Gray não sabia quanto minutos estava ali parada sem que a jovem o notasse, e quando isso aconteceu tudo parou para o moreno. Os olhos azuis escuros com lágrimas caindo mostravam um brilho intenso de pura tristeza. Os lábios médios e rosados tremiam a cada soluço que vinha. Os dedos trêmulos deixaram cair o Teru Teru Bozu ao reparar na presença do moreno ali. Gray não sabia como esse encontro ia mudar sua vida, mas tinha certeza que mudaria.

Juvia fitou o desconhecido e o medo invadiu seu corpo, já que ninguém, absolutamente ninguém, entrava naquela casa. Nem mesmo seus pais que a abandonaram quando ainda tinha uns cinco anos. Juvia ficou parada por um tempo sem se mexer somente observando o invitado não convidado.

Ele tinha cabelos curtos e tinham a mesma tonalidade que os olhos de Juvia, já o olho do mesmo eram pretos. Seu corpo era bem trabalhado, mas nada muito exagerado. O peitoral bem definido tinha uma tatuagem no lado esquerdo de algo que Juvia não conseguiu definir em palavras.

– Quem é você? - Juvia perguntou com a voz fraca.

Gray se surpreendeu com a voz baixa e repentina da jovem. Ficou estático por um tempo sem nada na mente para responder a outra, que, por sinal, o olhava muito estranho. E foi nesse momento que Gray reparou mais em si mesmo e na sua situação. Estava sem camisa, com a calça de jeans preta meio folgada no corpo e tinha acabado de entrar na casa de uma desconhecida sem se pronunciar… Pervertido.

– O-o-olha eu não sou ninguém suspeito ok? - Gaguejou ficou com as bochechas levemente vermelhas. - Eu só estava passando por aqui e do nada começou a cair uma tempestade, e como não pensei que poderia ter alguém aqui acabei entrando. - Explicou-se rapidamente com o nervosismo a flor da pele, porém logo passou ao notar a culpa ocupar o rosto da azulada.

– J-Juvia sente muito. - Pediu a jovem com os olhos marejados. - Juvia realmente sente muito, Juvia não queria que chovesse, Juvia quer que chuva pare… - E a Lockser não conseguia mais parar de pedir desculpas.

Gray a olhou assustado, pois não esperava por uma reação daquela. Por falta de não saber o que fazer, o moreno simplesmente se aproximou e a trouxe para seus braços. O choro parou na hora, e o corpo feminino ficou tenso imediatamente. Gray pensou que talvez aquela não fosse a melhor opção. Só talvez, pois logo Juvia aceitou o abraço e correspondeu.

– Hey, fica calma, não é como se o fato de chover fosse sua culpa, certo? - Falou Gray depois de um tempo acalmando a garota, infelizmente tal fala do jovem fez o corpo da jovem ficar tenso e trêmulo novamente.

– É culpa da Juvia. - Declarou a azulada se afastando do moreno, não o fitava nos olhos. - Juvia traz a chuva só porque pode controlar a água.

Dessa vez foi a vez de Gray ficar tenso. Levantou-se se afastando mais da jovem, que nem se moveu, e suspirou pesadamente passando as mãos em seus cabelos jogando-os para trás. Voltou-se para Juvia e lhe perguntou:

– Juvia, você sabe o que significa essa marca no meu peito?

A jovem levantou seu olhar para o peitoral do moreno e encarou a marca, mas logo desviou o fitar constrangida. Afinal, Gray era o primeiro homem com quem a azulada conversou em toda a sua vida, e o primeiro que ela via sem camisa. Depois da breve analise, Juvia balançou a cabeça de um lado para o outro afirmando que não conhecia o significado da tatuagem.

– Significa que sou um hunter, sabe o que é ser um? - Perguntou-lhe novamente. Os olhos azulados continuaram transmitindo confusão dando já a resposta para a pergunta do mesmo. - Quer dizer que corro atrás de pessoas como você Juvia, para capturar ou até mesmo matar… Esse é meu trabalho.

Um silêncio para absorver a informação foi necessário para a jovem. Os fios azulados cairam na frente do rosto de Juvia ao abaixar a cabeça para mirar o chão novamente. Estranhamente seu tremor havia parado, uma tranquilidade fora de hora apossou o corpo feminino e ela não entendia o porquê. Afinal de contas o moreno desconhecido para ela acabou de declarar que poderia matar-la, mas por algum motivo Juvia não sentia medo.

– Você matará Juvia?

A voz fina chegou aos ouvidos de Gray de uma forma baixa e tranquila. Sorriu. Sim, era o dever do moreno capturar pessoas, ou até mesmo seres, com poderes mágicos, visto que naquele mundo ninguém ia a favor da magia, pelo menos a maioria. Juvia devia ter muita sorte por ninguém tê-la dedurado ao governo ainda, e por seu nome não estar na lista daqueles que possuíam magia, e por Gray se um dos pouquíssimos que não atacavam cegamente alguém só por ter magia.

O moreno se sentou novamente na cabeça e pegou uns dos Teru Teru Bozu ali deixado. Seus dedos brincavam distraidamente com o boneco e um leve sorriso enfeitava seu rosto masculino. Mirou a mulher ao seu lado depois de um tempo em silêncio, os olhos azuis escuros ainda esperavam uma resposta.

– Claro que não, mas que pergunta! - Disse alegremente o moreno confundindo ainda mais a azulado. - Não tenho por que fazer isso Juvia, afinal ninguém me contratou para fazer algo contra você.

– Então se alguém tivesse te contratado para machucar Juvia, você machucaria? - Perguntou Juvia se aproximando mais do jovem, seus olhos ainda brilhavam em confusão, porém agora tinham um brilho de curiosidade também.

– Sim. - Respondeu Gray sem pensar fazendo com que o choque invadisse, tão rápido quanto a resposta, o rosto de Juvia. Tal reação da jovem produziu uma gargalhada divertida do moreno. - Não se preocupe, mesmo pagando eu não te machucaria nem nada. - Afirmou.

– Por que? - A surpresa era notada na voz feminina.

– Não tem como eu machucar uma mulher que se culpa pela chuva. - Respondeu simplesmente vendo novamente a cabeça da jovem virar em direção ao chão.

– É culpa da Juvia… - Sussurrou numa voz baixa e fina. O azul escuro logo ficou cristalino e os dedos afilados buscaram um Teru Teru Bozu.

– Porque acha isso? - Indagou o moreno, seu rosto se mostrava tranquilo e confortante enquanto ainda brincava com o Teru Teru Bozu. Talvez fosse esse ar calma que Gray passava que fez com que Juvia falasse.

– Quando Juvia tinha quatro anos, descobri que podia controlar a água... - Começou Juvia a contar sobre sua vida até aquele momento. O abandono dos pais ao descobrirem que sua filha era uma maga, quando todo o vilarejo descobriu sobre seus poderes, a descriminação, a necessidade de se isolar de todos, até mesmo contou sobre a história dos Teru Teru Bozu.

Quando Juvia terminou de contar sobre seu passado e presente, ela ficou em silêncio só aguardando o veredito do moreno. Gray depois de ouvir a história da outra, ficou um tempo sem falar nada. Notou o nervosismo da jovem ao lado, mas por algum motivo, ele resolveu enrolar um pouco antes de dizer qualquer coisa, pois por alguma razão não conhecida Gray gostava de ver Juvia em expectativa.

– Sabe isso não me convenceu nem um pouco. - Expôs depois de um tempo. - Além disso você não me parece muito forte para controlar o tempo também.

– Juvia é forte sim! - Exclamou a jovem com um bico de birra nos lábios.

– Oh será mesmo? - Interpolou Gray numa risada divertida.

E aquele riso irritou a azulada de uma maneira misteriosa, tanto que sem pensar duas vezes Juvia pulou em cima do moreno e começaram uma pequena guerra. Porém logo Juvia já nem sabia porque estava irritada, porque uma alegria tomou seu coração de uma maneira que nunca havia sentido antes. Juvia estava rindo.

Gray se assustou com o pulo repentino da jovem para cima de si, entretanto já no minuto seguinte estava sorrindo divertido. Ele havia mentido para Juvia quando disse que seu nome não estava na lista de procurados do governo. Afinal de contas era por isso que Gray estava andando por aqueles lados, só não imaginou que a maga d’ água que não possuía fotos, fosse se declarar tão facilmente assim. Realmente Juvia tinha sorte por ser ele quem a encontrara, pois se fosse outro tinha certeza, o primeiro movimento em reação a jovem seria atacar-la.

Gray Fullbuster foi aquele que conheceu a mulher chuva e também aquele que jurou para si mesmo protegê-la.