Fábulas de Sangue escrita por Van Vet


Capítulo 2
Branca de Neve


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal.
Quem está lendo me dá um oi nos comentários e diga se está curtindo :D

Só digo uma coisa, pretendo fazer essa história crescer muito, então acompanhem. Beijos!



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O xerife entrou no gabinete exibindo sua típica carranca. O cigarro pendia da boca entreaberta e a camiseta era tão amarrotada como de costume. Seu cenho peludo e franzido continuava como Branca se lembrava da última vez que o vira ontem. Como se lembrava sempre. Aquele jeitão bruto, pronto para briga, de Bigby Wolf ainda seria sua perdição... Um dia, hoje não.

— Aí vem o nosso bom xerife! — exclamou o prefeito em sua cadeira, o cínico Príncipe Encantado.

Desde que o prefeito Rei Cole tinha sido deposto, Príncipe Encantado era oficialmente o representante da comunidade das fábulas. O seu ex-marido usava aquele seu "charmezinho" barato para convencer os cidadãos de que valia qualquer coisa sentado na poltrona da prefeitura. Na verdade Branca de Neve, como vice-prefeita, tinha de fazer seus malabarismos para manter a ordem e não afundá-los em dívidas. Suportar Príncipe Encantado vinha sendo seu maior desafio e saiba que Bigby o detestava do mesmo modo.

— Estou ocupado, Vossa Excelência. — debochou Bigby aproximando-se da mesa.

Além do prefeito e de Branca, próximo a grande escrivaninha de madeira do gabinete, estavam também Bela, O Lenhador e o macaco voador, Bufkin.

— Quando sua presença é requisitada pelo representante dessa comunidade você não está mais ocupado. — retrucou o Príncipe acidamente.

— Vim porque Garoto Azul disse que Branca precisava de mim. — rebateu o Lobo encarando-a brevemente. Branca assentiu com a cabeça perante aquele olhar.

— Que seja. — o prefeito deu de ombros — Gostaríamos de saber por que o imposto não foi coletado na Avenue Four este mês.

O xerife franziu o cenho.

— Que imposto?

— O imposto sobre as magias protetoras, da qual todas as fábulas viventes na cidade de Nova York têm de se submeter. Magia custa caro, não sei se sabe disso.

— E desde quando o imposto é da minha conta? — rugiu.

Bela adiantou-se na conversa, limpando a garganta polidamente para introduzir-se ao assunto. Estava lindíssima num terninho cor de rosa e os cabelos louros soltos. Quando falou sua voz saía cheia de docilidade.

— Sr. Bigby, eu sou a tesoureira da prefeitura, como todos sabem. Meus cálculos são impecáveis e enquanto realizava-os hoje descobri um pequeno desfalque. Vim mais cedo apresentar a somatória mensal para prefeitura. Conversando acerca disso com Branca, chegamos à conclusão de que a não coleta vinha da Avenue Four, que, por sua vez, é representada pelo Lenhador.

Bigby olhou confuso de Bela para Branca, mas foi o Lenhador quem reclamou:

— Eu disse que não havia como pagar antes da semana que vem. Eu disse!

— Não chegou nenhum ofício para mim, de qualquer forma não autorizaria atrasados. — reclamou o Príncipe Encantado.

— Esperem um pouco! O que tenho a ver com isso? — o xerife ergueu a voz.

Branca resolveu falar.

— Quem faz a coleta normalmente do imposto é Lorde Fera, Bigby, mas desde que ele tomou mais uma tarefa da prefeitura em seu cronograma, ela foi passada a você.

Ele continuava confuso.

— O ofício avisando de seu novo cargo foi enviado há três semanas para seu escritório.

— Não recebi nada. — disse o Lobo com brusquidão.

— Ele não recebeu nada. — gozou o prefeito levantando os braços. — Quem é seu mensageiro, Bigby?

— Papa-Moscas. — deu uma longa tragada no seu cigarro.

Todos olharam para o desajeitado rapaz Papa-moscas, parado perto da porta. Com a vassoura na mão voltou a fitá-los, aparvalhado, e se esquivou da culpa.

— Envio todas as correspondências que chegam ao xerife diretamente na sua mesa...

— ...que por sua vez são lidas por esse xerife. — completou o Lobo.

— Alguém está fazendo corpo mole no trabalho, não há outra explicação.

Desde que Príncipe Encanto assumira ele vinha se esforçando constantemente para criar qualquer atrito público com Bigby que desacreditasse sua imagem no cargo da lei. Ter Bela e o Lenhador presentes ali enquanto tentava passar uma descompostura no outro era mais uma de suas táticas sujas. O fato era que a Cidade das Fábulas precisava daquele velho lobo, ainda que o temendo, e não estavam dispostos a deixá-lo sair do cargo sem um argumento válido.

— Está insinuando o que, prefeito? — o xerife ergueu uma das suas grossas sobrancelhas, ameaçador. O cigarro ainda pendurado na boca.

Branca pensou rápido. Bigby descontrolado para cima do Príncipe Encantado seria um desastre.

— Vamos pensar. — disse energicamente — Eu mesma digitei o documento de solicitação a nova tarefa.

— E enviou para Papa-moscas, já sabemos dessa parte. — disse o prefeito, entediado pela explicação.

— Não, antes disso coloquei em cima da sua mesa, Príncipe Encantado, para ser assinado e carimbado. Todo ofício não vale nada se não passar pela rubrica e selo do nosso caro prefeito. — informou com satisfação.

Bigby relançou outro olhar a ela, uma aprovação muda.

— Bem... eu... — então o Príncipe se embananou.

— Esqueceu? — riu o Lobo.

— Não! Bufkin, você empilha tudo aqui na minha mesa para eu assinar no fim do dia, não é? — recorreu ao macaco.

— Eu fazia isso, mas você disse para parar de encher sua escrivaninha de papel durante a tarde, porque tinha mais o que fazer. Praticar esgrima, me disse.

— Tá. TÁ!

— E então? Depois de descobrirmos de quem foi à incompetência, estou dispensado?

O Príncipe levantou, derrotado e com o ego ferido.

— Claro que não. Cobre o Lenhador, faça seu serviço!

O Lobo virou-se para o gigante homem de camisa quadriculada e disse num tom friamente calmo.

— Tem até amanhã para arrumar a grana e vir trazer no meu escritório, Lenhador. Se não o fizer pode ser que apareça na sua casa, ou pode ser que nosso eficiente Príncipe o faça, valente, de espada na mão.

E saiu do gabinete, arrastando uma fumaça de cigarro a suas costas. Branca quase sorriu vendo a cara de nocauteado do prefeito.


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