Os 7 Descendentes escrita por Paola Grimmheart


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

=D



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Ar puro. Era tudo o que Jackson Miller conseguia pensar na hora.

Ele estava sentado em um pequeno monte de onde conseguia ver a cidade e a floresta ao lado esquerdo dele. A cidade estava sendo reconstruída após o bombardeio da última guerra entre os Estados Unidos e a Rússia. Todos os adolescentes até catorze anos e mulheres foram priorizados em serem protegidos nos bunkers abaixo da cidade. Naquela época, Jackson tinha treze anos. Agora ele tinha dezessete e durante esses quatro anos, nada mais de bombas ou guerras e nem mortes por foguetes ou metralhadoras.

Mas havia um lado negro nisso: as pessoas desenvolveram poderes e habilidades que colocavam em risco as próprias vidas. Pessoas desse jeito eram caçadas, presas e levadas para os centros de pesquisas científicas do estado – cada estado dos Estados Unidos tinha um centro de pesquisa, e havia boatos que na Rússia também e em outro países era a mesma coisa.

Jackson se lembrava da única vez que viu alguém que possuía habilidade. Ele tinha catorze anos, logo após da guerra parar, estava voltando da escola quando avistou um garoto da mesma idade apenas direcionando a mão na direção de um menino que logo voou a dezenas de metros de distância sem ser tocado. Um caminhão do exército com vários homens armados ameaçaram a atirar no garoto que se ajoelhou no chão e pôs as mãos atrás da cabeça e logo foi algemado e posto dentro do caminhão.

Só Deus sabe o que aconteceu ao garoto.

Jackson conseguiu entrar na Biblioteca Geral da Cidade de Sumtown – o único lugar intacto mesmo depois da guerra e onde possuía arquivos sobre essas pessoas com habilidades. Tudo o que conseguiu descobrir era que essas pessoas não tinham poder por coincidência, pelos livros que leu, a pessoa que possui habilidades era quem tinha descendência com algum bruxo ou de alguma família que integrava as Sete Casas – sete famílias com descendentes bruxos; as Sete Casas reuniam as pessoas mais poderosas da antiguidade até a atualidade e alguns deles eram imortais ao conseguir o poder extremo.

Jackson se perguntou se já conheceu alguém que fazia parte das Sete Casas e que nunca descobriria.

- Isso é impossível – ele disse para si mesmo.

- O que é impossível?

Jackson virou o rosto para o lado na direção da voz.

Era Melissa, sua irmã mais nova. Ela não era nada parecida com Jackson – era extrovertida, sociável e certinha; Jackson era antissocial, cheio de ego e tinha uma inclinação para rebeldia. Não era só no jeito que eles eram diferentes, Melissa tem cabelo loiro e olhos azuis, já Jackson possui cabelo ruivo com mechas pretas e olhos verdes.

Ela deu um sorriso e se sentou ao lado de Jackson.

- Nada – Jackson respondeu. – Só estava pensando em uma coisa, nada demais.

Melissa ergueu as mãos em sinal de rendição.

- Tudo bem.

- O que você faz aqui? – Jackson perguntou sem tirar os olhos da cidade.

- Eu é que lhe pergunto isso, irmão. Acabei de chegar da escola, fomos liberados cedo porque... – ela abaixou o rosto. – Uma menina da minha sala foi capturada por ela atear fogo na escola.

- Atear fogo? – Jackson franziu a testa.

- Ela é uma deles, Jack – Melissa o olhou. – Era minha amiga: Stephanie Mandison.

- Stephanie? – Jackson tentou se lembrar.

Stephanie era a melhor amiga de Melissa antes mesmo da guerra acabar, tinha a mesma idade de Melissa: 15 anos. Sempre os visitava no fim de semana ou quando podia.

- Lamento – ele disse.

- Eu quero saber o que vai acontecer à ela – Melissa abraçou seus joelhos e olhou para a cidade. – Eu preciso acha-la.

Jackson ficou confuso.

- Vai se rebelar contra o pessoal do exército?

Melissa o fitou.

- Não foi isso que eu quis dizer.

- Olha, Melissa. Se você quiser achar sua amiga Stephanie, vai se rebelar contra o pessoal do exército.

- Não vou não – a garota se afastou do joelho, ameaçando a se levantar.

- Vai sim. Pense claramente, irmã.

Melissa se levantou e limpou a parte de trás do vestido florido que estava sujo por causa da grama onde havia sentado. Ela pensou no que o irmão disse: se ela tentasse resgatar Stephanie, o exército saberia disso e não hesitaria em mata-la. Era muito óbvio e ela não pensou nisso.

- Pensou no que eu disse? – Jackson perguntou enquanto observava a expressão de terror no rosto de Melissa.

- Pensei muito além – respondeu ela. Havia pensado também em como morreria e o que aconteceria depois de morta. – Ok, preciso tirar isso da minha cabeça.

- Eu te ajudo – Jackson levantou e limpou as mãos que estava com grama também.

Ele estendeu as mãos para Melissa.

- Não vou estender a minha – a irmã disse com uma expressão séria no rosto e Jackson começou a gargalhar. – Eu conheço suas brincadeiras, irmão, e não vou cair em uma de suas pegadinhas.

Jackson assentiu.

- Ok. Vamos descer pela floresta e ficar um pouco na cachoeira.

Melissa franziu a testa.

- Por quê?

- Para tirar essa cena de morte da sua mente – Jackson respondeu. – Não é o que você quer?

Melissa deu de ombros.

- A sua professora disse que se você faltar mais um dia, vai chamar as autoridades para te interrogar – afirmou, olhando o irmão nos olhos.

Jackson bufou.

- Interrogar para quê? Eles acham que eu sou um mercenário ou um dos caras com habilidades?

- Nunca vou entender essas autoridades – Melissa afirmou. – Ninguém vai. Bem, promete que vai amanhã?

- Não – Jackson afirmou. – Mas eu infelizmente vou ter que ir.

Melissa permaneceu em um minuto de silêncio.

Jackson a fitou e permaneceu em silêncio. O cabelo de Melissa tinha cheiro de rosas – o shampoo que ela adorava – e caía perfeitamente pelo ombros até a cintura e a franja na altura dos ombros a deixavam mais jovem do que era. Jackson adorava isso.

Eu não deveria pensar nisso, Jackson disse em sua própria mente com um tom sério.

- O que foi? – Melissa perguntou ao ver a expressão séria de Jackson.

Ele balançou a cabeça.

- Nada. Vou para casa – ele disse e esperou uma resposta de Melissa que apenas assentiu com a cabeça, com isso, ele desceu o monte até a casa.

Melissa continuou lá no monte, observando o irmão de longe. Ela deu meia-volta e desceu pela floresta até a cachoeira.

O lugar era completamente fechado se não fosse o caminho entre árvores e arbustos da floresta, e dava para uma enorme cachoeira com águas cristalinas e peixes pequenos e dourados que Melissa adorava caça-los e levar para casa.

Ela tirou o vestido e ficou apenas com o biquíni preto por baixo – ela sempre usava quando ia ao monte porque sempre sabia que iria à cachoeira mais cedo ou mais tarde. Melissa prendeu o cabelo em um coque com o próprio cabelo e deixou o chinelo e o vestido em uma pedra e pisou um dos pés na água gelada.

Após entrar e a água ficar até cima do busto, Melissa balançou os braços e ficou nadando por ali. Nadar sempre acalmava Melissa mesmo sobre o que havia acontecido com Stephanie.

Os guardas entraram na sala de aula, interrompendo a aula de História e deixando os alunos e a professora perplexos. Eles apontaram a arma para Stephanie, a menina dos cachos ruivo e olhos cinzentos, que se levantou assustada e com a mão na cabeça.

“O que houve?”, Melissa arquejou ao se levantar num pulo. “Stephanie! O que houve?”

Um dos guardas apontou o fuzil na direção de Melissa que cobriu a boca com as mãos.

“Fica calada e senta aí, garotinha”, o guarda disse.

Melissa estava atordoada ao ver a amiga sendo algemada e não se sentou. O guarda ainda apontando a arma para Melissa, a puxou e a forçou a se sentar.

“Fique sentada”, ele disse novamente.

Melissa estremeceu-se ao lembrar disso.

- Odeio lembrar disso – Melissa disse à si mesmo. – Eu tenho que provar que ela não é uma bruxa.

Melissa ouviu um barulho vindo das árvores atrás dela e parou de nadar, pisando os pés em uma pedra e olhando na direção de onde veio o barulho.

- Jackson? – Melissa gritou, mas ninguém respondeu. – Deve ser apenas um pássaro.

Melissa se virou para frente, mas dessa vez ouviu o barulho novamente e mais alto. Ela saiu da água rapidamente e correu na direção do vestido e o agarrou contra seu corpo e rapidamente se vestiu. Calçou os chinelos e ouviu o barulho de novo.

- O que é isso? – ela se perguntou ao ouvir o barulho novamente.

Ela sentiu algo a puxando pelo pulso e gritou enquanto era puxada.

- Cala a boca a menos que queira morrer – ouviu uma voz masculina.

Primeiramente achou que fosse um guarda e sentiu ficar gelada, mas quando olhou, havia um garoto alto e musculoso de costas e a puxando.

- Quem é você? – Melissa perguntou quase gritando.

- Dá para falar baixo? – o menino virou o rosto na direção dela com uma expressão séria.

Ele tinha a testa franzida – por estar com raiva de Melissa falar alto –, olhos azul-elétricos e cabelo negro e rebelde.

O garoto olhou para frente e subitamente parou atrás de uma árvore e fez Melissa se abaixar.

- O que estamos fazendo?

- Os guardas proibiram todos de vir para cá – o garoto respondeu. – Eu estava caçando por aqui alguns lobos e...

- Lobos? – Melissa ficou com medo. – Eu tomei banho na cachoeira tendo lobos aqui?

- É, lobos – o garoto a olhou e depois para longe da árvore. – Ouvi os guardas subindo e falando sobre matar sem hesitar qualquer um que estivesse aqui ou tentasse subir.

- Por quê?

- Eles falaram algo sobre ser o local onde acostumava ficar o esconderijo das Sete Casas.

Melissa ouviu sobre “as Sete Casas” e isso soou familiar para ela e tentou se lembrar do que era... Bruxos, lobos, descendentes habilidosos. Jackson já disse para ela algo do tipo.

- Aqui que os bruxos ficavam? – Melissa perguntou.

- Provavelmente sim. Já ouviu falar sobre eles?

- Meu irmão me disse uma vez... – Melissa congelou. Ele havia descido pouco antes dos guardas subirem. Será que os guardas haviam o matado? – V-você ouviu eles falando de alguém que morreu agora?

O garoto se virou.

- Por quê?

- Meu irmão desceu daqui há alguns minutos.

- Não ouvi – o garoto disse.

Melissa suspirou aliviada.

- Talvez não tenham o visto quando ele desceu – ela disse, mas o garoto ouviu e não disse nada.

O menino se levantou e Melissa fez o mesmo.

- Acho que podemos ir agora.

- Como? Devem ter guardas em todas as saídas da floresta!

- Ali não – o garoto apontou para um caminho de lama entre arbustos que Melissa acidentalmente caíra sobre eles e ficara cheia de espinhos.

Melissa negou.

- Aquilo dói.

O menino olhou Melissa como se ela fosse uma garota de dez anos – e para ele, a garota deveria ser uma criança, esse era o motivo dele tê-la ajudado (algo que ele não faz muito frequentemente).

- Quem é você? – Melissa perguntou.

- Nate Springwolf – disse ele.

- Deve ter a idade do meu irmão – a garota disse. – Sou Melissa Miller.

Ele franziu o cenho.

- Achei que a senhora Miller tivesse uma filha de quinze anos. Não sabia que ela tinha uma de dez.

Melissa bufou, com raiva e se afastou de Nate e cruzou os braços.

- Eu tenho quinze anos, ok? E você conhece minha mãe?

- A minha mãe conhece – Nate respondeu, franzindo o cenho. – Essa franja faz parecer que você é uma criança.

Melissa levou as mãos até a franja e fez uma cara emburrada.

- Eu sei.

Nate fez um sinal e pediu para Melissa segui-lo pelo caminho entre os arbustos com espinhos.

Melissa se esquivou de todos os arbustos e com isso, não prestava atenção onde andava e pisou em uma terra molhada (pela chuva forte que caiu na madrugada daquele dia) e por um segundo, não conseguiu efetuar movimento algum.

Ela cairia daquele lugar e rolaria pela lama e grama – se a sorte dela fosse grande e não atingisse nenhum arbusto.

Melissa ergueu a mão para se segurar em Nate, mas ela não conseguiu.


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