— Você vai comigo, querendo ou não, Hays. — a morena dizia convicta enquanto a ruiva fazia um bico contrariado, mas se dando por vencida depois da cobrança de favores que Kirara lhe tinha feito. Tinha desenterrado até mesmo quando estavam no ensino médio e havia lhe ajudado com a lição de matemática, ao qual ela era e continuava péssima até hoje. A ruiva suspirou derrotada e a outra sorriu com isso.

— Você venceu, apenas me deixe em paz! — a que estava sentada no banco do motorista falou, enquanto sentia algo vibrar em seu bolso e o pegou. — Perai, deve ser você sabe quem. — disse com um sorriso de canto e a amiga assentiu, rindo baixo.

Hailey La Freour e Kirara Imayoshi.Eram melhores amigas desde o segundo ano da escola, quando Hailey, francesa, mudou-se para o Japão com a irmã dois anos mais velha, Milenny La Freour.

As duas amigas eram opostas em aparência, mas em personalidade Nem tanto. Kirara tinha no máximo 1,59, os cabelos curtos e encaracolados, do mesma tom dos olhos, castanho escuro. A baixinha é magra e tem um corpo proporcional, cintura, quadril e seios pequenos. Tudo é pequeno na garota, extremamente fofa.

Já Hailey, mede 1,76, os cabelos num tom escuro de vermelho desciam até o quadril, lisos em cima e enrolando depois da metade e os olhos eram rubis, alguns tons mais claros que o cabelo. Tinha um corpo bem desenvolvido, com seios exagerados, cintura fina, com uma beleza mais mulher que de Kirara. Ambas logo fariam 23 anos. Na verdade, a morena faria no mês seguinte, sendo um pouco mais velha que Hailey. A mais nova cursava faculdade de medicina, enquanto a mais velha cursava jornalismo.

E então, caímos no contexto da cena. Kirara estava fazendo um trabalho da faculdade e deveria fazer um documentário, mas tinha que ser sobre idosos. Procurava um tema como podia e por isso, estava visitando o asilo Hanamura. Na verdade, havia ido apenas uma vez lá, mas claro que da segunda, queria arrastar sua melhor amiga consigo! Hailey porém se mostrou extremamente resistente, dizendo que precisava estudar pois suas provas estavam chegando dentre outras desculpas esfarrapadas, mas não era como se a Imayoshi as tivesse aceitado. A baixinha tanto insistiu que a ruiva cedeu.

Agora, a ruiva estava levando Kirara para casa depois de um longo e divertido sábado que haviam passado fazendo nada de importante, mas se divertindo. Hailey atendeu o celular antes de ligar o motor do carro azul que havia ganhado de Milenny como presente de aniversário de dezoito anos, era seu xodó desde sempre, seu primeiro carro. Milenny sempre ligava para avisar que chegaria mais tarde em casa porque ficaria mais tempo que o planejado na redação, de novo. Depois de ouvir o que já tinha, decorado Hailey guardou o celular e colocou a chave na ignição, ligando o motor e arrancando com o Porsche.

— Você precisa me dar o endereço do asilo. — a ruiva pediu, enquanto Kirara ligava o rádio do carro e começava a passar pelas músicas que tinham no celular plugado. Hailey mantinha os olhos focados na curva que deveria fazer.

— Tá, te passo por mensagem quando chegar em casa. — Kirara falou e a outra consentiu um tanto desanimada.

Não era por maldade, mas passar o Domingo com velhinhos não era bem o dia que havia planejado. Na verdade não tinha planejado nada, mas se tivesse não teria sido isso Bom, não poderia ser tão ruim assim, afinal, como Kirara insistia em dizer Velhinhos são fofos!, Hailey pensara enquanto tinha de frear no sinal vermelho.

— Não entendo porque Milenny fica tanto na redação, vocês podem viver fazendo nada! — a Imayoshi comentou com um riso baixo, tentando deixar o ar menos morto. Os borrões pararam de passar na janela e se tornaram imponentes casas, enquanto uma música qualquer ficava de fundo.

— Acho que ela deve amar muito o trabalho dela. Ajuda as pessoas, de uma certa forma, é a cara dela. — Hailey disse com um sorriso de canto, deixando os olhos se guiarem até a janela ao seu lado, olhando a rua vazia. Já passava da meia noite.

— Será que ela topa me ajudar dividindo o dinheiro da herança?! — a morena brincou e as duas riram, enquanto sinal abria. — Não vai ser tão ruim assim, sabe. Você se diverte no fim. — Kirara falou e a ruiva concordou, assentindo.

Alguns minutos depois, Hailey parava o carro na frente do prédio esverdeado ao qual a amiga morava e a esperou descer com um sorriso de canto.

— Até amanhã, Kira. — cumprimentou e acenou, a morena já até mesmo havia saído.

— Até.

Quando virou-se para olhar Hailey já tinha arrancado silenciosa e furiosamente com o carro e desaparecido pela rua deserta. Kirara riu sozinha, balançando a cabeça negativamente. Sempre odiara o amor por velocidade da mais nova, mas não é como se pudesse mudá-lo.

A La Freour demorou poucos minutos para chegar em casa. Vivia com a irmã numa casa relativamente extravagante que tinha escolhido com a mesma quando decidiram sair da França, há bons anos atrás. Depois de estacionar, viu o Nissan Tiida preto de Milenny estacionado ao lado de seu Lexus vermelho e estranhou. A irmã não ia ficar até mais tarde no trabalho, afinal? E havia chego mais cedo que si! Subiu as escadas da garagem, que lhe levaram até a cozinha vazia.

— Mille? — a ruiva chamou um tanto alto, procurando-a. A sala também estava vazia. Ao chegar na metade das escadas, pôde ouvir um barulho alto de água.

— Hays! — pôde ouvir o grito da mais velha, vindo de seu quarto e o barulho de água cessou. Terminou de subir as escadas e entrou no quarto roxo de Milenny, bocejando.

— Pensei que fosse ficar até mais tarde na redação. — Hailey falou se sentando na cama arrumada e confortável da irmã, que saía do banheiro e procurava algo no guarda roupa.

— Eu ia, mas meu supervisor disse que eu precisava dormir e me deu o domingo de folga. Só vou trabalhar segunda à tarde.

Hailey fez um barulho com a boca, sinalizando que tinha entendido enquanto a mais velha terminava de se vestir e a olhava desconfiada. A jogada na cama estava com a expressão pensativa que a irmã tanto conhecia, o que a fez franzir o cenho. Milenny La Freour era dois anos mais velha que a irmã e podiam ser tidas facilmente como gêmeas, com uma ou outra diferença.

Os cabelos de Mille também são vermelhos, alguns tons mais escuros que os de Hailey, cortados num channel de bico curto, lisos. Os olhos são no mesmo tom de vermelho escuro, brilhosos e expressivos, a pele é branca bronzeada e mede por volta de 1,65, tendo seios médios, cintura fina e quadril largo. Tem uma marca de nascença, três pintas adjacentes abaixo do olho esquerdo. A diferença de personalidades porém, é nítida. A gentileza de Milenny contrasta com a forma rude e fria de Hailey, e o sorriso da mais velha contrasta com a cara quase sempre fechada da mais nova.

Milenny respirou fundo, ajeitando os cabelos e se sentando ao lado da irmã que estralava o pescoço.

— O que foi? — a de cabelos curtos perguntou e a outra abandonou um suspiro preocupado e cansado.

— Eu só Estou com um mal pressentimento.

Hailey respondeu, sentindo seu celular vibrar no bolso. Ao pegar e ler a mensagem viu que era Kirara lhe mandando boa noite, o endereço do asilo. Te vejo as nove! =D. Abandonou o ar pesadamente. Por que sentia algo estranho?

— Tome um banho e durma, Hays. Você só deve estar cansada.

~x~

Ela havia seguido o conselho de Milenny, mas não dera certo. Tomou um banho quente, demorado e relaxante, depois se deitou e encarou o teto durante dez minutos. Então virou o rosto e encarou as cortinas que estavam à frente da porta janela por mais alguns minutos, enquanto se forçava a fechar os olhos, mas não funcionou. A noite fora péssima, com todas as letras e se bobear em maiúscula.

Quando finalmente conseguiu fechar os olhos, seu maldito despertador tocou e a claridade irritou seus olhos. Havia dormido por duas miseráveis horas e foram de um sono ruim e cortado. Se arrastou para o banheiro em plenas sete e meia da manhã e deixou o chuveiro no gelado mesmo, para ver se despertava um pouco. Saiu um tempo depois ainda dormindo, e agora com frio.

Mal viu o que pegou no guarda roupa, colocou um sapato neutro qualquer e passou uma maquiagem básica, já indo para a cozinha e encontrando Milenny tomando café. O relógio marcava quase oito e vinte, se sentou numa cadeira à frente ao balcão, do outro lado da irmã. Murmurou algo que era para ser um bom dia, mas saiu só como resmungo o que fez a mais velha rir, com um sorriso doce.

— Bom dia, Hays! Dormiu bem? — Milenny perguntou sorrindo gentil como de costume, fazendo-a arquear a sobrancelha esquerda em tom de deboche.

— Não esperava viver para te ver sendo irônica. — a de cabelos compridos disse soltando um suspiro longo, mas sorriu de canto para a irmã. — Mas respondendo sua pergunta, minha noite foi terrivelmente horrível. E a sua? — perguntou num tom entediado, com uma xícara cheia de café em mãos. Sua segunda tentativa de acordar no dia.

— Apenas perguntei, poxa. — Milenny riu de novo, tomando um gole de seu suco. Estava com roupa de corrida, o que deixou a outra instigava. Há tempos Mille não corria. — Dormi como um bebê. — falou rindo baixo, principalmente porque a mais nova soltou um muxoxo decepcionado.

— Vai correr ou já correu? — Hailey falou, enquanto bebericava o café e encarava sua xícara de fundo azul e desenhos de rosas vermelhas e algumas coloridas.

— Vou correr. Só estava te esperando acordar para dizer bom dia, já que parece que vai passar o dia inteiro fora. — a mais velha disse, recebendo um suspiro depressivo como resposta. Riu, se levantando. Hailey olhou para o relógio. Oito e trinta e dois, estava na hora de ir.

— Bom dia, então. — com um sorriso fraco, Hailey se levantou, pegando uma chave qualquer em seu pote. Milenny apenas sorriu gentil, já na porta que levava ao espaçoso caminho de pedras entre um jardim, depois, um imenso portão.

Hailey só percebeu que a chave era do Lexus vermelho após descer as escadas até a garagem e desligar o alarme, fazendo as luzes do esportivo piscarem.
Esperava achar o lugar facilmente. Kirara havia dito que era de quinze a vinte minutos de sua casa, mas como a La Freour costumava ter um pé de chumbo, não ficaria nem mesmo dez minutos no carro direito. Mesmo assim a ruiva decidiu sair cedo e não acelerar tanto, também se preparando para caso se perdesse e não achasse o asilo. Quis também amenizar a fama de que sempre chegava atrasada.

Dirigiu alguns minutos com uma música qualquer retumbando, estava concentrada no trânsito. Quando chegou na rua indicada, quase riu. Como Kirara havia pensado que teria dificuldade em achar aquilo?! O muro todo pintado com flores coloridas, cores vibrantes e uma placa enorme que anunciava à todos que passassem, Asilo Hanamura, acima do portão cinza escuro. Faltavam quinze minutos para o horário combinado e a amiga também não tinha chegado. Depois de estacionar resolveu aumentar o volume do aparelho de som do carro, para se distrair um pouco.

Cantava tão empolgada que não percebeu buzinas, nem que a porta da frente de seu carro estava bloqueando a entrada do estacionamento do local. A pintura era toda tão contínua que só era possível perceber a entrada de portões cinzas, o resto parecia muro. A La Freour só acordou quando alguém bateu de leve no vidro de seu carro. Sentiu o coração disparar. Abaixou o volume do som e levantou os olhos receosa, suspirando aliviada ao ver uma figura ao mínimo decente. O cara usava um jaleco branco longo e não segurava nenhuma arma, então

Desceu o vidro da janela sendo encarada de um modo invasivo e intimidador. Sentiu a garganta queimar e olhou o rapaz.

— Posso ajudar? — a ruiva perguntou confusa, perdida não só no porquê ele estava ali, mas também nos olhos verdes chamuscantes dele. Eles atraíam como um imã e seus rubis não conseguiam se desviar. Seus olhos se arregalaram de leve e sua pupila dilatou.

— A frente do seu carro está bloqueando a passagem. — a voz rouca, grossa e masculina ressoou em seus ouvidos como sua música favorita. As bochechas se tornaram vermelhas como seu próprio cabelo. Ela sorriu sem graça, sentindo-se desesperada por um segundo, mas logo pensou um porquê aquele drama interno e se recompôs.

— A-ah sim, me desculpe, eu não percebi. — a ruiva falou, já ligando o motor do Lexus e dando ré. O rapaz ficou à uma distância pequena da janela do motorista e mexeu a mão como se não houvesse importância.

— Acontece mais do que você imagina. — o esverdeado disse e ela sorriu para ele, se perguntando porque estava agindo como uma imbecil.

Hailey ficou observando-o dar as costas e ir até o Jaguar cinzento, parado próximo ao seu carro. Não pôde resistir em deixar o olhar cair e encarar um pouco a bunda redonda e firme do estranho, o que lhe fez sorrir maliciosa, mas ruborizou ao perceber o que estava fazendo, então olhou para o dedo dele. Sem aliança.

A La Freour havia reparado nele em seus segundos de débil. Os cabelos esverdeados pouco compridos, combinados com os olhos do mesmo tom que eram intensos e invasivos, cobertos pelos óculos de armação negra. Ele também era enorme, pois passava facilmente a altura de seu carro em vinte centímetros. A falta de expressividade... Soltou um suspiro enquanto o Jaguar passava em sua frente. Ele era seu tipo, mas resolveu ignorar isso.
E mesmo se quisesse ficar remoendo o quão bonito o verdinho era, não podia, pois Kirara chegou com Haruhi e lhe chamou, fazendo-a sair de sua viagem.

— Hailey?! — Kirara chamou, colocando a cabeça dentro do carro da ruiva, olhando o Jaguar terminar de entrar no estacionamento. Balançou uma das mãos à frente do rosto de Hailey, que acordou e lhe olhou um tanto assustada. — O que aconteceu? Por que você está com essa cara de imbecil? Quem estava naquele carro? — Kirara soltou sua costumeira rajada de perguntas, deixando Hailey pior do que estava antes. Haruhi as observava recostada no capô do carro - até a ruiva lhe olhar como uma assassina - e Kirara lhe deu um tapa de mosquito no braço, fazendo-a acordar.

— Aaah, Kirara! — a La Freour lhe olhou um tanto surpresa. Desligou o som do carro. — Não te vi chegando. — falou com um sorriso de canto e a Imayoshi se afastou da porta do carro para que ela saísse.

— Também! Você tava em outro mundo. O que aconteceu? — a baixinha estava parada na frente de Hailey de braços cruzados e uma expressão de cachorro pedinte, como se implorrasse para que ela lhe contasse com os olhos. A mais alta riu.

— Foi só um médico que passou no carro. — a francesa deu de ombros como se não fosse nada demais e Kirara arqueou as sobrancelhas, enquanto andavam e passavam ao lado de Haruhi que começou a acompanha-las.

— Sei, só isso Não esconda nada de mim, Hailey! — a morena falou decidida e a mais nova apenas abanou a mão no ar.

Haruhi e Hailey se cumprimentaram com uma aceno de cabeça e as três foram até a porta do local.

Kirara vestia uma calça preta um pouco justa, com botas também pretas de cano alto e fivelas pequenas e douradas por cima da mesma e um moletom largo e cinza. Os cabelos soltos, cacheados e cheios como de costume, enquanto no rosto só usava um rímel preto e um batom vinho escuro. Para completar, usava um colar de cruz com pedras azuis, brincos discretos e um anel de caveira.

Haruhi usava um vestido lilás de alçinhas que ia até seus joelhos, mas um sobretudo preto de botões marrons estava por cima aberto, meia calças cor de pele e um sapato também preto com um salto de quatro centímetros quadrado, apenas de enfeite. Estava com brincos de argolas médias e douradas e um anel de pedra lilás grande, os cabelos castanhos presos num alto rabo de cavalo e a maquiagem levemente cinza nos olhos castanhos.

Hailey vestia-se com uma blusa decotada azul turquesa, com detalhes mais escuros próximo ao colo, uma jaqueta de couro cinza e uma calça justa preta, com um sapato fechado azul, relativamente alto. Os cabelos estavam soltos como de costume e um colar com um pingente de pedra de safira repousava entre seus seios, com brincos com um fio de metal e uma pequena pedra azul e um anel do conjunto.

Não demorou para que uma garota baixinha de cabelos azulados lisos até seu quadril, de olhos vermelhos, com um sorriso extremamente doce que transmitia gentileza estava em seus lábios e ela usava um jaleco comprido que cobria toda a sua roupa e só deixava a mostra os sapatos rosas e sem salto. Amai Shirubako. Kirara e Haruhi já a conheciam da outra vez que haviam ido ao asilo. Sempre disposta a ajudar sorrindo e gentil, a descreveram.

— Bom dia! Me chamo Amai Shirubako. — a menina disse, se apresentando para Hailey com uma feição angelical e infantil.

— Hailey La Freour. — a ruiva se apresentou sem expressão, apenas olhando para baixo e encarando a japonesa com uma sobrancelha arqueada. Amai lhe retribuía sorrindo docemente.

— Seja bem vinda ao asilo Hanamura, Hailey.