Equestria: Depois da Meia-Noite escrita por Dezenove


Capítulo 2
Pesadelos e Realidade




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“Oh, finalmente eu te encontrei, eu já estava achando que Celly havia conseguido acabar contigo de vez!”

Discord exclamou, seguido por uma habitual gargalhada de satisfação. Ele estivera flutuando na mais profunda escuridão por meses, procurando por algo em especial, e agora ele finalmente havia encontrado. Um pequeno brilho de cor púrpura e azul em meio às trevas flutuava à sua frente, com sua pata de leão, o Draconequus o cutucou duas vezes até obter uma resposta.

“Quem... quem está ai?” – Perguntou uma voz fraca e sombria mergulhada em solidão, sua voz ressoando no vazio.

“Vamos lá, Luna, você sabe quem eu sou, preste bem atenção à minha voz, faça uma forcinha...” – Discord respondeu, um sorriso enorme se formou em sua face quando o pequeno brilho se apagou e transformou-se em sombras, formando uma silhueta negra à sua frente, que era difícil de ser distinguida em meio à escuridão.

“Luna...? Eu não sou Luna...” - Respondeu a voz com certa irritação, a fraqueza de sua voz lentamente desaparecia conforme o ser tomava uma forma equina. “... não mais, Discord.”

“Ora ora, agora você já me reconhece? Estou lisonjeado, Nightmare. E feliz por ter lhe encontrado depois de tanto tempo procurando nesse lugar chato, você não fica entediada com tantas trevas?” – Discord perguntou.

O draconequus posicionou suas patas dianteiras atrás de sua cabeça e começou a flutuar como se estivesse deitado em uma rede invisível, enquanto a escuridão do lugar era sugada pela figura sombria como se ela fosse um implacável buraco negro.

“Essas trevas são parte de mim, será que passar tantos anos como uma estátua tem afetado sua memória?” – Nightmare perguntou enquanto se levantava, agora seu corpo estava mais visível já que a escuridão ao seu redor lentamente era drenada como água sendo sugada por uma esponja.

“Nossa, que pergunta mais rude, você sempre foi amarga, mas parece que ter seu flanco chutado pelos Elementos da Harmonia mais uma vez lhe deixou ainda mais brava, não é mesmo?” – Um sorriso provocativo brotava em sua face.

“Discord, você veio até as sombras mais profundas desse mundo apenas para me acordar com provocações idiotas? Será que eu tenho que lhe mostrar que ser uma estátua não é o pior destino que você poderia enfrentar?” – Ela disparou, e até o fim de sua frase, o draconequus e a égua estavam ambos flutuando no nada, como se tivessem sido pintados em uma tela branca por um artista tão preguiçoso que se esqueceu do chão.

Nightmare o fitava em pé sobre suas quatro patas, ela não vestia nenhuma armadura, estando como havia sido concebida ao mundo, ou pelo menos assim seria se ela fosse um pônei comum. Seu pelo preto contrastava com o branco atrás deles, seus olhos turquesa com pupilas em fenda pareciam vívidos como nunca, a expressão de seu rosto não escondia sua irritação por ser acordada, mas também deixava claro que ela parecia interessada com o porquê de Discord ter vindo até ela.

“Minha queria égua da noite, não precisamos baixar o nível, não acha?” - Ele disse enquanto girava sua pata de leão no ar em circulos. – “Eu fiquei com saudades e vim visita-la, isso é tudo...” – Ao fitar a égua esperando a sua reação, ele recebeu apenas um longo silêncio enquanto ela erguia uma de suas sobrancelhas. – “Hmm, vejo que você não acha que estou falando sério, não é mesmo? Tudo bem, tudo bem... um motivo me trouxe aqui, Nightmare, como você sabe, eu agora sou uma linda peça de decoração no jardim real em Canterlot. Eu vim até aqui, e te acordei, não é mesmo? Ninguém mais poderia fazer isso a não ser eu, afinal, não há nenhum quebrador de regras tão bom quanto eu por ai. Agora eu preciso que você me devolva esse favorzinho.”

E o silêncio se instaurou entre os dois pelo o que parecia ser uma eternidade, Nightmare o encarava com uma expressão distante, como ela recém havia despertado, várias coisas passavam pela sua cabeça, e Discord sabia disso, ao invés de pressiona-la, ele simplesmente esperou, fitando suas própias garras de águia, como alguém que verifica se suas unhas precisam ser aparadas.

Nightmare se questionava que rumo tomar agora que havia retornado, fazer nada simplesmente não era uma opção, porém queria ela trazer novamente a escuridão eterna? Não... um sorriso pequeno e malicioso se formou em seus lábios, o draconequus que a observava logo notou e respondeu com um igual. Em poucos minutos a égua da noite formulou uma longa lista de afazeres, porém ela precisava de um corpo, e tomar de volta o corpo de Luna não parecia uma ideia viável, além de ter desenvolvido um certo carinho pela princesa depois de todos esses anos, ela poderia ser uma peça importante nesse jogo.

“Meu caro Discord...” – A mudança no seu tom de voz era clara e agradável para o ser que conversava com a égua. – “Fico grata que tenha me ajudado, mesmo que tenha sido apenas para pedir esse favor em troca.”

“Ah, não fale uma coisa dessas...” – Ele protestou em um tom de brincadeira, mas Nightmare não pareceu dar muita bola para isso e continuou.

“Eu irei lhe ajudar, porém com uma condição, eu presumo que você não consiga quebrar a magia dos Elementos da Harmonia que lhe mantém como estátua, mas você ainda pode manifestar seus poderes, não é mesmo? Eu preciso de um corpo, só assim eu poderei deixar esse lugar.”

Os olhos de Discord se arregalaram com o pedido, e ele não teve como conter, não que ele sequer houvesse tentado, uma gargalhada calorosa do fundo de seu coração. A soberana noturna apenas suspirou e rolou seus olhos para trás, por um momento ela havia esquecido o quão insuportável o seu salvador era.

“Oooh, não me diga que não quer tomar um corpo para si, assim como você sempre fez? Luna é poderosa, e você ainda tem a opção de tomar para si uma das portadoras dos Elementos da Harmonia, wow, isso seria fantástico, não é mesmo? Eu aposto que Bom-Humor, Lealdade ou Honestidade seriam ótimas candidatas já que você está tão acostumada com tais elementos... Ou não me diga que você apenas está caidinha por mim, e gostaria que eu lhe fizesse algo... especial?”

Ele perguntou com certa dificuldade em segurar seus risos enquanto ele fazia sua provocação, movendo suas patas dianteiras de forma a sugerir que a égua estaria interessada que ele criasse um corpo com formas mais... cheias e curvas.

“Pare com essas baboseiras. Não lhe interessa o motivo, um corpo idêntico ao anterior seria perfeito, porém eu preciso que Luna mantenha o seu.” – Ela disse terminando sua frase batendo um de seus cascos dianteiros contra o nada imaginável, que produzia um som parecido com cascalho.

“Oh, é uma pena que eu não conheça bem os detalhes daquele seu corpo compartilhado com a Princesa Luna, eu sempre preferi a Celestia, sabe? Hmm, aquele pelo alvo e cheiroso, chifre magnífico, pernas fortes e sedutoras, e o que dizer daquelas nádegas volu-“

“DISCORD! Eu não estou aqui para ouvir sobre os seus sonhos molhados, mantenha o foco para que acabemos logo com isso.” – Ela o interrompeu com o trovejar de um de seus cascos acertando o chão.

“Minhas sinceras desculpas, eu não sabia que você iria ficar toda cheia de inveja.” – Nightmare revirou os olhos e levou o mesmo casco que golpeou o chão até a sua testa, essa provavelmente seria a parte mais difícil de sua nova jornada. – “Mas, tudo bem, vamos acertar alguns detalhes, e logo logo você estará no plano mundano, e eu vou assistir de camarote essa sua saga.”

Assistir? Agora tudo fazia sentido, o pensamento de que Discord passara esse tempo todo quieto assistindo a Celestia silenciosamente não deixava a cabeça da alicórnio, se o amor fazia coisas estranhas à cabeça de pôneis comuns, ela nem tinha como imaginar o que faria com Discord.

E assim os dois passaram horas e horas conversando sobre o que planejavam, e ninguém pode dizer ao certo quantas mentiras ou meias verdades foram trocadas. Ambos eram aliados agora, mas nenhum dos dois saberia dizer com certeza por quanto tempo.

Já era o fim da noite, e Luna se preparava para descansar em seus pomposos aposentos, era difícil de distinguir o céu estrelado do teto de seu quarto, tudo possuía seu tema e cores, nos mínimos e mais belos detalhes com vários tons de azul, prata e preto. A noite havia sido muito gratificante e calma, haviam poucos papéis já que a situação diplomática de Equestria estava boa como poderia estar, todos os pôneis pareciam felizes e descontraídos, a lua cheia estava mais bela que nunca no seu maravilhoso céu, e os pesadelos pareciam estar de folga já que poucos pôneis precisaram de sua ajuda com seus sonhos naquela noite. Perfeito.

A princesa da noite deixou suas pantufas felpudas na beira da cama e a escalou, se arrastando sobre os lençóis sedosos e perfumados de sua cama, sentir o tecido contra a sua pele era uma das suas sensações favoritas e que mais lhe acalmavam depois de um dia de trabalho. Ela rastejou até o topo da cama, seus pensamentos já estavam nas nuvens quando ela descansou sua cabeça no travesseiro e fechou os olhos. Uma sensação indescritível percorreu seu corpo enquanto ela relaxava seu corpo e mente, espalhando-se pela enorme cama. E então o sentimento de alegria se foi tão rápido quanto veio, sendo substituído pelo mais terrível desespero, seus olhos se arregalaram e suor frio começou a escorrer em sua face, peito e lombo, salgando seu pelo. Um grito agudo rompeu o castelo tão rapidamente quanto o seu coração batia, e em poucos segundos Celestia estava de pé na porta de seu quarto, os guardas logo chegariam, mas eles não tinham como serem tão velozes quanto o trovão branco que era a alicórnio.

O susto havia tomado o fôlego de Celestia, que se acalmara um pouco ao ver sua irmã em segurança, sozinha na cama. Ela fechou a porta atrás de si e troteou mais próximo da pequenina que tremia sentada e soluçava como uma potra que havia se perdido de seus pais, encarando o vazio como se houvesse visto um monstro.

“Luna, minha amada irmã, o que aconteceu?” – Perguntou a égua alva, tentando esconder o quão assustada ela havia ficado com o grito, a última coisa que ela queria era deixar sua irmã ainda mais desesperada. Nenhum sinal de perigo no quarto, as janelas e portas estavam fechadas quando ela havia chegado, e não havia nenhum resquício de magia no ar, o que poderia ter deixado Luna desse modo?

“T-Tia... E-Ela n-não está... e-ela não está mais lá...” Ela falou, tropeçando nas próprias palavras e soluços.

“Como assim? Ela quem? Lá aonde?” – Celestia perguntou, se aproximando mais da irmã, sentando na borda da cama de modo que pudesse abraçá-la, confortando-a com um casco atrás de sua cabeça, afagando sua crina e orelhas.

“Nightmare Moon... ela não está mais nos meus sonhos...”

A situação acertou Celestia tão forte quanto uma marreta golpeia uma bigorna, Luna frequentemente comentava com a sua irmã como eram os seus encontros pacatos em seus sonhos. A alicórnio branca sempre acreditou que Luna e Nightmare haviam desenvolvido um tipo de conexão, por muito tempo elas foram como os dois lados de uma mesma moeda, e saber que ela estava sobre controle lhe trazia algum alívio. Agora esse alívio havia se isso.

Isso explicava o por que os pesadelos não apareceram para amedrontar os pôneis essa noite.

Eles estavam ocupados festejando a volta de sua Rainha.


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