Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 13
A Pior Lembrança de Severo


Notas iniciais do capítulo

Sirius e Tiago finalmente têm a sua vingança...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Surviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 13: A Pior Lembrança de Severo

Avadra Kedrava – Severo pensou enquanto apontava sua varinha para uma mosca que voava perto da janela do seu quarto. A mosca foi atingida por um raio de luz verde e cambaleou tonta no ar, mas logo depois se recuperou. Severo praguejou silenciosamente. Como o Lorde das Trevas vai me aceitar como um Comensal da Morte se não consigo nem usar uma Maldição Imperdoável numa mosca? Tentou novamente. Avadra Kedrava. A mosca cambaleou novamente, apenas para logo depois fugir voando pela janela.

O problema com certeza não era o uso não verbal da azaração. Ele já realizara feitiços não-verbais antes, como o próprio Levicorpus, que só funcionava sob esta condição. Concentrou-se novamente nas palavras do Lorde das Trevas: “Para que uma Maldição Imperdoável seja bem sucedida, você tem que realmente querer fazer a pessoa a sua frente sofrer. Se você não for capaz de odiar seus inimigos assim, não serve para ser um Comensal da Morte.” Severo sabia de pelo menos duas pessoas que gostaria que sofressem até a morte: Tiago Potter e Sirius Black. Depois da humilhação que sofrera em Hogwarts, vingança era a única coisa que desejava para aqueles dois, e também para seus outros dois amigos patetas: Pettigrew e Lupin.

Severo fechou os olhos, deitado em sua cama e recostado na cabeceira, lembrando-se de como fora seu quinto ano em Hogwarts. Era o ano dos N.O.M.s, e isso significava deveres enormes e muito tempo livre, que segundo os professores, fora programado para ser gasto na biblioteca, para que pudessem estar bem preparados para os exames no final do ano letivo.

A Cerimônia de Seleção não fora diferente das dos anos anteriores. Os novos alunos foram divididos entre as quatro Casas de Hogwarts, e assim que o último aluno fora selecionado, o Prof. Dumbledore prosseguiu com mais um de seus estranhos discursos de boas-vindas. Enquanto jantavam, era possível notar o burburinho de muitos alunos comentando a última fofoca: Sirius Black estava namorando Isabelle Malfoy. Severo nunca mais falara com Isabelle depois do casamento do irmão dela e apenas cumprimentou-a educadamente quando a viu à mesa da Sonserina. Não queria mais ser humilhado por ela, ou arranjar confusão com o Black por causa dela.

Após o jantar, o Diretor levantou-se pedindo silêncio e começou sua lista de avisos, que era repetida todo o início de ano letivo. Como sempre, alertou os alunos quanto à Floresta Proibida e ao toque de recolher, e apresentou, pela quinta vez consecutiva, o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Com o lamento dos meninos e a alegria da maioria das meninas, Dumbledore explicou que a Profa. Livingstone retornara ao seu treinamento como auror após o último ataque de Comensais da Morte em Hogsmeade. Fora a primeira vez que Comensais atacaram uma vila bruxa e ainda, contra famílias que podiam ser consideradas de bruxos de sangue puro, alegando que se tratavam de traidores do sangue, que insistiam em manter amizade com trouxas e sangues-ruins. Entre as vítimas, os pais da Profa. Livingstone estavam incluídos.

Pelo menos, se alguma coisa boa pôde resultar deste ataque, fora o fato de que agora o Ministério admitia a existência de um bruxo das trevas - Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado - e colocou todos os seus esforços na luta contra os Comensais da Morte. Com isso, o Lorde das Trevas tornou-se mais cuidadoso e nunca mais fora visto em público, confiando apenas em seus Comensais da Morte e treinando os filhos de seus seguidores para continuarem os passos dos pais assim que saíssem de Hogwarts.

Quando os alunos foram dispensados para seguirem às suas salas comunais, Severo foi interrompido pelo monitor da Sonserina, dizendo-lhe que o Prof. Dumbledore pedira para que ele o aguardasse em seu escritório. Ele seguiu até a gárgula que guardava a entrada secreta, mas como não sabia a senha, não pôde fazer nada a não ser aguardar. Depois de alguns minutos, ouviu vozes e percebeu a silhueta dos Profs. Dumbledore e Slughorn aproximando-se.

– Sr. Snape – o Diretor o cumprimentou. – Que bom que você já está aqui. Vamos entrar. – E dizendo a nova senha, os três entraram em seu escritório.

– Eu o chamei aqui, Severo – o Prof. Dumbledore começou devagar, depois que todos já estavam sentados e servidos com chá e bolinhos –, porque soubemos do que aconteceu com a sua mãe, e tanto eu como o Prof. Slughorn estamos preocupados com você.

– Eu estou bem – Severo respondeu com os olhos fixos no chão.

– Claro – Dumbledore assentiu. – Eu tenho certeza que seu avô está cuidando muito bem de você. – Depois acrescentou pesaroso: – Apenas lamento que isso tenha acontecido sem que nós tivéssemos tomado conhecimento. Eu estive muito ocupado no ano passado. Com estes últimos ataques, o Ministério está cada vez mais pedindo a minha ajuda.

– Minha mãe foi morta por trouxas – Severo replicou, ainda sem levantar o olhar. – Vocês não teriam como ajudá-la.

– Nós entendemos – o Prof. Slughorn finalmente falou. – Mas você é um excelente aluno, Severo. Só queremos que você saiba que sempre poderá confiar em mim, ou no Prof. Dumbledore, se estiver com algum problema.

– Isso não será necessário – ele respondeu secamente. O Lorde das Trevas já o alertara de que Dumbledore não era um bruxo confiável.

O Prof. Slughorn olhou para o Diretor, assustado com tanta amargura vinda de um rapaz ainda tão jovem. Dumbledore simplesmente baixou a cabeça com um suspiro de desapontamento.

– Se você diz que está bem, Sr. Snape – o Diretor começou após um momento de silêncio –, acho que o Prof. Slughorn poderá acompanhá-lo até sua sala comunal. Afinal, já está tarde e suas aulas começam amanhã.

Apenas neste momento Severo levantou os olhos para encarar o Diretor. Ele o observava por cima dos seus oclinhos de meia-lua com um sorriso triste.

– Espero que você ainda se lembre da conversa que tivemos no seu primeiro ano em Hogwarts. Como eu disse aquela vez, seria muito triste vê-lo tomar um caminho que você possa se arrepender depois.

– Eu não sei do que o senhor está falando – Severo respondeu.

– Pense bem, Severo – Dumbledore o advertiu. – Eu acredito que você não seria capaz de provocar mal a alguém e não sentir nenhum remorso depois.

Severo franziu a testa para o Diretor. Do que ele estava falando? Será que estava se referindo à sua idéia de se tornar um Comensal da Morte? Se era isso, ele estava perdendo tempo tentando convencê-lo do contrário. Sua decisão já estava tomada. Essa seria a única maneira de ser respeitado pelos outros bruxos.

O Prof. Slughorn levantou e chamou Severo para segui-lo até a sala comunal da Sonserina. Os dois saíram do escritório sem notar a expressão pesarosa de Dumbledore, avaliando o aluno que acabara de deixar a sua sala.

*-*-*-*-*-*-*-*

No dia seguinte, Severo foi novamente surpreendido, desta vez na aula de Poções, ao encontrar Isabelle sentada na mesma bancada que os dois sempre ocupavam nas aulas, e ao ver o Black emburrado numa bancada do outro lado da sala, junto com o Potter.

– O que você está fazendo aqui? – ele perguntou quando chegou ao lado dela. – Você não vai se sentar com o seu namorado?

Ele ainda não tinha trocado mais que simples palavras com ela, mesmo quando estavam na sala comunal, uma vez que agora Isabelle vivia cercada de meninas que queriam saber as últimas novidades do seu namoro com Sirius Black.

– Nós fazemos as aulas de Poções juntos, lembra-se? – ela respondeu, fazendo a mesma cara inocente que sempre fazia quando queria comover algum professor. – Sirius é parceiro do Potter. Você não vai querer trocar de lugar com ele, vai?

Severo olhou para trás. A sala já estava lotada. Se Isabelle resolvesse sentar-se ao lado do Black, isso significaria que ele teria que passar o resto da aula com o Potter. Além disso, pela expressão do Black, ele não estava gostando nenhum um pouco de vê-lo ao lado da namorada dele, isso o animou a continuar onde estava.

– Além disso – ela continuou –, o Prof. Slughorn me disse que preciso de um Ótimo em Poções para ser aceita em St. Mungus. E para eu continuar nas aulas dele para os N.I.E.M.s, preciso de pelo menos um Excede Expectativas no N.O.M.. Você sabe que eu vou precisar da sua ajuda para isso.

Severo franziu a testa enquanto se sentava.

– Mas por que você quer tanto entrar em St. Mungus, se você odeia Poções?

Isabelle olhou para ele com uma careta. Depois explicou:

– Por que as carreiras mais respeitadas no mundo bruxo são a de auror e a de curandeiro. – Abaixou a voz e continuou: – E você não vai querer ser um auror depois que o Lorde das Trevas derrotar o Ministério, vai?

Severo assentiu, e o Prof. Slughorn entrou na sala logo em seguida, silenciando todos os alunos para começar a aula. Enquanto preparavam a poção que o professor indicara, Severo observava Isabelle trabalhar, imaginando que ela precisaria de muita ajuda se realmente quisesse um Excede Expectativas no seu N.O.M. de Poções. Mas foi a cara de ciúmes do Black olhando os dois trabalharem juntos que fez Severo sentir-se compelido a ajudá-la. Assim, mesmo com os acontecimentos nas últimas férias ainda frescos nas memórias dos dois, Severo e Isabelle continuaram sendo parceiros nas aulas de Poções. No início, ainda sentiam-se um pouco constrangidos, mas em pouco tempo as coisas voltaram ao normal. Como Isabelle passava a maior parte do tempo com o Black, essas eram as únicas horas que os dois amigos passavam juntos. Severo não perdoara totalmente a amiga, mas inexplicavelmente, ele ainda sentia falta da presença dela durante seu tempo livre, e as aulas de Poções eram o único momento que compartilhavam, sempre acompanhados do olhar ciumento de Black algumas bancadas atrás.

Outra surpresa naquele ano fora a amizade de Lílian Evans. Com Isabelle passando a maior parte do tempo com Sirius, Severo passara a freqüentar a biblioteca sozinho, e era comum vê-la ali, sozinha também. Ela aproximou-se receosa uma vez, com uma dúvida no dever de Poções, e os dois acabaram passando a tarde inteira discutindo sobre ingredientes e seus métodos de preparo. Para uma nascida trouxa, ela era uma bruxa muito esperta e, justamente por sua herança trouxa, não se importava com o fato dele ser mestiço. Ela era a única pessoa em todo o mundo bruxo com a qual não precisava se preocupar se seria discriminado por causa do seu nome, e isso lhe dava uma certa tranqüilidade quando estava perto dela. Entretanto, nenhum dos dois jamais percebera que estavam atraindo a atenção de outro grifinório: Tiago Potter. Por várias vezes durante o ano, Tiago insinuara-se para Lílian, mas como ela não suportava seu comportamento exibido, sempre o repelira. E vê-la ao lado de Severo, só fazia com que ele o odiasse ainda mais.

Mas a amizade entre o sonserino e a grifinória não incomodava apenas a Tiago. Quando a preocupação com a chegada dos N.O.M.s cresceu entre os alunos do quinto ano, a biblioteca começou a ficar cada vez mais povoada, e os amigos de Severo, Evan, Roberto e Paulo, perceberam a proximidade dele com uma sangue-ruim e comentaram isso na semana anterior às provas.

– Eu até entendo que você esteja querendo alguma coisa com aquela sangue ruim – Evan insinuou com malícia quando os quatro amigos estavam na sala comunal após o jantar. – Mas você está deixando ela te enrolar, Severo. Se ela está te dando bola, você tem mais é que aproveitar e depois jogá-la fora. É para isso que elas servem!

– Se ela está tão afim do Severo – Paulo comentou com um sorriso doentio formando-se no rosto –, nós poderíamos arranjar uma festinha particular, só para nós...

– Cala a boca, Paulo – Severo o interrompeu, sentindo-se enojado com a idéia dos amigos. – Não é o que vocês estão pensando!

– Então, o que é, Severo? – Roberto perguntou, aproximando-se dele com um olhar suspeito. Quando Severo não o respondeu, acrescentou em voz baixa: – O que você acha que o Lorde das Trevas vai pensar se souber que você anda fazendo amizades com uma sangue-ruim?

Severo não teve chance de responder. No mesmo instante, Isabelle entrou na sala em lágrimas e com o rosto vermelho de tanto chorar, seguida pelo Prof. Slughorn. Ele não disse uma palavra para seus alunos, apenas ficou parado em frente à porta secreta até que ela voltou do seu quarto carregando seu malão. Os dois saíram novamente, deixando a sala comunal da Sonserina estupefata e num burburinho cada vez maior sobre o que teria acontecido para Isabelle Malfoy deixar a escola nas vésperas dos seus N.O.M.s.

 – Ela não pode ter sido expulsa, pode? – Bartô perguntou assim que chegou perto deles.

– E por que ela seria expulsa? – Evan respondeu impaciente.

– Talvez o Filch a tenha pego junto com o Sirius – Régulo, que chegara junto com Bartô, comentou. – Isso significa que meu irmão foi expulso também – concluiu com um olhar vitorioso no rosto.

– Seria bem-feito para ela por andar se esfregando com um grifinório – Roberto comentou.

– Vocês não acham que eles estavam... vocês sabem... – Severo insinuou, sentindo-se ainda mais traído pela amiga.

– Você conhece a fama do meu irmão – Régulo respondeu rindo. – E do jeito que a Isabelle é caída por ele...

Todos riram, menos Severo. Ele ficou ainda algum tempo sentado com os amigos, ouvindo os comentários deles sobre Isabelle e Sirius, tentando convencer a si mesmo que não se importava se os dois já haviam transado ou não. Enquanto tentava mais uma vez repreender seus sentimentos por Isabelle, a conversa entre os demais rapazes foi mudando de direção, e novamente sua amizade com Lílian Evans foi mencionada. Severo tentou se defender, alegando que ela o procurara pedindo ajuda com alguns deveres e, depois disso, jamais largara do seu pé. Mas isso serviu apenas para reforçar os argumentos de Evan, que insistia que bruxas de sangue ruim eram vagabundas que serviam apenas para serem usadas como prostitutas. Para evitar uma discussão, Severo simplesmente deixou a sala e não falou mais com seus amigos.

Mais tarde, já deitado em sua cama, Severo analisava a conversa que tivera com os demais sonserinos. Não se importava com a opinião deles, mas numa coisa Roberto tinha razão: o Lorde das Trevas jamais o perdoaria por se envolver com uma nascida trouxa. Ele podia não discriminá-lo por ser um mestiço, isso porque acreditava que sua magia descendia do seu lado bruxo, mas um nascido touxa ou um sangue-ruim era uma ameaça aos planos dele de dominar o mundo trouxa e buscar a supremacia dos bruxos. Decidiu que precisava esquecer a amizade pura de Lílian, mostrar a ela que sangues-ruins não se misturavam com sonserinos. Era uma convenção criada pelos bruxos mais tradicionais, e ela tinha que entender isso, assim como Isabelle o fizera entender também, por mais doloroso que tivesse sido.

A oportunidade de mostrar à Lílian que ele não a considerava digna de sua amizade chegou mais cedo, e da forma mais sórdida, que ele imaginara. Tudo acontecera na semana seguinte, quando estavam realizando as provas para os N.O.M.s. Ele lembrava-se do dia da prova escrita de Defesa Contra as Artes das Trevas como se ainda fosse ontem. O Salão Principal fora rearranjado, e no lugar das quatro mesas de cada Casa haviam mais de centenas de mesinhas, onde cada aluno sentara sozinho com sua pena e um rolo de pergaminho. Na manhã antes do início da prova ele descobrira o verdadeiro motivo pela saída impetuosa de Isabelle de Hogwarts. O pai dela, o Sr. Abraxas Malfoy, falecera naquele dia, vítima de varíola de dragão, segundo o Prof. Slughorn. Aquela notícia o deixara profundamente abalado; Isabelle fora a única pessoa que o ajudara com a morte da mãe, e agora que ela precisava do apoio de um amigo, ele nem falava mais com ela direito. Seu Diretor de Casa garantiu-lhe que a amiga não perderia os N.O.M.s, apenas recebera uma autorização especial para realizá-los em casa, sob a supervisão do Diretor Dumbledore. Mas o Prof. Slughorn não entendia que não era com os N.O.M.s de Isabelle que ele estava preocupado, e sim com o fato de não poder estar ao lado dela agora, quando talvez, ela estivesse mais precisando dele.

Foi pensando em Isabelle e no dia em que descobrira sobre a morte da mãe que ele entrou no Salão Principal e sentou-se numa das mesinhas para começar sua prova. Talvez por isso estivesse tão abalado a ponto de parecer ainda mais pálido e soturno que o normal, e qualquer um que prestasse atenção nele veria um adolescente triste e sombrio.

Assim que recebeu seu exame, Severo leu avidamente o título: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS – NÍVEIS ORDINÁRIOS DE MAGIA. Franziu a testa ao examinar as dez perguntas, mas então respirou aliviado: sabia a resposta de todas. Começou a escrever rapidamente, respondendo as perguntas da forma mais completa possível. Olhando para os lados de vez em quando, percebeu que suas respostas eram sempre maiores que as da maioria dos seus colegas e sorriu satisfeito.

Faltavam apenas alguns minutos para a prova acabar, mas ele ainda não tinha terminado de escrever os cinco sinais para identificar um lobisomem. Debruçou-se ainda mais sobre seu pergaminho, e sua mão começou a voar sobre o papel; seu nariz de gancho quase encostado na carteira.

– Mais cinco minutos! – avisava a voz do Prof. Flitwick. O Prof. Sprunt, atual professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, teve que se ausentar do castelo depois de um ataque súbito de um bicho-papão numa das suas turmas do terceiro ano, e diziam que ele não voltaria para assumir suas aulas no próximo ano letivo.

Severo apressou-se em terminar sua prova e pousou sua pena na mesa assim que ouviu o Prof. Flitwick mais uma vez:

– Descansem as penas, por favor! Você também Stebbins!

Severo olhou para os lados; não muito longe avistou Sirius Black. Será que ele sabe por que Isabelle não está em Hogwarts? Pela maneira despreocupada que sorria, se ele sabia da morte do Sr. Malfoy, não mostrava nenhuma preocupação com a namorada. Quando Black percebeu que era observado, Severo abaixou os olhos, fitando novamente o seu exame e perguntando-se como Isabelle podia suportá-lo.

– Por favor, continuem sentados enquanto eu recolho os pergaminhos – o professor de Feitiços anunciou. E levantando sua varinha, disse: – Accio!

Mais de uma centena de rolos de pergaminho flutuou no ar na direção dos braços escancarados do Prof. Flitwick, derrubando-o no chão. Muita gente riu. Alguns dos alunos que estavam nas carteiras da frente se levantaram, seguraram o professor pelos cotovelos e o puseram de pé.

– Obrigado... Obrigado – o Prof. Flitwick disse ofegante. – Muito bem, todos podem sair!

Severo levantou-se e seguiu a horda de alunos que se dirigiam ao Saguão de Entrada. Não queria voltar para a sala comunal da Sonserina. Ainda sentia-se mal pela conversa da semana anterior, não queria ouvir seus amigos falando de Lílian do jeito que se referiam a qualquer garota nascida trouxa.

Um grupo de meninas tagarelas entrou na sua frente, e ele acabou seguindo-as, absorto em seus pensamentos. Nem percebeu quando, ainda seguindo outros alunos, passara para os jardins olhando seu pergaminho de provas e imaginando se Isabelle conseguira responder todas as perguntas de hoje ou se conseguira resolver a prova de Poções do dia anterior. Apenas quando o sol começou a incomodar, aquecendo suas vestes negras, ele se deu conta que estava fora do castelo. Olhou em volta e procurou uma sombra, sentando-se próximo a um amontoado de arbustos. Logo a sua frente, viu Lílian junto com um grupo de meninas sentadas à beira do lago. Pensou em falar com ela, uma vez que as outras meninas estavam entretidas com a exibição de Tiago Potter, que brincava com um pomo de ouro logo à frente, mas reconsiderou, achando melhor esperar por um momento mais adequado. Ela não iria gostar do que ele tinha para lhe dizer, então era melhor que não houvesse testemunhas.

Com um suspiro, olhou de relance para os quatro grifinórios. Lupin estava sentado embaixo da árvore, lendo. Black estava ao lado dele, parecendo entediado. Mais uma vez Severo se perguntou como ele podia parecer tão indiferente ao que acontecera com Isabelle; certamente ele não a merecia. Pettigrew olhava embasbacado para o Potter, que continuava se mostrando para as meninas que sorriam para ele. Severo bufou e voltou sua atenção novamente para o pergaminho em suas mãos. Não suportava o Potter, e não o suportava ainda mais quando ele tentava chamar a atenção de todos usando seu talento no quadribol. Resolveu que a companhia de seus amigos nas masmorras era melhor que o sol quente anunciando o verão e a imagem dos grifinórios se divertindo. Levantou-se e guardou o pedaço de pergaminho na mochila, mas quando começou a andar pela grama, Black e Potter apareceram na sua frente.

– Tudo certo, Ranhoso? – Potter perguntou, levantando a voz para ser ouvido pelo grupo de meninas que o observava da beira do lago. Há muito observava o Ranhoso com a Lílian na biblioteca, já estava na hora de mostrar para ela o verme que o sonserino era.

Entretanto, cinco anos de inimizades eram o suficiente para que Severo esperasse ser atacado pelo Potter. Derrubou sua mochila e já estava a ponto de sacar sua varinha das vestes quando ouviu a voz do Potter novamente:

Expelliarmus!

Sua varinha voou uns quatro metros no ar e caiu com um pequeno estrondo na grama atrás dele. Ouviu a gargalhada do Black.

Impedimenta! – Potter encantou, apontando sua varinha na direção de Severo, que foi jogado longe enquanto tentava alcançar a sua própria.

Os estudantes em volta se viraram para assistir. Alguns deles tinham se levantado e estavam se aproximando. Alguns pareciam apreensivos, outros divertidos.

Severo estava caído arquejante no solo. Potter e Black avançaram em sua direção com as varinhas erguidas, Potter dava alguns olhares furtivos por cima do ombro na direção das garotas que o assistiam. Pettigrew também se levantou, apreciando a cena com o olhar.

– Como foi o exame, Ranhoso? – perguntou Potter.

– Eu vi, o nariz dele estava quase encostando no pergaminho – Black continuou maldosamente. – Vai ter manchas enormes de gordura no exame todo, não vão poder ler nem uma palavra.

Muita gente que estava em volta riu. Com exceção dos alunos da Sonserina talvez, ninguém mais em Hogwarts gostava do Severo. Tentou se levantar, mas a azaração ainda estava funcionando. Estava preso, como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.

– Espere... para ver – resmungou ofegante, olhando para o Potter com uma expressão de pura aversão – , espere... para ver!

– Esperar para ver o quê? – Black perguntou irônico. – Que é que você vai fazer, Ranhoso, limpar o seu nariz em nós?

Ele tentou se livrar recitando algumas maldições, mas com sua varinha tão longe nada aconteceu.

– Lave sua boca – ouviu a voz fria do Potter. – Limpar!

Bolhas de sabão cor de rosa saíram da sua boca, a espuma cobria seus lábios como uma mordaça, sufocando-o... Até que ouviu uma voz amiga:

– Deixem ele em PAZ!

Os dois inimigos olharam ao redor.

– Tudo bem, Evans? – disse Tiago depois de esparramar o cabelo. O tom da voz dele mudou subitamente. Estava mais profundo, mais maduro.

– Deixem ele em paz – Lílian repetiu. Ela o encarava com antipatia. – Que foi que ele lhe fez?

– Bom – disse Potter, aparentando pensar sobre o caso –, é mais pelo fato de existir, se você me entende...

Muitos dos alunos ao redor riram, exceto Lílian.

– Você se acha engraçado – ela retorquiu friamente. – Mas você não passa de um cafajeste, tirano e arrogante, Potter. Deixe ele em paz.

– Deixo se você quiser sair comigo, Evans – Tiago respondeu rapidamente. – Anda... sai comigo e eu nunca mais encostarei uma varinha no Ranhoso.

– Eu não sairia com você nem que tivesse de escolher entre você e a lula-gigante – Lílian respondeu.

– Mau jeito, Pontas – Black brincou com o amigo e se virou para Severo. – OI!

Atrás deles, o efeito do feitiço Impedimenta acabara e Severo já tinha a varinha apontada exatamente na direção de Potter, sua fama de duelista seria posta à prova. E ele tinha um feitiço pronto, esperando para ser testado. Sectumsempra! – pensou sem mover os lábios. Um feixe de luz saiu da sua varinha e um corte apareceu num dos lados do rosto do Potter, manchando suas vestes com sangue. Severo sorriu com desdém, mas não teve tempo para comemorar, Potter revidou em seguida. Um segundo feixe de luz, e Severo estava pendurado de cabeça para baixo no ar, suas vestes descendo e revelando um par de pernas pálidos e esqueléticos e cuecas de cor cinza.

Muitas das pessoas naquela pequena multidão aplaudiam. Do alto, ele conseguia ouvir as gargalhadas de Black, Potter e Pettigrew. Lílian, cuja expressão de fúria hesitou por um instante como se fosse se render ao riso, o defendeu novamente:

– Ponha ele no chão!

– Perfeitamente – Potter respondeu baixando a varinha; Severo caiu como uma pilha de roupas amontoada no chão. Desenroscando-se de suas próprias vestes, ele se levantou rapidamente, varinha em punho, mas Black também queria sua vingança:

Petrificus Totalus!

Severo caiu outra vez, rígido como uma tábua.

– DEIXE ELE EM PAZ! – Lílian gritou. Ela tinha sua própria varinha empunhada agora. Petrificado, Severo observou Potter e Black olhando para ela, cautelosos.

– Ah, Evans, não me obrigue a azarar você – Potter disse sério.

– Então desfaça o feitiço nele! – ela comandou.

Potter respirou fundo e então se voltou para Severo, murmurando o contra-feitiço.

– Pronto – disse quando Severo se colocou de pé novamente. – Você tem sorte de que Evans esteja aqui, Ranhoso...

Mas Severo estava com as nervos à flor da pele agora. Não pensava claramente, o ódio cultivado por Black durante todo o ano, agora também passara para o Potter. O grifinório estava usando-o apenas para se mostrar para Lílian. Novamente ele estava sendo humilhado por causa dela. Já estava mais que na hora de por um ponto final na sua pretensa amizade:

– Não preciso da ajuda de uma Sangue-Ruim imunda como ela!

Lílian piscou, sem acreditar no que ouvira. Esse não era o Severo que ela conhecia, embora se encaixasse bem nos comentários de seus amigos da Grifinória.

– Ótimo – ela respondeu friamente. – No futuro, não me incomodarei. E eu lavaria as cuecas se fosse você, Ranhoso.

Severo percebeu o desapontamento nos olhos dela. O mesmo desapontamento que ele sentiu quando finalmente entendeu que o mundo bruxo já estava dividido entre sangues-puros, mestiços e sangues-ruins. Ele não podia fazer nada quanto a isso, e Lílian precisava entender isso também, mesmo que lhe custasse a amizade mais sincera que ele já experimentara.

– Peça desculpas para a Evans! – Potter exigiu apontando a varinha ameaçadoramente para ele.

Severo o encarou com um olhar inexpressivo, mas foi Lílian quem falou:

– Não quero que você o obrigue a se desculpar – Lílian gritou para Tiago. – Você é tão ruim quanto ele.

– Quê? – Tiago espantou-se. – Eu NUNCA chamaria você de... você sabe o quê!

– Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da vassoura, se exibindo com esse pomo idiota, andando pelos corredores e azarando qualquer um que o aborreça só porque é capaz... até surpreende que a sua vassoura consiga sair do chão com o peso dessa cabeça cheia de titica. Você me dá NÁUSEAS.

Ela se virou e correu dali. Severo tentou esconder um pequeno sorriso. Realmente era uma pena ter que se desfazer da sua amiga. Mas ela estaria mais segura assim, antes que o Lorde das Trevas percebesse alguma ligação entre eles.

– Evans! – Potter gritou por ela. – Ei EVANS!

Mas ela não olhou para trás.

– Qual é o problema dela? – Potter perguntou, tentado, sem sucesso, parecer que aquilo não tinha importância para ele.

– Lendo nas entrelinhas, eu diria que ela acha você metido, cara – Black respondeu.

– Certo – disse Potter, que parecia furioso agora –, certo...

Severo podia ter aproveitado a distração de Tiago para sair dali, mas preferiu apreciar a frustração dele. O que se mostrou ser um grande erro. Com um novo feixe de luz da varinha do Potter, Severo ficou novamente suspenso de ponta-cabeça no ar. Virando-se para a platéia que formara-se em volta deles, perguntou:

– Quem quer ver eu tirar as cuecas do Ranhoso?

Humilhado pelos seus maiores inimigos e preso indefeso no ar, sem sua varinha, Severo fechou os olhos tentando controlar sua raiva para não gritar e dar ainda mais um motivo para Potter e Black rirem dele. Sentiu seu rosto enrubescer com a idéia sugerida por Tiago e percebeu que precisava fazer algum coisa para se libertar do Levicorpus antes de virar a maior chacota da escola. Abriu os olhos novamente, encarando Tiago Potter fixamente com ódio no olhar. Inexplicavelmente, o garoto foi lançado para longe, levando o amigo que estava logo atrás com ele. No mesmo instante, Severo caiu no chão, livre da azaração, e correu para finalmente apanhar a sua varinha.

Não contente em estar livre novamente, Severo caminhou em direção aos seus antigos captores com a varinha em punho. Não lhes daria a chance de chamá-lo de covarde.

– Qual é o seu problema, Potter? – perguntou com um sorriso desdenhoso assim que se aproximou dele, ainda caído no chão. – Ainda não entendeu que a Evans prefere um bruxo de verdade da Sonserina em vez de um reles jogador de quadribol como você?

– Lave sua boca antes de falar dela, Ranhoso – Potter bradou levantando-se num só pulo, sua varinha também em punho.

Potter lançou a mesma azaração que usara anteriormente, a Limpar, mas agora com a sua varinha em mãos, Severo a repeliu com facilidade. No instante seguinte, Black também se levantara e apontava a varinha para Severo. Mas os dois amigos foram impedidos por Lupin e Pettigrew, que correram até eles para avisar que a Profa. McGonagall aproximava-se do enorme grupo de alunos que se juntara próximo ao lago.

Discretamente, Severo guardou sua varinha e afastou-se dos quatro amigos, misturando-se aos demais alunos que se dispersavam com a chegada da vice-diretora. Não os viu mais até o final da semana, quando embarcaram para as férias de verão.

Sim, Potter e Black eram duas pessoas que ele não sentiria o menor remorso se os visse mortos. Concentrou-se fortemente na imagem de Potter enquanto o importunava com o feitiço que ele mesmo criara. Apontando mais uma vez sua varinha para a mosca que insistia em entrar em seu quarto, gritou:

Avada Kedrava!

Como das outras vezes, um raio de luz verde saiu da ponta da sua varinha até alcançar o inseto próximo à janela, com a diferença que, desta vez, a mosca caiu sem vida no chão. Ele sorriu para si mesmo, finalmente conseguira lançar a maldição da morte de maneira eficiente. Concentrou-se mais uma vez, agora pensando em Sirius Black, e repetiu mentalmente as palavras da maldição.

Avada Kedrava

No instante seguinte, mais uma mosca juntou-se à outra que já estava no chão. Severo conseguira lançar duas vezes a Maldição da Morte, sendo bem-sucedido em ambas. O Lorde das Trevas ficaria orgulhoso. Ele já tinha percebido que o Lorde lhe reservava um papel muito importante em sua guerra, só precisava provar que era digno de ser seu seguidor.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Grande parte deste capítulo foi retirada do capítulo ‘A Pior Lembrança de Snape’ de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Peço desculpas a todos que estavam buscando novas histórias sobre o Snape, mas espero me redimir nos próximos capítulos! E um obrigada especial à Su, que teve o trabalho de catar as falas do livro!

A seguir: Os meninos crescem mais um pouquinho...



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