Contando Estrelas 3 escrita por Letícia Matias


Capítulo 17
Capítulo 17




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Acordei ouvindo vozes. Na verdade, a voz de Johnny. Ele estava ao telefone.

– Não sei como vou dizer isso pra ela, meu Deus... Sim, eu sei. Não, ela ainda está dormindo. Pegaremos o voo mais próximo que tiver. Tudo bem, pai. Até mais.

Sentei-me e ele olhou para mim. Ele estava vestindo uma bermuda jeans e estava com uma camisa polo branca.

Colocou o Iphone em seu bolso e veio até meu lado.

– Bom dia.

– Bom dia. – respondi. – Está tudo bem¿

Ele suspirou e olhou para seus pés.

Franzi o cenho.

– O que foi Johnny¿

Ele respirou fundo e depois olhou pra mim, me analisando. Suspirou mais uma vez e olhou bem no fundo dos meus olhos e disse cuidadosamente cada palavra:

– Seu pai está morto.

Engoli em seco e senti meu coração disparar. Minha vista ficou embaçada de repente.

– O que¿ - sussurrei.

Ele respirou fundo e fechou os olhos. Continuei a olhar para ele, a ardência tomando conta dos meus olhos. Ele olhou para mim novamente e eu comecei a piscar para afugentar as lágrimas que estavam querendo sair.

– Eu sinto muito. – ele disse e segurou minha mão.

– Como¿ - sussurrei.

Ele pigarreou.

– Parece que ele se envolveu em uma briga no pátio do presídio e... – ele parou de falar quando as lágrimas escorreram dos meus olhos e eu comecei a soluçar colocando a mão na boca.

– Ah meu Deus. – sussurrei entre os soluços.

Ele me puxou para perto de si e eu enterrei minha cara em seu pescoço, soluçando.

Por que essas coisas horríveis estavam acontecendo na minha família¿ Eu não entendia.

– E a minha mãe¿ - eu perguntei.

– Ela e meus pais estão em LA, o funeral vai ser hoje à tarde.

Desabei em lágrimas novamente cobrindo minha face com as mãos.

Imagens de quando eu era pequena no colo do meu pai, assistindo ao rodeio com um chapéu enorme na cabeça de cowboy, me veio à cabeça.

– Eu sinto muito, Mary. – Johnny sussurrou me abraçando.

***

Tivemos que abandonar o México e pegar o voo mais próximo possível para Los Angeles. Chegando ao Aeroporto, o pai de Johnny foi nos buscar com o carro de Johnny. Alaric me deu um abraço apertado ao ver minhas pálpebras inchadas.

Eram quatro e meia da tarde, o Sol brilhava no céu de Los Angeles. Eu estava com um scarpin preto e um vestido preto. Johnny tinha vestido um terno preto simples e uma camisa social branca assim como Alaric.

Permaneci calada do aeroporto até o cemitério. Johnny e Alaric estavam nos bancos da frente do carro, e eu sozinha no banco de trás, olhando pela janela, me perguntando o porquê de tanta desgraça e me arrependendo das palavras duras que eu havia dito para meu pai da ultima vez que eu o vira.

***

Chegando ao cemitério de mãos dadas com Johnny, avistei uma multidão de pessoas juntas ao redor de um padre e um rapaz com camiseta surrada que cavava constantemente.

Cheguei mais perto e vi Michael com os braços ao redor dos ombros da minha mãe. Eles olharam para cima quando me viram e minha mãe que já estava chorando, veio até mim e começou a chorar com mais intensidade.

A abracei e fechei os olhos tentando conter as lágrimas enquanto o Padre falava algo que eu não estava ouvindo. Todos olhavam para nós.

– Eu sinto muito mãe. – eu sussurrei para ela.

– Eu também Mary. – ela fungou limpando o nariz com um lenço.

Olhei para os rostos que nos rodeavam, muitas pessoas da empresa, o Sr. e a Sra. Weedon, os filhos dos Weedon, Sierra, Krystal, Paul, Phoebe, Matt, Alice, Joseph, Monica e Katie. Todos olhando para mim.

Katie sorriu murchamente para mim com os olhos cheios d´água o que fez eu querer chorar mais.

Ficamos em silêncio olhando para o caixão sendo enterrado debaixo da terra e eu me sentia cada vez mais enjoada de estar ali. Era inacreditável como tinha acontecido... Eu não conseguia acreditar.

Quando o enterro terminou, meus amigos vieram me abraçar.

– Eu sinto muito Mary. – Katie disse.

– Eu sei. – eu respondi olhando para ela.

Seus cabelos castanhos estavam presos num rabo de cavalo alto e ela estava com um vestido preto e um casaco preto de renda.

Ficamos ali por mais meia hora para agradecer a todos por terem comparecido no enterro. Era ridículo ter que agradecer a alguém por comparecer a um enterro. Nós não somos obrigados a comparecer a um enterro, só vamos quando sentimos muito a perda de alguém, quando estamos em luto por causa da pessoa que morreu. Isso não é motivo de agradecer. Era ridículo e eu só queria mandar todo mundo ir a merda e ficar sozinha.

Ás cinco e meia, estávamos todos nos despedindo. A família de Johnny tinha que voltar para Colorado, Katie permaneceria em Los Angeles na casa de seus pais, Matt também. Alice e Monica voltariam para Nova York e Joseph iria para o Kansas visitar sua avó.

Minha mãe e Michael entraram no carro e o motorista estava esperando entrarmos.

– Eu... Posso pegar seu carro emprestado¿ - perguntei para Johnny.

Ele franziu o cenho.

– Pra que¿

– Eu... Preciso ir a um lugar, quero ficar um pouco sozinha. – respondi. – Só um pouquinho. Por favor¿

Ele hesitou e olhou bem nos meus olhos. Minhas pálpebras pesavam e meu nariz estava entupido.

– Tudo bem. – ele disse e me deu a chave do carro. – Te vejo na sua casa, ok¿

Assenti e lhe dei um beijo rápido.

Andei até o Audi preto e destranquei a porta, ao entrar, fechei a porta e abaixei o vidro para entrar um ar. Dei a partida no carro e deixei Johnny e algumas pessoas olhando-me curiosa.

***

Eu precisava de um tempo sozinha, um tempo para refletir, para simplesmente respirar sozinha. Eu estava me sentindo sufocada com tudo aquilo.

Enquanto eu dirigia, o Sol penetrava em meus poros e uma brisa muito leve balançava meus cabelos. Havia pouco trânsito e muitas pessoas na praia e andando pelas calçadas de Los Angeles.

Demorei um pouco, mas cheguei ao Píer de Santa Mônica. Por um milagre dos Deuses, estava praticamente vazio. Se havia uma dúzia de pessoas era muito.

Decidi ficar embaixo do píer, na beira da praia com os pés na água. Tirei meus sapatos e coloquei meus pés na areia quente. A água fria molhou meus pés empapando-os de areia. Uma brisa esvoaçou meus cabelos.

Sentei-me na areia e fiquei olhando para o céu azul com algumas nuvens e o Sol brilhante que estava começando a se por.

A maré estava calma. Fechei meus olhos e deitei-me na areia. Eu me sentia tão, mas tão arrependida por tudo o que eu havia falado pro meu pai. Johnny tinha razão o tempo todo, eu não podia odiá-lo por toda a minha vida, mesmo com todos os defeitos, mesmo tendo feito tudo o que ele fez, ele ainda era meu pai, nós tínhamos vivido raros bons momentos em família, ele ainda era meu pai.

Meus olhos começaram a arder novamente olhei para o lado e um pouco longe dali, vi Johnny estacionar o Honda Civic de Paul.

Suspirei e tornei a fechar os olhos.

Depois de algum tempo, pude sentir Johnny sentando-se ao meu lado. Eu ainda estava de olhos fechados.

– O que achou que eu iria fazer¿ Me jogar do píer¿ - perguntei.

Ele suspirou.

Abri meus olhos e olhei para ele. Sua barba estava crescendo novamente, seus olhos esverdeados estavam fixos nos meus. Ele havia tirado o terno, estava apenas com a camisa branca desabotoada nas mangas e ele havia desabotoado os dois primeiros botões da camisa.

– Eu só estava preocupado com você.

Sorri murchamente.

– Desculpa, eu sei disso. – soltei um leve suspiro e tornei a fechar os olhos. O vento soprou mais uma vez. – Eu só precisava de um tempinho sozinha. Eu estava me sentindo sufocada.

– Eu sei. – ele disse baixinho. – Se você quiser posso ir embora.

Olhei para ele e peguei sua mão.

– Não, fica aqui. – sussurrei e sorri murchamente.

Ele deitou ao meu lado e ficou me olhando enquanto eu olhava para o céu.

– Você estava certo. – eu disse.

– Sobre o que¿

– Sobre tudo. Sobre eu não odiar ele e sim o que ele fez, eu odiava os defeitos dele, mas não ele, porque ele era meu pai. E agora é tarde demais pra eu dizer isso pra ele.

Ele pegou minha mão.

– Acho que em algum lugar ele deve estar ouvindo isso, acho que ele sabe disso.

–Eu... Perdoo ele. – eu disse. – Ele errou tanto, mas, eu errei tantas vezes como filha também. – meus olhos arderam e fechei-os para não começar a chorar. – Mas, mesmo com tudo o que aconteceu, hoje eu sei que sou capaz de perdoar ele, sabe¿ - olhei para ele.

Ele sorriu murchamente para mim.

– Eu fico feliz de saber disso, de saber que você percebeu isso. Agora você vai se libertar disso, entende¿

Respirei fundo.

– Na verdade, eu me sinto um pouco mais leve falando isso em voz alta.

Ele sorriu e me deu um beijo na testa. Fechei os olhos.

– Ah Johnny, eu não sei o que faria sem você. Você me faz tão bem.

– Eu te amo.

– Eu também. – eu disse.

Depois de uns vinte minutos, fomos embora para a casa da minha mãe. Eu em seu carro e ele no carro de Paul.


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