Gabi pode ver um homem alto de terno e gravata com uma cara de sério. Ela conhecia aquele homem, ele era Ricardo. Ela correu para abraçá-lo, um abraço reconfortante e protetor que só pai dela sabia como dá-lo.

— Como está a minha garotinha?

— Eu tô bem, mas precisamos conversar.

— Podemos ir para casa, Flavia e Alice estão nos esperando para almoçarmos.

— Não, eu quero conversar a sós com você, tipo pai e filha.

— Tudo bem, vou ligar para elas e dizer que vamos almoçar fora, só eu e você como nos velhos tempos.

Vincks é um restaurante simples com um toque sofisticado e muito tradicional. Havia cadeiras confortáveis e na entrada havia um pequeno jardim muito bem cuidado com margaridas de shasta, peónias e flox, flores lindíssimas e encantadoras. Esse era o restaurante que Gabi e seu pai sempre iam antes de ele se casar com Flavia.

Assim que eles entraram, veio um garçom que arrumou uma mesa para eles no canto, onde havia uma grande vidraça que dava vista para a rua. Em seguida o Garçom anotou seus pedidos.

— Aqui está praticamente igual, desde a última vez que viemos aqui. — Comentou Gabi observando o lugar

— Verdade, e olha que naquela época você era bem pequena.

— Estou feliz de estar aqui.

— Que bom! Eu conversei com a sua mãe, ela me contou que vocês discutiram.

— O que mais ela contou? — Um nó se formou na garganta de Gabi, ela lembrou que disse coisas horríveis para a mãe dela.

— Apenas que você não estava bem, que você andou bebendo.

— Foi só naquele dia, eu não estava bem.

— O que houve? Quer falar sobre?

— Não é sobre isso que eu quero falar, pai.

— Quer falar sobre o que?

— Por que você se distanciou de mim? Se eu não te procuro, você nem me liga para saber se estou bem.

— Eu ando muito ocupado com os novos clientes, ultimamente.

— Não estou falando de agora, estou falando de muitos anos atrás, desde que você conheceu a Flavia, nunca mais tivemos momentos como esses, onde está só a gente, igual fazíamos antes de você conhecê-la.

— Filha, eu me casei com a Flavia, ela e a Alice se tornaram minha família.

— E por isso você me excluiu da sua família? — Gabi estava lutando para evitar que as lágrimas descessem.

— Não foi isso que eu quis dizer, você é minha família.- Ricardo fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras certas. — Eu só queria que você se sentisse parte da família, por isso sempre que saímos eu as levo.

— E quanto a não me procurar? Você está ocupado demais se divertindo com a sua nova família? Não te entendo, você diz que me ama, porém suas atitudes contrariam as suas palavras.

— Do que você está falando? Eu te amo!

— Não é o que parece. Tudo que eu quero quando eu venho aqui é meu pai, passar um tempo com aquele homem incrível que eu sempre admirei. Aquele homem que me fazia se sentir a filha mais amada do mundo. Mas tudo o que eu encontro é um empresário que me trata como uma visita e faz com que eu me sinta deslocada.

— Eu não sabia que você se sentia assim, não sabia que eu estava te ferindo dessa forma.

Lágrimas escorreram pelo rosto de Gabi, ela sentiu seu coração apertar, tudo o que ela queria era um abraço. E foi isso que ela recebeu de seu pai.

— Me desculpa filha. Eu não queria que você se sentisse deslocada, eu pensei que estava tudo bem e que a distância entre a gente era comum, pois você esta crescendo.

— Mas não é assim, eu sinto sua falta. — Gabi estava aos prantos -— Sinto falta do tempo que passávamos juntos, sinto falta das nossas conversas, dos nossos passeios.

Gabi pode sentir o alivio das palavras que estavam presas em seu coração há muito tempo, palavras que a sufocavam.

— Eu não sabia que você precisasse tanto de mim, mas agora as coisas vão mudar, eu prometo!