Rosa do Deserto escrita por Y Laetitya


Capítulo 9
Preparações para a partida




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Saí da barraca onde conversei com major Brown e dirigi-me até uma das extremidades do acampamento onde estava sombra, então aproveitei para me sentar no chão de terra batida e pegar um maço de cigarros que guardava sempre na minha jaqueta junto comigo. Acendi e dei uma tragada demorada, enchendo todo o meu pulmão com aquela fumaça prazerosa, depois de repetir varias vezes essa ação, me levantei em busca da minha barraca, peguei minha arma e fui até Juan ensinar-lhe uma lição sobre o fim que os canibais como ele deveriam ter. Não demorei muito para acha-lo, escondendo como um rato medroso, quando ele me viu, não me reconheceu de imediato, suas mãos estavam tremendo tanto que não conseguiu me acertar sequer um tiro, eu caminhei em sua direção até que ele pudesse ver meu rosto, ele praguejou e me chamou de puta maldita, suas ultimas palavras.

Talvez ele não fosse tão valentão como sua fama dava-lhe a impressão.

Minha tarde resumiu-se em matar alguns fiends que cruzavam meu caminho enquanto carregava a cabeça do traficante canibal como troféu de recompensa, nada muito excitante.

Ao chegar no acampamento, procurei pelo major, ele estava sentado na cadeira onde sempre costumava ficar, engordando e dando ordens inúteis para o restante dos soldados, chutei sua cadeira para chamar-lhe a atenção, ele me olhou com uma expressão de fúria, joguei a cabeça degolada no chão, cobrindo-a com terra enquanto ela rolava até os pés do meu superior. Seu olhar de ódio se transformou em surpresa ao ver meu trabalho completo, sua boca curvou-se para cima, desdenhosa, enquanto examinava a expressão congelada da face sem vida de Juan, parecendo enfim satisfeito e me entregando algumas notas de dinheiro da NCR.

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A tarde estava acabando, dirigi-me ao refeitório para comer um pouco de perna de louva-deus grelhada e alguns grãos de milhos, conversei com alguns soldados enquanto comia, quando terminei, larguei meu prato na mesa e caminhei até a porta, encontrei Ethan parado ao lado da porta um pouco ansioso. Quando me viu saindo, correu um pouco para me alcançar.

–Eu precisava lhe perguntar algo.

–Vá em frente. –Disse.

–Aquele cigarro que fumamos juntos outro dia... Ele era diferente. –Ethan parecia confuso e inquieto –Nunca havia experimentado algo do tipo, pode parece estranho, mas eu sinto que poderia fazer qualquer coisa para ter mais um daquele novamente, sabe o que estou dizendo?

–Claro, podemos fumar juntos novamente. –Sorri maliciosamente. –Me acompanhe.

Ele concordou com a cabeça, levei-o à minha barraca, estava vazia, havia descoberto recentemente que minha companheira estava cuidando dos turnos da noite e por isso não apareceria por lá para nos interromper, eu podia me divertir quantas horas aguentasse com Ethan Joseph –e não estou me referindo em jogar um simples jogo de Caravana– e então depois fumar um ou dois cigarros com ele.

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Quando acordei, a tenda não estava totalmente escura, alguns raios de luz passavam pelas fendas e rasgos, a intensidade revelava que já passara do meio dia, a mulher que dividia o quarto comigo estava deitada, sentei na cama massageando minhas têmporas, estava com dor de cabeça e suava muito, então percebi porque estava coberta mesmo com aquele calor escaldante do Mojave: era porque estava nua. Então, cenas da noite anterior vieram como pequenas memórias em minha mente, comecei a sorrir, então deixei que uma gargalhada contida escapasse de dentro de mim. Ethan não foi tão bom de cama quanto James, mas depois de dias tão seca quanto a escassa vegetação das redondezas, qualquer um poderia saciar a minha vontade.

Enrolei-me no cobertor e recolhi minhas roupas que estavam espalhadas pelo chão, imaginei o que minha companheira de tenda ficara pensando quando viu minhas peças todas jogadas no chão, ou se ela pegou Ethan dormindo comigo. Provavelmente eu descobriria mais tarde, mas não que eu realmente me importasse com tudo isso.

Depois de me vestir por completo, fui até o refeitório e enchi meu prato com um tipo de sopa e milho, normalmente a comida preparada nunca tinha uma aparência convidativa, mas era muito melhor do que eu costumava a comer quando vivia entre os fiends. Não tinham muitos soldados por lá, já que a hora das refeições já havia passado, sentei-me sozinha e devorei minha refeição, refletindo o que fazer depois que terminasse, planejava arrumar minhas coisas e partir para o Acampamento Golf.

De repente, ouvi soldados gritando e uma certa inquietação vindos da entrada do McCarran seguidos de um tiro seco, levantei-me, contendo para não deixar passar tanta curiosidade como estava realmente sentindo e caminhei depressa para a direção dos gritos. Alguma briga havia acontecido, dois soldados passaram correndo por mim carregando um outro ferido por alguma arma de fogo, o tiro havia penetrado na barriga do rapaz e sangrava deixando uma trilha vermelha por onde eles passaram apressados a caminho da enfermaria. Vendo aquilo, apressei mais o passo, depois de passar algumas barracas deparei-me com dois soldados segurando Brown e uma arma estava largada no chão empoeirado, seguindo a direção do olhar do major, haviam outros dois soldados sendo amparados por mais alguns, um deles era Collins, ele tinha um corte acima da sobrancelha direita, ambos os lados estavam gritando ofensas e ameaçando uns aos outros de morte. O clima estava tenso.

Corri até Collins para ajuda-lo.

–O que aconteceu aqui, Collins? –Perguntei em voz alta, encarando o major com raiva.

Ele não respondeu, apenas encarou o chão e cuspiu, visivelmente puto da vida.

–Apenas tive uma conversinha com seu amigo. –Brown se ajeitou, livrando-se dos soldados que o seguravam e arrumando a farda, vitorioso.

–Filho da puta... –Rosnei.

Ele xingou e foi embora.

–Está tudo bem?

–Sim... Mas temo que Phillip não teve a mesma sorte. –Collins disse, limpando o sangue que escorria no seu rosto.

Ajudei-o a levantar, a multidão que se formara envolta por causa do barulho do tiro estava se dissipando aos poucos e fomos até a enfermaria para tratar do corte. Chegando lá, o soldado que havia levado o tiro já estava deitado em uma maca com uma bolsa de sangue em seu braço e com a barriga devidamente enfaixada.

–Você trabalha rápido aqui, heim? –Disse para White, que riu.

–O que temos agora? Outra briga com o major?

–A mesma. –Collins sorriu, sarcástico.

Ao certificar-me que o havia deixado em boas mãos, voltei para minha tenda e arrumei minhas coisas na mochila, inclusive a foto da minha família, passei pelo refeitório e peguei alguns mantimentos enlatados para a viagem, se Brown esperava que eu morresse de fome já poderia se decepcionar. Mas parecia que estava faltando alguma coisa... Sentia que deveria tentar descobrir o porquê aconteceu aquela briga.

O céu começava a ganhar uma cor diferente, avisando que o sol começaria a abaixar em breve e a noite logo chegaria. Um vento frio e úmido batia no meu rosto delicadamente, inspirei e expirei, contemplando aquele momento. Era uma das coisas que eu valorizava mesmo quando ainda era uma fiend, o pôr do sol era a minha hora do dia favorita, pretendia ir falar com o major se podia partir amanhã cedo, queria ter tempo de investigar sobre o que aconteceu hoje. Caminhei até a cadeira onde ele costumava ficar o dia todo, e lá estava ele. Não fora preciso insistir muito, era visível que minha companhia não o agradava, e fui respondida com um “faça como quiser” como forma rápida de se livrar de mim.

¨

Caminhei pelo acampamento atrás de Collins, ele estava comendo sozinho no refeitório, peguei um prato e coloquei apenas algumas pernas de louva-deus pequenas e sentei-me ao seu lado, a comida era apenas um pretexto para poder conversar com ele.

–Por que você e seus colegas brigaram com Brown?

–Sempre muito direta... –Sorriu. –Não concordamos com o que ele faz, alguma novidade?

Acomodei-me no banco, um pouco desconfortável com a resposta evasiva que recebi.

–Desculpe... Eu apenas, você sabe.

–Se soubesse não teria vindo aqui perguntar. –Disse.

–Não concordei com a missão que ele te deu, fui tirar satisfações e ele teve a coragem de dizer que você quem quis ir para tão longe... Quer dizer, é claro que você não iria querer, é uma longa jornada, poucos sobreviveriam. Imagino se ele não quer se vingar de uma vez por todas de você. Então discutimos, ele me deu um soco, alguns amigos apareceram e... Bem, você viu o que aconteceu depois.

–Ele estava certo, fui eu quem o procurei para pedir esta missão.

Ele me olhou chocado, seus olhos deixavam transparecer um mesclado de indignação, dúvida e apreensão.

–Mas por quê...?

–Uma longa história. –Olhei para os lados e me aproximei dele para falar mais baixo sem que qualquer pessoa que estivesse perto fora ele ouvisse, suas bochechas coraram levemente, mas logo voltaram ao normal. –Quero tentar trazer o major Dhatri de volta. –Rocei meus lábios em sua orelha, não negando uma segunda intenção por trás daquela conversa.

–Arriscado. Você não precisa fazer isso por nós, acabou de chegar e já quer arranjar uma confusão maior do que a primeira? Qual é a sua?

Dei risada, me acomodando novamente à posição de antes e belisquei um pouco a comida que estava no meu prato, até então intocada. –Eu apenas acho que é isso que deveria ser feito, e se finalmente temos alguém com coragem o suficiente para fazer isso, ou melhor, que não tem nada a perder, por que não tentar? Vou partir amanhã, até lá, tenho alguns planos para esta noite. Quer me acompanhar?

Ele sorriu, levantando-se.

A maioria dos chems estavam guardados na minha mochila, mas deixei alguns no baú para esta noite. Eu e Collins ficamos chapados e eu não perderia a chance de ter outra foda rápida, ainda mais que uma grande viagem se seguiria, e isso provavelmente significaria ficar semanas sem uma, eu deveria aproveitar ao máximo esta minha noite com meu novo parceiro, e algo me diz que depois dos comprimidos que achei no pacote de drogas que restava, Collins seria melhor que James.


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