Amy.

A floresta selvagem de Matretrica se estendia a sua volta. Estava agachada, parada, quieta.

A sua frente, o grande tigre-dente-de-sabre mostrava os dentes à menina, pronto para atacar.

Amy lançava um olhar feroz ao animal, de olhos pretos como a noite.

Não foi o tigre quem deu o primeiro movimento.

Amy partiu para cima do tigre gigante, abraçando seu pescoço e rolando ela e o tigre, para sabe se lá onde.

Ela subiu em cima do animal, com os punhos fechados, pronto para o ataque. Mas o tigre foi mais rápido, arranhou-a fortemente em seus bochechas. Ela nem sentiu a dor, apenas a substituiu pela ira.

– Agora você vai ver. – Ela disse para si mesma.

Em movimentos suaves e rápidos, levantou de cima do tigre, e pressionou com força seu pé, contra a garganta do animal, o incapacitando de exercer qualquer movimento.

Ela retirou a adaga de seu cinto de couro, mas para sua desgraça, o tigre retirou o pé de Amy libertando-o e fazendo Amy cair no chão.

Estavam novamente cara a cara.

O tigre, desta vez, deu o primeiro ataque. Começou a correr ferozmente em direção a menina. Amy ficou parada, apenas observando o tigre avançar em sua direção. Sua respiração era pesada.

O tigre estava se aproximando...

Ela esperou.

Mais um pouco pensou Mas um pouquinho...

E então o tigre lá estava. Perto o suficiente para Annie escutar sua respiração quente.

Então Amy deu um incrível salto no ar. O tigre tentou parar, mas estava muito rápido para parar agora. E, quando Amy se deu em conta, estava montada em cima do tigre.

O tigre deu um rugido feroz. Correram em disparada, sem saber para onde ir. O tigre lutava para ter Amy fora de suas costas, mas, obviamente, não obteve sucesso.

Pouco tempo depois, Amy ouviu o som da flecha rápida, disparar contra o olho esquerdo do predador, fazendo com que ele se atirasse ao chão, e o que faria com que Amy tivesse o mesmo destino, se um vulto não tivesse a agarrado, e rolado com ela para floresta adentro.

Quando finalmente parara de rolar, se deu em conta de quem era.

– Nick! Eu vou te matar. – Disse ela. – Eu conseguiria sozinha, ta?!

Nick possuía seus cabelos longos e pretos caindo-lhe aos olhos. Deu um sorriso a Amy e a abraçou.

– Bobão. – Disse a menina.

Ao longe, se via o tigre amarrado por uma rede de corta bem resistente. O tigre estava louco tentando tirar a flecha de seu olho, ou ao menos escapar da rede.

– Você e Layn conseguiram fazer a rede então. – Disse ela com um leve suspiro. – A próxima eu ganho.

Sim, Amy, Nick e Layn, tinham entre si uma competição. Querendo ou não, era isso, e mais nada que os mantinham vivos. Competiam tinham quase dois anos, e faziam isso todo santo dia, cada dia uma competição diferente, e contando com esta, estava 250 para Layn, 150 para Nick... e para Amy, simples 300.

Layn segurava sua lança, próximo ao tigre.

– Ah vai... – Disse Nick, mesmo sabendo que era o mais provável.

– O que iremos fazer com o bicho? – Gritou ao longe, Layn. Sua lança apontava ferozmente para a barriga do tigre, querendo matar ele de uma vez por todas.

Nick e Amy se aproximaram. O tigre chorava, e sangue pingava de seu olho esquerdo.

– E se... E se ficássemos com ele? – Perguntou Amy.

– Oque? – Disseram Layn e Nick em uníssono.

– Amy, está fora de nossos alcances... Precisamos de comida. Ele é a comida. – Disse por fim Nick.

– É, olhe, ele pode nos atacar enquanto dormimos. Ele é um predador, só deseja carne! – Exclamou Layn.

– Sim gente, mas olhe ao lado positivo... Se ele se comportar, poderia nos trazer a caça. Layn, somos nômades. Vivemos onde tem comida. E ele talvez possa nos dar comida mais rápido que nós três juntos. – Respondera Annie. Ela sabia que de fato, os outros meninos estavam até que certos, mas sua parte fizera tanto sentido quanto a deles.

– Não Annie! – Nick parecia realmente preocupado. – Eu não arriscaria a vida de ninguém a esse ponto.

– Na verdade, - Prosseguiu Layn. – O que ela falou, faz mais sentido que parece. O tigre possui o olho esquerdo cego, a flecha o perfurara bastante, se fosse um cervo, ou um macaco, teria o matado. Mas tigres-dente-de-sabre são raros e fortes, mas mesmo assim, o impacto o fez ficar cego de um olho.

– E... ? – Perguntou Nick.

– E, que ele mal consegue correr! Provavelmente sua visão desproporcional o faria cair toda hora, assim como os ataques seriam lentos e sem proporção.

Amy olhou para Nick.

– Por favor. - Disse ela fazendo um biquinho de pato.

– Não aprovo. – Disse ele. – Vamos levar para a tribo, lá eles decidem.

Amy pulou de alegria, e correu atrás do tigre.

– Vou pegar água. – Disse Nick, e saiu.

Amy observava o animal com dó. Ele lamentava, e a esse ponto, já desistira de tentar se mover. Parecia um animal morto, e se o sangue não parasse em pouco tempo, ele realmente estaria.

Layn já havia retirado a flecha do olho do animal selvagem, e o sangue começara a fluir muito rapidamente.

Layn retirou de sua blusa de couro, uma mecha gigante, e cobriu a cara do tigre, tampando o olho esquerdo, e deixando sua barriga a amostra.

– Isso... – Disse Amy sem conseguir tirar os olhos da barriga definida de Layn.

Layn se aproximou.

– Você fica linda caçando, sabia? – Layn era mais alto que Amy.

Seus corpos se aproximaram, e Annie ouvia a respiração quente de Layn.

Ela olhou para Layn, aproximou sua boca da dele, deslizou até ao ouvido, e sussurrou:

– Você não.

Layn deu um sorriso e saiu de perto de Amy.

– Um dia você vai ser minha. Eu sei. – Disse ele, cortando a rede que prendia o tigre.

Quase solta a rede, Layn amarrou uma corda grande e grossa, feita de cipó das árvores mais altas que encontraram.

Quando solto, era obvio que o tigre tentara escapar, se Layn não tivesse amarrado a corda na árvore. De principio, Amy suspeitava que a árvore fosse sair do lugar da tamanha força do tigre, e ele quase arranhou a cara de Layn. Falando nisto, ela quase se esqueceu do arranhão em sua cara.

Na verdade já acostumava com esse tipo de coisas.

– E agora? Como vamos levar o tigre para tribo? – Perguntou ela, por fim.

Layn deu um leve suspiro.

– Vamos para a tribo. – Disse ele. – Deixamos o tigre aqui. Depois que chegarmos, mandaremos Ash e Grandon e mais dois homens, ou se precisar mais, carregarem o tigre. Lá dentro do acampamento, veremos o que tem a dizer Fogo Cinzento.

Varos era o líder do Acampamento selvagem. Perdera um olho lutando em uma guerra onde toda a floresta fora incendiada, contra a última tribo selvagem que havia restado em Matretrica. O líder da tribo inimiga enfiou uma estaca flamejante no olho esquerdo de Varos, e ele usa um tapa-olho desde que Amy se lembrava. Depois que a guerra acabara, todos pensavam que este estava morto, mas da fumaça cinza que saia por todo a parte, Varos saiu de lá, como se renascesse de novo. A partir de então, foi conhecido como Fogo Cinzento.

– Não. – Pensou Amy. – Eu vou e aviso Ash e Grandon. Você fica. Fogo Cinzeno deu ordens claras a nós. O acampamento está sendo invadido muitas vezes, procure um lugar seguro e onde haja bastante água.

Amy não esperou que Layn aprovasse sua ordem, sabia que ele ia acabar por aceitando. Pegou seu arco e flecha, e se encaminhou ao acampamento selvagem.