Perdida no Escuro escrita por Jess-k


Capítulo 5
Luar Negro




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Era muito difícil para mim me tornar uma menina madura se algo dentro do meu corpo insistia em ser sempre infantil e continuava fazendo coisas idiotas               

Querendo ou não, Derry era quem me entendia e supria minhas necessidades de conhecer sentimentos novos. Acho que a coisa que eu mais gostava nele era a teimosia, o modo dele nunca respeitar minhas ordens como: se manter ao meu lado constantemente, não se intrometer nos meus problemas, esquecer de dizer quais seriam as conseqüências de tais atitudes que eu tomava...Podia parecer um incômodo na hora mas, graças a ele tudo acabava bem, ele sabia dar os melhores conselhos a alguém perdido, e, no meu caso, a uma menina perdida na escuridão desse mundo cego dos valores que se escondem dentro de uma pessoa.

A cada minuto com Derry eu queria ficar mais tempo ainda, se tornou um tipo de vício voluntário, quase como magnetismo, porém, na maior das aproximações, ambos recuavam.

Após vocês sabem quem aparecer e eu ir para a “terra dos sonhos”, tudo que eu queria me era entregue sem qualquer esforço, mas, só durava enquanto eu estava lá, depois eu “acordava” e prosseguia na minha vida chata e monótona de sempre, aonde os dias não tem diferença, o que muda é só a data.

Incrível, eu podia contar com Derry para me dizer quem eu sou realmente e as infinitas possibilidades donde eu poderia chegar até que, enfim, todos nós acordamos desses devaneios fabulosos e lembramos que nada naquilo foi real, é o que mais dói.

Ele dizia que era incompleto quando estava longe de mim, ou seria o inverso?Discutir sobre sentimentos comigo já era complicado, mas, eu comecei a refletir sobre eles e pensei: “eu sei o que é saudade, angústia, culpa, mas...afinal, que mistérios existem por trás da dor, o que ela é realmente?”, isso ficou martelando na minha cabeça e eu pensava que tinha a quem recorrer: Derry.

Dentro de mais um dos meus maravilhosos devaneios, fui pega de surpresa. Senti as mãos de alguém me tocar, uma se posicionou na frente dos meus olhos me impedindo de enxergar e a outra segurou minha cintura, o tipo de brincadeira que só um cara patético e sem um pingo de vergonha faria...

- Adivinha quem é. – Disse a voz que eu reconheceria a quilômetros de distância. Eu ignorei a pergunta sem graça dele e fui direto ao ponto que eu queria chegar.

- Derry, como você define dor? – Ele me largou e se afastou de mim, sua fisionomia mudou completamente, seu lindo sorriso desapareceu e o brilho de seus olhos se ofuscou, em seguida, ele abaixou a cabeça, se encostou na parede e foi se arrastando por ela lentamente até chegar ao chão, por fim, abraçou suas pernas com seus braços para pensar, não livre de tristeza, deu para notar. Por qual razão ele ficou tão estranho de repente?Fiz apenas uma pergunta.

- Sabe, nós temos os sentimentos bons, agora...Quando quem ou o que os causa se vai e não tem possibilidade de voltar, o que resta? É impossível deixar de sentir, não é? A culpa fica cravada em nosso peito, pressa em nossa mente e consumindo tudo que a gente achava que tinha de bom. Daí a escuridão toma conta de nossos dias e um frio toma conta de nossa alma, passamos a ser a sombra de tudo que sentimos, ou o que passamos a sentir depois que conhecemos essa detestável palavra que todos chamam de dor. Quando os sentimentos bons se voltam contra nós, eles acabam virando contrários ou mesmo pesadelos dentro da realidade, um tipo de revolta onde só sobram coisas como; ódio, tristeza, culpa, rancor, ira, medo e DOR! 

Todas as coisas que ele disse me acertaram com mais intensidade do que eu imaginava, algo em mim sangrava, mas nele parecia muito mais implícito, era quase como uma hemorragia que jorrava as vísceras dele para fora e o matava vagarosamente enquanto eu observava sem saber o que fazer. Ele deve sabe tão bem o que é dor que acredito que foi uma péssima idéia lembrá-lo exatamente como é. Derry suspirou e continuou.

- Não podemos sentir dor por algo que não demos valor, as coisas que mais amamos se vão e deixam feridas, ela não cicatrizam, apenas as tampamos até que alguém torne as abrir e tudo que estava aprisionado volte com mais força. As lembranças são a pior parte, “fomos felizes e tivemos bons momentos juntos, agora ela se foi e sou incapaz de sentir toda aquela felicidade novamente!” – As palavras eram frias, ele não me encarou em nenhum instante, era como se ele falasse sozinho, mas sabia que eu estava ali ouvindo.  As gotas não puderam se manter e começaram a cair de maneira desenfreada, só que sem nenhum soluço ou lamentação, parecia mais que eram gotas de sangue que não sabiam por onde sair, porém, eu sei que fui eu que causei tudo isso.

- Não existe forma de evitar a dor, deixe-a rasgar sua alma para que depois não reste nada para ser destruído, esse será seu único conforto, quando não restar nada, acabou. – Parecia que finalmente ele tinha terminado, as gotas também pararam, eu me sentei perto dele e fiquei olhando para o outro lado para que ele pudesse se recompor, entretanto, quando eu voltei meus olhos para ele, ele havia desaparecido.

Eu acho que eu só conseguiria entender a dor de verdade se um dia brigasse com Derry e repensasse no que ele disse: “Ia ser um silêncio insuportável, eu perderia a principal parte de mim, e a cada momento, outra e outra iria se quebrar, até que não sobrasse nada além do meu vazio por dentro e tudo chegasse ao fim, acabou...”

Quando eu pensei nisso tudo, senti uma agulhada em meu peito e uma dor indistinguível, então, eu fugi, não era hora de sofrer pelo que viria a acontecer no futuro, era melhor guardar tudo para o momento certo.

A culpa voltou, aonde Derry estaria agora? Não muito longe, eu creio. Contudo, ele voltaria brevemente, e eu pediria desculpas.

Ao anoitecer... 

 

Sob o brilho da lua minguante, ao lado do mar, eu vi Derry caminhando indiferente e distraído, como se nem tivesse notado a minha presença, apenas o que iluminava o ambiente era o reflexo da luz da lua no mar, e eu olhava os movimentos lentos de ondas para frente e para trás, o som ecoava na minha mente. Derry se encostou sobre o muro baixo e ficou observando o mar, ele estava ofegante, parecia nervoso.

Estava claro que ele não me via, eu estava ali como uma sombra curiosa, vendo se algo nele estava errado, acho que isso é óbvio.

Ele pôs as duas mãos sobre a cabeça, fechou os olhos e levantou a cabeça para dar um grito (muito alto por sinal), parecia que algo terrível pairava sobre ela, tamanho que ele precisava gritar para aliviar o desespero. Quais segredos será que passam pela cabeça dele? Quando toda a angústia dele chegou em mim, a minha vontade era me aproximar e o abraçar, o desviando daquele sofrimento, mas eu ignorei essa hipótese.

Se de manhã e de tarde Derry fora tão doce, ao cair da noite, ele se tornou amargo, irreconhecível. As lágrimas  dele começaram a cair novamente, ele passou sua mão no rosto para secá-las e conteve-se depressa.

Por último, Derry se encolheu nos próprios braços e sussurrou numa voz quase imperceptível olhando para a lua:

- Where are you? My body needs your voice to stay better, I forgot one piece of me into you, bring it to here, then, come back to me before I going start get crazy!

(Onde está você? Meu corpo precisa da sua voz para ficar melhor, eu esqueci uma parte de mim em você, traga-a aqui, e então, volte para mim antes que eu comece a enlouquecer!) 

 Eu sai daquele devaneio com medo de não conseguir me controlar e acabar me intrometendo no momento de dor dele. Tem coisas que é melhor não ouvir...


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