Your Hunger Games II - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 13
Summer Naccheri


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Summer Naccheri

“Suicidei-me várias vezes, mas estou com a impressão que da primeira vez que me suicidei, já estava morto, num lugar que me era uma prisão” – Sunshine, Giovanna Tescaro (Minha amiga!)

Bastille - Things We Lost in The Fire (E a letra é perfeita para o Summer)

Os dedos batiam se cessar contra o braço da cadeira, enquanto, aos poucos, sua paciência se ia em fios. Logo arrebentaria. Levantou a cabeça, procurando por qualquer coisa que pudesse denunciar outra pessoa no local, mas o quarto era de um silêncio mortal e as paredes pareciam oscilar sempre que a luz da Lua as penetrava. Ouviu o som da maré, batendo contra o rochedo do outro lado da casa. Suspirou, enquanto tentava sentir qualquer um dos prazeres que sempre ouviu existirem no Quatro.

Levantou-se da cadeira. Incrivelmente, não estava amarrado. Talvez confiavam demais em sua segurança ali ou Pacificadores armados fechavam a porta por fora. Mas o que poderia fazer? Jamais conseguiriam atingi-lo com uma bala. Olhou para a janela, com as barras trancafiando-o naquele quarto sem móveis ou decoração, apenas a cadeira dura. Quando estava prestes a chutar uma parede caindo em pó, ouviu a porta se abrindo e logo em seguida se fechando. Virou-se, já preparado.

– Summer Naccheri, Distrito Um? – perguntou, e Summer ergueu uma sobrancelha. Não costumavam chamá-lo pelo nome ou mesmo o Distrito de onde viera. O garoto, tipicamente vestido como um pescador, tinha pele queimada de Sol e cabelos negros, olhos pretos e dentes faltando. Não era bem um garoto, mas sim um homem.

– Sim. – Summer respondeu, ainda hesitante.

– Sou Marx, seu mentor a partir de agora.

– Mentor? Você é do Quatro.

– Sim – ele avaliou Summer antes de continuar – Mas todos os Vitoriosos de seu Distrito morreram no incêndio.

“No incêndio”. Mentira. Eles morreram porque os Pacificadores atiraram em suas nucas, mas Summer não ousou abrir a boca. O homem continuou ali, parado, enquanto esperava a primeira reação de Summer. Como ela não veio, tratou de adiantar as coisas.

– Vou te auxiliar nos Jogos e na Colheita, que acontecerá no Distrito Um, num local intocado pelo fogo. Você, o outro menino e a garota serão levados, e algumas mudanças serão feitas, como o sorteio. Como todos os outros jovens morreram, a Capital mandou alguns figurantes para tratar de tudo, mas não se preocupe, eles não serão contabilizados no sorteio.

“Não se preocupe.”, Summer adoraria se eles fossem.

– Como sabe, as suas chances de ir aos Jogos agora são muito grandes, mas em todo modo a menina já está dentro dos Jogos e por isso eu não preciso dizer isso a ela: Quem não for sorteado, ficará para trás. Morto.

– Como? – Summer foi pego de surpresa.

– Dois nomes serão sorteados, e terão de lutar contra si. Sophie irá lutar contra uma prisioneira já no caminho do julgamento, mas você terá de combater seu companheiro de Distrito, e quem perder morrerá. A luta só termina com um morto. E estou apostando que você vai vencer.

– Eu sei. Ninguém pode me machucar. – revirou os olhos.

– Sim, sim – Marx engasgou e então retomou a palavra. – Agora, iremos arrumá-lo para a Colheita. Ela será realizada daqui algumas horas.

– Ainda é noite. – Summer notou, olhando pela janela.

– Sim, mas a Capital nunca espera. – Marx piscou e saiu.

Summer sabia que tinha algo em relação àquilo, mas não sabia o quê, por isso apenas se sentou na cadeira disposta no centro do quarto e permaneceu lá, por longos minutos, até que sua equipe de preparação chegasse.

º º º

A Lua iluminava todo o céu, enquanto as tochas acesas ao lado dos telões e do palco queimavam com intensidade. Ouviu os ruídos baixos dos “figurantes”, enquanto cochichavam entre si. O microfone estava iluminado com uma fita iluminada por luz própria e com diamantes e rubis incrustados. Moveu a lapela da camisa, onde o botão de platina se encontrava, apertando-o. A gravata de fio de ouro estava muito apertada, mas ele não podia reclamar. Os sapatos de prata ecoavam enquanto caminhava no piso de mármore, até chegar ao lado de fora da Prefeitura improvisada.

O cenário foi montado diante de uma das campinas do Distrito, perto da Floresta de Mármore, um lugar onde a relva ainda era verde, mas Summer sabia que logo abaixo as cinzas que restaram do Distrito Um jaziam. O cheiro intenso de fumaça e piras de fogo o irritavam, mais ainda quando se lembrava que nada do que o Um foi um dia voltaria. Toda a beleza, toda a natureza... Tantos milhões e milhões gastos com as plantas e animais geneticamente modificados pela Capital, tantas pessoas treinadas para o trabalho duro nos riachos, para o trabalho de cortar o mármore das árvores, para o trabalho de colher com delicadeza as maçãs de rubi ou as flores de platina, sem quebrá-las... Tudo foi embora com o fogo.

Tudo o que tinha, tudo o que conhecia... Se foi.

– Se misture na multidão – soprou Marx ao pé de seu ouvido, e soltou-o.

Summer permaneceu parado em um canto por tempo suficiente para encontrar o que queria com os olhos. Andou em passos largos até lá e, ao parar ao seu lado, ela levantou os olhos, ainda tentando disfarçar a surpresa.

– Pensei que estava morta. – Summer sussurrou, mas o calor que subia seu peito era avassalador demais para se conter. Ela sorriu.

– E eu idem. Me disseram que você não resistiu aos experimentos... – sua voz saiu cortada.

Esmery soluçou. Summer queria confortá-la para que não chorasse, mas nada podia fazer. A irmã era frágil como uma rosa, embora mortífera como um Cuco. Ela limpou os olhos úmidos e ergueu o queixo, fixando os olhos no telão em frente ao palco.

– Joye, ele...

– Morreu – completou Summer. Era uma delícia sentir aquelas palavras na ponta da língua. Que êxtase, que deleite! – Como todos os outros.

Eles me pegaram, na Academia– sussurrou Esmery. Sua cabeça era muito mais alta que a de Summer, mas era isso que se esperava das irmãs mais velhas. – Eles me usaram.

– Como?

– Com transformações genéticas. Coletaram meu sangue inúmeras vezes e pensei que morreria seca – isso o fez sorrir, mas não por mais de um segundo. – O que fizeram com você, Sammy?

– Invulnerável. Como uma pedra. – ele levantou o braço – Nada atravessa minha pele.

– Que ótimo para você – ela soltou, com sarcasmo – Mas acho que eles não forma tão bons comigo. A única coisa que sinto são dores fortes no ventre. Às vezes acho que eles estão testando novas fórmulas de tortura ou algum veneno que mata lentamente. Meus órgãos estão apodrecendo e tenho de tomar infindáveis remédios... Joye jamais deixaria isso me acontecer.

Summer soltou um suspiro, irritado. Joye era o tutor deles, o homem que os transformou em assassinos baratos. Mas Esmery sempre pensou nele como seu salvador, não como seu maior pesadelo. Diferentemente de Summer, ela era bondosa demais para notar a maldade dentro do ato de fazer justiça com as próprias mãos. Ainda mais quando a justiça não era certa. Summer mudou de posição nos pés. Enquanto isso, um homem subia ao palco e começava o discurso que o prefeito deveria fazer, mas ele deveria estar lá embaixo da campina, entre as pilhas de mortos.

Esmery não era sua irmã de verdade, mas quase. Foi adotada por Joye no mesmo dia que ele e por isso sempre fizeram o trabalho juntos. Ela descobrindo informações e calculando o momento certo de atacar, ele com todo o trabalho sujo. Summer nunca se importou em matar pessoas com encomenda, se elas tinham motivos suficientes para arrumar inimigos poderosos, então não deveriam continuar na sociedade, era assim que sempre via quando um novo nome surgia na prancheta de tarefas a fazer. Ele ia para a escola normalmente, e às vezes passeava além dos muros de concreto do Um. Mas Esmery sempre teve de ficar em casa, cuidando de Joye. Ele era uma espécie de salvação para ela, afinal teria morrido de fome se não fosse ele. Mesmo no Distrito do luxo as pessoas podem viver no meio da lama.

– O que fizeram com você? – ele então perguntou, levantando a cabeça. – Você sabe?

– A única coisa que sei é que querem recriar o Distrito Um. E como sou a única sobrevivente fértil... Bem, fiquei sabendo que a outra garota ainda não havia sangrado, então fui a última esperança...

– Pessoas... Recriar?! – Summer não conteve a exclamação – Quer dizer, eles querem formar pessoas geneticamente modificadas para recriar o Distrito Um?

– Sim. E pessoas melhores. Que podem moldar o ouro derretido com as próprias mãos, ou capazes de ver as pedras no meio do rio sem precisar mergulhar, ou... Melhores para os Jogos.

– Por que não me surpreendo? – bufou. – E estão te usando para isso. As dores que você sente no ventre são...

– Não sei. Monstros? Eu não sei. – ela suspirou, abaixando os ombros – Bestantes...? – sua voz falhou – Só sei que serão louras, dos olhos azuis, pele branca e bonitas. Como o Distrito é conhecido.

– Nem todos eram bonitos, loiros ou mesmo brancos – Summer repreendeu.

– Diga isso para eles. Eu sou uma espécime “perfeita” do Distrito Um, por isso me quiseram. Se não fosse por isso já estaria morta. Eu vi... Eles olharam para nós e... Simplesmente... – novamente seus olhos se encheram de lágrimas.

– E o quê, Esme?

– Haviam quinze garotas comigo. Então fomos levadas para uma sala e nos obrigaram a tirar as roupas. Perguntaram quantos anos tínhamos e se já sangrávamos. Duas disseram que não e foram levadas da sala. Depois eles começaram a nos avaliar, com peso, altura, cor dos olhos, número de sardas... Tudo! E mais seis foram descartadas. Quando apenas eu e mais quatro garotas sobramos, eles então nos juntaram de frente para um espelho e um painel surgiu. Lá dizia se éramos bonitas, numa escala de 0 à 20. Minha nota foi 18, e a outra garota tirou 15. Todas elas, na minha frente, tomaram tiros na nuca. Eu ainda vejo o sangue escorrendo pelo vidro do espelho.

– Então você foi selecionada por ser bonita?

– E loura.

– E alta.

– E mulher. Quero dizer, adulta.

– Você não é adulta.

– Mas para os termos deles, eu sou. – Esmery tentou segurar as náuseas que a atacavam. – Mas tudo bem. Hoje terei de assistir você indo para os Jogos e isso é realmente ótimo.

– Ótimo? – Summer se virou.

– Eles disseram que se você vencer, me soltarão. Nós poderemos viver no Distrito Um reconstruído, e ainda melhor. Eles querem transformar tudo. Acho que nosso céu até será mais bonito.

– Se eles pintassem o céu de vermelho, então eu acreditaria nisso – Summer soltou, fazendo-a rir, mas um riso fraco, sem humor.

Permaneceu quieto, reorganizando tudo o que conseguiu descobrir. Então eles mentiram sobre as pessoas mortas. Se Esmery está viva, então Lia também pode estar... Virou os olhos para o palco, onde a representante sorria e discursava. Ele não notou, mas o vídeo tinha acabado de terminar. Quando ela andou até o palco e retirou dois papeis da urna, lendo-os em seguida, observou Sophie e a outra garota condenada subindo ao palco. Os próximos seriam eles.

– Summer Naccheri e Gabe Gunnstale.

Gabe apareceu primeiro, pálido e com seu nariz afiado vermelho. Ele estava a ponto de chorar. Summer sorriu, se apressando escadas acima. Quando chegou ao lado da mulher, ela sorriu e voltou a falar com os figurantes, que nada queriam saber com o desenrolar de tudo aquilo. Quando ela terminou de falar, desceu do palco, e o show começou.

As grades subiram de uma abertura no palco e suspendeu os quatro tributos no ar. Armas caíram no centro da jaula. Correu até a primeira arma que conseguiria pegar: a adaga. Gabe pegou no punho de uma lança, mas Summer já havia previsto isso. Moveu o braço para o pulso de Gabe, cortando os ligamentos. Ele exclamou de dor e com a mão esquerda pegou o cabo da arma, tentando acertar Summer. O menino menor desviou, enquanto a jaula balançava com os movimentos. Do outro lado Sophie degolava a prisioneira com facilidade, já que a garota era fraca, magra e semimorta. Gabe lançou a sua arma, num momento de desespero.

Summer o encarou, ainda tentando entender. A ponta da lança explodiu contra sua barriga, na altura do intestino, e rebolou para o lado, quicando. “Ele se esqueceu que sou inteiramente invulnerável?”, pensou, num contra-ataque rápido. Gabe desviou de seu primeiro golpe, usando a adaga como punhal, mas Summer não deixaria barato. Gabe o subestimou. Passou o pé por debaixo das pernas abertas de Gabe, aproveitando que era menor, e o atingiu no estômago, ouvindo o som da pele e dos músculos se rompendo. O sangue vazou pelos punhos de Summer, próximo a camiseta de Gabe, e ele caiu para o lado, morrendo aos poucos.

Virou-se para Sophie e estendeu a mão para ela. A menina a encarou e então a segurou com força. Ambos com as mãos vermelhas. Ambos com as mãos manchadas do sangue de seus inimigos. Ambos assassinos, legalmente.


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Notas finais do capítulo

PROMOÇÃO! Para todos os leitores, inclusive os autores de fichas que ainda não apareceram.
É apenas uma pergunta, e quem responder certo (não importa quantos) vai poder pegar, na Cornucópia, uma mochila com: suprimentos (5x), garrafa de água (cheia) 600ml (1x), fósforos (3x), um saco de dormir, corda (2 metros, 2x) e talvez o item mais importante de toda a Arena: um lampião com 1 litro de álcool. Sim, fui muito generosa! E a pergunta é:
— O que é a Bastilha?