It's you. escrita por Carina Everllark


Capítulo 23
Capítulo 23. - Tears.


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeeeeeeeeeee! Voltei. A fic está acabando o/ :(. Vai ter mais dois ou três capítulos e o epílogo. Vou tentar postá-los nessa primeira semana de Fevereiro, porque, se não der, vou demorar muito devido à volta as aulas.
Segurem o coração (e as lágrimas)! Esse capítulo está bem gay. Espero que gostem e não esqueçam das reviews.

Capítulo dedicado à Biia Mellark que recomendou a fanfic. Muito obrigada, linda. Você me deixou tão feliz, sério. Fico muito grata em saber que gosta da fanfic. Muito obrigada mesmo.



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Acordo com um barulho irritante.

– Que porra é esse barulho? – pergunto, soltando o corpo nu de Katniss.

– Meu celular – Katniss ri e atende.

– Alô?

Katniss coloca o celular no viva voz.

Katniss? É a Prim.

O rosto dela empalidece. Sento-me ao seu lado e observo-a preocupado. O que é tão grave?

– Prim? O que aconteceu?

É a mamãe. Olhe, preste atenção. Tio Haymitch vai te ligar e explicar tudo. Só quero dizer o que a mamãe pediu que eu dissesse. Ela pediu pra ficar calma e em Miami, para não vir vê-la porque seria pior e disse que vai lutar com todas as forças pela vida dela. Ela disse que ama você e pediu para não se preocupar. Tenho que desligar. Eu amo você, Kat.

– Prim? O que... O que aconteceu? Mamãe está bem? – pergunta ela, mas a ligação já caiu.

O rosto de Katniss está pálido e verde. Lágrimas escorrem por suas bochechas torrencialmente e sinto-me mal.

– Katniss, o que aconteceu? – pergunto, enxugando algumas lágrimas e segurando suas mãos.

– Minha mãe... Peeta, eu vou ter que ir embora – diz ela com a voz falhando. Ela pega seu celular e liga para alguém.

Meu coração dispara. O que diabos estava acontecendo?

Acorde, Peeta, acorde.

Não é um sonho. Ela disse que terá de ir embora. Ela está chorando. Ela vai deixar você. Você vai perde-la.

– Alô? Haymitch? – diz ela e coloca o celular no viva voz.

Katniss? Oh, Katniss...

– O que aconteceu com a minha mãe? O que aconteceu, Haymitch?!

Sua mãe... Olha, se acalma. Ela retirou um dos rins antes de ontem e tudo correu bem, mas o outro rim dela... Ele não quer funcionar, Katniss. Sua mãe está na fila urgente de um transplante, mas tem várias pessoas na frente dela.

– Eu... Haymitch...

Katniss está soluçando alto e suas lágrimas descem como cachoeiras em suas bochechas.

A mãe dela vai morrer. Merda.

Lágrimas escorrem de meus olhos pelas duas e eu tento contê-las. Preciso ser forte por ela. Alguém precisa.

Katniss, vou ser bem direto. Sua mãe está correndo risco de vida. Ela não tem muito tempo. Talvez dias, ou horas. Ela não vai aguentar muito. Se quer falar com ela volte para a Califórnia o mais rápido possível. Eu... Sinto muito.

A voz do tio de Katniss está embargada e eu posso ouvir alguns soluços misturados aos dela. Katniss se joga de cara no travesseiro e gritos e soluços preenchem meus ouvidos. Haymitch desliga. Ouço um barulho de pessoas correndo e em segundos Finnick, Annie e Cato entram no quarto.

– O que aconteceu? – grita Annie, correndo em direção à Katniss.

As vozes estão distantes em minha mente, eu só consigo ouvir as batidas do meu coração e os soluços de Katniss. Minha visão está turva por conta das lágrimas e eu sinto meu corpo mole. Vou desmaiar? Não. Eu não posso. Tenho que ser forte por ela.

Aproximo-me de Katniss e afasto todos de cima dela. Levanto sua cabeça e enxugo algumas das suas lágrimas sem sucesso, já que outras escorrem. Ela ainda está apenas enrolada no lençol e eu cubro uma parte das suas coxas que estavam a mostra.

– Katniss, escute – digo, tentando parecer firme, mesmo que lágrimas escorram dos meus olhos. – Vai ficar tudo bem, tá legal? Sua mãe não gostaria de te ver assim.

Ela assente com a cabeça, mas não consegue conter as lágrimas. Meu coração arde junto ao dela e eu sinto que vou desmaiar.

– Podem por favor saírem para Katniss se vestir? – peço olhando para os outros que estão em choque. Eles assentem com a cabeça e Annie sai arrastada por Finnick, pedindo para ficar aqui.

Pego a mala de Katniss dentro do meu guarda-roupa e separo um vestido florido, um All Star preto e suas peças íntimas.

– Vem cá, você tem que se vestir – digo, tiroo lençol do seu corpo e coloco-a sentada na cama. Ela está em estado de choque, lágrimas correm por seu rosto, mas ela não soluça mais. Seus olhos estão parados em um ponto único. – Katniss, fala comigo – digo, deixando mais lágrimas escorrerem.

Katniss parecia um zumbi. Ela não tinha reação, seus olhos não se mexiam, apenas derramavam lágrimas.

Você não pode deixa-la agora, Peeta.

Pego o vestido e passo por seus braços. Ela ajuda-me levantando os braços e ajeitando o vestido, mas seus olhos continuam parados, assim como sua expressão.

– Ela... Peeta, ela vai morrer – murmura ela, agora olhando para mim. Seus olhos fazem meu coração arder. Os antigos olhos brilhantes e cinza agora são um cinza escuro e sem vida, como os de uma pessoa morta.

Eu não sabia o que dizer. Como confortar uma pessoa que vai perder a mãe? Deveria haver um livro sobre isto. Apenas a levanto e envolvo seu corpo diminuto em meus braços. Aperto Katniss com tanta força que tenho medo de a estar machucando, mas ela aperta-me da mesma forma. Sinto suas lágrimas escorrerem em meus ombros nus e permito algumas lágrimas escorrerem junto as dela.

– Você... Você vai embora? – pergunto, tentando parecer forte, mas estou ruindo por dentro. Ainda tínhamos sete dias. Ainda tínhamos uma semana. Agora eu já não sabia se a teria por uma mísera hora.

Katniss aperta-me com mais força e seus soluços começam novamente.

– Eu não posso deixar a minha mãe, Peeta. Ela é a minha mãe – sussurra ela. Eu a entendo. É a mãe dela. Ela não pode deixar sua mãe porque está apaixonada por um garoto como eu.

Mas eu posso ir com ela.

– Eu vou com você – digo, soltando-a e colocando seus tênis.

– Como?

– Tenho dinheiro o suficiente. Não importa o que meus pais ou meus irmãos dirão, eu já tenho dezoito anos e posso fazer o que bem quiser.

Pego sua mala e coloco os pertences dela lá dentro rapidamente. Pego outra mala e coloco várias roupas minhas, sem olhar se estou esquecendo algo. Tenho que estar ao lado dela agora.

– Não acho isso certo, Peeta. Sua vida está aqui, as férias já estão acabando e sei que você ainda tem que concluir o terceiro ano do ensino médio.

– Eu não estou nem aí. E não vou ficar lá muito tempo... – digo, tentando convencer a ela e a mim. Se não for me separar definitivamente dela agora, será depois. Mas acontecerá.

Posso ser de uma família rica, posso passar as férias todas com ela na Califórnia, mas minha vida está composta aqui. Eu não poderia jogar tudo para o ar. Só quando eu tiver um emprego e uma casa lá. Se eu tiver. E eu não faria Katniss esperar tanto tempo por mim, seria doentio.

– O.k... Eu acho que estou passando mal – diz ela, correndo para o banheiro. Katniss enfia a cara no vaso sanitário e vomita tudo o que estava dentro dela. Seguro seu cabelo para que ele não suje e tento não parecer patético de tanto chorar.

Ver ela sofrendo tinha um efeito multiplicado em mim. Se eu pudesse pegaria tudo o que ela está sentindo e colocaria em mim apenas para aliviá-la. Katniss não merece nada disso.

– Comeu algo estranho? – pergunto.

– Acho que é por causa das más notícias – diz ela, lavando o rosto. – Tenho que avisar Annie e Clove.

Visto uma bermuda branca e uma camiseta cor azul de decote V.

Descemos para a sala e todos estão sentados com expressões preocupadas no sofá.

– O que aconteceu, Katniss? – pergunta Annie, correndo em sua direção. Ela está com um vestido vermelho de bolinhas brancas e seu rosto está inchado por causa das lágrimas.

– Vamos ter que ir embora – diz ela e começa a soluçar alto novamente.

– Por que? O que está acontecendo?!

Katniss abraça-me de lado e eu sustento seu corpo. Explico a situação de sua mãe para todos por ela. Annie cai no chão e chora quase com a mesma dor nos olhos que Katniss.

– Só queria poder acordar desse pesadelo – murmura Katniss contra o meu peito.

– Eu também, Katniss, eu também... – digo, acariciando seu cabelo.

– Annie, eu vou embora... Você vem também? – pergunta ela.

Annie olha para Finnick e percebo a dor em seus olhos. Finnick está sentado no sofá com os olhos cheios de lágrimas e um medalhão novo em seu pescoço. No centro do medalhão posso ver uma foto de Annie sorrindo.

– Vou – diz ela, com mais lágrimas escorrendo por seu rosto e o início das de Finnick.

– O que? – Finnick se levanta. – Você não vai.

– Finnick, não seja um maldito idiota. Katniss precisa de mim, a mãe dela precisa. Conheço a mãe dela desde os meus sete anos de idade – diz Annie, mais grosseira do que eu imaginava que pudesse ser.

– Vou avisar a Clove – diz Cato, ligando para a amiga de Katniss.

– Deixa que eu falo com ela – diz Katniss, pegando o celular e indo para um canto da sala.

Lágrimas escorrem por minhas bochechas e pelas de Finnick.

Inferno.

Ver Katniss mal deixava-me tão pior que eu sentia que ia morrer. Tinha vontade de vomitar, de desmaiar, de dormir para sair dessa coisa, de tirar tudo dela e colocar em mim, de fazê-la sorrir nem que fosse com algo estupidamente idiota. Mas eu não podia. Eu malditamente não podia tirar a dor de dentro da minha garota.

– Clove? – Katniss coloca o celular no viva voz.

– Katniss? O que foi?

– Vou ser rápida e clara. Minha mãe está entre a vida e a morte e teremos que voltar para a Califórnia o mais rápido possível. Esqueça os sete dias que ainda tínhamos aqui, temos que voltar. Annie, Peeta e eu já resolvemos que iremos para lá. Você tem que vir também.

– O que? O que houve com a sua mãe? Katniss, não estou te entendendo.

– Pegue suas coisas e as de Annie no hotel e venha para a casa dos Mellark e entenderá melhor. Por favor, pegue as coisas e venha, é urgente, Clove, código barata – diz ela e desliga o celular.

Código barata? – pergunta Cato, rindo.

– Coisa de crianças da terceira série – diz Katniss, com um sorriso querendo se formar mas sendo substituído pela tristeza.

Finnick e Annie vão para o quarto de hóspedes e eu levo Katniss de volta ao meu. Deitamo-nos em minha cama e ela encosta sua cabeça em meu peito enquanto algumas lágrimas ainda escorrem.

– A morte não é justa – diz ela, secando uma lágrima. – Ela leva as pessoas que menos merecem, enquanto outras que apenas fazem estragos no mundo continuam vivas. Pessoas tirando a vida de outras, sequestrando, estuprando, fazendo coisas horríveis, pessoas como Thresh, continuam vivas e quem nunca fez nada de mal tem de ir embora. Por que?

“A morte é algo inevitável e a única coisa que temos certeza absoluta. Ela vem de repente, subitamente, sem você se dar conta, e leva as pessoas da mesma forma e rapidez que chegamos a este mundo. Leva seus familiares, leva seus amigos, leva pessoas que você ama e que você odeia.

As pessoas se importam com coisas fúteis, choram por coisas fúteis, dão mais valor a coisas sem importância do que as com importância. As pessoas só valorizam uma pessoa quando a perdem. Só sentem falta dela quando a perdem. Só falam bem da pessoa quando ela morre. Esta é a merda da nossa sociedade. As pessoas estão mais interessadas na cor do cabelo do que em um ente familiar. Isso me revolta.” – diz Katniss, surpreendendo-me.

Katniss nunca tinha dito algo tão sério, algo tão pesado como dissera agora. Eu não sabia nem o que responder. Todos nós somos exatamente como ela nos descreveu. Fúteis. Isso não é certo e nunca será. As pessoas só se tocam que foram idiotas e não deram valor para alguém quando a perdem.

Lágrimas brotam em meus olhos e choro junto a ela. Ficamos em silêncio por um longo tempo, ouvindo, eventualmente, nossos soluços e nossas respirações.

– Peeta, e se não der para você ir? – pergunta ela, depois de um longo tempo.

– Katniss, eu vou conseguir. Eu vou com você, não importa o que aconteça, tá legal? Eu vou.

Ela assente com a cabeça e deposita um beijo em meus lábios.

– Quanto tempo você acha que a minha mãe tem? – pergunta ela, olhando nos meus olhos.

Queria dizer que muito, queria dizer para ela ter fé, mas eu não podia mentir.

– Eu não sei – murmuro, observando suas orbes cinzas, agora apagadas, enchendo-se de lágrimas.

– Já li tantos livros que tinham mortes... Já chorei tanto por personagens de papel, pessoas que não existiam, mas não me preocupava com a morte. Eu não achava que um dia fosse ser comigo. Eu...

Shhh. Eu sei, eu sei – acaricio sua cabeça e a abraço.

Estava sendo um dia tão triste e frio que eu acho que ficarei mal pelas próximas semanas também.

Tentei distrair Katniss perguntando sobre a Califórnia. Funcionou um pouco. O fluxo de lágrimas diminuiu parcialmente e ela parecia estar com uma pitada a menos de dor. Ela contou-me sobre Santa Mônica e Santa Barbará, os lugares que mais amava. Contou sobre sua casa, sobre as praias, sobre os parques, sobre seus vizinhos e sobre a sua irmã Prim. Contou-me como sua infância fora alegre e ilusória. Ela acreditava em unicórnios e príncipes encantados, em papai-noel e fada do dente. Uma vez, um garoto do bairro dela comprou uma fantasia de príncipe e se declarou para ela. Embora ela o achasse feio e chato, ela disse que poderiam andar de mãos dadas de vez em quando. Katniss até sorriu um pouco com a lembrança.

Clove entra no meu quarto e corre até Katniss, levando um susto ao vê-la agarrada a mim.

– Katniss, o que houve? – pergunta ela, segurando o rosto da amiga com a mão que Thresh não tirou os dedos e o seu suposto namorado de olhos verdes entra no quarto timidamente.

Katniss conta tudo o que está acontecendo tentando segurar as lágrimas, mesmo que não adiante. Clove se revolta em ter que ir embora também, mas a convencemos a ir. E ela disse que também não deixaria Katniss e sua mãe na mão.

Katniss tem amigas leais.

– Vamos ligar para o aeroporto e guardar a vaga para o próximo voo – digo, discando o número do aeroporto mais próximo de Miami.

– Aeroporto Internacional de Miami – uma mulher atende e eu coloco no viva voz.

– Gostaria de reservar cinco passagens para o próximo voo que for para Santa Mônica, Califórnia.

– Deixe-me checar – a mulher fica em silêncio, provavelmente pesquisando os próximos voos.

– Senhor, temos um voo para daqui uma hora e vinte minutos, temos seis passagens disponíveis, porém não podemos reserva-las. O senhor terá que vir ao aeroporto e comprar, se alguém chegar antes de você, serei incapaz de guarda-las para você. Ordens da linha aérea.

Merda. Se não chegarmos a tempo, talvez não tenham passagens o suficiente, ou talvez nem tenham.

– Se não chegarmos a tempo, qual é o próximo voo após este? – pergunto, segurando a mão de Katniss, que está agitada.

– O próximo será apenas de madrugada, senhor.

– É muito tarde – diz Katniss. – Temos que ir agora.

– Obrigada – digo a mulher e desligo.

– Temos que ser rápidos – digo. – Finnick, vá fazer uma mala. Clove e Annie já estão prontas?

– Estamos – respondem.

– Eu também quero ir – diz o namorado de Clove.

– Amor, é melhor não – Clove puxa o garoto para fora do quarto e posso ouvir os sussurros deles lá fora.

Finnick corre para o seu quarto e começa a fazer uma mala.

– Peeta – chama Katniss, com a voz embargada. – E se não conseguirmos? E se não tiver passagens para todos? E se não sobrar passagem para você?

– Ei, vai ter. Vai ter para todos nós, o.k? Não acho que muita gente esteja indo para a Califórnia – digo, secando suas lágrimas.

– Eu não quero deixar você. Eu não quero ir sem você. Eu não quero... Perder você – ela encosta sua cabeça em meu peito e eu a aperto contra mim.

Eu também não, esquentadinha, mas isso vai acontecer cedo ou tarde.

Depois que Finnick já fez sua mala, nos separamos nas motos. Clove convencera seu namorado a ficar e pelas lágrimas em seus olhos devem ter terminado o relacionamento.

Katniss e eu vamos na minha moto. Finnick e Annie na dele. Cato, que resolveu nos acompanhar até o aeroporto, leva Clove. Ele disse que traria nossas motos de volta. Ele é tão atrapalhado que, provavelmente, vai acabar deixando-as no estacionamento do aeroporto.

Meu coração está apertado. Minhas mãos estão suando frio e tento ir o mais rápido que a lei permite para chegar ao aeroporto. Katniss está agarrada a mim. Estou com um pressentimento ruim, mas não conto a ninguém, para não piorar a situação. Hoje estava sendo o pior dia de todo mundo.

Demoramos cerca de vinte e cinco minutos para chegar ao Aeroporto Internacional de Miami. Deixamos as motos com Cato e corremos para dentro do aeroporto.

– Cinco passagens para o próximo voo para Santa Mônica, Califórnia – diz Katniss, ofegante.

A mulher dentro da cabine é morena e tem cabelos enrolados e crespos. Ela mexe em seu computador e sua expressão muda.

– Senhorita, sinto lhe informar, mas temos apenas três passagens para o próximo voo. O próximo será às 2h00, mas tem apenas uma passagem.

Meu mundo desaba. Sinto meu coração ir a mil e não consigo concentrar-me em nada além das batidas do meu coração.

Só três passagens. Três pessoas. Katniss, Annie e Clove. Eu não vou. Não sobrou passagem para mim.

Todos os pesadelos que tive a última semana com este dia finalmente se tornaram realidade. Ela estava indo embora e eu estava ficando. Eu terei que ficar. Eu terei que assisti-la entrando dentro do avião e partindo. Terei que enfrentar a última vez.

Katniss olha para mim com lágrimas começando a escorrer.

Não – murmura ela. – Não.

Katniss se joga em meus braços e chora em meu peito. Seus soluços são altos e juntados aos meus chamam a atenção de todos.

Clove começa a falar com a mulher que nos olha com pena.

– Eu vou querer as três passagens – diz ela e a mulher assente, imprimindo as passagens.

Elas continuam conversando e Clove dá o dinheiro, mas eu não escuto mais nada. Não vejo mais nada. Não sinto mais nada. Apenas as batidas frenéticas do meu coração e do de Katniss.

Inferno.

– Senhoritas, falta apenas vinte minutos para a decolagem, vocês têm que se direcionar para o avião – diz a morena, hesitante.

Cato volta e entende na hora o motivo das lágrimas em nossos rostos. Ele é quem nos arrasta para o local onde o avião ia zarpar, se não, provavelmente, ficaríamos parados ali, chorando.

Andamos lentamente e agarrados. Katniss aperta-me com força e eu também.

Estamos em uma sala que posso ver o avião que Katniss entrará para a Califórnia.

– Escute – começo. – Eu vou pegar o próximo voo que tiver. Não importa se será amanhã ou até depois de amanhã. Ou no próximo mês, ou no próximo ano. Eu não vou desistir de nós, Katniss. Nunca.

– Peeta...

– Só desistirei se você pedir.

– Peeta, eu não quero que você vá para a Califórnia. Eu não quero prender você a mim dessa forma e não quero ser presa a você. Teremos que superar. Lembra do dia que lhe contei que ia fazer um intercâmbio na Inglaterra? – pergunta ela.

Lembro vagamente de Katniss no acampamento dizendo algo sobre ir para a Inglaterra no próximo ano, fazer o último ano da escola lá.

– Lembro – digo com a voz embargada.

Eu sentia-me em um filme de romance patético. Sentia-me patético como aqueles caras. Eu estava passando pelo que os malditos apaixonados passavam. Estava apaixonado por uma mulher e estava perdendo-a.

– Peeta, eu vou para a Inglaterra no mês que vem. Tentei não tocar no assunto porque isso doía demais em mim. Eu sabia que não poderia ver você e isso dói tanto que eu sinto como se meu coração fosse explodir.

“Eu não sei se continuaremos isso que temos, Peeta. Não sei se será saudável para nós ter um namoro virtual. Por isso, quero deixar que o tempo nos diga o que acontecerá. Não se prenda a mim. Quero que continue sua vida. Ache outra pessoa, namore ela, case com ela, tenha filhos, siga sua vida. Mas sempre lembra de mim. Sempre lembre desse romance de verão, porque eu sempre lembrarei.

Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Falando sério. Sabe como senti medo de cair em amores por você? Cair em amores pelo badboy surfista de Miami era algo horrível em meus pensamentos. Se eu soubesse no que isso daria, na pessoa que você é por dentro, no primeiro segundo que o vi já teria caído em seus braços. Obrigada por sentar em minha mesa no dia que cheguei em Miami. Obrigada por se apaixonar por mim, obrigada por jogar comida em minha cabeça, obrigada por fazer eu correr atrás do seu sorvete, obrigada por me levar para andar de moto, obrigada por me levar ao Dreams with Nebula, obrigada pelo show da Demi Lovato, obrigada por ser quem você é. Obrigada, Peeta.

Você... Eu... Peeta, eu amo você. Independentemente de qualquer coisa. Não sei se um dia vou parar de pensar em você aleatoriamente e perder batidas do meu coração ao ver suas orbes azuis. Não sei se vou conseguir amar outro homem. Nem se vou sentir por alguém o que senti por você.”

Eu estava chorando feito uma criança ao ir embora de uma festa. Sentia-me enjoado, sufocado. Meu mundo estava caindo.

– Eu não sei o que dizer – é tudo o que digo.

– Não precisa – ela sorri e me beija.

Nosso beijo é salgado devido as lágrimas e eu sinto a nostalgia desde agora. Sua língua dança com a minha e eu exploro cada centímetro da sua boca, da mesma forma que fiz da primeira vez que os experimentei. Contorno seus lábios com minha língua e tento memorizar cada pedaço dela.

É a última vez, Peeta. Guarde tudo o que puder.

– Eu amo você – digo. – Mais do que já amei qualquer pessoa. Eu vou continuar amando, Katniss. Vou esperar por você. Nem que isso leve vinte anos, ou a minha vida inteira, eu estarei aqui. Sempre saiba disso. Meu coração é seu para o que quiser fazer com ele.

– Katniss, está na hora – diz Clove, enxugando algumas lágrimas de seu rosto.

Katniss soluça, agarra minha cintura e me aperta mais forte do que todas as outras vezes.

– Eu amo você, surfista metido – diz ela.

– Eu amo você, esquentadinha.

Katniss me solta e anda de frente para mim, sendo arrastada por Clove para longe de mim.

Sinto minhas pernas bambas, a vontade de correr atrás dela e segurá-la para nunca mais soltar. Como um patético de filmes de romance.

Sons de pessoas conversando, malas sendo jogadas e passos seria o que eu supostamente deveria escutar. Mas eu apenas escuto as batidas do meu coração, que não está mais comigo.

Eu escuto ela dizendo pela primeira vez que me amava, escuto sua risada enquanto surfávamos, escuto o barulho dos nossos beijos, escuto seus passos correndo atrás do sorvete, escuto sua voz cantando dentro do chuveiro. Posso ouvir tudo isso se desfazendo. Tudo isso indo embora junto com ela.

Katniss fica cada vez menor em minha visão, até que eu apenas vejo um vulto tremendo perto do avião e sendo arrastada lá para dentro, não sem antes olhar uma última vez para fora do avião e gritar algo que não pude ouvir.

Última vez.


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Notas finais do capítulo

Ficou muito clichê, né? :V
Segurem os corações...