Rosa do Deserto escrita por Y Laetitya


Capítulo 1
Prólogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/534679/chapter/1

Ano 2281

Seca, escassez de alimento, terra vermelha e os malditos viciados” é o que eu geralmente ouço os mercadores de caravanas dizerem quando passam na estrada ao lado da podridão onde eu vivo. Na nossa tribo, se assim posso chamar, não existem velhos para nos contar sobre a Grande Guerra, nós simplesmente nunca vamos chegar até essa idade, somos os malditos viciados que matam e morrem por um psyco, um jet ou um med X. Eu sou uma criação de varias drogas e provavelmente de um estupro, não me lembro dos meus pais, eu cheiro a poeira, não tenho companheiros, porque nós somos a escória, nós somos os Fiends, viemos arrastando do inferno e fizemos deste lugar o pior dos pesadelos.

Aqui as crianças não têm nome e nem destino, somos como folhas secas levadas pelo vento, a maioria acaba encontrando um incêndio, queima-se e morre. Não somos alfabetizadas, não somos educadas, fomos abandonadas à própria sorte, cometendo roubos para conseguir manter-se de pé, sabemos que vamos acabar como nossos pais –seja lá quem forem–, porque o único jeito de fugir da nossa realidade é usando as drogas como eles sempre fazem. Costumamos dizer que você só se torna parte dos Fiends quando mata por drogas ou vende alguém por elas.

Alguns anos atrás algumas crianças resolveram pedir ajuda aos soldados que ficam no limite da nossa área “protegendo” os cidadãos normais. Uma das crianças saiu correndo em direção deles, outras a seguiram, todas sujas, desgrenhadas e famintas, mas um soldado gritou algo e preparou a arma, elas não pararam, nós queríamos sair daquele inferno. Até hoje penso se eles tinham repulsa por todos nós, pelas crianças que pareciam cadáveres ambulantes, ou se pensaram que por não termos destino, não teria problema adiantar o inevitável, apenas permitindo que morrêssemos sem sermos corrompidas por completo. Eu não devia ter parado de correr quando o primeiro soldado sacou a arma. Eu não devia ter me escondido e largado meus companheiros para receberem uma bala cravada em suas cabeças. Várias crianças sem nome e agora sem futuro.

Eu não queria viver com aquela lembrança gravada em minha mente, comecei a tornar-me parte daquele lixo, roubando e me drogando sempre que possível, ficando noites inteiras em um mundo que só existia na minha cabeça, deitada ao fundo de lojas em ruínas, abandonada para morrer quando quisesse. Eles me tocavam e eu não ligava porque no fundo sabia que aquilo não estava acontecendo, ou queria que não estivesse. Não, eu estava muito longe, estava em um dos cassinos da Strip, sorrindo e jogando com amigos sem nomes. “Little Trash”, acho que era assim que me chamavam. Então barulhos de tiros começaram a ecoar e eu voltei para aquela ruína de loja, os homens saíram de cima de mim, mas caíram logo à frente em uma explosão de vermelho, soldados passaram correndo por mim sem sequer olhar, mas que diabos está acontecendo? O ultimo parou, parecia jovem, tinha cabelos tão limpos e dourados, fitou-me com um olhar de pena mesclado ao nojo e logo em seguida continuou a correr.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rosa do Deserto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.