Azalea Lewis e a 68ª edição dos Jogos Vorazes escrita por Yas


Capítulo 5
Sobrevivendo!


Notas iniciais do capítulo

Muuuita tarefa, gente. Literatura, Álgebra, Química, Física, Sociologia e Biologia — principalmente essa. E ainda tem as redações que eu tenho que fazer — já estou me preparando para o ENEM do ano que vem!



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Escutei pássaros cantando ao longe. Senti o vento no meu rosto. Abri os olhos e percebi que eu não estava enxergando bem. Eu via tudo fora de forma e tremeluzente. Demorei alguns segundos até lembrar as circunstâncias em que me encontrava e finalmente percebi que o que está prejudicando minha visão são os óculos para enxergar no escuro. Tirei-o. Eu poderia ficar ali, só esperando que os outros se matem. Mas agora eu estava com fome e com sede. Minha boca estava seca e minha garganta arranhava como se eu estivesse tentando engolir areia seca. Desamarrei a corda, saí do saco de dormir e guardei tudo na mochila. Começo a descer da árvore e quando estou à, mais ou menos, cinco metros acima do chão, caio. Pisei sem querer em um galho fino demais. Por sorte não cai em cima da bolsa. Poderia esfarelar meus biscoitos, que são a única comida que tenho. Poderia quebrar meu par de óculos. Poderia até me machucar com o punhal. Levantei e decidi que primeiro eu procuraria água. Eu ainda poderia passar mais uns dois dias sem comer, seria um pouco difícil, mas eu conseguiria. Mas não passaria de hoje se não tivesse água.

Já estou andando há umas duas horas. No caminho eu encontrei algumas folhas de menta. Mastiguei algumas e guardei um punhado de outras. Depois eu poderia amassá-las, misturá-las com água e fazer uma bebida que só seria mais refrescante se estivesse gelada.

Encontro terra molhada. Pode nem haver água por perto. Os Idealizadores dos Jogos controlam tudo na arena, inclusive o clima. Poderiam ter feito chover somente nessa área. Decido que não vou perder nada se seguir em frente.

Estou quase seguindo em outra direção quando vejo mais terra molhada. Apresso o passo e depois de mais cinco minutos andando encontro uma fonte natural. Não contenho o sorriso e corro até lá. Abaixo-me e afundo a cabeça na água, porém sem beber. Faço isso mais três vezes antes de abrir minha mochila e pegar a garrafa de água, vazia. Encho-a e adiciono algumas gotas de iodo para purificá-la — não quero correr nenhum risco se eu puder evitar. Enquanto espero meia hora até a que a água esteja pronta para beber, resolvo me lavar. Minhas roupas estão sujas de suor e de terra que havia no chão quando eu caí da árvore. Sei que provavelmente há uma câmera me filmando nesse momento, então cuidadosamente tiro o casaco, a blusa verde musgo e a calça. Apenas de peças íntimas eu entro na fonte. Nunca me senti muito confortável com a nudez total ou parcial, mas é isso ou ficar completamente nua. Adentro até que a água chegue em minha cintura e me lavo do jeito que posso. Lavo meus cabelos negros e curtos, na altura dos ombros. Saio da fonte, pego a blusa e a calça e entro novamente e lavo-as. Enquanto estiro as roupas, agora limpas, sobre uma pedra, vejo alguns peixes nadando. Visto o casaco que chega a um palmo acima do meu joelho. Bebo toda a água da garrafa e coloco mais para purificar. Procuro alguma madeira não muito grossa, porém forte, por perto. Levo quinze minutos até achar uma que me agrade. Com o meu punhal, tiro os lados desproporcionais do pedaço de madeira de, mais ou menos, um metro e meio, até deixá-lo parecido com algo roliço. Logo depois faço uma ponta afiada no pedaço da madeira, fazendo assim que ele se transforme em uma lança caseira.

Quando termino, bebo mais água e entro na fonte com movimentos leves. Depois de alguns minutos os peixes voltam a nadar normalmente. Miro no peixe e lanço o pedaço do pau. Erro, tento mais algumas vezes até acertar em cheio. Normalmente eu não uso lança na floresta, mas eu tenho boa mira por causa da minha habilidade com bestas. Fiz isso mais algumas vezes e consegui pegar quatro peixes. Não pesco tão bem quanto um garoto chamado Finnick Odair do distrito 4, ele foi campeão há uns dois anos e pescava muito bem. É um dos campeões mais novos de todos, venceu com apenas catorze anos. Fico imaginando que, se eu ganhar, serei a campeã mais nova de todas as edições dos Jogos. Pelo menos nunca ouvi falar de outro campeão de treze anos ou menos. Enquanto limpo os peixes penso em fazer uma fogueira, mas lembro o quanto é perigoso.

Decido que vou me arriscar, mas não vou me entregar tão fácil. Visto minhas roupas que já estão quase secas, encho a garrafa com mais água — sempre adicionando as gotas de iodo — e arrumo minhas coisas. Fico pronta para correr se acontecer qualquer coisa fora do previsto. Armo uma fogueira pequena e coloco algumas pedras ao redor para tentar conter um pouco a fumaça. Não faço a miníma ideia se isso interfere em alguma coisa, mas o faço mesmo assim. Pego duas pedras secas e começo a friccionar uma na outra até começar a soltar algumas faíscas. Finalmente consigo uma fagulha. Pego uma rocha um pouco ampla na beira do lado, lavo a superfície e a coloco sobre as outras pedras na fogueira, acima do fogo, formando algo parecido com uma casinha. Vai demorar um pouco pra conseguir o que eu quero porque é uma fogueira pequena, mas em compensação tem pouca fumaça — e as pedras estão ajudando bastante.

Quando a superfície da pedra esquenta o bastante, coloco os peixes abertos, já limpos, em cima. Decido lavar o meu casaco. Está quase no fim da tarde, mas talvez ainda dê tempo de secá-lo. Estiro o casaco sobre as rochas na beira da fonte e vou dar uma olhada nos peixes. Viro-os com o punhal e vejo que a parte de dentro do peixe está em um tom dourado. Do jeito que eu queria. Está cheirando bem. Apago o fogo rapidamente e deixo que o lado de fora dos peixes, onde havia as escamas, assem na pedra quente. Pego o punhado de folhas de menta que colhi mais cedo, amasso-os com uma pedra e coloco-os dentro da garrafa de água.

Enquanto lavo outra pedra para colocar os peixes já assados, escuto um disparo de canhão. Imagino se morri. Se a minha morte foi tão rápida que eu nem percebi e ainda consigo pensar. Quando consigo me mover, olho ao redor. Não vejo ninguém. Vou até minha mochila e ao seu lado pego minha lança improvisada. Quando finalmente vejo um movimento entre as árvores. Viro em toda direção possível. Um esquilo sai do meio dos arbustos. Se eu tivesse uma besta agora, poderia atirar nele. Aproveitaria que a pedra ainda está um pouco quente. Já seria uma carne a mais. Antes que eu pudesse pensar em tentar acertá-lo com a lança, ele foi embora. Enquanto coloco os peixes na pedra fria e lavada, desejo que, quem quer tenha matado, quem quer tenha morrido, que estivesse bem longe daqui.

Comi dois peixes e deixei dois para comer mais tarde. Bebi a mistura que eu fiz e, como eu disse, só seria mais refrescante se tivesse alguns cubos de gelo. Decidi ir embora. Não podia ficar ali para sempre. Já havia me arriscado demais. Todos na arena procuram água. Se essa for a única fonte de água consumível — além do rio próximo à Cornucópia —, já foi grande sorte que ninguém tenha encontrado. Mas não iria demorar muito que alguém a encontrasse. E eu não poderia estar mais aqui quando esse momento chegasse.

Peguei uma folha de bananeira que tinha ali — "não sei pra quê se não tem uma fruta sequer" — e embrulhei os dois peixes que restaram. Coloquei-os dentro da mochila junto com a garrafa cheia de água, o potinho do iodo e o punhal. Desfiz a fogueira — não iria deixar uma fogueira para outros tributos, de mão beijada —, peguei minha lança improvisada e vesti meu casaco. Coloquei a mochila em um dos ombros e segui meu caminho. Pensei em procurar a árvore que eu passei a noite anterior, porém era muito distante — quase três horas de caminhada — e além do mais, já estava escurecendo. Vagar por aí à noite não é muito recomendável. Dessa vez optei por uma árvore bem escondida. Subi o mais alto que pude, entrei no saco de dormir e fiz o mesmo processo da noite anterior. Dessa vez não iria usar os óculos para não ter a mesma sensação na vista quando amanhecer. Depois de algumas horas sem fazer nada, escutei o hino de Panem começar. Quando acabou vi a foto da garota do distrito oito.

Restavam onze.

Só houve uma morte hoje. Eu sabia de duas coisas naquele momento. Primeiro: pouca ação nos Jogos faz os telespectadores ficarem com tédio. Segundo: os telespectadores não podem ficar com tédio, ou os Jogos perdem audiência.

Por enquanto eu estava sobrevivendo, mas eu tinha certeza que brevemente os Idealizadores dos Jogos dariam um jeito de juntar alguns tributos em algum lugar.

E algo me dizia que quando isso acontecesse, haveria mais de uma morte.


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Notas finais do capítulo

Eu não por quê, mas eu adorei citar o Finnick nesse capítulo. Sintam-se à vontade para comentar, ok? Beijos.



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