Crônicas de São Paulo escrita por Pepper


Capítulo 6
Da Paulista para a Penha part. 6 - Final


Notas iniciais do capítulo

Sorry! Demorei um pouco para postar, mas dou minha palavra q esse capítulo está muito bom! Ou não...



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Ver ele ir embora triste, normalmente não me afetaria muito, afinal, isso já aconteceu mil vezes, garotos que gostavam de mim porém eu não correspondia. Mas ele era legal, acreditei que poderíamos ser mesmo amigos... Mas... Deixa pra lá. Como disse, não costumo correr atrás de amizade, isso é coisa de gente desesperada, o que não é o meu caso.

Volto para Leo e fico conversando com ele e com os outros amigos de meu irmão. O resto do dia foi normal, e voltei pra casa com ele e Caio. Quando abrimos a porta, encontramos nossa mão na mesa da cozinha com alguns papéis e seus óculos de leitura, normalmente ela estaria trabalhando. Eu e Leo ficamos na porta olhando sem entender, Caio vai até ela, ajoelha do seu lado para olhar seu rosto e pergunta:

– Mãe? O que houve? Não era pra você estar trabalhando?

Minha mãe Clara levanta sua cabeça e me olha, depois olha para meu irmão e diz chorando:

– Me demitiram, eu pedi um aumento porque aumentaram o nosso aluguel e me demitiram filho.

Seu rosto chega a me lembrar uma cachoeira. Talvez a cachoeira da melancolia... Caio a abraça sussurrando que tudo vai ficar bem. Leo cochicha em meu ouvido que era melhor ele esperar lá fora, alegando que o assunto era de família.

– Me perdoa filho. – Ela pedia afogada em seu ombro.

– Mãe, fica calma, você vai achar outro emprego.

Então ela se solta.

– Mesmo assim, não tem como pagarmos o aluguel.

– Vamos dar um jeito tá? Sempre demos! Confie em mim, se arruma e procura um emprego ainda hoje, quem sabe você não arranja algo que te pague mais? Eu posso fazer hora extra!

Minha mãe concorda balançando a cabeça e gesticulando um “Obrigada”, ela demorou alguns minutos para se acalmar nos braços de meu irmão, depois ele saiu da cozinha com ela e a deixou em seu quarto. Ele voltou pra cozinha e me disse:

– Trate de arranjar um emprego você também.

– O QUE? FICOU LOUCO!?

– Você mora aqui agora, vai ter que ajudar, nem que trabalhe de babá ou empregada. Precisamos do dinheiro.

– Não pretendo trabalhar tão cedo, obrigada.

Ele se aproxima ameaçador.

– Aqui não é sua casinha e nem seus amiguinhos que escolhem trabalhar. Aqui você não tem opção. Quer comer? Quer ter uma casa pra morar? Vai trabalhar.

– Você não manda em mim. – Irritada saio de casa, desço uns degraus e sento com Léo na calçada.

– O que houve lá? – Ele me pergunta envolvendo seus braços em meu ombro.

– Minha mãe demitida, Aluguel aumentou, meu irmão quer que eu trabalhe.

– Quer que eu vá com você procurar emprego?

– O que? Claro que não! Não vou procurar emprego!

– Ué, e porque não? – Apesar do meu estresse, a voz dele era calma.

– Porque eu não quero.

– Mas será que sua mãe não precisa da sua ajuda agora?

– Ela só precisa de um outro emprego.

– Karina, eu sei que você não esta acostumada a isso, mas... Você precisa trabalhar, Olha, eu vou começar a trabalhar num Buffet Infantil, lá tem vaga ainda, quer ver se você consegue lá? É pouco mas pode ajudar.

Eu respiro fundo, penso um pouco. Realmente minha mãe precisaria de mim, não sei... Ok. Ela precisa de ajuda.

– Está bem. Eu vou.

Ele sorriu e me deu um beijo. Mais tarde nós fomos ver se a vaga ainda estava disponível, e estava. Eu começaria sábado, junto com Leo. Fiquei mais contente do que esperava ficar. Minha mãe conseguiu um emprego melhor num salão de beleza e meu irmão passou a chegar mais tarde em casa. Todo dia de festa no Buffet, eu e Leo íamos e voltávamos juntos. Ele gostava de servir as mesas e me ver brincar com as crianças, ele dizia que eu levava jeito pra isso, pois elas sempre riam de mim. E ele estava certo, o pouco dinheiro que eu ganhava a ajudava a colocar comida na mesa. Eu me sentia útil e uma nova Karina. Mais humilde, por assim dizer. Eu gostava de trabalhar, e de vez em quando eu e Leo tínhamos nossos encontros na cozinha. Não me julgue! Eu mereço pelo menos ele!

Depois de dois meses de trabalho, teve uma noite que voltávamos do Buffet, ele me deixou na porta de casa e disse, bem baixinho:

– Ka, tenho que te contar uma coisa muito séria. – Eu me assustei, sua cara era séria e ao mesmo tempo triste.

– O que foi? Aconteceu alguma coisa?

– Olha, eu sei que passamos muito tempo juntos e tals, e eu sei também que não tínhamos nada sério, mas... Eu cansei disso... – Ele baixou sua cabeça, e eu comecei a chorar assustada, sabia o que ele faria, e eu queria fugir, sair de lá, mas apenas o fitava deixando lágrimas clandestinas pingarem de meus olhos. – Eu acho que ta na hora de... – Ele Hesita, de cabeça baixa, ele a vai levantando devagar. – Te pedir em namoro. – Ele exibe seu sorriso até então escondido. Eu começo a rir e a bater nele.

– Você me assustou seu idiota! – Ele segura meus braços e ri.

– Nossa, me odeia tanto assim?

–Te odiar? TE ODIAR? EU TE AMO SEU IDIOTA! – Ele para, como uma estátua, tendo em sua cara um sorriso bobo estampado. – O que foi? Tá bem? – Eu aceno em frente ao seu rosto, ele pega a minha mão no ar como um ninja, depois me envolve num abraço forte e cochicha, como um segredo só nosso:

– Também te amo Karina.

– NUNCA VOU TE PERDOAR!

– Por te amar?

– Por me dar um susto desses! Mas nem que você pule num vulcão!

Ele ri.

– Ok, mas pode ser um vulcão inativo? Ei, sabe o que eu disse há uns 15 segundos?

Eu reviro meus olhos.

– Não, o que?

– Que EU TE AMO KARINA! - Gritou segurando minha cabeça sorrindo. Eu sorrio também e nos beijamos, finalizando aquela noite. Nosso primeiro de muitos "Eu te amo".

Na cozinha encontro meu irmão tomando refrigerante, tinha acabado de voltar de seu trabalho.

– Vocês vão me fazer vomitar arco-íris ainda.

– Cala a boca.

Eu estava saindo da cozinha quando aparece Batata, o cachorro dorminhoco da minha mãe, parece que ele estava a fim de brincar.

– Batata! Agora não! Sério, amanhã te compro um osso!

– Você não vai subornar o cachorro. – Meu irmão comenta.

– Cala a boca. – Repito e volto pro Batata que fazia cara de cachorro pidão. – Sério Batata, amanhã te compro um osso juro! Se eu esquecer, pode me morder!

Ele parece satisfeito e volta pro seu cantinho de soneca. Eu olho pro Caio.

– Viu? – Me retiro da cozinha feliz e vou pro quarto.

Na manhã seguinte o cachorro me acordou lambendo minha cara, lembrando de minha promessa. Relutante, eu levanto e vou pra cozinha onde encontro minha mãe quase indo embora.

– Ei, mãe! – Chamo, ela olha pra trás e sorri.

– Acordada?

– Batata me acordou... – Explico. – Olhe, eu queria apenas pedir desculpas, você estava certa, o dinheiro não é felicidade. Me desculpa não ter visto isso antes... De ser tão mimada...

– Filha, tudo bem. – Ela vai até mim e passa a mão em meus cabelos, compreensível. – Aquele rapaz te fez bem, eu vejo em seus olhos... Não importa o passado, quem você era, o que importa agora é quem você é, e quem esta com você. – Ela me da um beijo na testa. – Bom dia. – Então ela se vai, para mais um dia de luta interminável.

Eu e Leo continuamos juntos, Guilherme já não guardava mágoas, mas não fazia tanta questão de falar comigo, e depois de alguns meses, no final de ano, meu pai voltou pro Brasil sem avisar. Estávamos todos em casa assistindo filme. Minha mãe Clara, Meu irmão Caio, meu amigo Guilherme, meu namorado Leo e até o Batata estava esparramado no chão assistindo. Alguém batia na porta, minha mãe foi atender, voltou pra sala seguida por ele, meu pai.

Minha reação primordial foi abraçá-lo com força. Depois perguntei o que ele fazia ali.

– Vim te buscar. – Ele diz. Leo, Caio e Clara o olharam, todos sabíamos que chegaria o dia que eu voltaria para a minha antiga zona de conforto, mas foi de repente, sem avisar.

– Espera aí, você não pode chegar do nada e falar que vai leva-la embora, outra vez. – Minha mãe protesta. – Volte pra buscá-la depois da formatura de Caio.

– Não vai dar. Como posso te explicar, Clara? Eu arrumei alguém que não quer me mudar, e nós vamos morar no Rio, e eu quero que a Karina vá conosco hoje à noite.

– Você perguntou se ela quer ir? – Dessa vez, quem falou foi Leo.

– Garoto, quem é você?

– Sou o namorado dela. – Ele responde.

– Não é mais. Karina vá arrumar suas coisas e vamos.

Eu olho todos da sala, olho pro meu pai, alguma coisa nele mudou, deve ser a pessoa com quem ele tá.

– Não pai, não quero ir. Vou ficar aqui. - Ele me olha desafiador.

– Você mudou.

– Você também. E eu não quero isso. Pode nos visitar quando quiser.

– Você vai comigo. Querendo ou não.

– Não vou! Não quero e você não pode me obrigar!

– Não pense que desisti. - Diz ele, agora para a minha mãe. - Eu volto e a levo comigo.

– A porta da frente é a serventia da casa. - Responde minha mãe, sua voz era machucada, mas firme.

Meu pai se retira, vou e abraço minha mãe que deixa suas lágrimas clandestinas pingarem de seus olhos para meus ombros. Foi um dia feliz, porém fora estragado. Naquele meso dia eu vi, olhei com os olhos da alma. Aquela casa era a minha felicidade, aquelas pessoas... Nos anos que vivi lá, com Clara, Caio e Leo, foram perfeitos. Nas noites estressantes em claro recebia uma massagem do meu eterno namorado. Nas indecisões, conselhos de minha mãe. No cansaço após o trabalho, meu irmão e o cachorro, Batata, me alegravam.

Quando Leo fazia suas brincadeiras sem graça, eu me fingia de brava. ele ria e pedia perdão. Eu dizia "Não perdôo nem que você mergulhe num vulcão!" ele, com seu sorriso de malandro, me respondia "pode ser inativo?" Eu revirava meus olhos e o beijava, permitíamos que o amor nos domasse.

Todos os dias passaram de forma linda ou agitada, às vezes passávamos por apertos, tivemos de nos mudar duas vezes, mas quando meu irmão virou médico, ele juntou dinheiro para comprar uma boa casa para minha mãe. Claro, sem sair da Penha, e eu? Pergunta engraçada...

Me formei em Letras, filosofia e estava estudando para ser professora e publiquei 4 livros que foram muito bem vendidos. Estava noiva de Leo, que abriu uma oficina de skates que estava avançando aos poucos, calmamente, como ele. Não vivíamos no luxo, não abrimos mão da Penha, passamos a morar perto de nossas famílias.

Lembro-me de um sábado, quando passei a tarde no parque do Ibirapuera para ler um pouco, fui para um bosque onde era mais sossegado, mas naquele sábado, não tinha nada de sossego, e passei a observar um grupo de amigos, e entre eles, duas irmãs, ambas ruivas, uma mais alta e esbelta, a outra baixinha, magra e linda, duas ruivas, irmãs, discutindo. Mal elas sabem a sorte que tem. Ter um irmão é ter alguém para aguentar com você, as dificuldades. Mas elas discutiam, como se não houvesse amanhã. Me perguntei se um dia elas irão perceber que uma irá precisar da outra, a mais nova da mais velha, a mais velha da mais nova... Contei para Leo sobre elas. Ele disse "É coisa de irmãos, lembra de você e Caio?"

Mas... O que elas estariam fazendo agora?


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Notas finais do capítulo

Diz ai o que achou desse final!
Próxima Crônica: As irmãs do Ibirapuera



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