severo sentou-se no chão, fazendo-a levantar também, e deu-lhe um beijo na testa.

– Ainda não – respondeu sorrindo –, nem para fazer um ano passar mais rápido – acrescentou, tirando um cacho da frente do rosto dela.

Isabelle o beijou e, assim que se afastou dos lábios dele, disse:

– Eu prometo que vou mandar uma coruja todos os dias. Não vou deixar você me esquecer tão facilmente...

– Eu não vou esquecer você, Isabelle – ele respondeu firmemente. – Eu prometo que vou responder todas as suas cartas – completou depois, sorrindo.

Ela inclinou-se para ele, na intenção de beijá-lo novamente, mas ele a impediu.

– Acho melhor nós procurarmos nossas vestes e sair daqui – ele disse com um sorriso malicioso. – Ou o baile já terá terminado quando chegarmos ao salão.

– Eu não me importo – ela respondeu com o mesmo sorriso.

Isabelle aproximou-se mais dele, exigindo o beijo que lhe fora negado, e em seguida, os dois já estavam deitados novamente, entregando-se às sensações que invadiam seus corpos a cada toque, cada beijo; fazendo-os esquecer das obrigações do dia seguinte ou, simplesmente, de onde estavam e se sua ausência no Salão Principal já não fora notada.

*-*-*-*-*-*-*-*

Lúcio Malfoy passou grande parte do Baile de Formatura da irmã entretido com os chefes das famílias mais tradicionais do mundo bruxo, também presentes em Hogwarts naquela noite. Afinal, após a morte dos pais, ele deveria mostrar que era digno de continuar com a linhagem dos Malfoy e garantir que sua família também não seria manchada por sangue trouxa. Talvez por isso ele não tivesse notado quando Isabelle saiu tempestuosa da pista de dança, deixando o salão e subindo sem rumo as escadas do castelo.

Entretanto, a cena não passou despercebida pelo Sr. Prince, que observou com um sorriso de aprovação quando Severo a seguiu. Há tempos que ele tentava garantir uma união do neto com a herdeira dos Malfoy, fechando os olhos para a presença dela em sua casa e mantendo uma relação próxima com o jovem Lúcio, mesmo depois que seu amigo Abraxas falecera. Um casamento entre seu neto e uma Malfoy seria suficiente para que a aristocrática sociedade em que vivia esquecesse do deslize de sua filha e garantisse o respeito que seu neto merecia, mesmo carregando um nome trouxa. O nome Prince morreria com ele, mas seu legado estaria seguro com uma união com a família Malfoy. Ele tentara por várias vezes negociar um casamento arranjado com Lúcio, afinal isso era muito comum entre famílias de sangue puro, mas o rapaz sempre evitava o assunto elegantemente, fazendo-o começar a desconfiar que nem sua amizade de anos com Abraxas Malfoy o convenceria a casar a irmã com um mestiço.

Quando Lúcio se afastou do grupo em que estavam, visivelmente procurando pela irmã no salão, o Sr. Prince começou a suspeitar, corretamente, que seu neto estaria em apuros. Temendo que seus planos fossem por água abaixo, seguiu Lúcio discretamente quando ele começou a subir as escadas.

*-*-*-*-*-*-*-*

Isabelle e Severo já estavam no terceiro andar quando ele parou subitamente.

– Acho melhor nós nos separarmos – ele disse –, para evitar qualquer comentário quando voltarmos para o salão.

Isabelle assentiu com a cabeça.

– Isso significa que nós não nos veremos mais até eu voltar?

Severo deu de ombros, com o olhar desamparado. Isabelle correu até ele e o abraçou fortemente, até que Severo afastou o rosto dela de seus ombros para beijá-la.

– Isabelle!

Uma voz furiosa invadiu seu ouvido, e no instante seguinte, ela sentiu um aperto no braço que a puxava para longe de Severo. Ela abriu os olhos e viu apenas os olhos cinza do seu irmão, encarando-a com raiva. Sem ação, ela fechou os olhos novamente para tentar impedir as lágrimas que sabia que logo brotariam e enrubesceu pensando apenas em como seu cabelo devia estar desgrenhado e as vestes amassadas.

– O que você está fazendo? Escondendo-se, agarrada com um mestiço como se fosse uma vagabunda? É assim que você honra a memória dos nossos pais?

Severo tentou falar alguma coisa, defendê-la, mas também foi pego de surpresa quando viu seu avô aparecer na escada e se interpor entre ele e Lúcio.

– Calma, Lúcio – seu avô começou. – Eles são jovens, você sabe como...

– E o que o incomoda mais, Lúcio? – Isabelle perguntou em voz alta, interrompendo o Sr. Prince. – Eu ter um namorado, ou o fato dele ser um mestiço? Ele também é um Prince e é um bruxo muito melhor que você!

Lúcio estreitou os olhos e levantou a mão para bater na irmã, mas se controlou assim que levantou o olhar e viu o Sr. Prince e seu neto os observando.

– Eu não admito que você me compare a um... – ele deixou a frase em aberto, em respeito ao Sr. Prince que os ouvia, mas apertou o braço da irmã com mais força. – Você já envergonhou demais nossa família por hoje, desça e diga à Narcisa que nós já estamos partindo.

Isabelle ficou encarando o irmão de boca aberta, sem conseguir formular uma resposta ou negar-se a cumprir suas ordens.

– Lúcio – o Sr. Prince começou novamente –, não aconteceu nada demais aqui. Você sabe como são os jovens.

– Eu sei o que você pretende, Edward – Lúcio replicou. – Por mais iludida que minha irmã esteja, eu sei muito bem que ele não é um Prince, e não vou concordar com isso.

– Ele já provou que não herdou nada daquele trouxa. Até o Lorde das Trevas já reconheceu isso – o Sr. Prince retorquiu, estreitando os olhos. – Você duvida do discernimento do nosso Lorde?

Lúcio olhou para os lados, preocupado com a menção do Lorde das Trevas em Hogwarts, e se aproximou do Sr. Prince falando com a voz mais baixa.

– Cuidado com o que você fala aqui, Edward – ele o alertou.

O Sr. Prince sustentou o olhar, levantando uma sobrancelha. Sem querer parecer intimidado, Lúcio inclinou-se para aproximar-se do bruxo mais velho e acrescentou sussurrando:

– Quando ele provar que é digno de servir ao Lorde das Trevas como qualquer bruxo de sangue puro, nós podemos conversar novamente. – Deu um passo para trás e encarou Severo com os olhos cinza brilhantes de escárnio. – Isso, se até lá minha irmã ainda estiver interessada no mestiço da escola.

Lúcio deu meia-volta e, agarrando a irmã novamente pelo braço, desceu as escadas até o saguão a passos largos. A última imagem que Severo teve de Isabelle foi seu olhar assustado e confuso antes de ser levada pelo irmão. Ele sabia que ficaria um ano sem vê-la e agora também temia que, quando ela voltasse, as coisas entre eles jamais voltassem a ser como antes.

Pensando em Isabelle, Severo se assustou quando sentiu uma mão batendo em suas costas.

– Não se preocupe, rapaz – seu avô começou, conduzindo-o para descer as escadas. – Ninguém desafia um Prince e sai impune. Um casamento com essa garota vai fazê-lo ser respeitado por todos que ainda duvidam da sua nobreza. Se você souber fazer o seu papel com o Lorde das Trevas, eu ainda posso fazer o Malfoy precisar da sua ajuda.

Severo não percebeu os olhos brilhantes e o sorriso doentio que se formou no rosto do avô com o plano que começava a elaborar. Severo ainda estava confuso com tudo o que acontecera. Ele jamais havia pensado em casamento; ele gostava de Isabelle e sabia que queria ficar com ela para o resto da vida, mas eles ainda eram jovens para pensar nisso. Entretanto, agora ele raciocinava nas palavras do avô. Unir-se à família Malfoy poderia realmente ser muito proveitoso, principalmente quando o Lorde das Trevas finalmente atingisse o poder e a pureza do sangue voltasse a ser uma qualidade reverenciada. Tudo o que precisava fazer era garantir a confiança e o favoritismo do Lorde, e Lúcio, ou a herança trouxa do pai, jamais seriam um obstáculo para ele depois disso. Sim, se alguma vez ele chegou a duvidar do seu desejo em receber a Marca Negra, agora tinha certeza que era apenas isso que precisava para deixar de ser discriminado por trouxas e bruxos como sempre fora até agora, para mostrar-se digno de respeito e temor. Estava pronto para servir o Lorde das Trevas e não via a hora de receber a marca que todos os Comensais da Morte carregavam no braço.

 


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Notas finais do capítulo

A seguir: A Marca Negra...



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