Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 11
Os Meninos Crescem - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um ano na vida de Severo, desta vez cheio de novas emoções...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Surviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 11: Os Meninos Crescem – parte II

Severo embarcou para casa decidido a usar as férias de verão para convencer sua mãe a sair de Sheffield e morar com seu avô na Mansão dos Prince. Não tomara essa decisão por pena da solidão em que agora vivia o avô, mas porque estava realmente preocupado com o que podia acontecer com sua mãe frente ao que estava acontecendo no mundo bruxo. O Lorde das Trevas e seus Comensais da Morte estavam cada vez mais ativos, sua vitória contra o poder do Ministério era quase certa. Bruxos nascidos trouxas temiam por suas famílias, enquanto bruxos sangues puros sentiam-se cada vez mais livres para expressar sua repulsa pelos trouxas e sangues ruins. Para engrossar seu exército, o Lorde das Trevas aliara-se também aos gigantes e aos lobisomens, e Severo tinha certeza que muito em breve o mundo bruxo mudaria para sempre e ele precisava continuar do lado dos vencedores desta guerra. Entretanto, sua mãe parecia gostar tanto de viver como trouxa, que Severo temia que ela fosse confundida com uma sangue ruim e não estivesse segura morando sozinha na sua velha casa.

Ele tentou por várias vezes durantes as férias entrar no assunto, comentando como seu avô sentia-se solitário com a viuvez, mas sua mãe parecia, ou pelo menos fingia, não se importar com ele. Severo sabia que seria difícil fazer os dois esquecerem as brigas do passado, mas sabia também que sua mãe não podia mais viver daquele jeito. Ela também já estava envelhecendo, e ele notara que a venda de poções para trouxas já não lhe rendia mais o tanto que rendera alguns anos atrás. O próprio bairro onde morava estava em decadência, muitas fábricas da região estavam à beira da falência e demitindo a maioria dos funcionários. Qualquer um que conhecera o distrito industrial de Sheffield anos atrás diria que o bairro estava fadado ao esquecimento. Ele comentou isso com sua mãe, certo dia, já no final das suas férias, quando o cheiro do rio que invadia a casa era quase insuportável.

– Você está as férias inteiras incomodado com isso, Severo – foi a resposta dela. – Qual é o problema? Você agora só aceita viver em castelos?

– Não é isso, mãe – Severo tentou argumentar mais uma vez –, mas eu não acho justo você viver aqui enquanto o seu pai mora numa mansão enorme e confortável.

– Quantas vezes eu tenho que repetir para você que eu não vou morar com seu avô?

Eileen andou os poucos passos que a separavam de seu filho para encará-lo de perto. Há muito Severo deixara de ser aquele menino franzino que corria pelas ruas que circundavam a fábrica. Seu filho já estava maior que ela, ombros largos e cabelo comprido, embora ainda oleoso como o do pai. Seu nariz de gancho e seus olhos pretos profundos a faziam lembrar cada vez mais de Tobias. E foi lembrando do marido que ela continuou:

– Eu e seu pai viemos morar nessa casa há muito tempo, meu filho. Você não imagina quantas lembranças eu tenho aqui. Foi a única coisa que restou do seu pai. – Vendo que Severo continuava calado, ela acrescentou: – Eu sei que a casa do seu avô parece muito melhor, mais confortável, mas... – Ela olhou em volta da sala, sorrindo enquanto continuava: – Eu sinto que seu pai está cuidando de nós aqui, sinto a presença dele. E eu jamais o abandonaria. E sei que ele também não gostaria de vê-lo morando longe daqui.

Severo observava sua mãe sem acreditar no que ouvia. Como ela podia se prender a uma casa que só lhe trouxe desgraças? Ele lembrava-se de como eram suas vidas quando seu pai era vivo, e não era nada que ele gostasse de reviver. Como ela podia venerar tanto um homem que a impediu de continuar sendo uma bruxa, que a tirou de uma vida cheia de riquezas para ter a vida desgraçada que eles tinham? Que só aparecia em casa para brigar com ela, reclamar dos gastos que tinham e do quanto ele tinha que trabalhar? Severo odiava essas memórias, fazia de tudo para esquecer os gritos que ouvia escondido toda noite enquanto seu pai ainda era vivo. Eram essas as lembranças que sua mãe faziam tanta questão que ele não esquecesse?

– Eu não vejo como um imprestável, que nunca ligou para a mulher e o filho, possa ser tão importante para você – Severo respondeu.

Spat!

Severo levou a mão ao rosto, ardendo com o tapa que recebera da mãe. Ele encarou-a nos olhos e disse numa voz tranqüila, mas cheia de ódio:

– Vejo que você já está tão habituada aos trouxas, que age como se fosse um deles. É uma vergonha para qualquer bruxo que se preze. – E subiu para seu quarto, ferido em seu orgulho.

Eileen olhou para o adolescente que subia as escadas e suspirou. Ele era tão parecido com Tobias e ao mesmo tempo tão diferente. Os olhos negros que tanto a faziam lembrar do marido não eram ternos ou meigos, eram frios e não exprimiam nenhuma emoção. Ela ouviu novamente as palavras do filho em sua mente. Já ouvira aquilo antes, quinze anos atrás, do seu pai. Era incrível como Severo ficara tão parecido com a sua família bruxa, tudo o que ela queria evitar.

Sentando-se perto da lareira, Eileen lembrou daquela noite, quando deixara a casa do pai para casar-se com Tobias. Como ele a consolou e prometera que jamais a faria sofrer. Eles eram tão jovens que aquilo parecia realmente possível. No ano seguinte, o nascimento de Severo trouxera-lhes ainda mais esperanças de uma vida feliz e sem preocupações. Eileen pensou em como seu marido orgulhava-se do filho e o que ele sentiria agora, se visse aquela cena?

Entretanto, ela não podia culpar o filho por odiar tanto o pai. Ele mal tivera a chance de conhecê-lo. Hoje ela tivera a certeza que Severo ainda lembrava-se da noite que Tobias ameaçara bater nela. Ele não era capaz de machucar uma mosca, mas naquele dia os dois estavam tão alterados que ele perdeu a paciência e, quando se deu conta do que estava prestes a fazer, caiu de joelhos na frente dela, chorando e pedindo desculpas. Mas Severo presenciou aquela cena com apenas cinco anos de idade. Como uma criança tão pequena assimilaria aquilo? Analisando a rejeição que seu filho tinha pela parte trouxa da família, ela já sabia a resposta.

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A última semana de férias antes de embarcar mais uma vez para Hogwarts foi a mais insuportável para Severo. Depois da briga que tivera com a mãe, os dois não se falaram mais. Viviam na mesma casa como dois estranhos. Enquanto sua mãe passava o dia inteiro no porão preparando suas poções, Severo tentava ficar o máximo possível fora de casa. Visitou o seu avô duas ou três vezes, mas já não tinha mais muita paciência com ele também. Passou uma tarde no Beco Diagonal providenciando o material para começar seu quarto ano em Hogwarts, mas não encontrou nenhum de seus amigos lá. Por fim, o dia de se apresentar à plataforma nove e meia da estação King\'s Cross chegou, e ele seguiu para Londres através da lareira, sem despedir-se da mãe, apenas um breve Estou saindo murmurado entre os dentes.

A plataforma ainda estava tranqüila quando ele chegou, pois tinha saído o mais cedo possível de casa. Embarcou no trem e sentou-se perto da janela, observando sozinho as famílias que chegavam e despediam-se dos filhos e os alunos que se abraçavam quando reviam os amigos. De repente, uma garota ruiva de olhos verdes brilhantes apareceu na plataforma, sozinha. Assim que chegou, foi direto conversar com Carlos Diggory com um sorriso largo no rosto. Severo observou-a conversando com o lufa-lufa, imaginando como nunca tinha prestado a atenção naquela menina antes, e quando outras meninas da Grifinória aproximaram-se dos dois, teve que olhar duas vezes antes de notar que quem estava admirando era na verdade a grifinória sangue ruim, Lílian Evans. Examinando mais atentamente a garota, Severo pensou com um sorriso malicioso no rosto que, se todas as sangues ruins fossem como a Evans, o Lorde das Trevas provavelmente perderia um de seus seguidores mais fiéis.

Em pouco mais de meia hora, a plataforma já estava cheia de jovens bruxos e bruxas com seus animais de estimação correndo para todos os lados, rindo e gritando excitados com o início de mais um ano letivo. Sirius e Régulo atravessaram juntos a barreira mágica que evitava que trouxas enxergassem o Expresso de Hogwarts. Entretanto, Sirius parou subitamente, boquiaberto, assim que viu um grupo de meninas da Sonserina conversando e rindo um pouco a sua frente. Isabelle estava entre elas, e estava tão diferente da garotinha mimada e metida que ele conhecia desde criança. Ela tinha crescido, seu cabelo loiro estava ainda mais brilhante com o sol refletindo em seu rosto, e seu olhar era cativante. E ainda por cima, ela tinha... seios? De repente aquilo tinha se tornado muito importante quando ele analisava uma garota. E Isabelle Malfoy havia se tornado a garota mais interessante que ele conhecera em Hogwarts. Ela só tinha um defeito: era uma sonserina. O que de todo não era ruim, pois ela ficava perfeita nas cores verde e prata da Sonserina, realçando seus olhos acinzentados e sua pele tão clara quanto o seu cabelo.

– Qual é o problema, Sirius? – Régulo perguntou impaciente ao ver que o irmão continuava parado no lugar.

– O que aconteceu com a Isabelle? – ele respondeu. – Ela está linda!

– Humf – Régulo bufou revirando os olhos. – Como se ela fosse dar bola para um grifinório metido como você! – E saiu para encontrar Bartô mais a frente.

Sem perceber, Tiago e Remo chegaram perto dele, assustando-o.

– Fecha a boca, Sirius!

– Já tem uma poça d\'água onde você está!

Quando viu os amigos, Sirius voltou ao seu estado normal e os abraçou, feliz em revê-los depois das férias. Em pouco tempo, Pedro também se juntou a eles, e os quatro embarcaram no trem, impacientes para chegarem logo à escola e iniciarem mais um ano de traquinagens.

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A viagem até Hogwarts foi tranqüila, e o banquete de abertura tão delicioso e animado como em todos os anos. Após a sobremesa, o Prof. Dumbledore levantou-se pedindo silêncio e deu seus avisos costumeiros de início de ano. Pelo quarto ano consecutivo, o Diretor fora obrigado a apresentar um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Desta vez era uma professora, uma jovem professora que parecia ter recém se formado em Hogwarts, e a qual os meninos aprovaram unanimamente.

A Profa. Morgana Livingstone era realmente muito jovem e, a despeito dos boatos que começavam a surgir de que o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts estava amaldiçoado, ela decidira largar seu treinamento de auror para poder ficar mais perto dos pais idosos que viviam em Hogsmeade e estavam muito assustados com as últimas ondas de ataques de Comensais da Morte. Embora estes ataques fossem cada vez mais freqüentes, o Ministério ainda tentava abafar as notícias, alegando que eram problemas isolados e que a existência de Alguém-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado era algo bastante improvável. Como nada era feito para parar os ataques dos Comensais da Morte, a população bruxa sentia-se cada vez mais insegura, e boatos simples como a existência de uma casa mal-assombrada na vila bruxa, a Casa dos Gritos, acabavam ganhando proporções enormes.

Tiago, Sirius e Pedro divertiam-se com as histórias que ouviam a cada visita para Hogsmeade sobre os gritos tenebrosos, que só podiam ser de "almas do outro mundo" que assombravam a vila, principalmente nas noites de lua cheia. Cada vez que Remo ouvia essas histórias, encolhia-se em seu lugar, envergonhado por sua condição. Entretanto, Tiago sempre se esforçava para animá-lo, dizendo que aquilo era só mais um efeito colateral do seu "problema peludo" e que logo ele não passaria mais por aquilo tudo sozinho. De fato, os três colegas estavam muito próximos de se tornarem verdadeiros animagos. Tiago conseguira, certa vez, transformar seus cabelos rebeldes em chifres de alce, rendendo-lhe o apelido, apenas entre os quatro amigos, de Pontas. Sirius também estava fazendo progresso, e toda vez que tentava se transfigurar, pêlos escuros e compridos cresciam em seu corpo. O único que parecia não progredir era Pedro. Os amigos o aconselharam a tentar um animal simples de início, mas ele não aceitara a sugestão, e assim os três ainda não conseguiam acompanhar o amigo lobisomem, ou melhor, Aluado, em suas noites de transformação.

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O semestre passara rapidamente, e logo a primeira neve começou a cair no final de novembro. Dumbledore avaliou que sua pequena turma de prodígios (segundo o que o Chapéu Seletor dissera quatro anos atrás) estava crescendo, ao observar que suas detenções agora envolviam estarem perambulando pelo castelo fora do horário permitido, e geralmente, acompanhados. Sirius Black, por exemplo, já era famoso por suas conquistas e dificilmente era visto desacompanhado pela escola, mesmo que fosse por uma menina diferente a cada semana. Entretanto, muitos já haviam percebido que ele não tirava os olhos de Isabelle Malfoy, que fazia questão de mostrar que o ignorava. Quem parecia incomodado com isso era Severo, que sempre fazia o possível para dedurar as saídas de Black, ou mesmo Potter, para o Filch.

No início de dezembro, a Profa. McGonagall começou a preparar as listas para os interessados em passar o Natal em Hogwarts. Pela primeira vez, Severo assinara a lista. Durante o semestre inteiro ignorara as cartas da mãe e não sentia nenhuma vontade de voltar para casa no Natal.

Dezembro passou, e Severo despediu-se dos amigos que partiam para casa durante os feriados. Ele ficou praticamente sozinho na sala comunal da Sonserina, não fosse por uma menina do segundo ano e o monitor do sexto. Na noite de Natal, todos jantaram no Salão Principal. Sirius Black e Lílian Evans eram os únicos alunos da Grifinória. Da Lufa-Lufa reconheceu apenas Carlos Diggory, enquanto que ninguém da Corvinal parecia estar presente. Depois da ceia, Carlos juntou-se a Sirius e Lílian e os três conversavam animadamente. Severo, que não via nenhum motivo para comemorações, levantou-se e seguiu para seu dormitório.

Na manhã seguinte, foi acordado com a chegada das corujas que traziam seus presentes de Natal. Isabelle, como sempre, não se esquecia dele, e este ano lhe presenteou com um livro sobre "A Arte do Preparo de Poções e Seus Ingredientes". Seu avô mandara-lhe um conjunto de penas e tintas finamente decorado e ao qual Severo não deu muita atenção. Sua mãe também lhe mandara um presente, um álbum de fotografias trouxas de quando ele ainda era bebê, onde seu pai aparecia carregando-o no colo em várias ocasiões. Ele jogou o álbum longe quando viu o que era e ficou um bom tempo emburrado na cama.

Felizmente os feriados de Natal e Ano Novo passaram, e Hogwarts voltara a agitação habitual. Severo jamais pensara que ficaria tão feliz em rever Roberto, Evan e Paulo, mas já não agüentava mais a solidão dos seus últimos quinze dias nas masmorras. Logo, os quatro sonserinos do quarto ano, junto com Régulo e Bartô, voltaram às suas atividades na Gangue da Sonserina e já eram os alunos mais odiados de Hogwarts.

Na semana seguinte foi seu aniversário, e Severo estranhou que não recebera nada de sua mãe. Por mais que eles estivessem brigados, ela sempre lhe mandava cartas toda a semana, que ele nunca respondia. Será que finalmente ela tinha entendido o quanto o ofendera com aquele tapa? De certo modo, ele encarou a falta de notícias da mãe como um presente de aniversário e não pensou mais naquilo.

Além de sua mãe, a única pessoa que lhe mandava presentes no seu aniversário era Isabelle. E aquele ano ela preparara outra seleção de seus doces preferidos da Dedosdemel. Sabendo que Severo não ficava a vontade em festas e comemorações, ela nunca contara para os demais colegas de Casa sobre o aniversário do amigo e mandava seus presentes sempre por sua coruja, nunca pessoalmente. E ele sempre lhe fora grato por isso.

Parecia estranho para Severo, mas quanto mais o tempo passava, mais ele sentia que Isabelle era o mais próximo que ele tinha de uma verdadeira amizade. Régulo e Bartô apenas se aproximaram dele para aprenderem novos feitiços e satisfazerem seus desejos de tornarem-se temidos em Hogwarts. Paulo, Evan e Roberto, embora estivessem sempre com ele, eram um tanto distantes, e ele não sentia neles a mesma cumplicidade que sentia com Isabelle. Mesmo sendo uma garota, era com ela que ele gostava de discutir suas idéias para novos feitiços, que agora enchiam os rodapés do livro de Poções. E ele até sentia-se enciumado quando ela juntava-se as outras sonserinas para falar dos garotos da escola, principalmente quando o assunto principal era Sirius Black.

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Assim que o Expresso de Hogwarts parou na estação King\'s Cross deixando os alunos para curtirem suas férias de verão, Severo desembarcou despedindo-se dos amigos e lamentou ter que voltar para casa. Mas também não tinha coragem de abandonar sua mãe para morar definitivamente com o avô. Embora ainda estivesse ofendido, sentia que deveria voltar para o lugar onde sempre fora a sua casa e tentar, uma vez mais, conversar com sua mãe e convencê-la de que logo ela não estaria mais segura vivendo entre trouxas e que deveria voltar ao mundo bruxo.

Entretanto, saindo da lareira, estranhou ao encontrar a casa vazia. Foi procurar sua mãe no porão, onde deveria estar preparando poções, mas também estava vazio. Severo olhou o conteúdo de alguns caldeirões e pareciam com poções que começaram a ser preparadas há muito tempo, mas não foram terminadas. Sentiu uma pontada no coração quando viu aquilo. Sua mãe jamais largaria um caldeirão daquele jeito, ela tinha extremo cuidado com suas poções. Alguma coisa tinha acontecido. Subiu correndo para a casa e a procurou em todos os lugares, mas além de não ver nenhum sinal de Eileen, começou a perceber que a casa não parecia habitada por algum tempo. Ele parou atônito no meio da sala de estar, sem saber o que fazer, quando ouviu umas batidas na porta.

Foi correndo atender, mas soltou um suspiro de desapontamento quando viu que era a Sra. Brown, sua vizinha.

– Oh, Severo, é você? – ela disse assim que ele abriu a porta. – Graças a Deus! Nós tentamos encontrá-lo de todas as formas, mas ninguém sabia o nome da sua escola, nem como encontrar a família da sua mãe.

Aquilo lhe deu a certeza de que algo muito grave acontecera com sua mãe. Ele abriu a porta totalmente, fazendo a Sra. Brown entrar, e sem coragem para falar, apenas a olhou com uma expressão de dúvida. A senhora já idosa, percebeu que ele ainda não sabia o que havia acontecido e sentou-se numa das poltronas, fazendo-o sentar-se também.

– Foi logo depois do Ano Novo – ela começou. – A fábrica de tecelagem foi à falência e fechou sem avisar ninguém. Quando os funcionários voltaram ao trabalho e descobriram que estavam desempregados, foi a maior confusão. Foi noticiado em todos os jornais, nós estranhamos que você não ficou sabendo...

– Mas o que isso tem haver comigo? – Severo perguntou, interrompendo-a.

– Então você realmente não sabe?

Severo apenas levantou uma sobrancelha, com medo de ouvir o resto da história.

– Sua mãe – a Sra. Brown recomeçou, inclinando-se na poltrona e pegando uma mão de Severo –, ela... bem... foi um verdadeiro tumulto e... ninguém sabe ao certo o que aconteceu, mas de alguma forma ela...

Severo já tinha entendido e decidiu acabar com o sofrimento da mulher a sua frente. Ele não gostava da Sra. Brown, sabia que ela era uma das muitas que chamavam sua mãe de bruxa e não queria ouvir seu consolo. Aliás, não queria que ela ficasse mais tempo ali, presenciando o sofrimento dele. Segurou suas emoções o quanto podia e a interrompeu:

– A senhora está tentando me dizer que minha mãe está morta?

A senhora arregalou os olhos, assustada com a frieza do jovem a sua frente. Não conseguiu fornecer-lhe uma resposta, apenas abaixou a cabeça em consentimento.

– Isso explica muita coisa – ele continuou. – Se a senhora não se importa, eu gostaria de ficar sozinho agora – acrescentou, levantando-se e indicando-lhe a porta.

– Claro, claro – ela respondeu ainda transtornada com a frieza de Severo. – Se precisar de alguma coisa, você pode me chamar. – E seguiu em direção a porta.

Assim que fechou a porta, Severo largou-se no chão, deixando que todas as emoções que estava segurando finalmente tomassem conta dele. Ele chorou, gritou, atirou coisas na parede, que depois eram reparadas por sua varinha apenas para serem atiradas novamente. Ele não podia sentir-se mais culpado pela morte da mãe. Independente do que tivesse realmente acontecido, se eles não tivessem brigado nas férias, se ele tivesse voltado para casa no Natal, se ele não tivesse ficado contente com a falta de notícias da mãe... Ele não conseguia segurar esse peso sozinho, seu coração doía como se estivesse sendo esmagado a cada vez que pensava como as coisas podiam ser diferentes. De repente lembrou-se do que sua mãe lhe falara alguns anos atrás, no dia que sua avó falecera: "Não há nada que você faça que eu não possa perdoá-lo". Aquilo fez com que ele se sentisse ainda mais miserável, e caiu em outra crise de desespero.

Severo não sabia dizer por quanto tempo ficara sentado no chão, as costas apoiadas na porta, chorando pela morte da mãe. Aos poucos, percebeu que logo teria que dar a notícia ao seu avô e também teria que voltar a falar com a Sra. Brown novamente para obter maiores detalhes de tudo. Mas não queria que seu avô o visse naquele estado, e muito menos a Sra. Brown, a fofoqueira principal da rua. Ele sentia que não conseguiria passar por aquilo tudo sozinho, e seu inconsciente lhe dizia que a única pessoa com quem ele queria estar agora era Isabelle. Ela era sua única amiga e a única pessoa que parecia realmente compreendê-lo, era a pessoa ideal para ajudá-lo agora.

Ele escreveu um bilhete rapidamente e entregou para Slyth, ordenando-lhe que fosse o mais rápido possível. Em menos de meia hora ouviu um estalido nas chamas da lareira, que em seguida ficaram esverdeadas, e o rosto de Isabelle apareceu entre as brasas.

– Severo? Você está sozinho?

Ele foi correndo até a lareira responder o chamado da amiga:

– Isabelle? Você recebeu meu bilhete?

Ela acenou com a cabeça:

– Eu sinto muito – acrescentou. – Você quer que eu vá até sua casa? Você não pode ficar sozinho... Você já avisou seu avô?

Mas Severo não conseguia falar mais nada, estava tentando segurar mais uma enxurrada de lágrimas que começavam a se formar novamente em seus olhos. Isabelle entendeu que não poderia deixar o amigo sozinho numa situação dessas, e em pouco tempo deu instruções para Dobby, o elfo doméstico dos Malfoy, caso seu pai ou seu irmão a procurassem, e seguiu para a casa de Severo através da rede Flu.

Assim que entrou na sala, Isabelle abraçou Severo, e os dois amigos ficaram abraçados por muito tempo, até que ele finalmente sentiu-se capaz de contar-lhe tudo o que acontecera desde que chegara em casa naquele dia. Quando terminou seu relato, Isabelle falou:

– Eu realmente sinto muito, Severo. Mas já está muito tarde agora, você precisa descansar. Amanhã nós teremos que falar com essa sua vizinha trouxa e depois com o seu avô. E você ainda vai ter que providenciar tudo para mudar-se para a casa dele.

– Você não vai embora, vai?

Isabelle arregalou os olhos e corou com a pergunta. Ela estava tentando ser forte e segurando suas emoções para não chorar na frente do amigo. Agora, aquele pedido, pegou-a totalmente desprevenida. Como ela explicaria para sua família que passara a noite na casa de um garoto? Mas Severo não era um garoto qualquer, era seu amigo e estava precisando da ajuda dela. E Dobby saberia o que dizer se alguém sentisse a sua falta.

– Se você quiser que eu fique – ela respondeu mordendo os lábios.

– Por favor – ele respondeu então, levantando as sobrancelhas e com um olhar tão perdido, que ela seria incapaz de negar-lhe alguma coisa. Definitivamente, aquele não era o Severo Snape forte e decidido que ela conhecia, mas a prova de que seu amigo também podia demonstrar suas emoções, mesmo que apenas para algumas pessoas. E ela sentiu-se lisonjeada em ser uma delas.

 

Quando o silêncio ficou pesado demais para os dois suportarem, Isabelle sugeriu:

– É melhor você descansar agora. Amanhã vai ser um longo dia.

– Eu não vou conseguir dormir – ele protestou.

Mas Isabelle tirou um frasco do bolso interno das suas vestes e entregou a ele.

– Você fez isso? – ele perguntou desconfiado.

– Claro que não – ela riu, ficou feliz ao ver que ele ainda conseguia fazer brincadeiras com o desempenho dela em Poções. – Eu imaginei que você fosse precisar de uma Poção calmante e peguei uma dos estoques da minha mãe. Você pode ter certeza que foi preparada pelos melhores Mestres de Poções da Inglaterra.

Ele pegou o frasco e tomou toda a poção, ainda olhando desconfiado para ela. Mas ao invés de irritá-la, ela apenas o olhou com um sorriso triste no rosto. Em pouco tempo, Severo já estava adormecido no sofá, a cabeça apoiada no colo de Isabelle, que passava a mão em seus cabelos vagarosamente.

Enquanto observava o peito de Severo, que subia e descia a cada respiração, Isabelle tentava calcular o quanto estaria encrencada se seu pai descobrisse onde ela estava agora. Além de estar sozinha com um garoto, ele era um mestiço, e ainda pior, um mestiço que morava no meio de trouxas num bairro pobre de uma cidade qualquer da Inglaterra. Se lhe contassem, alguns anos atrás, que ela sairia do conforto da sua própria casa para ajudar um mestiço chamado Severo Snape sem pensar nas conseqüências, ela diria que estavam ficando loucos. Mas hoje essa parecia ser a coisa mais sensata a fazer. Severo precisava de ajuda e sabia que não podia contar com o avô. Afinal, mesmo depois que começou a freqüentar a casa dos Prince, a relação entre os dois jamais se estreitara, e eles não passavam de simples conhecidos. Os outros garotos da Sonserina eram um bando de brutamontes insensíveis e sem cérebro e também não o ajudariam em nada.

Mudando a direção dos seus pensamentos, ela apreciou novamente a sensação de estar na casa de um garoto, sozinha e à noite. Passou a mão levemente pelo rosto dele, admirando-o através da luz fraca que vinha da lareira. Certamente ele não era tão bonito quanto Sirius, Potter, ou mesmo Diggory, os meninos mais admirados na escola. Mesmo assim, tinha alguma coisa nele que chamara sua atenção desde que o conhecera. Ele era diferente dos outros garotos em Hogwarts. Era introspectivo, falava pouco, o que lhe garantia um ar misterioso, que a cativava ainda mais quando vinha acompanhado daquele sorriso desdenhoso insuportável, toda a vez que ele a provocava. Ela não conseguia imaginar a amizade que tinha com Severo com mais nenhum outro colega da Sonserina, e também não conseguia mais imaginar-se em Hogwarts sem seu melhor amigo. Sim, ela podia considerar o Mestiço como seu melhor amigo. Afinal, ela sentia que tinha mais coisas em comum com ele que com suas colegas de quarto. Mas agora que estava com ele deitado em seu colo, carente e precisando da sua ajuda, ela perguntava-se se não havia algo mais que apenas amizade na relação deles. Será que ele sentia a mesma coisa por ela? E se os dois começassem a namorar e não desse certo, eles não seriam mais amigos? Ela fechou os olhos e, inclinando a cabeça para mais perto do rosto dele, começou a imaginar-se beijando Severo e em como seria a sensação de encostar seus lábios nos dele. Mas não teve coragem de experimentar, não com ele desacordado depois de receber uma notícia tão triste. Talvez fosse mesmo melhor que os dois continuassem apenas amigos; ela não queria correr o risco de perdê-lo para sempre. Deitou seu corpo desajeitadamente sobre o torso de Severo e experimentou a sensação de estar tão próxima do amigo, apreciando cada centímetro em que suas peles se encostavam, e logo adormeceu. Um sono agitado, perturbado pelos diferentes sons que vinham da rua e que não estava habituada, pela posição incômoda do seu corpo e pela euforia de estar experimentando algo ainda proibido.

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Quando Severo abriu os olhos na manhã seguinte teve a sensação de que ainda estava sonhando. Estava com o corpo todo dolorido devido ao mau jeito no sofá, mas nada que estragasse a visão de ter Isabelle Malfoy dormindo sobre ele. Entretanto, logo em seguida se lembrou porque Isabelle estava ali, e entristeceu novamente. Com um sorriso triste, ele passou a mão pelos cabelos compridos da amiga e a acordou tranquilamente.

– Bom dia, dorminhoca – ele disse assim que ela abriu os olhos.

Isabelle sorriu de volta para ele e sentou-se no sofá. Severo levantou-se e continuou:

– Obrigado por ter ficado comigo, mas acho que isso pode lhe trazer problemas. Eu vou entender se você quiser ir embora.

– De jeito nenhum! – ela respondeu. – Eu não vou deixar você passar por tudo isso sozinho. Não se preocupe comigo, não é a primeira vez que Dobby tem que me arranjar um álibi.

Severo agradeceu com um sorriso. Realmente não queria ter que lidar com tudo sozinho, mas não podia obrigá-la a passar mais tempo com ele se isso lhe trouxesse problemas. Felizmente, Isabelle estava se mostrando ser uma verdadeira amiga, e ele já não conseguia mais imaginar-se sem ela.

– Eu acho melhor subir e tomar um banho antes de procurar a Sra. Brown – ele disse depois de alguns instantes. – Não quero dar a ela mais motivos para ficar falando da gente. Você me espera?

– Claro – Isabelle respondeu, e Severo subiu as escadas em direção ao seu quarto.

Quando desceu novamente, não encontrou Isabelle na sala. Procurou em toda a casa, mas ela parecia não estar mais lá. Um sentimento de solidão começou a crescer em seu peito quando entendeu que estava realmente só a partir de agora. Não tinha mais sua mãe para lhe confortar quando alguma coisa o assustasse, nem para lhe aconselhar nas suas dúvidas mais cruéis. Ele passara um ano inteiro sem falar com ela e, só agora que sabia que estava inatingível, sentia como ela faria falta. Não podia contar com seu avô. Ele era apenas um velho bruxo, vivendo do passado orgulhoso da família e sem enxergar que mais ninguém no mundo bruxo o respeitava. O poderoso Edward Prince havia se transformado em apenas mais um dos seguidores do Lorde das Trevas, lutando cegamente pela volta da supremacia dos bruxos sangues puros e alheio aos verdadeiros motivos do seu mestre. Ele não lhe negaria abrigo em sua enorme mansão, mas não era capaz de assumir o papel de um pai, como Severo precisava. Há muito tempo que o avô não era mais idolatrado pelo neto, o Lorde das Trevas havia tirado-lhe deste posto.

Olhou novamente em volta, procurando por Isabelle. Ela o ajudara bastante ficando com ele naquela noite, mas era apenas uma garota da idade dele, como duas crianças podiam passar por aquilo sozinhas? Não podia depender dela. Provavelmente ela não estava mais lá porque precisou voltar para casa e não conseguiu avisá-lo. Afinal, eles não estavam em Hogwarts. Não passariam o dia inteiro juntos, em aula ou na biblioteca. Ela tinha que dar uma satisfação para a família dela também, e ele não queria lhe causar problemas.

Mas suas suposições sobre o que havia acontecido com a amiga cessaram assim que viu a porta da casa se abrir. Isabelle entrou carregando uma cesta cheia de pães e bolachas que pareciam recém-preparados.

– Eu conheci a Sra. Brown – ela disse assim que fechou a porta. – E ela nos providenciou o café da manhã.

– Você foi até a casa dela vestida desse jeito? – Severo perguntou, referindo-se as suas vestes de bruxa.

Isabelle mordeu os lábios e olhou para as suas roupas:

– Hummmm. Acho que não estou muito acostumada a lidar com trouxas... Será que foi por isso que ela perguntou tantas vezes sobre o meu uniforme da escola?

Severo riu e caminhou até a amiga para ajudá-la com a cesta que carregava. Agradeceu novamente por ter alguém que conseguisse fazê-lo rir depois dos últimos acontecimentos.

– Obrigado por me livrar de ter que encontrar com ela novamente.

– Não foi nada – Isabelle respondeu. – E ela é uma senhora muito simpática para uma trouxa, me contou um monte de coisas sobre você. E nos providenciou o café da manhã!

Severo olhou desconfiado para a amiga, mas ela não disse mais nada. O que a Sra. Brown podia falar dele? Como sua vizinha era realmente intrometida!

Os dois comeram um pedaço de pão que a Sra. Brown mandara, não sem antes Severo certificar-se que não estava envenenado, e beberam chá, conjurado por Isabelle. Severo não disse nada, mas pensou que se alguma coisa estivesse envenenada, era mais provável que fosse o chá preparado pela amiga, pois ele parecia a pior mistura que alguém já poderia ter experimentado.

Quando terminaram, Isabelle perguntou com uma voz baixa e tranqüila:

– Severo, a Sra. Brown me explicou onde sua mãe está enterrada. Você vai querer ir até lá?

Ele apenas assentiu com a cabeça, lembrando-se do dia em que sua avó falecera e ele teve que convencer sua mãe que ela precisava ir até a casa dos pais. Naquele mesmo dia sua mãe lhe dissera que o perdoaria por qualquer coisa. Pensando nisso, mais uma lágrima escorrera dos seus olhos, e Isabelle, vendo a tristeza do amigo, levantou-se e foi até a porta, chamando-o:

– Venha, eu sei onde é – disse, estendendo um braço.

Os amigos saíram de mãos dadas e caminharam até o cemitério do bairro, não muito longe dali. Conforme a Sra. Brown havia explicado para Isabelle, Eileen fora enterrada junto com o marido no túmulo da Família Snape. Severo ficou algum tempo calado, olhando perdido para a lápide com o nome da sua mãe. Foi então que percebeu que aquilo não era um sonho. Que nunca mais falaria com sua mãe novamente, que a última coisa que ela ouvira dele era que ele a desprezava, que a igualara a uma trouxa. E agora era tarde demais para pedir-lhe perdão.

– Como... como foi que... – ele não conseguiu terminar a pergunta.

– A Sra. Brown me disse que houve uma espécie de tumulto perto dos portões da fábrica – Isabelle respondeu tentando segurar as lágrimas. Aproximou-se pelas costas do amigo e, colocando as mãos sobre os ombros dele, continuou: – Parece que sua mãe estava por perto e acabou sendo pisoteada. Eles a levaram para um hospital, mas... O que um hospital trouxa poderia ter feito?

– Se eu tivesse voltado para casa no Natal...

– Não diga isso! – Isabelle o interrompeu. – Você não sabe o que teria acontecido. Não foi sua culpa...

– Você não sabe do que está falando – Severo retrucou secamente. Desvencilhando-se dos braços de Isabelle, saiu a passos largos em direção a sua casa.

– Severo! – ela o chamou, mas ele nem sequer olhou para trás.

Isabelle teve que sair correndo para alcançá-lo e só conseguiu quando já estavam quase chegando em casa.

– Severo – ela o chamou, segurando-o pelo braço –, aonde você vai?

– Temos que dar a notícia ao meu avô, não é? Já está na hora de pararmos com essa brincadeira de casinha.

Isabelle recuou com o comentário ríspido do amigo. Se a presença dela era tão incômoda, ela podia ir embora. E estava prestes a dizer isso quando Severo virou-se e viu que ela continuava parada:

– Você não vem? Achei que você iria comigo até a casa do meu avô.

Isabelle deu um suspiro. Como ele conseguia ser tão grosso com alguém que só estava tentando ajudá-lo? Se ele não estivesse passando por uma situação tão delicada, ouviria algumas poucas e boas.

********

Para ajudar Severo, Isabelle já tinha mandado uma coruja para o Sr. Prince explicando a situação, e os dois já eram esperados na Mansão dos Prince. Depois de tudo acertado, Giggles ficou incumbido de buscar os pertences de Severo na sua antiga casa e preparar-lhe seu novo quarto na mansão. Se o Sr. Prince se comoveu com a notícia da morte da filha, suas emoções estavam totalmente controladas, e o único comentário que ele fizera a respeito era que agora o seu neto poderia ser realmente educado como um bruxo deveria ser.

– Vejo que já está quase na hora do almoço – ele disse, dirigindo-se a Isabelle. – Devo pedir para Giggles acrescentar mais um lugar à nossa mesa, Srta. Malfoy?

– Eu adoraria, Sr. Prince – ela respondeu, vendo que o sorriso de Severo desaparecera do rosto com sua negativa. – Mas meus pais não sabem que estou aqui, e acho que isso deveria continuar assim. O senhor entende, não é?

– É claro, minha querida. – O Sr. Prince estava ciente que o Sr. Malfoy não gostaria de ver a filha com amigos mestiços, ele também já fora assim com a sua própria filha. Mas por outro lado, faria de tudo para que a amizade entre seu neto e a herdeira dos Malfoy ainda lhe rendesse muitos frutos. – Entretanto, espero que você saiba que será sempre bem-vinda em nossa casa.

– Obrigada, Sr. Prince – Isabelle respondeu enquanto jogava o pó de Flu na lareira e voltava para casa.

********

O resto do dia foi extremamente cansativo para Severo. Mesmo com a ajuda de Giggles, foi dolorido voltar a sua casa na Rua da Fiação e tirar suas coisas de lá. A sensação de perda e desamparo foi tão grande que, ao final do dia, ele retirou-se para seu novo quarto e não quis falar com mais ninguém. Não que seu avô tivesse ficado preocupado com ele, logo depois do jantar ele aparecera vestindo uma capa preta e pesada, igual a que Severo já vira em outros Comensais da Morte, e saíra rapidamente, sem maiores explicações. Assim que seu avô desaparatou, as chamas da lareira tornaram-se esverdeadas, e no instante seguinte Isabelle apareceu rodopiando dentro dela.

– Eu imaginei que você ficaria sozinho esta noite – foi sua única explicação enquanto dava o primeiro passo fora da lareira. – Vamos – ela continuou, pegando-o pelo braço –, você não vai me mostrar sua casa nova?

Severo a acompanhou, desanimado, enquanto Isabelle percorria todos os cômodos da casa, fazendo comentários admirados, elogiando a decoração e a riqueza da mansão. Quando chegaram no seu novo quarto, ela pulou na cama dele e concluiu sua inspeção:

– Esta casa é maravilhosa, Severo! Aposto que você adorou seu novo quarto!

Severo a olhou com desdém e respondeu:

– Eu aposto que você mora numa casa semelhante a esta e tem um quarto até melhor que este. Entretanto, é você quem está admirada, enquanto eu já não vejo mais a menor graça nisso tudo.

Isabelle levantou e caminhou vagarosamente até o amigo. Quando encontrou os olhos dele, respondeu:

– Desculpe. Eu estava tentando animá-lo, mas é claro que você ainda não se recuperou do que aconteceu.

Severo não disse nada. Sua expressão era indecifrável. Isabelle olhava para seus olhos pretos e era como se estivesse admirando um túnel escuro e sem fim, sem emoções.

– Venha – ela disse então, puxando-o pelo braço –, eu trouxe uma coisa que se não te animar, pelo menos vai fazer você esquecer mais rápido. – Dizendo isso, ela tirou uma garrafa de Velho Uísque de Fogo Ogden de um bolso interior das suas vestes e ficou balançando no ar, na frente do amigo. – É do estoque do meu pai. Foi magicamente encantada pelo próprio Ogden para a garrafa jamais esvaziar.

Severo arregalou os olhos e abriu um sorriso, finalmente mostrando um pouco de alegria:

– Com certeza, deve ser muito melhor que cerveja amanteigada.

Os dois sentaram-se no chão, apoiando as costas na beira da cama e de frente para a lareira, a única fonte de iluminação do quarto. Em pouco tempo, o conteúdo da garrafa já estava pela metade, mas então ela encheu-se novamente. Sem se preocuparem com o que poderia acontecer se fossem pegos sozinhos ali, bêbados e com uma garrafa interminável de Velho Uísque de Fogo Ogden, os dois amigos passaram horas discutindo quadribol, depois seus futuros NOMs, depois começaram a imitar o Prof. Flitwick e o Prof. Slughorn e até se perguntaram se a Profa. McGonagall e o Diretor tinham um caso. Depois de muitas risadas e piadas infames, o assunto da conversa logo caiu para as principais fofocas entre os alunos.

– Você já percebeu como o Davies olha para a Smethley? É a maior moleza jogar contra a Corvinal...

Severo riu.

– E ele ainda nem percebeu que ela só presta atenção no Sirius, coitadinha.

– E qual o problema? – Severo perguntou, querendo irritar a amiga. – Você também esquece do resto do mundo quando o Sirius está por perto.

– Eu não... – ela começou, mas Severo não a deixou responder.

– E todo mundo sabe que se você acenar, ele vem correndo.

– Quem te disse isso? Eu não gosto do Sirius, entendeu? – ela se defendeu. – Ele é um nojento metido, e ainda por cima da Grifinória!

Severo olhou para ela com uma sobrancelha levantada e um sorriso malicioso no rosto. Ele sabia como deixar Isabelle Malfoy irritada.

– Sem contar que ele já saiu com metade da escola! – ela continuou. – E eu nunca...

Ela recostou-se na beirada cama, tomando mais um gole de uísque. Severo olhou curioso para ela, mas ela ficou encarando as chamas da lareira por um tempo. Finalmente, tomou coragem e perguntou:

– Você já beijou alguma menina?

Severo recuou com a pergunta. Não sabia o que responder. A resposta era óbvia, mas ele não podia confessar aquilo para Isabelle. Afinal, ao contrário dele, isso já devia mais ser um problema para ela.

– Sim – ele mentiu, as bochechas ficando rosadas.

– Quem? – ela perguntou virando-se para ele, curiosa. – Evans?

– Claro que não – ele respondeu, estava perdendo o fôlego com a proximidade de Isabelle. Sua cabeça parecia que dava voltas com o efeito do álcool.

– Então quem? Eu nunca vi você com outra menina.

– Ninguém, certo? – ele retrucou rispidamente. – Eu nunca beijei ninguém. Tá feliz agora?

– Desculpa – Isabelle recuou e continuou com a cabeça baixa, escondendo o rosto corado –, é que eu também não...

Severo mal conseguiu ouvir a confissão da amiga, e mal acreditou no que ouvira também. Isabelle era uma das meninas mais bonitas da sua turma, e vários meninos eram apaixonados por ela, inclusive o Black. Não era como ele, que era praticamente ignorado por todos. Além disso, ela não era uma menina tímida, jamais seria do tipo que ficaria envergonhada ao se aproximar de um menino, apesar de nunca ter visto Isabelle com ninguém, era difícil imaginar que ela também nunca tivera um namorado.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, até que Isabelle virou-se para Severo e perguntou:

– Você quer experimentar?

– O quê? – Severo olhou para ela desconfiado.

Mas Isabelle não estava mais ouvindo. Severo estava com seus reflexos lentos por causa do álcool, e quando percebeu, seus lábios já tocavam os dela. Foi uma sensação estranha, ele fechou os olhos e sentiu uma pontada no estômago, e depois... depois nada. Abriu os olhos para encarar os olhos prateados de Isabelle. Ela se afastara dele, mas ainda o encarava com as sobrancelhas levantadas, esperando por uma resposta. Eles estavam tão perto um do outro que ele podia sentir o perfume dela. E aquele cheiro, misturado com a sensação de torpor do uísque, o intoxicava. Ele não conseguia pensar em mais nada, a não ser que queria encostar naqueles lábios novamente. Passou um dos braços pelas costas dela e a puxou para perto dele, beijando-a novamente. Ela não resistiu, e ele continuou seguindo seus instintos. Apenas encostar os lábios nos dela já não era suficiente, e ele abriu mais a boca e forçou a língua entre os lábios dela. No começo pareceu meio nojento, mas quando sentiu a língua de Isabelle passeando em sua boca, foi como se uma onda de calor atingisse seu corpo. Ele queria mais, e a apertou ainda mais contra o corpo dele. Não conseguia explicar as sensações que sentia, mas não queria que aquilo acabasse, queria explorar ainda mais aquela nova forma de prazer. Beijando-a ainda mais forte, ele foi aos poucos, deitando-a no chão, e além dos lábios, agora ele também beijava o pescoço, enquanto suas mãos passeavam pelo corpo dela. Quando chegou na altura dos seios, começou a acariciá-los e tentou abrir as vestes dela para senti-los melhor. Mas enquanto seu corpo suplicava para continuar com aquilo, ele sentiu que alguma coisa tentava afastá-lo dela. Ele estava tão vidrado que não conseguia parar para pensar no que estava fazendo e, embora alguma coisa o afastasse dela, ele continuava forçando seu corpo contra ela, até que fora jogado para trás, ouvindo a voz de Isabelle:

– Severo pára! Você estragou tudo!

Quando recuperou os sentidos, Isabelle já estava em pé, próxima a lareira, apanhando um punhado de pó de Flu. Ele queria correr até ela, pedir-lhe desculpas, mas já era tarde. No instante seguinte ela balbuciou no meio de lágrimas as palavras “Mansão Malfoy” e desapareceu pela lareira, deixando Severo encarando apenas as fracas chamas que ainda iluminavam o quarto.


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