Ginevra foi a primeira a acordar. Ela se sentou na cama e se espreguiçou, tomando cuidado para não acordar Mercúcio.

"Iria embora no primeiro raio de sol, não é?" Murmurou ao olhar para a janela por onde entrava a luz. Já devia ter passado das 9 da manhã.

Ela estava quase pegando no sono novamente quando ouviu alguém bater em sua porta e rapidamente acordou Mercúcio, que piscou algumas vezes mas notou o som vindo da porta.

"Ginevra, precisamos conversar" Ela ouviu seu tio falar. Ele girou a maçaneta e Ginevra empurrou Mercúcio para debaixo das cobertas, que por sua vez eram grossas o suficiente para que não aparentasse haver uma pessoa escondida entre elas. Isso sem contar com o fato de que Mercúcio era bem magro.

Naquele exato momento, seu tio e Teobaldo entraram no quarto.

"Bom dia tio, Teobaldo..." Disse.

"Bom dia sobrinha, espero que tenha se divertido no baile ontem" Ela fez um sinal positivo com a cabeça e abriu um pequeno sorriso. Ele sorriu de volta, mas logo o sorriso sumiu.

"Mas não é exatamente sobre isso que eu vim falar. Acho que você está ciente da invasão dos Montecchio" Ela confirmou com a cabeça novamente. Ela sentiu Mercúcio se mexendo e lhe deu um leve chute.

"Tome cuidado com eles. Se conseguiram entrar aqui no meio de um baile, sabe mais o que podem fazer. Sugiro que leve sua alguém com você quando for dar suas caminhadas pela cidade. Esses cães estão por toda parte" Cuspiu.

Olhou então para Teobaldo, que estava de braços cruzados e sentado à penteadeira batendo o pé impaciente.

"E seu irmão disse que a viu conversando com Mercúcio Escalus." Mercúcio deu risadinhas e Ginevra o chutou novamente, dessa vez mais forte. Por sorte seu tio não notou.

"Tome cuidado com este rapaz. Pode ser parente do príncipe porém é aliado dos Montecchio." E saiu, deixando apenas Ginevra, Teobaldo e Mercúcio (escondido) no quarto.

Teobaldo chegou próximo à ela e botou uma mecha de seu cabelo desarrumado por detrás de sua orelha, fazendo ela tremer ao toque.

"Não gosto daquele rapaz Escalus. Nunca mais quero ouvir nem ver você com ele, me ouviu? Ele é uma má pessoa." Deu-lhe um beijo na bochecha e foi embora de seu quarto. Uma das coisas que mais à irritava era o fato de que Teobaldo a tratava como uma criança.

Mercúcio saiu de baixo das cobertas rindo descontroladamente, fazendo Ginevra revirar os olhos e apoiar a cabeça nas mãos.

"Isso é sério? Você é irmã do rei dos gatos?" Disse entre gargalhadas.

"Sim..." respondeu.

"Achei que fosse uma prima ou algo do tipo, mas irmã?" Riu mais alto ainda.

"É, muito engraçado. Agora, é melhor eu me vestir e ir tomar café da manhã com minha família antes que alguém resolva voltar aqui. Eu recomendo que você vá embora." Disse se levantando e pegando um vestido em um baú e indo com ele para detrás da cortina se vestir.

Saiu de lá e Mercúcio já estava amarrando suas botas. Ele terminou e começou a sair pela janela, porém se sentou no parapeito.

"Não ganho nem um beijo de adeus?" Perguntou cruzando os braços. Ginevra revirou os olhos e lhe deu um leve beijo nos lábios.

"Tudo bem, agora vá logo" Falou. Mercúcio piscou para ela e simplesmente pulou da janela, que por sorte não era muito alta.

Ginevra foi até a sala onde normalmente era tomado o café da manhã e ali encontrou apenas Teobaldo e seus tios.

"A mesa está vazia hoje" Comentou se sentando ao lado de seu irmão que estava de cabeça baixa porém tinha um pequeno sorriso no rosto, o que era estranho.

"O Lorde Páris saiu para dar uma caminhada hoje cedo e ainda não voltou. Ele não ficou muito feliz por ter sido ignorado por Julieta ontem no baile." Disse seu tio. Agora estava explicado o motivo do sorriso de Teobaldo, ele odiava Páris quase tanto quanto odiava os Montecchio.

"E Julieta deve estar cansada de ontem, por isso a deixamos descansando. Ela é nova demais para esses bailes, devemos esperar ela crescer um pouco mais" Completou sua tia.

Ginevra permaneceu calada durante o resto da refeição e foi a primeira a terminar.

"Vou aos aposentos de Julieta e a chamarei para o café da manhã" Disse se levantando e seguindo para o quarto de sua prima.

Chegando lá, ela foi direto abrindo a porta.

"Julieta, está na hora do caf...mas o quê?!" Gritou ao ver que Julieta não estava sozinha. Ela estava sentada na cama conversando de mãos dadas com um homem. Os dois olharam para ela assustados e o rapaz levantou-se em um pulo, saindo pela varanda.

"Aquele...aquele era Romeu Montecchio?" Perguntou indo até a varanda e vendo que o moreno não estava por perto.

"Hum...bem, era. Mas não conte para ninguém, iriam me matar" Disse Julieta, implorando.

"Estão loucos?" Ginevra gritou desesperada.

"Desculpe..." Murmurou Julieta, que parecia extremamente sem graça. Ginevra passou as mãos pelos cabelos.

"Vocês tem alguma noção? Ah, claro que não! Imaginem o que podia acontecer se outra pessoa encontrasse vocês aqui. Romeu é um irresponsável, espere até eu encontrá-lo!" Disse furiosa.

"Espere, você conhece meu amado?" Perguntou Julieta. Ginevra a olhou surpresa.

"Amado? Mas...ele e Rosalina...ah, esquece. Se arrume pro café da manhã" Disse saindo do quarto e indo para seu próprio quarto, onde trocou de roupa e resolveu ir atrás de Romeu, tomando cuidado para nenhum empregado ou morador da casa notar que ela estava saindo.

Chegou correndo na praça principal onde encontrou Mercúcio, Benvólio e alguns Montecchio.

"Onde está aquele imbecil do Romeu?" Perguntou olhando em volta.

"Olá para você também" Respondeu Benvólio confuso.

"O que Romeu fez desta vez?" Perguntou Mercúcio com um sorriso no rosto.

"Não o vimos o dia todo. Ele não dormiu em casa" Benvólio disse. Uma moça que pela cor das vestes pertencia ao clã dos Montecchio se aproximou rindo.

"Deve estar apaixonado de novo, é por isso que ele desaparece" Ela falou.

"Romeu anda nas nuvens e isso faz com que ele caia em fossas" contou Mercúcio.

"E que fossas seriam essas, querido Mercúcio?" Benvólio perguntou rindo.

"Só quis dizer que fossas e buracos devem se preenchidos para que homens não tropecem e caiam" Mercúcio respondeu segurando Ginevra pela cintura e a girando, fazendo a menina dar uma pequena exclamação de surpresa.

"Romeu não podia concordar mais, ele quer preencher todos os buracos que existem" Ginevra comentou fazendo todos rirem.

"Mas os preenchendo ele só os está tornando maiores" Mercúcio completou.

Naquele mesmo momento, começaram a ouvir assobios e gritos dos outros Montecchio presentes na praça. A ama de Julieta (antiga ama de Ginevra) vinha em direção a eles e era seguida por Pedro, um dos criados dos Capuleto. Mercúcio fingiu estar assustado e se escondeu atrás de Ginevra e Benvólio.

"Olá cavalheiros e...Ginevra, olá minha querida" Para sua sorte, sua ex-ama sabia da sua amizade com os Montecchio. Ela então fez um gesto para Pedro que a olhou por alguns segundos lhe deu um tapa na mão.

"Dê-me meu leque Pedro, por favor" Disse impaciente. Os Montecchio riram.

"Sim Pedro, dê o leque para ela, é a parte mais bonita de seu rosto" Benvólio exclamou.

"Comparada com sua boca suja até minha bunda parece bonita." Disse. Todos os presentes riram de Benvólio e se aproximaram ainda mais da mulher.

"E então madame, o que deseja?" Perguntou Benvólio se apoiando nela. A ama revirou os olhos e sussurrou algo em seu ouvido. Benvólio olhou para Ginevra e Mercúcio e gritou.

"Ela quer Romeu, mas essa mulher tem um grande apetite!" Riu.

"Você o quer como amante ou o que?" Mercúcio perguntou dando gargalhadas fazendo até com que Ginevra desse uma risadinha.

"Mas isso não é de sua conta" A ama disse batendo em Mercúcio com seu leque.

"Oh, cuidado Benvólio, não se aproxime, essa mulher é quente, ela irá queimar qualquer pedaço de carne em que puder encostar"

"Por favor meninos, se comportem" Ginevra pediu envergonhada. Por incrível que pareça, eles obedeceram. Ginevra então olhou para uma das ruas próximas e viu Romeu vindo para a praça. Ela cutucou Benvólio e apontou para o amigo. Eles foram correndo falar com Romeu.

"Romeu! Finalmente, onde você estava? Todos estão te procurando." Benvólio reclamou apontando o dedo na cara de Romeu.

"Eu te procurei, sua mãe te procurou, Ginevra te procurou e agora até a ama dos Capuleto" Disse apontando para a mulher que permanecia junto com Mercúcio e parecia extremamente incomodada com a presença do mesmo.

"Ela deseja você e só você" Ginevra falou. Romeu viu a mulher e foi direto falar com ela. Aparentemente era um assunto em particular, já que logo Ginevra se viu sozinha com Mercúcio e Benvólio e somente alguns Montecchio permaneciam na praça.

"O que será que ela queria com ele?" Perguntou Mercúcio. Ginevra tinha certeza que tinha algo haver com Julieta, mas resolveu ficar calada. Alguns minutos se passaram e Romeu voltou, com um enorme sorriso no rosto.

"O que houve?" Perguntou Benvólio. Romeu apenas deu de ombros porém notou Ginevra de braços cruzados. Ele fez menção de falar alguma coisa porém ela foi mais rápida e lhe deu um tapa no rosto, assustando Mercúcio e Benvólio.

"Ai, porque fez isso?!" Perguntou segurando a bochecha onde a marca da mão de Ginevra já se formava.

"É, o que ele fez?" Mercúcio quis saber. Ginevra respirou fundo.

"Romeu dormiu com a minha prima." Ela disse por fim. Os dois amigos ficaram boquiabertos olhando para Romeu, que corou.

"Julieta? Mas ela não estava prometida ao meu primo Páris? Ah, isso vai dar merda, você sabe disso não é Romeu?" Mercúcio perguntou. Ginevra concordou com a cabeça.

"Ela é só uma criança Romeu, você tem noção do que fez?" Disse Ginevra levantando o punho para bater nele novamente porém foi segurada por Benvólio.

"Se alguém descobrir, não será só sua cabeça que sairá rolando, você vai causar uma guerra" Benvólio advertiu. Romeu tremeu com o pensamento.

"Mas ninguém irá descobrir não é Romeu? Você não contou para ninguém não é?" Perguntou. Romeu corou mais ainda e olhou para os pés.

De alguma forma, Ginevra conseguiu se livrar dos braços de Benvólio lhe segurando e saiu correndo atrás de Romeu pela praça, até conseguir segurá-lo e o que antes era uma briga de tapas acabou com os dois rolando pelo chão puxando o cabelo um do outro. Mercúcio e Benvólio apenas observavam até resolverem separar os dois.

Benvólio ajudou Romeu a se levantar, deixando Ginevra sozinha no chão.

"Melhor eu levar Romeu para casa, a mãe dele está preocupada com seu sumiço e eu aposto que ela vai dar um grande sermão" Disse indo embora com Romeu.

"Quer ajuda?" Mercúcio perguntou parando na sua frente. Ela revirou os olhos e estendeu a mão para que ele a ajudasse.

"Então, vamos falar sobre o que aconteceu?" Ela perguntou. Mercúcio franziu as sobrancelhas como se não soubesse do que ela estava falando.

"Sobre nós dois." Disse. Ele pareceu entender e deu uma risadinha e logo depois passou o braço ao redor de seus ombros.

"Venha comigo, vamos conversar sobre isso" Ele disse andando com ela.

"Para onde vamos?" Perguntou curiosa.

"Para minha casa" Disse simplesmente.

"O palácio?!" Ginevra parou de andar, surpresa. Ela nunca pensou que fosse visitar o palácio do príncipe algum dia. Mercúcio a puxou para que andasse mais rápido.

"Sim, o palácio" Respodeu sorrindo.