Pov – Annabeth

Eu estava com um problemão. Minha mãe havia pegado todas as minhas roupas enquanto eu estava no meu encontro e despachado tudo para o apartamento de Percy. Não deu tempo de pedir roupa emprestada para Piper, já que ela estava no saguão me esperando. Pensei um pouco nas minhas possibilidades: Poderia ir com o vestido que fui ontem ao encontro, mas eu dormi com ele, e com o meu pesadelo diário, o vestido ficou encharcado de suor. Tomei meu banho rápido, me enrolei na toalha e mandei uma mensagem pra Piper e Thalia subirem.

A campainha tocou e eu abri.

– O que aconteceu? - Thalia perguntou se jogando no sofá.

– Por que você ainda não está arrumada!? – Piper me sacudiu.

– Acho que a senhora Chase, despachou minhas roupas pro duzentos e dez.

– A suíte dos Jackson? – Perguntou Thalia.

– Essa mesmo.

– E com que roupa você vai pra escola? – Piper me perguntou.

– Com as da minha mãe. – Suspirei odiando a ideia. Ela não iria me fazer ficar próxima do Jackson dessa maneira. – Só vou precisar que vocês peguem meu uniforme lá.

Piper e Thalia se entreolharam e um grande silencio se passou por elas. Resolvi perguntar sobre isso depois. Finalmente elas subiram até a suíte.

Coloquei a blusa e a calça que dei de presente pra minha mãe ano passado, antes dela pensar em si própria e esquecer de mim. Era o melhor que eu tinha.

Entrei no elevador e encontrei Percy.

– Bonita roupa. – Ele me respondeu.

– É.

– Podemos conversar?

– Sobre?

– Você sabe sobre o que. – Ele me disse.

– As roupas? De noite você despacha na porta do quarto. – Falei.

– Não, não é sobre isso. Afinal, adorei ver minha cama cheia das suas roupas intimas...

– Fala logo. – Pedi revirando os olhos.

– Sobre a Drew... – Ah, isso. – Tudo bem pra você?

Ponderei um pouco antes de responder. Percy não estava exatamente preso a mim. Nenhum de nós dois havíamos concordado com essa história de casamento, contudo eu sentia uma pontada de dor, como se eu estivesse sendo traída a cada olhar que ele dirigia a lagartixa saltitante.

– Tudo. – Respondi friamente. – Espero que você também.

– Como assim? – Perguntou Percy. Lerdo.

– Will Solace. – Falei.

– Ah, é, tudo.

Piper já me esperava no saguão com Thalia e algumas roupas de muda minha.

– Vou trocar essa roupa e já volto. – Falei.

*

Uma semana havia se passado desde que eu começara a namorar Will e Percy a galinha dançarina. Todos continuavam falando que eu fui feita para Will, que estávamos completamente apaixonados. Eu sabia que não era verdade. Nós dois sabíamos que eu não o amava. Eu estava no corredor guardando os livros, quando Percy pediu a mão de Drew na minha frente. Nada especial, mas nada legal também. O sinal bateu. A pior aula do dia. Literatura. Não que eu não goste de escrever, na verdade, é minha paixão. O problema é que essa é a única aula que tenho com Perseu e Drew.

Rumei em direção a sala de aula. Os dois estavam se agarrando lá no fundo. Quando finalmente eles se tocaram, o professor entrou na sala.

– Na aula de hoje iremos discutir sobre os livros que mandei ler durante o mês. – Anunciou Quíron. – Valdez, gostaria de comentar sobre algum livro?

– Não, obrigado. Deixa pra próxima! – Risos recorreu na sala.

– Certo. – Disse Quíron anotando a observação no caderno. – Senhorita Chase, fale um pouco do livro de contos que mandei você ler.

– Eram tudo bobagem, professor. – Respondi.

– Poderia explicar?

– Eram um livro de contos como você disse. Princesa, príncipes. Tudo um era uma vez, o que não é verdade. Os contos já começam mentido. Era uma vez, nunca houve, nunca vai haver.

– A senhorita não acredita em milagres, senhorita Chase? – Perguntou Quíron.

– Não que eu não acredite. Só não acredito em coisas tão previsíveis como isso. Na realidade, o príncipe nunca fica com a princesa. Ele sempre ficará com a megera ao seu lado. Já que ela é a única coisa que seus olhos conseguem enxergar, digo, duvido que o príncipe preste atenção na princesa com uma megera usando um decote gigante como elas sempre usam.

Se eu sei da onde tinha vindo aquelas indiretas? Não sei.

– Talvez ele ficasse com a princesa se ela desse uma chance. Nem tudo é tão previsível. – Falou uma voz ao fundo.

Me virei para ver de quem tinha sido aquela fala. Percy estava de braços cruzados me encarando como se fosse um desafio.

– Talvez, Perseu. Nem tudo é assim, vai me dizer que a princesa tem escolha? No final ela será obrigada a ficar com o príncipe. Não somos nós que escolhemos, os escritores ditam, ou melhor, quem controla a nossa vida. Previsível.

– As histórias não são tão previsíveis assim. Já que nem todas veem com um aviso no final do livro, ensinando que há sim, uma forma de mudar o conceito de um rumo.

– Nenhuma vem. – Falei revirando os olhos.

– Mas se você ler direito, verá que sempre houve um porque. Em todo conto há uma moral. Você poderia deixar de orgulho e realmente ler o que está escrito na testa das pessoas...

– Desde quando o assunto passou a ser eu? – Perguntei brava.

– Só vai deixar de ser você quando o seu orgulho passar. Faz uma semana que você não troca uma palavra comigo...

Orgulhosa eu? Levantei da cadeira com tudo e me virei pra ele, pronta para atacar sua cara. Infelizmente, Frank me segurou.

– Já chega os dois! – Quíron gritou. – Detenção de uma semana limpando a biblioteca. Para aprenderem a não discutir na sala de aula.

– Mas não é isso que você disse? Discutir o livro? – Perguntou Percy indignado.

– Duas semanas para os dois. - Repreendeu Quíron.

– Idiota! – Bati o pé e sai da sala.

Eu perderia duas semanas de treino no coral por causa de um imbecil. Trompei com Rachel no corredor.

– Foi mal. – Falei indo pro banheiro.

Não estava afim de ouvir a voz dela também.