Já faz três semanas desde que Alice postou seu vídeo, todo dia eu tentava entrar em seu site de novo, mas não conseguia. Ainda está fora do ar, e as autoridades estavam chamando isso como "Caso Alice". Deixem-me lhes contar tudo desde o começo.

Ela morava no Rio, e espalhou aquele link por vários fóruns da cidade e do estado, dessa forma muitas pessoas acabaram vendo sua morte.

Após o site ser tirado do ar, uma verdadeira onda de perguntas e campanhas começou, afinal muitos queriam saber o por quê daquilo, o que sua frase "estarei esperando" significava. Pessoas que não tinham visto ao vivo pediam gravações, mas percebi que ninguém além de mim tinha aquele vídeo.

Mandaram para todos uma mensagem perguntando se alguém tinha gravado, eu respondi que sim e que postaria em um tópico de um certo fórum, o qual não irei dizer aqui para vocês não acabarem como eu.

Talvez se eu não tivesse feito isso nada disso teria acontecido.

No dia seguinte, na TV, a notícia de um garoto que fez uma gravação em que se matava após ver a Alice, e mencionava a mesma, me desesperou, afinal eu tinha postado aquele vídeo. O site que informaram em que estava o vídeo era "thesuicidechain.com", muito parecido com o dela.

No momento em que anunciaram que o site não conseguia ser derrubado, como o dela, corri para o computador e entrei nele.

Ao entrar na página, existiam duas opções aparecendo grandes na tela: "Vídeos" e "Envie o seu". Cliquei na primeira delas e uma janela ao estilo pop-up com dois nomes surgiu. "Alice" estava em cima e embaixo o nome "Jeremias" piscava com um pequeno símbolo de 'novo'. Cliquei no do garoto, pois já sabia do que se tratava o dela.

Um reprodutor de vídeo abriu na tela. Um quarto ao estilo vintage, mas com mobílias bem caras, apareceu e no centro da tela, um garoto moreno, alto, de cabelos longos e escuros. Ele começou a falar.

"Olá para vocês, espero estar fazendo isso certo e que meu vídeo chegue no seu site. Programei para parar de gravar daqui dez minutos e enviar ao seu e-mail."

Então era assim que funcionava a segunda opção, entendi.

"Meu nome é Jeremias, tenho dezenove anos, moro no Paraná. Estudo em uma faculdade particular, que não irei citar aqui. Vivo praticamente sozinho, já que meus pais trabalham na Europa."

Ele também era rejeitado pelos pais.

"Fui criado por um empregado que eles contrataram, mas ele foi demitido assim que fiz dezoito anos. Não vou bem na faculdade, apesar de entender a matéria. Essa é minha maneira de chamar a atenção de meus progenitores, já que eu sempre passo de ano graças ao dinheiro deles.

Tenho pouco tempo, quero encontrar você logo, Alice."

A imagem piscou e ela apareceu. "Estarei esperando." A imagem dele voltou.

"Eu estou indo." Jeremias levantou um espelho, e sobre ele, numa linha fina, estava um pó amarelo. "Isso é fenilciclidina, eu não irei sentir dor, mas vou acabar dormindo se não terminar logo."

Em sua mão estava uma tesoura. Devo admitir que eu queria sair e não ver aquilo, mas a curiosidade foi mais forte.

Ele levantou o cabelo de sua testa e colocou a tesoura bem onde começavam a crescer. Com uma certa força ele arrastou a tesoura por toda a cabeça, levando pele, carne e todo seu cabelo com ele. O processo se repetiu até que não houvesse mais um único fio de cabelo e em algumas partes o osso ficasse exposto por sobre o sangue que escorri até cair em seus olhos. Ele chorava.

Então ele soltou a tesoura e pegou uma navalha, passando-a por todo seu rosto enquanto repetia "estarei esperando, estaremos esperando", e a voz de Alice se juntava à sua, como mensagens subliminares.

O garoto enfiou a navalha em seu pescoço até a carótida e a rasgou.

Sangue pingava por todo seu rosto enquanto ele se engasgava com o mesmo, de sua boca ele escorria e manchava toda a roupa, até ele morrer. As vozes agora editadas deles se misturando e formando um coro. Eu estava prestes a vomitar quando tudo acabou, os 10 minutos se foram e o player de vídeo sumiu, enquanto a opção "envie o seu vídeo" apareceu.

Eu fechei o site e deitei em minha cama, ainda com o estômago revirando. Implorei para que minha mente se esquecesse daqui, ou pra tudo ser um sonho, e me odiava por ter passado "Alice" naquele fórum. Mas é claro que era real, e que eu havia postado o vídeo, e também sabia que aquilo era só o começo.