Rosa do Deserto escrita por Y Laetitya


Capítulo 13
Reencontrando um "amigo"




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Ferida sem conseguir andar, merda! Me arrasto para a beirada da estrada, desviando de algumas minas bem camufladas no asfalto rachado. Faço um torniquete simples e começo a procurar por um stimpak.

—Até onde vai essa merda de seca? –Ouço uma voz ao meu lado, o que me faz arrepiar e sacar a arma, pronta para apertar o gatilho.

—O que faz aqui? –Era James.

Abaixo a arma. Era noite e fui pega despreparada. O vento sopra, fazendo poeira e folhas secas voarem, ele não era lá muito bonito, mas quem conseguia ser naquele monte de ruínas? A lua iluminava seu rosto bronzeado, a expressão em sua cara fazia sombras estranhas, um cheiro de suor misturado com urina de rato chegou ao meu nariz, e por um momento pensei o quanto já estava acostumada com uma vida de banhos regulares, apesar de saber que eu também fedia naquele momento. Era possível ouvir os silvos distantes de alguns geckos selvagens e o cantar de insetos da noite.

—Você sumiu... Mas eu nunca acreditaria, se não tivesse visto. As pessoas começaram a falar sobre o que você fez com Juan. –Ele faz uma pausa dramática. –Mas eu não estou reclamando, entende? Foi bom para os meus negócios também.

—Se você tivesse a chance de sair daquele lugar, você o faria?

—Algumas pessoas estão tão acomodadas em suas vidas, que simplesmente não querem mudar, Miss.

—Não sou mais a Miss. Sou Rose. Por que tão longe de Vegas?

—Precisava ver com meus próprios olhos. E também... Pra ser honesto, eu planejava te saquear, nada de mais, soldados da NCR recebem bem pelo serviço? Eu não sei, mas queria descobrir... Porém, olhe como são as coisas, você deu conta de vários saqueadores natos, numa emboscada de matar! Bem, pra eles pelo menos... Então mesmo vendo você ferida aí, tão desprotegida como um ratinho, –Você fala do mesmo rato que mijou em suas roupas? –Achei que poderíamos trocar favores... Como sempre, você precisa de mim, e eu de você Miss “Rose”.

—Eu não preciso de você. –Digo, arregaçando a manga do braço esquerdo e injetando um stimpak nele, a sensação era maravilhosa, a dor sumiu instantaneamente e já conseguia mexer a perna, o sangramento começou a parar. James parecia surpreso.

—Afinal, aprendeu a usar alguma das drogas?

Me levantei e comecei a limpar os corpos da estrada, arrastando-os para atrás dos carros enferrujados, James assistiu a tudo, sem ajudar. Quando terminei, limpei a testa molhada de suor, bebi dois goles de whisky barato que ficava no meu cantil, aquilo desceu rasgando minha garganta, mas agora estou mais hidratada –água é apenas para os fracos–, e arrumei minha boina da NCR.

—“Rose”! –Ele me chama, ironizando meu nome. –Ainda quer um vestido vermelho?

Um arrepio percorre minha espinha, sinto minha expressão do rosto vacilar por um momento.

—Vá embora, não há mais nada seu aqui, fique com o dinheiro dos cadáveres e deixe-me seguir meu caminho. –Disse, pegando a mochila pesada cheia de suprimentos e armamentos.

—Você pode mudar de vida, Miss, mas saiba que sempre será uma fiend. Basta ver suas veias, não é o sangue, mas sim o que você põe pra dentro de sí, minha querida. –Ele joga em minhas mãos um pacote. –Muito agradecido, com certeza esses cadáveres terão muitas tampinhas. É um prazer fazer negócio com você. –Sorriu e se distanciou.

 

 

Após contornar as rochas, estendi meu saco de dormir longe da estrada que seguia, queria evitar encontros com outras pessoas, até mesmo caravanas. Caravanas. Minha cabeça doeu, pensar naquilo tinha esse efeito sob mim. Com tantas lembranças, por que essa não poderia se apagar, como tantas outras? Perder pessoas durante minha vida me fez aprender que nunca somos invencíveis, a justiça não existe e que o karma pode ser algo bem ruim. Mas o que eu poderia fazer? Eu sabia o que tinha no pacote que James me deu, e não via a hora de experimentar.

Dobrei minha manga do braço direito e dei petelecos na seringa que com certeza já foi usada algumas vezes, o liquido dentro dela chacoalhou, fazendo pequenas bolhas de ar se prenderem na parede transparente. Você sempre será uma fiend... Eu sei disso seu filho duma puta, eu sei. E sinto mesmo que não posso mudar. Mas pelo menos, hoje, agora, agora eu esqueceria, não haveria mais NCR, não haveria James, nem caravanas, não haveria sangue nem dor. O liquido fluorescente da seringa se esvaziou devagar, conforme ele adentrava minha veia, podia sentir aquilo as corroendo e seguindo seu caminho, começou pela altura do cotovelo e seguiu em direção ao ombro, o céu estava bonito, apesar de tudo. Muito estrelado, a lua iluminava tudo ao meu redor.

 

Eu estava na strip, as estrelas caiam do céu roxo em varias cores diferentes, uma musica que eu ouvi certa vez na infância tocava, eu estava sentada na sarjeta de um cruzamento, os carros estavam parados no meio da rua por algum motivo, um grupo de quatro pessoas estava conversando bem longe, cheguei perto para ouvir o que eles estavam falando, mas quando perceberam minha presença, começaram a gritar, vieram correndo em minha direção, fico com medo e começo a fugir deles, mas um dos homens me alcança e pula em cima de mim, ele estava tentando a todo custo me arranhar e morder, chutei seu rosto duas vezes com minha botina, por que eu usava uma botina militar? Eu não estava na strip? O que aconteceu com meu vestido vermelho? Saquei rapidamente, ainda confusa, uma faca de caça que estava presa à minha coxa, esfaqueei o pescoço o homem louco, ele cai em cima de mim esguichando sangue pela artéria perfurada, joguei ele pro lado e levantei-me depressa enquanto procurava pelas outras pessoas, uma mulher mais próxima sibilava, limpei meus olhos onde tinha caído sangue, com a visão embaçada, desviei quando ela tentou pular em cima de mim, cravando minha faca em suas costas, ela não ficou nada contente e tentou me atacar novamente, quando enfio a faca com todas as minhas forças embaixo do seu queixo. Outro homem me atacou por trás, fazendo-me cair, bati a cabeça numa pedra e fiquei zonza, começo a rolar com meu agressor, perdendo a faca no processo. Agora os sibilos estão mais fortes, como se não pudesse piorar, outro homem-lagarto ataca, me dando assim, por vencida, assim que desisti de lutar, cansada, mas então eles caem em cima de mim, sem vida.

Fico estendida no chão sem conseguir tirar aquele peso que me prensava contra o chão, três militares apareceram e tiraram os cadáveres para que eu conseguisse levantar. Levei minha mão à cabeça, que doía muito, e um liquido vermelho cintilante à luz da lua escorria de minha têmpora direita –sangue?–, meus ouvidos apitavam, meu lábio também estava cortado.

—Está tudo bem? –Um dos soldados, preto como carvão, abaixa-se e me ajuda a ficar sentada. –Você por acaso é a soldado Campbell?

Então eu fui trazida para a realidade de novo, apesar de enxergar tudo distorcido, colorido demais e também de estar assustada, procurei respirar fundo.

—S-sim. Pras duas coisas. O que querem?

—Major Brown mudou de planos. Você vem com a gente.


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