Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 19
Futuros Comensais


Notas iniciais do capítulo

O Lorde das Trevas tem uma tarefa para seus futuros Comensais...



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 19: Futuros Comensais

Severo não conseguia se lembrar de uma manhã melhor desde que começou a morar na Mansão Prince que aquela, quando acordou ao lado de Isabelle. Ela ainda estava dormindo, ele podia sentir a respiração tranqüila dela enquanto a abraçava pelas costas. Podia passar a manhã inteira deitado ao lado dela, apenas observando-a, sentindo o perfume dela que impregnava os lençóis. Ele jamais tivera uma noite como aquela. Foi a primeira vez que Severo se dedicara totalmente a apenas satisfazer a garota em sua cama, sem preocupar-se com seu próprio prazer e, admiravelmente, descobriu que isso podia ser ainda mais recompensador. A única coisa que ele pensara era em proporcionar a Isabelle uma noite inesquecível, e surpreendeu-se quando reconheceu que, mesmo com a inexperiência dela, ele tivera uma noite inesquecível também. Não era apenas sexo, os dois se completavam, e de certa forma, ele agora olhava orgulhoso para a longa cabeleira loira na sua frente e admirava o corpo nu aninhado ao seu. Ele tinha Isabelle Malfoy nos braços e sabia que ela era apenas dele.

Como se ouvisse seus pensamentos, Isabelle virou-se para encará-lo. Ela tinha um sorriso lindo, e seus olhos cinza brilhavam. Ela não disse nada, apenas o beijou, e quando Severo percebeu, os dois já estavam enroscados de novo, o desejo tomando conta deles mais uma vez antes de encararem o novo dia que se iniciava.

Algum tempo depois, Severo continuava ao lado dela, acariciando aquele corpo com as mãos, protelando o momento em que finalmente teria que levantar e ver Isabelle voltar para casa. Mas então, quando sua mão deslizou ligeiramente até a barriga dela, um pequeno detalhe chamou sua atenção. Sentou-se na cama e encarou os olhos cinza de Isabelle com uma preocupação visível no rosto.

– Você... é... nós... – começou a balbuciar, sentindo-se enrubescer por não conseguir fazer a pergunta que o assombrava. – Nós precisávamos ter tomado algumas precauções... você sabe... – continuou ainda sem jeito.

Isabelle riu. Sentando-se na cama também, enrolada no lençol, o rosto na mesma altura que o rosto de Severo, ela disse sorrindo:

– E você só lembrou disso agora? – Ela aproximou-se mais dele e continuou, provocando-o. – Sinto muito, Sr. Snape, mas depois da última noite, eu acho que logo meu irmão virá ter uma conversa séria com seu avô para arranjarmos o casamento antes que minha barriga comece a crescer demais.

Severo apenas levantou uma sobrancelha, olhando-a incrédulo. Ela riu novamente, como gostava de provocá-lo até vê-lo com aquela cara. Vendo que ele logo se irritaria com a provocação, ou teria um ataque de pânico com a idéia de ser pai, ela parou de rir. Baixou os olhos, um pouco encabulada, e então explicou:

– Aquela noite... no pub... eu estava realmente decidida a dormir com o primeiro que aparecesse na frente... Então a Ana me deu uma das poções dela. Ela encomenda de um Mestre de Poções da Travessa do Tranco, famoso pela discrição.

Severo relaxou e, vendo que ela fitava o chão, ainda encabulada, pegou o rosto dela nas mãos e a fez encará-lo.

– Nunca mais me assuste desse jeito – disse, com um sorriso doce nos lábios. – Eu acho que seu irmão preferia me ver morto que casado com você – acrescentou num tom mais sombrio.

Isabelle baixou os olhos novamente com a lembrança do irmão. Certamente ele não aceitaria com grande satisfação a notícia de um namoro entre ela e o neto mestiço dos Prince. Ela levantou-se da cama em silêncio e começou a procurar suas roupas pelo chão. Quando já estava vestida, voltou-se para Severo:

– Você sabe que está certo, não sabe? O que você disse sobre o meu irmão.

Severo apenas assentiu com a cabeça. Ela aproximou-se da cama, colocando os braços dele em volta da cintura dela e, levantando o rosto dele para encará-la, continuou:

– Eu jamais me importaria em abandonar o nome Malfoy para me tornar a Sra. Snape – ela disse meio atrapalhada.

Afinal, eles não tinham nem terminado a escola, não queria que Severo pensasse que só porque dormiram juntos ela já estava pensando em casamento. Mas quando Severo assentiu novamente, ela viu que ele entendeu o que ela queria dizer, e continuou:

 – Mas enquanto estiver sob a tutela do meu irmão... Bem, acho que deveríamos ser discretos.

  A resposta de Severo foi um longo suspiro. Ele a abraçou com mais força, trazendo-a para mais perto dele e inclinou a cabeça para descansá-la abaixo dos seios dela. Isabelle baixou a cabeça e acariciou os cabelos escuros e lisos dele. Permaneceram em silêncio por alguns minutos, lamentando as injustiças em suas vidas e trazendo conforto um para o outro. Finalmente Isabelle se moveu, sentando-se na cama ao lado de Severo. Ela olhou fixo para os olhos dele, pretos e sem vida, desanimados, e então, tirando uma mecha de cabelo preto da frente do rosto dele, prosseguiu:

– Um dia, se você ainda me quiser, eu terei o maior orgulho em desfilar pelo Beco Diagonal com uma barriga enorme e ao seu lado. – Os dois deram um sorriso triste com a idéia. – Nós só precisamos ter um pouco de paciência.

Severo passou um longo tempo admirando o rosto dela; os olhos cinza intensos, agora tristes, o sorriso sem jeito naqueles lábios que ele tanto desejara, o cabelo loiro, quase prateado de tão claro e brilhante, que caía pelos lados, emoldurando-a. Agora que ele a tivera por uma noite, não iria desistir de tê-la novamente, não tão facilmente.

– Eu amo você – ele respondeu subitamente. Como resposta, Isabelle inclinou-se para beijá-lo. Foi um beijo longo, carinhoso, selando o acordo entre os dois.

Ele não sabia exatamente o que o fizera ter aquela atitude tão repentina. Na verdade, queria esmurrar o que estivesse à sua frente com a raiva que sentia por estar sendo mais uma vez discriminado por causa do seu nome trouxa. Mas dessa vez ele sabia que Isabelle não tinha culpa, e via nos olhos dela que ela estava sofrendo tanto quanto ele. Ao mesmo tempo em que sentia raiva daquela situação, sentia a necessidade de confortá-la, de mostrar que a entendia e que eles enfrentariam tudo aquilo juntos.

– É melhor eu ir, antes que sintam minha falta em casa – Isabelle disse triste, assim que os dois se separaram.

Ela atravessou o espaço até a lareira, mas antes de seguir para casa, virou-se e disse:

– Eu volto à noite, para continuarmos com as aulas.

Severo a olhou com um sorriso malicioso e levantou uma sobrancelha. Isabelle conteve uma risada e acrescentou, fingindo indignação:

– Eu estava me referindo à Legilimência! – Virou-se rapidamente e sumiu dentro das chamas verdes da lareira.

*-*-*-*-*-*-*-*

Severo e Isabelle passaram as férias de verão daquele ano com suas aulas diárias de Legilimência e Oclumência e, embora elas fossem freqüentemente interrompidas, ao final de agosto Isabelle já era capaz de fechar sua mente totalmente e, algumas vezes, conseguia até quebrar as defesas de Severo e usar Legilimência nele. Mas eles não ligavam pela invasão mútua em suas mentes. Com o tempo, aprenderam a respeitar os limites um do outro e decidiram que jamais esconderiam seus sentimentos novamente, afinal fora isso que os atrapalhara nos últimos anos.

Claro, Severo jamais deixaria Isabelle penetrar o suficiente em sua mente para descobrir sobre a brincadeira de seus amigos e sua falsa sósia. Da mesma forma, ele nunca conseguira vasculhar as lembranças dela com Sirius, exceto o que acontecera na noite em que ele dormira na enfermaria. Ele sentiu tanta raiva quando o viu tentando convencer Isabelle de que ele não a merecia, que não conseguiu controlar suas emoções. Quando percebeu, Isabelle estava em seus braços chorando, implorando para que ele parasse. Na sua fúria, ele estava machucando-a, como queria fazer ao Black. Depois daquele dia, ele evitou ao máximo qualquer referência ao seu antagonista, mas jurou para si mesmo que se vingaria dele e de seus amigos grifinórios assim que voltasse para Hogwarts, e que deixaria bem claro que Isabelle era dele agora, e apenas dele.

O sétimo e último ano deles em Hogwarts começou cheio de expectativas. Isabelle ainda estava determinada a entrar em St. Mungus para se tornar Curandeira e, para isso, precisava tirar Excelente em todos os seus N.I.E.M.s, inclusive em Poções. Para garantir suas notas, ela elaborou um esquema de estudos que ocupava praticamente todo o seu tempo livre, e quando não estava estudando, tinha seus treinos como batedora no time da Sonserina. Por outro lado, Severo foi convidado pelo Prof. Slughorn a ser seu assistente em Poções, já que ele confirmara que pretendia continuar seus estudos na matéria assim que saísse de Hogwarts. Ele passava todas as suas tardes livres nas masmorras, preparando poções para uso da escola e aproveitando esta oportunidade para aprimorar seus conhecimentos na matéria. O livro que ganhara do Lorde das Trevas agora era uma coleção de anotações detalhadas sobre as melhores técnicas para o preparo de cada ingrediente, o número de mexidas no caldeirão ou a temperatura exata da mistura, que ele testava a cada nova poção que preparava para o Prof. Slughorn.

Todas estas novas atividades, somadas ao fato de que Isabelle recusava-se a chegar perto de Severo se não tivesse certeza absoluta que os dois estavam longe dos olhos de qualquer curioso, fazia com que ele se sentisse cada vez mais afastado dela. Felizmente, os dois estavam tão treinados em Legilimência que podiam se comunicar sem palavras, e com o tempo, essa parecia ser a única coisa que os mantinha unidos. Entretanto, ao longo dos meses, ele começou a sentir falta das noites que passaram juntos durante as férias e passou a temer que aquilo jamais se repetisse.

Por outro lado, novamente passou a ficar mais próximo de Lílian Evans, o que tornava as coisas ainda piores. Ela também era assistente do Porf. Slughorn, e freqüentemente os dois eram obrigados a trabalhar juntos nos mesmos projetos. Mesmo sabendo que ela era uma sangue-ruim, Severo convivera bastante com ela para não odiá-la como seus amigos sonserinos a odiavam. Ele também se sentia discriminado às vezes, mesmo com sua mãe bruxa, e reconhecia que ela podia ser tão poderosa quanto qualquer bruxo de sangue puro. Afinal, ele também sabia que a ojeriza por trouxas e sangues-ruins criada pelo Lorde das Trevas era apenas uma desculpa para atingir seus objetivos principais, e por isso, não se sentia um traidor por manter uma amizade com uma sangue-ruim inteligente. Entretanto, mesmo sabendo que era uma amizade que só existia enquanto eles estavam sozinhos no laboratório do Prof. Slughorn, Severo às vezes sentia que passava mais tempo com a monitora-chefe sangue ruim que com sua própria namorada, se é que ainda podia chamar Isabelle de sua namorada.

Os meses passaram rapidamente e logo os alunos já estavam fazendo planos para os feriados do Natal. Severo ainda não conseguia decidir se deveria ficar animado com a volta para a casa do avô; ele nunca se sentiu realmente em casa na Mansão Prince. Por outro lado, longe dos deveres em Hogwarts, ele e Isabelle poderiam ter mais tempo novamente um para o outro, mesmo que fosse por apenas algumas semanas. Entretanto, Roberto acabara de chegar com uma notícia que lhe daria muito mais com o que se preocupar antes das férias de Natal. O Lorde das Trevas havia designado uma missão para eles: permitir a entrada dele e seus Comensais da Morte no castelo antes dos feriados do Natal.

– Isso é impossível! Todo mundo sabe que o castelo é protegido contra Aparatação, e nós não podemos usar as lareiras da sala comunal ou estaremos em apuros – Evan refletiu.

Reunidos numa mesa na sala comunal da Sonserina, os quatro alunos do sétimo ano, junto com Régulo e Bartô, procuravam desesperadamente por uma maneira de realizar o pedido do Lorde das Trevas. Estavam tão absortos que nem perceberam a chegada de Isabelle, que despejou três envelopes na mesa.

– O Clube do Slugue vai ter mais uma reunião antes dos feriados – ela disse com desdém, puxando uma cadeira para sentar-se à mesa também.

Severo, Régulo e Bartô pegaram os envelopes com os seus nomes, apenas para confirmarem que teriam mais uma reunião no escritório do Prof. Slughorn na véspera de partirem para casa.

– Isso é perfeito! – Bartô exclamou assim que terminou de ler o convite. – O Prof. Slughorn sempre traz convidados de fora, que chegam pela lareira dele.

– Hummm. Entendi o que quer dizer – Paulo refletiu. – Mas mesmo assim, nós ainda precisamos ter certeza que o Slugue não vai notar quando usarmos a lareira dele.

– Manter o Slugue distraído perto de uma garrafa de xerez é fácil – Evan continuou. – O problema é deixar ele longe da lareira, mesmo depois que a festa acabar.

– Isso é fácil – Régulo falou. – Eu, o Bartô, o Severo e a Isabelle estaremos lá. Nós podemos dar um jeito.

– Você quer dizer – Roberto completou com um sorriso malicioso – que a Isabelle pode dar um jeito.

– O quê? – Isabelle e Severo gritaram em uníssono.

Os demais meninos recostaram-se nas suas cadeiras, o plano agora quase que totalmente elaborado.

– É claro, Isabelle – Régulo continuou. – Você só tem que puxar conversa com o Slugue e garantir que ele jamais tire a atenção de você.

– Régulo Black! – Ela levantou da mesa indignada. – Se você pensa que eu vou me insinuar para aquele velho nojento, você está muito enganado!

– Mas ele está certo – Evan argumentou. – O Régulo, o Bartô ou o Severo não conseguiriam manter a atenção dele por muito tempo, mas uma garota...

– Então você peça para a sua namorada fazer isso! – ela respondeu e saiu em direção ao seu quanto.

– Eu não sei se esse é realmente um bom plano – Severo disse assim que Isabelle bateu a porta do quarto atrás de si. – Teremos que ser cuidadosos para que o Dumbledore não desconfie de nós. Já escapamos por pouco no dia do festival, no semestre passado.

– É claro que é – Bartô respondeu. – Só precisamos convencer a Isabelle. Ela não precisa fazer nada demais, só conversar com ele e embebedá-lo. Enquanto isso, nós podemos avisar os outros pela lareira quando a barra estiver limpa.

 

– É a única maneira – Paulo insistiu. – Além do mais, ele é o diretor da Sonserina, tem a obrigação de nos ajudar. Se não for por bem, será por mal mesmo!

– Eu não sei – Severo continuou pensativo, a idéia de usar Isabelle era repugnante para ele, e uma pontada de ciúmes doeu em seu peito. Sentimento, aliás, que ele vinha se acostumando desde o início do semestre. – Parece precipitado, e a Isabelle não vai concordar em fazer isso assim tão facilmente.

– Você tem um plano melhor? – Roberto perguntou.

Severo não respondeu. Sabia que os amigos estavam certos, eles tinham apenas uma semana para elaborar um plano de trazer o Lorde das Trevas para dentro de Hogwarts ou podiam esquecer a idéia de virarem Comensais da Morte, e até agora, essa era a melhor alternativa. Mas a idéia de ver Isabelle com o Prof. Slughorn lhe revirava o estômago, mesmo sabendo que o professor jamais se aproveitaria de uma aluna. Mas foi o próximo comentário de Régulo que o convenceu:

– Nós também vamos estar lá, ela deveria saber que não deixaríamos que ele fizesse nada com ela.

Depois de ponderar por alguns minutos, Severo viu que seus amigos tinham razão. Mesmo sem gostar da idéia de ver Isabelle envolvida nos planos deles, ele sabia que não teriam outra chance e que ele era o único que conseguiria convencê-la. Calado, ele se levantou e foi até o dormitório das meninas do sétimo ano, sabendo que Isabelle estava lá sozinha. Entrou, fechando a porta atrás de si.

Ela estava deitada na cama, de costas para a porta, e pareceu não notar que ele entrara no quarto. Severo aproximou-se com cuidado e, quando chegou perto dela, acariciou seus cabelos. Ao sentir o toque dele, Isabelle virou-se bruscamente e sentou na cama, olhando para os lados para garantir que estavam sozinhos.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou assustada.

– Eu vim pedir para você nos ajudar. – Ela abriu a boca para responder, mas ele foi mais rápido: – Eu também não gosto dessa idéia, mas é a única que temos. E eu vou estar lá também, não vou deixar que ele encoste um dedo em você.

Isabelle olhava para Severo desconfiada, então ele continuou num tom suplicante:

– Infelizmente, Régulo tem razão. Eu também me distrairia muito mais facilmente com você que com um marmanjo desajeitado como ele.

Isabelle abriu um sorriso.

– Isso é um sim? – ele perguntou esperançoso.

– Eu não sei – ela respondeu fechando o sorriso. – Essa idéia é muito arriscada, não sei se daria certo...

– Mas nós temos que tentar – ele insistiu. – Você não entendeu que isso é um teste para nós, para sermos aceitos como...

– Eu não quero mais falar sobre isso – ela o interrompeu. – Você passou o semestre inteiro preocupado com isso ou então enfiado naquele laboratório de Poções. Eu... eu sinto falta de você.

– Eu também sinto sua falta – ele respondeu, levando uma mão ao rosto dela para acariciá-la. – Mas foi você quem quis assim. Só mais uma semana, e então voltaremos para casa e poderemos nos encontrar sem ninguém perceber.

Quando Isabelle o viu encarando-a com os ternos olhos pretos e um pequeno sorriso encorajador no rosto, ela não teve alternativa senão abraçá-lo forte, como se todos seus medos e dúvidas fossem esmagados com aquele abraço. Quando o soltou, lutava contra algumas lágrimas nos olhos e disse:

– É que ultimamente, você parece mais amigo daquela sangue-ruim que de mim...

A resposta de Severo veio na forma de um beijo roubado. Há tempos que eles não tinham um momento como esse. Eles se encontravam escondidos quase todos os dias depois do toque de recolher, aproveitando os enormes e escuros labirintos das masmorras, mas era diferente, pois tinham sempre que se preocupar com o Filch ou com as rondas do Prof. Slughorn. Severo mal se lembrava da última vez que beijara Isabelle sem a preocupação de serem descobertos, com seus sentidos focados inteiramente nela. Mas durou pouco tempo, sem entender porquê, ele a sentiu afastando-se dele abruptamente, até que ouviu uma voz em suas costas.

– Oops... Eu acho que esqueci alguma coisa na sala... – Era a voz de Ana Goyle, mas quando Severo se virou para a porta, ela já tinha saído.

Assim que a porta se fechou, Isabelle se levantou, com a intenção de ir atrás da amiga, mas Severo a deteve, segurando-a pelo braço.

– Isabelle, espere!

– Esperar? Ela nos viu, vai contar pra todo mundo e... – Isabelle falava desesperadamente, tentando se soltar de Severo e seguir para a porta.

Mas Severo a segurou pelo outro braço também, forçando-a a virar-se para ele, e tomou coragem para fazer a pergunta que por muitas vezes o incomodara naquele semestre:

– E qual é o problema? Eles são nossos amigos. Ou você tem vergonha de dizer que namora um mestiço?

Isabelle arregalou os olhos, mas levou um bom tempo para responder.

– Eu... eu pensei que... – ela começou balbuciando. – Eu pensei que você tinha entendido que tudo isso é para protegê-lo do meu irmão.

– Mesmo? – Severo perguntou com um tom de escárnio. – Nós estamos em Hogwarts, ele não vai descobrir nada se você não contar. Eu duvido que a Ana, ou qualquer outro, estejam na lista de amigos do seu irmão.

Severo a soltou e, então, continuou:

– Nós não precisamos contar para a escola inteira, mas você acha que quem está sempre com nós já não desconfia. Eu não vejo sentido em continuarmos nos escondendo deles, a não ser que você tenha vergonha de mim.

– Eu não tenho vergonha de você – ela respondeu, agora com as lágrimas escorrendo livremente no rosto. – Eu só queria que essa história de mestiços e sangues  puros acabasse – ela disse abraçando-se a Severo e apoiando a cabeça no ombro dele. – Eu queria que pudéssemos ficar juntos sem ter que enfrentar ninguém.

Severo ficou em silêncio algum tempo, enquanto Isabelle o abraçava e chorava em seu ombro. Passou a mão pelos cabelos dela, tentando encontrar uma forma de consolá-la.  Ele ainda não conseguia entender suas emoções direito, mas sabia que jamais conseguiria ficar feliz se Isabelle não estivesse sentindo o mesmo. E aquilo o assustava de certa forma, ao mesmo tempo que lhe dava cada vez mais certeza de que deveria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para estar sempre com ela e fazê-la feliz, pois a dor que sentia em seu coração ao vê-la chorar era insuportável. E naquele momento ele soube que para isso teria que conquistar a confiança do irmão de Isabelle, e que a única coisa que podia fazer para garantir isso era mostrar a Lúcio Malfoy que ele também podia ser um Comensal da Morte.

Delicadamente, ele levantou a cabeça dela, pegando-a pelo queixo, e disse:

– É por isso que precisamos cumprir a tarefa do Lorde das Trevas. Quando eu tiver a Marca Negra, seu irmão jamais poderá dizer que não sou digno para você; seria o mesmo que questionar o próprio Lorde.

– Talvez você tenha razão – ela respondeu desanimada.

– É claro que eu tenho razão – ele insistiu. – Então, você vai nos ajudar?

Isabelle encarou Severo mordendo os lábios, ainda estava indecisa, mas ele parecia tão certo que aquilo tudo funcionaria, que ela resolveu arriscar.

– Está bem – ela respondeu. – Eu vou ajudar vocês.

Severo sorriu e a beijou no momento seguinte, apenas para ela desvencilhar-se dele rapidamente, com medo que outra menina entrasse no dormitório. Eles trocaram um olhar rápido, apenas confirmando que mais tarde se encontrariam novamente, escondidos, longe de olhares alheios. Severo suspirou e saiu do quarto, deixando-a sozinha. Embora Isabelle insistisse que os dois continuassem namorando em segredo, ele não estava chateado; conseguira convencê-la a ajudá-los, e isso o enchia de esperanças. Além disso, do jeito que Ana e seus amigos pararam de falar subitamente quando ele entrou novamente na sala comunal, seu segredo estava com os dias contados.

*-*-*-*-*-*-*-*

Na semana seguinte, o único assunto entre os alunos do sexto e sétimo ano da Sonserina era a festa de Natal do Clube do Slugue, que serviria como porta de entrada para o Lorde das Trevas e seu grupo de Comensais da Morte. Quando finalmente a sexta-feira chegou, véspera de todos partirem para casa para os feriados de Natal, Severo, Régulo e Bartô já tinham todo o plano esquematizado e revisado pelos demais companheiros, que ficariam vigiando os corredores do castelo enquanto a festa acontecia.

Após o jantar, os três sonserinos, acompanhados por Isabelle, seguiram para o escritório do Prof. Slughorn. A primeira coisa que notaram foi a posição da lareira, que no momento estava abarrotada de gente em volta, inclusive os monitores-chefes Lílian Evans e Tiago Potter.

 Com a morte de Diggory e a desistência de Remo Lupin do cargo de monitor da Grifinória, o Diretor Dumbledore e os demais chefes de Casa decidiram unanimemente pelo substituto de Lupin, Tiago Potter, para ser o novo chefe dos monitores, baseado em suas boas notas e no prêmio que recebera por ter salvo a vida de Severo. Isso causou uma certa revolta entre os alunos das outras Casas, mas agora, após um semestre, todos já haviam se conformado; exceto, talvez, Severo e Isabelle, que sabiam que aquele prêmio era uma farsa criada por Dumbledore para puni-los pela guerra que a Sonserina criara contra a Grifinória no ano passado.

Perto da meia-noite, a maioria dos convidados do Prof. Slughorn já havia se retirado, inclusive o Diretor Dumbledore, para alívio dos sonserinos. Com menos convidados disputando a atenção do professor, foi fácil o grupo aproximar-se dele e, logo, entretê-lo com uma conversa sobre N.I.E.M.s e suas futuras carreiras. Quando Régulo observou que seu irmão Sirius estava saindo junto com os amigos monitores-chefes, e mais ninguém havia sobrado na festa, ele e Bartô discretamente saíram de perto do Prof. Slughorn, escondendo-se perto da lareira. Um pouco relutante, Severo fingiu estar interessado em alguns livros e, logo em seguida, deixou Isabelle sozinha com o professor. Ele observou com o canto do olho quando ela fingiu que não estava passando bem e fazia com que o Prof. Slughorn a acompanhasse até a ala hospitalar. No momento seguinte, Bartô já estava mandando um sinal pela lareira, e logo as chamas ficaram esverdeadas quando quatro Comensais da Morte pisaram em Hogwarts. Severo aproximou-se do grupo em seguida, quando o próprio Lorde das Trevas surgiu na frente dos garotos.

– Snape, Black e Crouch – ele disse depois de examinar a sala –, bom trabalho. Agora, voltem para a sala comunal, eu não quero que Dumbledore os expulse de Hogwarts.

– Os outros estão vigiando os corredores, mestre – Bartô explicou. – Como não recebemos nenhum alerta, o caminho até o escritório do Diretor está livre.

– Ótimo – Voldemort respondeu assentindo com a cabeça. – Eu lembro muito bem do caminho. Venham! – ordenou para seus Comensais da Morte, e o grupo seguiu em direção ao Saguão de Entrada.

Régulo e Bartô seguiram atrás dos outros amigos para, então, voltarem para a sala comunal. O Lorde das Trevas estava certo, se eles fossem pegos perambulando pelo castelo fora do horário, ficaria óbvio que estavam envolvidos com a entrada dos Comensais da Morte em Hogwarts e, certamente, seriam expulsos, para não pensar em conseqüências ainda piores. Severo, entretanto, estava preocupado com Isabelle e seguiu direto para a ala hospitalar, atrás dela e do Prof. Slughorn.

Quando chegou ao Saguão de Entrada, Severo ficou ainda mais apreensivo. Uma enxurrada de maldições, com raios de todas as cores, atravessava o saguão. Dumbledore estava esperando por Voldemort, junto com alguns aurores, e uma verdadeira guerra estava sendo travada. Escondido atrás de uma estátua, Severo observou o Prof. Slughorn ao lado de Madame Pomfrey e da Profa. McGonagall, mas não conseguiu visualizar Isabelle. Preocupado, conseguiu se esgueirar sem ser percebido até o corredor que o levaria para a ala hospitalar, quando se deparou com Tiago Potter.

– O que você está fazendo aqui, Snape? – ele perguntou empunhando a varinha. – Foram vocês, não foi? Vocês os trouxeram até aqui.

– Não sei do que você está falando, Potter – Severo respondeu com os olhos estreitos, também empunhando sua varinha.

– Você e aquele bando de sonserinos – Tiago continuou, dando mais um passo na direção de Severo –, sempre procurando novas azarações e brincando com as Artes das Trevas. É claro que vocês estão metidos nisso até o pescoço.

– Afaste-se, Potter! – Severo o alertou. – Você não é páreo para um duelo contra mim.

– Experimente, Snape – Tiago o provocou, encarando-o também com olhos estreitos.

Avada... – Severo começou.

Estupefaça! – A voz de Isabelle soou atrás dele, e um raio de luz atingiu Tiago, derrubando-o inconsciente no meio do corredor.

Severo virou-se para trás para encontrar a namorada com os olhos arregalados, olhando para ele.

– O que você fez? – ele perguntou bravo.

– O que você estava prestes a fazer? – ela respondeu com outra pergunta. Verificando que mais ninguém estava por perto, ela continuou numa voz mais baixa: – Você quase lançou a maldição da morte no Potter.

– E...? – Severo levantou uma sobrancelha, mostrando que ainda continuava bravo e não entendia aonde ela queria chegar.

Isabelle olhou impaciente para ele e, afastando-o do corpo imóvel do Potter, continuou explicando em voz baixa:

– Ele salvou sua vida no semestre passado, e você estava prestes a matá-lo. Você não percebe? Você está preso a ele por uma Dívida de Vida!

Severo não acreditou no que estava ouvindo e soltou uma risada.

– Não me diga que você acredita nessas tolices do Dumbledore! – ele falou quando parou de rir. – Eu não pedi ajuda do Potter naquele dia e jamais vou admitir que ele exerça qualquer tipo de poder sobre mim!

Isabelle estreitou os olhos e olhou brava para ele. Aproximando-se ainda mais, ela respondeu num tom de voz tão bravo quanto o de Severo:

– Escute aqui, Severo Snape! – Severo recuou ao ouvir o nome completo, como apenas sua mãe o chamava quando estava muito brava. – Você pode duvidar das palavras de Dumbledore, mas minha mãe era uma bruxa especializada em Magia Antiga e me ensinou tudo o que sabia! E ela jamais prejudicaria alguém a quem ela devia a própria vida. – Isabelle fez uma pausa e apontou para o corpo ainda imóvel de Tiago. – Por isso, se eu lhe disser que acabei de impedi-lo de ser amaldiçoado pelo resto da vida, você deveria acreditar!

Ela virou-se de costas para Severo, voltando para o Saguão de Entrada. Severo a seguiu, deixando Tiago ainda estuporado atrás de si.

– Isabelle, espere! – ele disse assim que conseguiu segurá-la pelo braço. – Eu não sabia de nada disso, de ter uma dívida com o Potter.

Ela virou-se para ele e respondeu com um olhar melancólico no rosto:

– É verdade. Eu sei que você não gosta dele, mas se você fizer algum mal a Tiago Potter enquanto tiver essa dívida com ele, você será amaldiçoado para sempre.

Severo queria perguntar o que significava exatamente "ser amaldiçoado para sempre", mas uma fênix vermelha-viva passou voando pelos dois, quase atingindo Severo na cabeça. Eles seguiram o pássaro sem entenderem o que estava acontecendo, até que chegaram ao saguão onde Voldemort e Dumbledore travavam um duelo. A fênix pousou no ombro do Diretor, que estava quase de joelhos no chão, lutando contra uma maldição do Lorde das Trevas, e começou a cantar. A música parecia preencher todo o castelo, e sem entender o porquê, Severo não sentia mais nenhuma aflição. Entretanto, examinando o quadro à sua frente, viu que o Lorde das Trevas e seus Comensais da Morte pareciam menos seguros, e Dumbledore começava a se levantar. No mesmo instante, sentiu a mão de Isabelle agarrando-o pelo braço.

– Vamos! Temos que atravessar o saguão para descermos até as masmorras.

– Você está louca? – ele replicou. – Nós não podemos atravessar o saguão com tantas maldições sendo lançadas ao mesmo tempo!

– Não vai nos acontecer nada – ela disse, os olhos brilhando com uma coragem recém-nascida.

Ela o puxou pelo braço e os dois saíram correndo em direção a escada que os levaria até as masmorras. Severo sentiu vários raios de luz passando por eles, quase os atingindo, mas parecia que eram desviados no último momento. Antes de descer pela escada, um último relance para o saguão e Severo viu o Lorde das Trevas protegido por seus Comensais, tentando fugir do raio de ação de Dumbledore e seguindo para o corredor onde Tiago, agora livre da azaração de Isabelle, Lílian e Sirius encontravam-se parados, tentando impedir a passagem.

Severo tentou enxergar o que aconteceria em seguida, mas o corpo pesado do Prof. Slughorn apareceu na sua frente.

– O que vocês estão fazendo aqui? – ele perguntou, olhando alternadamente para Severo e Isabelle.

– Eu estava na ala hospitalar, onde o senhor me deixou, professor – Isabelle apressou-se em responder colocando-se entre Severo e o Prof. Slughorn. – O Severo foi atrás de mim para saber se estava tudo bem, então ouvimos barulho e viemos até aqui para saber o que estava acontecendo.

O Prof. Slughorn olhou desconfiado para sua aluna, mas Isabelle sempre tinha uma expressão reservada para essas ocasiões. Com um suspiro, ele pareceu acreditar na história e apenas perguntou:

– E a senhorita já se sente melhor? Vocês dois estão bem para voltarem até a sala comunal?

Os dois apenas assentiram com a cabeça.

– Então vão correndo, vocês estarão seguros lá. Se Você-Sabe-Quem conseguir chegar até...

BUM!

Uma explosão foi ouvida por todo o castelo, e o Saguão de Entrada encheu-se de uma fumaça preta e densa. Entretanto, passado o susto inicial, todos perceberam que Voldemort se fora. Não estava derrotado, mas pelo menos não tinha conseguido invadir o castelo. Madame Pomfrey correu até Tiago e Lílian, e um pequeno tumulto pareceu se formar em volta deles. O Prof. Slughorn fez sinal para Severo e Isabelle descerem para as masmorras, e os dois obedeceram prontamente, antes que mais professores resolvessem fazer perguntas.

Quando chegaram à sala comunal da Sonserina, seus amigos ainda os esperavam acordados. Mal entraram na sala e os dois foram cobertos de perguntas sobre o que tinha acontecido, se alguém os vira perambulando pelo castelo e o que fora aquela última explosão.

Isabelle explicou que assim que chegara à ala hospitalar com o Slughorn, Madame Pomfrey estava na porta, dizendo que recebera um aviso urgente do Diretor para que os encontrassem no Saguão de Entrada, que o castelo estava em perigo. Eles pediram para que ela os aguardasse ali, mas quando percebeu que Tiago, Lílian e Sirius também estavam pelos corredores, resolveu segui-los, até encontrar Severo.

Em seguida, Severo contou o que os dois viram acontecer no saguão e como chegaram até as masmorras, aparentemente, sem o Prof. Slughorn desconfiar que os dois estivessem envolvidos na invasão do castelo pelo Lorde das Trevas. Quando terminou de narrar sua história, entretanto, Severo ficou pensativo.

– Alguém nos traiu – disse finalmente.

Isabelle o encarou com os olhos arregalados e, depois de um momento, perguntou:

– Por que você acha isso?

– Dumbledore estava esperando pelo Lorde das Trevas, com aurores e tudo. Ele sabia que alguma coisa aconteceria esta noite.

Todos se entreolharam em silêncio, até que Régulo sugeriu em voz alta o que todos temiam:

– Você acha que pode ser algum de nós?

– Não sei – Severo respondeu pensativo. – Pode ser alguém de fora, que apenas avisou Dumbledore dos planos do Lorde.

Isabelle suspirou, fazendo todos olharem para ela. Um pouco tensa, ela se arrumou na poltrona que estava sentada e refletiu:

– Vocês passaram muito tempo elaborando esse plano aqui na sala comunal. Qualquer um da Sonserina pode ter ouvido. – Ela mordeu os lábios, observando cada colega, e continuou: – Se isso realmente aconteceu, amanhã nós seremos chamados para a sala de Dumbledore, para nos explicarmos.

As palavras de Isabelle caíram como uma sentença. Enquanto os outros rapazes pensavam apreensivos no que diriam caso fossem chamados para falar com o Diretor no dia seguinte, Severo repassou todos os acontecimentos daquela noite em sua mente.

– Potter! – ele disse de repente. – Ele nos viu e já estava desconfiado de nós.

Mas Isabelle apenas balançou a cabeça.

– Não se preocupe com o Potter – respondeu. – Ele não tem como provar nada contra nós. Você encontrou com ele quando foi atrás de mim na ala hospitalar, não foi? Até o Slughorn pode confirmar isso.

Severo e os outros respiraram aliviados. A sala comunal caiu em silêncio novamente, e aos poucos, cada um se retirou para seu quarto, ainda tensos com a possibilidade de serem descobertos no dia seguinte.

*-*-*-*-*-*-*-*

Enquanto isso, alguns andares acima, Dumbledore ainda estava reunido com os demais diretores de Casa de Hogwarts em seu escritório.

– Eu temo, Alvo – o Prof. Slughorn disse assim que entrou na sala –, que eles entraram pela minha lareira. Eu devo ter deixado tudo desprotegido quando levei a Srta. Malfoy para a ala hospitalar. Me desculpe – acrescentou com a cabeça baixa.

– Nós já discutiremos isso, Horácio – Dumbledore disse. Virando-se para a Profa. McGonagall, perguntou: – E como estão o Sr. Potter e a Srta. Evans?

– Papoula preferiu deixá-los na ala hospitalar até amanhã, mas garantiu que não foi nada grave, apenas uma pequena intoxicação com a fumaça que inalaram – a professora respondeu.

– Que sorte têm esses meninos – o Prof. Flitwick comentou. – Já é a segunda vez que enfrentam Você-Sabe-Quem e saem praticamente ilesos.

Os demais professores assentiram em silêncio, e então, o Diretor Dumbledore se dirigiu ao Prof. Slughorn:

– Você dizia, Horácio, que acha que eles entraram no castelo através do seu escritório?

– Sim, Alvo – ele respondeu, aceitando a xícara de chá que lhe fora oferecida. – Eu só percebi que larguei tudo desprotegido quando voltei para o escritório, depois do ocorrido. – Ele bebeu um gole do chá e continuou: – Apenas a Srta. Malfoy e o Sr. Snape estavam comigo quando deixei o escritório.

– Você acha que os dois alunos estão envolvidos? – a Profa. McGonagall perguntou, levando as mãos a boca, incrédula.

– É provável que não, Minerva – Slughorn respondeu. – Eu saí para acompanhar a Srta. Malfoy até a ala hospitalar. Quando cheguei lá, Papoula me avisou do recado do Diretor e nós deixamos a Srta. Malfoy sozinha. Pouco tempo depois a encontrei com o Sr. Snape, o que indica que ele deve ter nos seguido logo depois que saímos, deixando o escritório desprotegido.

– Quer dizer que o Sr. Snape foi último a sair do seu escritório? – o Diretor perguntou seriamente.

– Sim – Slughorn respondeu. – Mas eu duvido que ele esteja envolvido. Afinal, ele é um mestiço, já teve muitos problemas para ser recebido na Sonserina por causa disso. Duvido que Você-Sabe-Quem o aceitasse em seu grupo.

Os professores assentiram mais uma vez, e a Profa. Sprout perguntou para o Diretor:

– Como você soube do ataque, Alvo?

Dumbledore pousou a xícara em sua mesa antes de responder:

– Eu fui avisado.

Os demais ocupantes da sala olharam-se surpreendidos, até que a Profa. McGonagall falou primeiro:

– Você finalmente conseguiu um espião para a Ordem?

– Não – Dumbledore respondeu pesaroso. – Eu jamais pediria para alguém se arriscar desse jeito. Entretanto, devo admitir que foi uma sorte termos sido alertados a tempo.

Dumbledore observou os professores em volta da sua mesa. Todos o olhavam esperando uma resposta, entretanto, ele jamais poderia revelar sua fonte de informação. Tampouco ele sabia dos detalhes sobre a invasão de Voldemort.

– A pessoa que me procurou está numa situação muito delicada. Recusou-se a me contar quem está ajudando Voldemort – ele fez uma pausa enquanto os professores recuavam ao ouvir o nome do Lorde das Trevas –, ou como ele entraria no castelo. Deu-me apenas as informações necessárias para impedir que ele tivesse sucesso.

– Mas então – Flitwick interveio –, há alguém de dentro de Hogwarts ajudando Você-Sabe-Quem?

Dumbledore não respondeu, apenas baixou a cabeça. Os demais professores lançaram olhares preocupados para o Diretor, até que ele levantou o olhar e continuou:

– Foi por isso que os chamei aqui mesmo já sendo tão tarde. Há a possibilidade de termos alunos trabalhando para Voldemort – mais uma pausa –, e por isso, gostaria que vocês ficassem mais atentos aos alunos de suas Casas. Infelizmente, Horácio, é mais provável que encontremos alguma coisa na Sonserina – o Prof. Slughorn assentiu, e Dumbledore continuou –, entretanto, as Artes das Trevas podem seduzir bruxos de todos os tipos, e as demais Casas não devem ser negligenciadas.

Quando os quatro professores assentiram às novas recomendações do Diretor, Dumbledore os dispensou. Assim que se encontrou sozinho em sua sala, ele se aproximou da sua fênix, Fawkes, acariciando-a na cabeça. A ave piou, e o velho bruxo refletiu:

– Sim, Fawkes. Parece que o chapéu estava certo. Ainda vamos nos lembrar por muito tempo desta turma que nos deixará no próximo semestre.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Segundo "Animais Fantásticos & Onde Habitam", o canto da fênix é capaz de aumentar a coragem dos puros de coração e atemorizar os impuros de coração, explicando por que seu papel na luta travada no Saguão de Entrada foi tão importante para a "Ordem da Fênix".

A seguir: O ano está acabando e todos estão ansiosos com o Baile de Formatura...



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