A História dos Selvagens - Parte 1 - Medo escrita por ShiroMachine


Capítulo 15
Lucas: Uma briga entre pai e filho




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O resto da reunião foi sobre os detalhes da viagem. Comecei a contar sobre os sonhos que havia tido, dando um certo ênfase ao último sonho. Vitor deu a ideia de ir primeiro em lugares onde as religiões são fortemente cultuadas. O primeiro lugar que pensamos foi a Bahia. Todos concordaram, e decidimos que a viagem seria feita em uma semana.

Após sairmos da sala de reuniões, Vitor, Tatiane e eu começamos a conversar sobre o que esperávamos dessa viagem.

_Vai ser a primeira vez que eu saio do estado._ Falou Vitor. _Isso é, se o meu pai deixar.

_Vocês precisam da permissão do seu pai?_ Perguntei, franzindo a testa.

_Meu pai é muito controlador._ Respondeu.

Tatiane suspirou, fazendo uma careta.

_Acho que seria bom se fôssemos à sua casa._ Sugeriu ela. _Se falarmos com ele sobre o que está acontecendo, ele talvez deixe você ir sem precisarmos insistir.
Vitor ficou um pouco em silêncio, para pensar no assunto.

_Talvez._ Disse ele, o que não me deixou muito esperançoso.

Pouco tempo depois, estávamos na casa de Vitor. Ficava na Pavuna, lugar onde eu já havia ido várias vezes com o meu pai.

Vitor morava numa vila. Um corredor levava à oito casas. Eu e Tatiane acompanhamos ele e a mãe dele até a última. Não era muito grande, mas tinha o que era necessário. Na sala, o pai dele estava deitado no sofá, assistindo televisão. Assim que entramos, ele se levantou e olhou para nós.

_Quem são esses?_ Perguntou.

_Esses são os amigos de Vitor._ Respondeu a mãe dele.

O pai dele nos estudou um pouco. O cabelo era igual ao do filho, só que um tanto menos rebelde, os olhos eram castanhos e a barba estava desgrenhada.

_E como foi lá?_ Perguntou.

_Vamos falar sobre isso depois._ Ela foi pra cozinha, sem olhar nos olhos do marido.

O pai de Vitor olhou para mim, depois para Tatiane. Perguntou o meu nome e o nome de Tatiane, e depois que respondemos, ele disse:

_Também estão nessa loucura, é?

Ele pegou um maço de cigarros, tirou um cigarro de lá, o colocou na boca e o acendeu. Depois disse:

_Qualquer vagabundo poderia fazer uma coisa dessas. Óbvio que poderia ter feito com algo moderno, mas não queria ser descoberto. Provavelmente, obrigou os seus avós a lhes dar o toca fitas com a fita já dentro.

Vitor suspirou, depois murmurou algo para o pai e foi para o quarto. Eu e Tatiane o seguimos. Ele sentou na cama, olhando fixamente para o chão.

_Viram como ele é?_ Perguntou.

Tatiane suspirou e também se sentou na cama. Quase podia ver as engrenagens funcionando na cabeça dela. Porém, pareceu não ter argumento.

_Temos que falar com ele mesmo assim._ Disse ela.

_Não podemos, ele não vai deixar._ Falou Vitor.

_Temos que pelo menos tentar._ Falei.

_Não, você não entende._ Vitor levantou da cama e olhou para mim. _Ele não gosta de ser contrariado.

Ele olhou bem sério para mim, o que me fez pensar duas vezes antes de fala algo.

_O que de pior ele pode fazer?_ Perguntei.

Antes de Vitor responder, ouvi o pai dele gritar "o quê?!" na sala. Fomos imediatamente para a porta do quarto. O pai de Vitor estava de pé, com uma expressão de ódio no rosto. A mãe recuava devagar, olhando para o marido com uma expressão de medo. Então, entendi o medo de Vitor de falar com o pai sobre a viagem, e entendi o que queria dizer quando disse que o pai era muito controlador e não gostava de ser contrariado. Quando o pai de Vitor era contrariado, ele usava a força para que todos concordassem com ele.

_Você acha que vou deixar você ir em frente com essa loucura?!_ Gritou. _Você é muito estúpida. Esses marginais querem atenção, e você vai dar isso à eles.

A mãe de Vitor tentava argumentar, mas o marido a interrompia a todo o momento. Ele falava que ela nunca sairia daquela casa até tirar aquela ideia ridícula da cabeça, que ela estava dando um mal exemplo para o filho, que ele nunca sentiu tanta vergonha na vida, etc. A mãe já estava encostada na parede, de tanto recuar. Até que, após o pai dizer uma frase (da qual eu não me lembro agora), a expressão dela assumiu um tom de ódio igual ao do pai.

_Primeiro:_ Começou a gritar, e o marido se calou imediatamente. _você não manda em mim. Segundo: o único mal exemplo que vejo aqui é você, que fica aí deitado nesse sofá o dia inteiro, só bebendo, fumando e vendo TV, enquanto eu me mato no trabalho para poder trazer comida para casa. Terceiro:...

O pai de Vitor deu um tapa tão forte nela, que ela caiu no chão. Ele continuou a bater nela, que gritava, pedindo para o marido parar.

_Vitor, faça alguma coisa._ Falou Tatiane.

_O que eu posso fazer?_ Perguntou, com a mesma expressão de medo que a mãe assumiu no início da discussão. _ Ele é muito forte. Não tem como enfrentá-lo.

Eu segurei o ombro dele, olhei para ele e disse:

_Vitor, ele não é forte, ele é um covarde. Covardes se aproveitam de pessoas que tem um bom coração para parecerem fortes, e é isso que ele está fazendo com a sua mãe.

Os olhos de Vitor assumiram o tom verde que eu vira nos olhos da mãe-natureza. Ele olhou para o pai, andou na direção da briga, e deu um chute na barriga dele. Ele logo se levantou, levantando a barriga.

_Batendo no próprio pai?_ Perguntou. _Então vou te mostrar como bater._ Ele levantou o punho, mas Vitor deu um soco na barriga do pai.

Tatiane e eu ficamos paralisados, vendo a briga entre pai e filho. Vitor estava lutando bem. Conseguia impedir os golpes do pai, e atacava com ferocidade. Mas, em um momento, foi derrubado, chegando à bater a cabeça na parede. O pai ergueu um punho mais uma vez.

_Vou te ensinar a ter bons modos._ Disse.

De repente, a porta se abriu, e um homem forte entrou. Não tive tempo de analisá-lo melhor naquele momento, pois ele correu em direção ao pai de Vitor e o atacou. O pai caiu na hora, com os olhos fechados, o sangue escorrendo do nariz.

_Você está preso._ Disse o homem, mas eu não achava que o pai de Vitor estivesse ouvindo. O homem pegou uma algema e prendeu o pai de Vitor. Em seguida, chamou uma viatura. _Você está bem?_ Perguntou, olhando para Vitor. Ele assentiu. Depois, o homem olhou para a mãe e fez a mesma pergunta. Recebeu a mesma resposta.

Ele ajudou os dois a se levantar, pediu para que nos sentássemos e fez algumas perguntas. Quando o pai de Vitor acordou, o homem o obrigou a ficar calado. E continuou a fazer as perguntas, até a viatura chegou.

_Vocês vão ter que dar depoimento._ Falou, apontando para Vitor e sua mãe. _Vão ter que vir conosco.

_Ok. Nós já vamos._ Falou a mãe de Vitor. O policial se afastou, levando o pai de Vitor junto com ele. A mãe então se virou para nós e disse:

_Nos desculpe por hoje.

_Sem problema nenhuma._ Falei. _Eu disse que ele era só um covarde._ Disse para Vitor, e ele riu.

_Pois é. Tomara que aprenda a ficar forte, senão..._ Ele não precisou completar.

_Bem, acho melhor nós irmos agora._ Falou Tatiane. Eu e ela nos despedimos, e fomos para a porta. Antes de sair, eu pude ouvir a mãe de Vitor falar para o filho.

_Vamos começar uma nova vida agora.


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